domingo, 15 de julho de 2007

Vinhos da margem esquerda


Actualmente proliferam dezenas de vinhos alentejanos produzidos por um sem número de herdades e quintas. Algumas estão na moda e começam a ter alguma visibilidade internacional, o caso mais conhecido é, sem dúvida, a Herdade do Esporão. No sector cooperativo a dinâmica tem sido impressionante destacando-se as de Borba, Reguengos de Monsaraz e Vidigueira. Mas não é sobre nenhum destes vinhos que vou aqui falar. Das oito zonas vitivinícolas do Alentejo existem duas que se localizam na margem esquerda (pois claro!) do Guadiana: Granja/Amareleja e Moura. São terras quentes e duras, marcadas por um relevo irregular que contraria a monotonia da planície da outra margem: a direita. São por isso vinhos fortes (13, 14 graus) e muito encorpados, que cruzam duas castas que aprecio particularmente: trincadeira e periquita. Não é vinho para se beber todos os dias e aconselha-se para acompanhar repastos prolongados, daqueles que perduram pela tarde e acabam ao final do dia envolto, se possível, por umas belas polifonias improvisadas. Gostaria de destacar a Casa Agrícola Santos Jorge que produz o vinho mais corrente Morgado da Canita vendido a um preço em conta (menos de 5 euros) e os mais apurados Santos Jorge Reserva e Colheita Seleccionada (que são um pouco mais caros). Para um dia eleitoral como o de hoje, recomenda-se uma digestão lenta e calma ao sabor destes apurados néctares que devagarinho vão abrindo os aromas únicos provenientes da outra margem (a que fica do lado esquerdo).

2 comments:

Zèd disse...

Compadre, pois então margem esquerda hã?
Uma curiosidade: na minha parca experiência os esquerdistas franceses adoram os vinhos encorpados do Alentejo, tipo Borba (não tenho nenhuma explicação cientifica para esta correlação). Faço ideia do sucesso que não fazem estes vinhos da margem esquerda.

Daniel Melo disse...

Brindemos a este post! Belo texto e bela imagem.
Ainda por cima, fui ao site da casa agrícola e reparei que, além dum Castelão Colheita Seleccionada, têm um Santos Jorge Antão Vaz, ou seja, a casta lusa de uva branca mais elogiada no momento. É caso para ir à procura...
Ficamos agora à espera do que o Zèd nos reserva para o próximo domingo, não é verdade?
A seguir ao Zèd, prometo falar de vinhos branco Arinto, se ninguém se voluntariar entretanto...