domingo, 29 de abril de 2007

Portugal: país triste e alegre

Soube pela internet qua a PSP carregou com violência sobre pessoas que tinham integrado uma manifestaçao anti-autoritária, no dia 25 de Abril. Como estou na Galiza, procurei informaçao em diversos blogues e nas páginas on-line dos jornais portugueses. Pelo que li, fiquei com a convicçao de que houve, de facto, violência gratuita da parte da polícia. Nada justifica tratar-se à bastonada, pessoas (mesmo se estivessem a pichar paredes ou a partir montras). Perante actos ilegais, o que agentes policiais civilizados deviam fazer era identificar os prevaricadores e, caso fosse necessário, detê-los para averiguaçoes; nunca desatar à bastonada. Também fiquei a saber que a PSP se preocupou em proteger o cartaz do PNR na Praça do Marquês de Pombal e a sede deste partido de extrema-direita na Rua da Prata de actos de vandalismo! Nunca um cartaz e uma sede partidária tiveram direito a tamanhos desvelos. Um tal excesso de zelo parece-me muito suspeito.
Sao notícias tristes as que me chegam de Portugal. Tenho, porém, a alegria de verificar que há muita gente a questionar os métodos policiais e a sua agenda obscura. Muitos blogues foram, também neste caso, espaços plurais de crítica, reflexao, e denúncia das arbitrariedades e da brutalidade da polícia, indesculpáveis em democracia. Obrigada a todos os que se mantêm atentos. Obrigada por continuarem a nomear e a escrever a palavra liberdade.
___
As ligaçoes nao sao exaustivas.
Peço desculpa pela falta de tiles. Estou a escrever num teclado galego.


12 comments:

Anónimo disse...

Olá.

Obrigado por também tu teres escrito um blogue, de forma a expor o que se passou.

Eu sou um dos voluntários do site de informação alternativa Indymedia-Portugal, e o nosso site já não está no ar há 2 dias.

Aparentemente, alguém mandou o site abaixo e apagou todos os nossos textos e fotos relativos a esta barbaridade policial.

De qualquer forma, graças ao esforço de muitos dos que querem que a verdade venha ao de cima e, ao invés das versões oficiais dos media, são agora muitos os blogues com textos, descrições, relatos, vídeos e fotos do que realmente se passou.

Obrigado


"Não odeies os media, sê os media!"

Hugo Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo Mendes disse...

"Também fiquei a saber que a PSP se preocupou em proteger o cartaz do PNR na Praça do Marquês de Pombal e a sede deste partido de extrema-direita na Rua da Prata de actos de vandalismo!"

Cláudia, não comento o que levou à intervenção da polícia e como ela se desenrolou porque não estive lá e não vi imagens suficientes na televisão (e pelo que vi, houve provocações por parte dos manifestantes; se isso justifica a carga policial é outra coisa).
Mas no que toca à protecção da sede do PNR, não vejo por que motivo ela pode ser criticada - sobretudo se havia indicações mais ou menos válidas de que iria certamente sofrer actos de vandalismo (viu-se o que aconteceu no cartaz do MarquÊs, o que levou aliás ao partido colocar um segundo cartaz criticando - e bem - os ataques de que fora alvo o primeiro. Os que atacaram o cartaz deram uma oportunidade para o PNR se fazer de vítima; deviam ter ficado quietos). Será que se fosse a sede de um partido mais de acordo com os nossos princípios de esquerda já merecia total protecção? A maturidade da nossa democracia define-se pelo cumprimento escrupuloso das regras precisamente no que toca àqueles com os quais não concordamos (com aqueles que concordamos é fácil, nunca há duvida): é a defesa e a aplicação da lei no "hardest case" que melhor define o seu uso imparcial. Eu acho que a polícia fez muito bem em proteger a sede e os cartazes do PNR. É a sua obrigação.
Sabes que eu não concordo com nada da sua ideologia política. Mas prezo acima de tudo o respeito pelas liberdades democráticas, que não podem ser defendidas para uns e negligenciadas para outros.

Anónimo disse...

Obrigada, Cláudia, por com o seu post, mesmo à distância, limpar a honra do blog no que toca a este assunto. Chocou-me ler a forma caceteira num caso e ligeira noutros como a carga policial de 25 de Abril foi aqui tratada. Parece-me que terá por aqui más companhias, mas confio sem dúvida na sua voz e na do Daniel Melo para questionar o que por aqui parece ter sido inquestionado.

Shyznogud disse...

Não posso deixar de aplaudir esta frase do Hugo mendes, "é a defesa e a aplicação da lei no "hardest case" que melhor define o seu uso imparcial.". Aliás acho que foi muito por aqui que discutimos o assunto no womenage.
Agora voltando aos acontecimentos em causa. Apesar de não ter estado lá cada vez estou mais convencida que houve abuso por parte da polícia. Mas, ao contrário da Cláudia (pelo menos pareceu-me pelo post) e apesar da violência me incomodar de forma visceral, não consigo subscrever a frase "Nada justifica..." de forma absoluta. No caso concreto, claro q concordo, mas a violência policial pode, efectivamente, ser justificada em certos contextos. Reforço a expressão "forma absoluta" para não ser mal entendida

Hugo Mendes disse...

Cara Paula Godinho, suponho que eu esteja incluído nas más companhias, e que seja um dos que tratou de forma "ligeira" o caso aqui no blog.

Quanto à "ligereza" e ao que foi dado como "inquestionado" (onde? por quem?): o que eu acho que é sempre inquestionado é que quando há carga policial sobre pessoas de "esquerda", é sempre exagerado e brutal; quando é sobre militantes de extrema-direita, é sempre justificado (aqui, nunca vi ninguém preocupar-se com os exageros policiais). Sem ter escrito o que quer que seja a justificar o que quer que se tenha passado (às vezes às pessoas falam daquilo que sabem ou pensam saber relativamente àquilo que se passou DE FACTO; como as minhas fontes não são, infelizmente, tão privilegiadas, prefiro ficar calado quando acho que o meu conhecimento empírico sobre as coisas tem a consistência da esferovite, como é o caso) eu sou absolutamente contra esta forma de dualização fácil. Não só a demonização da polícia num caso destes não leva a lado nenhum como as pessoas à esquerda continuam a branquear os movimentos ou manifestações ou actos violentos ou que incitem à violência (e a provocação das forças policiais é o que senão o incitamento à violência?) só porque há uma vaga proximidade com os ideais "defendidos" por estas pessoas. Pessoalmente, não tenho muita paciência para esta complacência. Foi isto que escrevi lá atrás no comentário ao post do Carlos Leone - que não tem nada de "caceteiro", mas coloca o dedo na ferida, a tal que ninguém gosta de mostrar - e é isto que continuo a pensar. À esquerda, os movimentos ou actos violentos continuam a gozar de uma impressionante impunidade e a polícia, quando é chamada a intervir, é sempre, por definição, 'violenta' e 'brutal', mesmo que não o tenha sido (e repito: não sei se o foi neste caso, ou se o foi justificadamente ou não). Para mim, isto pertence ao domínio do "politicamente correcto" e é a negação do pensamento crítico.

Zèd disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Zèd disse...

"quando há carga policial sobre pessoas de "esquerda", é sempre exagerado e brutal; quando é sobre militantes de extrema-direita, é sempre justificado (aqui, nunca vi ninguém preocupar-se com os exageros policiais)."

Hugo, quando é que houve cargas policiais sobre manifestantes de extrema-direita? Sinceramente não me lembro que tenham ocorrido em Portugal, pelo menos em anos mais recentes. Pelo contràrio lembro-me de terem ocorrido manifs de extrema-direita, sob vigilância da Policia mas sem que esta tenha intervido. A não ser que me falhe a memoria (o que é sempre possivel, dado que a idade vai fazendo estragos), a tua comparação não pode ser feita. Faço desde jà a ressalva que acho que os neo-nazis têm o direita a expressar as suas opiniões como qualquer outro cidadão, isso não està em causa. Mas o que està em questão - na minha opinião - não é a reacção que têm as pessoas de esquerda relativamente à actuação da Policia consoante os manifestantes são de extrema-esquerda ou de extrema-direita. Admito até que possa haver um preconceito, ou uma simpatia, relativamente aos manifestantes consoante estes sejam de "direita" ou de "esquerda", e concordo com a tua posição de principio. No entanto a questão aqui é de saber se a Policia tratou os militantes (porventura desordeiros) de extrema-esquerda da mesma maneira que teria tratado os de extrema-direita, e mais ainda se age num e noutro caso em conformidade com o que deve ser a actuação da Policia num estado de direito e democràtico.
Não tenho toda a informação relativamente a esta manifestação "libertària" do 25 de Abril, pelo que não posso ter uma opinião completamente informada, mas os relatos que se vê na blogosfera, e como a Claudia refere no post, indicam que a actuação foi no minimo criticavel.

Hugo Mendes disse...

Tudo bem, Zed, terei colocado um cenário ficcionado demasiado depressa à frente da realidade. Numa eventual futura carga policial sobre manifestantes violentos de extrema-direita fico à espera da mesma indignação por parte do povo de esquerda pelos eventuais excessos policiais :). A questão-chave é, porém, a que identificaste: não estamos a discutir simpatias políticas, mas o funcionamento correcto de um Estado de direito democrático. Se a polícia exagerou ou não nas bastonadas - embora ache por vezes difícil saber se as coisas são "excessivas" ou não; sem querer fazer demagogia: onde se traça a linha do "admissível"? - não sei; quanto à protecção ao cartaz e sede do PNR, fez o que tinha que fazer. Destruir propaganda política, já para não falar da putativa expressão de intenções em atacar a sede de um partido, não é apenas uma manifestação de défice de disposições democráticas. É, também, crime.

Anónimo disse...

Caro Hugo Mendes, pode colocar todas as hipóteses que lhe passem pela cabeça acerca de futuros cenários. Os delírios ainda vão sendo livres de imposto. O seu colega Zèd já lhe fez pôr um pouco os pés na terra, coisa que os frequentadores deste blog agradecem. Interessa-me o caso concreto da carga policial contra um grande grupo de cidadãos no dia 25 de Abril na rua do Carmo. A esmagadora maioria deles não participara em quaisquer actos de vandalismo. Algumas das fontes de que disponho estão também ao seu dispor, ainda que um dos sítios tenha agora o servidor em baixo. Mas, como sabe, para conseguir respostas a um problema, é preciso saber formular as perguntas. A opinião pensa mal e foi o que aconteceu com a sua, como de resto confessou. Experimente ir ler vários relatos, ver os filmes que o Expresso pôs on-line e ver as fotos que por aí abundam. Nas ciências sociais, é assim que nos ensinam a fazer. Não é que costuma resultar?

Hugo Mendes disse...

"A opinião pensa mal"

Pois pensa. Foi PRECISAMENTE por isso que - se quiser ler e compreender o que eu escrevi - eu me abstive de tecer grandes considerações sobre a violência, intensidade ou justificação da carga policial. Quanto à "fidelidade" das provas obtidas acerca do evento, deixo isso para outro debate sobre a "metodologia das ciências sociais" - e sobre o que resulta ou não resulta.

Quanto ao resto, limitei-me a tecer considerações sobre a protecção da polícia ao cartaz e a sede do PNR. Mas imagino que isto também seja do domínio dos "delírios", e que por isso não merece qualquer credibilidade. É o que dão as más companhias.

Anónimo disse...

Para comentar alguns "factos" que muitos usam como justificação (que mesmo sendo verdade não seria justificação para o comportamento selvagem da policia) para a carga policial.
1. Muitos dos manifestantes tinham a cara tapada: Pois, é por medo natural de represálias e de violência por parte da extrema-direita (aqueles que muitos agora elogiam por se "portarem bem" em manifs (apesar de com simbologia ilegal), é que foram delas....). E é direito por motivos, que cada um saberá, não quererem ser identificados numa manif, essa velha “quem não deve não teme” é uma charlatanice que nem no “pais das maravilhas” funciona.
2. 3 Cocktails Molotovs: Já alguém os viu?? MENTIRA, não havia nada mas mesmo nada do género... e se a policia apanhou os tais cocktails respondam, porque que é que eles apenas fazem parte do circo da comunicação social e não aparecem em parte alguma das acusações feitas aos detidos? respondo facilmente entretanto.. porque eles são apenas mencionados para a comunicação social para "ajudar" as pessoas a criticar os manifestantes. Onde andam os cocktails? onde? LADO ALGUM.
3. Bastantes paus e ferros: eram os suportes das bandeiras apenas e só, ninguém tinha ali apenas os paus e ferros, eram TODOS suportes... na manif da Av. de liberdade então 'tava tudo armado... se nesta manif eram mais rústicos é porque os manifestantes fizeram as bandeiras eles mesmo sem apoio de nenhuma força politica.
4. Simbologia anarcolibertaria: sim... é proibida?! Nem deveria ter sido apreendida porque não é ilegal.. só foi apreendida porque.... ah.. 'tavam nos “ferros e paus”... então em que ficamos??
5. Agressões a transeuntes durante a manif: Mais uma coisa que ninguém viu, ninguém sabe.. e já que a policia diz que a viu por não a impediu? porque não houve nada para impedir.. não houve qualquer agressão às pessoas.. o mesmo já não se pode dizer de transeuntes "azarados" na Rua do Carmo que "comeram" tal como os manifestantes.
6. Agressões partiram dos manifestantes: O grupo quando encurralado juntou-se todo ao meio.. e a policia simplesmente começou a correr de bastão em riste... se a primeira agressão foi dos manifestantes, só se foi alguma cabeçada num bastão...
7. Montras partidas e caixotes virados: Mais uma coisa que ninguém viu.. ONDE ESTÃO ESSAS MONTRAS PARTIDAS AFINAL?!?!?!
8. Ordem de dispersão: Não houve nenhuma... se calhar não se ouviu por causa do barulho dos bastões nas cabeças das pessoas... é a única hipótese que agora ‘tou a ver...
ouvi coisas como “filhos da puta” “vamos vos foder todos” “carreguem nesses cabrões”...


Eu fui manifestar-me pacificamente e se calhar os slogans da manif não são habituais por cá por serem actuais e directos, mas muitas das pessoas por quem se passou aplaudiam e algumas mesmo se juntaram à manifestação, de todas as idades, sexos e raças..
Isto talvez fez com que a policia tivesse todo este trabalho nos meios de comunicação e com a carga que fizeram.. é que a manif correu bem e foi bem recebida e isto não lhes agradou.. sorrisos só foram vistos durante o espancamento..