segunda-feira, 30 de julho de 2007

Os últimos morangos silvestres de Ingmar Bergman


Morreu hoje o cineasta sueco Ingmar Bergman, aos 89 anos. Nascido em 1917, Bergman foi um dos realizadores europeus mais influentes. Tal deveu-se não só à sua substancial produção como ao fundo filosófico, ao tipo de temáticas e à inspiração teatral (meio donde era oriundo) que imprimiu na sua cinematografia.
Num dos seus filmes mais conhecidos, Morangos Silvestres (1957), vemos um professor reformado atormentado pelas suas memórias e pelas ameaças da morte e da decrepitude. O filme inicia-se com um pesadelo desse professor, recriado com se fosse uma sequência surrealista. É das sequências mais belas de Bergman, num dos seus melhores filmes (essa sequência pode ser vista aqui; outras partes deste filme vêm aqui e aqui). Talvez haja mais sequências no YouTube, mas atenção na pesquisa: não confundir com Morangos com açúcar, ok?
Outro belíssimo filme, marcante e perturbador, é Mónica e o desejo (1953), um filme intemporal. Bergman coloca algumas das questões essenciais da vida humana, exercita-as em contextos do quotidiano comum (enfim, sobretudo de classe média), mas, no fim não nos dá respostas feitas, 'apenas' nos ajuda a reflectir mellhor sobre a existência e as opções de vida. Nesse sentido, o olhar de Mónica tem sempre uma sombra de dúvida, de incerteza, de ambiguidade, tornando-se por isso furtivo. Seja como for, as vias abertas por Bergman não são uma ajuda de somenos importância, sobretudo se pensarmos como a maioria dos restantes cineastas tem fugido disso (da reflexão, extensivo à sensibilidade, à palavra, etc.) como o diabo da cruz.
Tanto quanto sei o seu último (tele)filme foi Saraband (2003), um filme intenso embora talvez demasiado excessivo (demasiado camiliano?). Dos outros filmes que vi, retenho Sonhos de uma noite de Verão (1955, baseado na peça de Shakespeare e depois retomado por Woody Allen), Sonata de Outono (1979) e Fanny e Alexandre (1982).
Nb: as imagens são do filme Mónica e o desejo; fotogaleria aqui; obituários aqui e aqui.

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