segunda-feira, 16 de julho de 2007

Sem mais

É uma pena ver as piores expectativas confirmadas, mas nem posso dizer que me espanto (neste blog até já se defendeu a censura). Depois da participação na tentativa de queimar Sócrates com a UnI, depois da descarada desculpabilização do comportamento no 25 de Abril das brigadas juvenis do BE, e sintomaticamente depois de o Hugo sair e de Daniel Oliveira elogiar o Peão, a «análise» ao resultado da eleição de ontem nem espanta. Pena ter sido Daniel Melo, que me convidou para aqui escrever (e vejo hoje como as minhas resistências se justificavam), sempre podia ter sido Renato Carmo, tão rápido ele foi a anunciar mais uma derrota de Sócrates através de uma foto de Helena Roseta (tudo sem partidarizar, claro).
A vitória de António Costa, ontem, não foi apenas completa (o PS ganhou em todas as freguesias, o que deve dar algo para pensar quer à oposição quer à AM). Foi também uma derrota completa para todos os outros. Perderam para o único candidato que queria (e tinha legitimidade para tanto) colocar as contas em ordem, tal como o governo tem feito no país. Perderam depois das sucessivas insinuações e boatos torpes à Direita e à Esquerda (neste particular, a questão em torno de Júdice parece grave e foi mal conduzida). Perderam em percentagem de votos mesmo quando mantiveram o mesmo número de vereadores. Sim, o PS, na altura mais complicada da sua governação nacional, foi o único partido a crescer, em percentagem e em vereadores, sozinho, com uma abstenção gigante e uma cisão - a grande democrata Roseta, que depois de fazer campanha contra o partido pelo qual qual quis ser nomeada pelo chefe, já anuncia estar à disposição.
Estão, aliás, todos à disposição. Jerónimo, com a CDU a ser a quinta mais votada, anuncia a grande derrota do PS e a CDU como a terceira força política da capital, mas Ruben lá negociará pontualmente. Tal como Roseta, claro, e os «socialistas de esquerda» do Bloco (mais uma pérola do Chico). A desvergonha que todos exibem nada deve à do vereador Carmona. Mas António Costa tem ideias próprias, uma equipa escolhida por ele (há quanto tempo o PS Lisboa e o seu tenebroso aparelho desapareceram das notícias?) e a experiência necessária para aturar a retórica dos «vencedores» de ontem. Sócrates, por seu turno, nem se deu a trabalho de falar, ficou a assistir…
Eu, que assisti a esta campanha à distância e nada tenho a mudar ao que escrevi no Esplanar há já bastante tempo, já não tenho disposição para aturar esta sistemática, completa, despudorada, irresponsável falta de honestidade intelectual – e moral. Adeus.

9 comments:

Hugo Mendes disse...

Um abraço, Carlos.

Zèd disse...

Apesar de tudo há uma diferença (grande, diria eu...) entre discordância de pontos de vista e desonestidade intelectual - e moral. Será assim tão difícil viver com a diversidade de opinião e de pontos de vista? É claro que em vez de se contrariar argumentos com arguentos (e o Peão está aberto ao debate) é mais fácil acusar os outros de desonestidade e retirar-se de campo, mas é lamentável. Num blogue que se quer plural de esquerda estão à espera de quê? De pensamento único?

Quanto às eleições:
Lamento discordar mas (à distância) a vitória de Costa parece-me tudo menos uma vitória clara. Foi uma vitória clara da esquerda como um todo, sem que ninguém (nem Costa, nem Roseta, nem Rúben, nem Sá Fernandes) se possa reclamar como grande vencedor, foi uma vitória repartida. Tal como à direita todos foram derrotados. 29,5% para uma figura de topo do PS - que ganhou as legislativas com maioria absoluta - e que se apresenta às eleições de Lisboa com a direita completamente de rastos, lamento mas é uma vitória curta. É a minha opinião, chamem-me desonesto se quiserem.

Renato Carmo disse...

É isso mesmo fomos desmascarados o objectivo não assumido deste blogue sempre foi o de levar o Peão ao poder: a ditadura do Peão. Queremos nacionalizar o país, acabar com todos os partidos burgueses e pequeno-burgueses. Neste momento estamos a formar uma brigada secreta que armadilhará todas as sedes partidárias e sindicais que não alinhem com o nosso projecto monolítico. A revolução está a ser preparada em cada cave insalubre e em cada esquina mais sombria. A partir de agora só mesmo à ‘guilhotinada’. Salve-se quem puder!

Anónimo disse...

Não deixam o home' festejar a vitória !!! e ele perdeu a cabeça

kermit disse...

De facto não contava com este mendigar de pelouro por parte da Helena Roseta logo no primeiro discurso.

Anónimo disse...

PARTE 1:
Uma vitória é sempre uma vitória. Se Costa não foi vencedor, quem foi então? Imaginemos que o Câmara Pereira tinha conseguido 24% dos votos (Deus nos livre!). Mesmo neste cenário, o vencedor seria Costa, pelo simples facto ter tido mais gente a votar nele. Chama-se Democracia. Estou já a ver um processo eleitoral em que alguns definem à priori a percentagem necessária para se ser vencedor. Talvez nas próximas legislativas, Sócrates só possa ser reconduzido no cargo de Prime-Minister, se atingir (por exemplo) 58% dos votos. Se tiver (por exmeplo) 45% e o PSD tiver (por exemplo) 40%, Marques Mendes será o Primo-Ministro! (Deus nos livre!).

PARTE 2:
Outra coisa diferente é saber se os objectivos de cada um foram alcançados, numa óptica de planeamento político a médio-longo prazo. Política também se constroi! Desse ponto de vista, na minha humilde opinião, Carmona, Roseta e (de certo modo) PNR (Sim, porque surge logo abaixo do semi-mediático Garcia Pereira e com mais votos que ND, MPT e PPM. Sim, porque foi a primeira vez que foi a votos e a mensagem é a mais radical). Todos os outros falharam objectivos.

PARTE 3:
Consequências. Comparemos o discurso na campanha e o discurso na noite dos resultados. Mesmo sem os resultados ambicionados todos ganharam, excepto Costa (na cabeça dos analistas) e Telmo (na cabeça do próprio)!!! Pondo idealismos à parte e esquecendo cores políticas, esquecendo o político e pensando no Homem, foi o único que mostrou dignidade na derrota. O resto da malta pode não invejar os seus ideais políticos, mas devia invejar a consistência da sua coluna vertebral.

muguele disse...

Ora bem, parece-me a mim, que aprendi a fazer contas há quase quarenta anos, que Costa teve mais votos, logo, Costa ganhou! Se Costa teve mais votos e ganhou, todos os outros perderam. Parece-me uma constatação aritmeticamente incontestável.

Abstraindo-me de conceitos tão falíveis como tudo o que respeita à matemática neste país (como é que querem boas notas a matemática quando há um tipo que tem 0,7% dos votos e diz que ganhou?) e socorrendo-me dos praticantes da mais exacta ciência do país (que, como sabem, é o comentário político) terei de concluír inequivocamente que todos ganharam e todos perderam (consoante o lado de onde se olha, um pouco como os próprios conceitos de esquerda e direita) e que desta vez nem os abstencionistas ganharam... um bom dia de praia!

Anónimo disse...

Caro Muguele,
Não percebi se o teu comentário é resposta ao meu... No caso de ser, eu realmente afirmo que apenas Costa ganhou. Todos os outros perderam. Quando menciono Carmona, Roseta e o tipo que teve 0,77% (e que se tenta fazer de conta que não existe), reafirmo que perderam. Se lerem com atenção o que escrevi, apenas digo que estes cumpriram os objectivos anunciados na campanha. Não ganharam! Nem o tipo dos 0,77% nem os outros 10 tipos. (Quase) todos afirmam vitória. Mas a verdade é que alguns perderam e falharam objectivos, outros perderam e alcançaram-nos. Bons ou maus. Bons e maus.

Daniel Melo disse...

Caro Carlos Leone:
Todos sabíamos os posicionamentos de cada qual quando aceitámos colaborar neste blogue, conhecimento esse relativo a participações noutros blogues ou noutros espaços. Foram convidadas pessoas que pareceram disponíveis para o debate de ideias, para a partilha de gostos e argumentos, numa plataforma que se pretendia de esquerda, plural, argumentada, sem tabus. Qualquer pessoa que acompanhe este blogue sabe que nele houve sempre troca aberta e leal de ideias.
À parte a tua opinião sobre as eleições, legítima, o resto deste teu post é gratuito e ofensivo para comigo e outros peões, o que é lamentável.