segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Paris em Agosto (ideologia de bac-à-sable)

Se o objectivo era pôr a miúda a falar francês, as primeiras incursões no maravilhoso mundo dos bac-à-sable parisenses (as caixas com areia dos parques infantis) foram um bocado falhadas. Primeiro, no jardim da Avenue Junot (Duc d'Abrantès, como se lê na placa da rua), demos com três mocinhas, qual delas a mais bonita, de Alfândega da Fé (Trás-os-Montes). Hoje, no parc de la Turlure, mais uma família veraneante portuguesa. Ontem, um Michelangelo bilingue franco-italiano com a camisola do Totti. Hoje, um Dario bilingue franco-inglês. Os parisienses franco-franceses foram-se todos embora de férias ou o multilinguismo invadiu de vez os castelos fortificados de areia deste país? Não dá para fazer uma sociologia do bac-à-sable.

Mas uma ideologia, sim. O bac-à-sable é o lugar onde se refugiou a ideia de fraternidade universal, a utopia de que todos seremos de novo felizes e perfectíveis juntos. Tudo é de novo possível no bac-à-sable, infância das relações entre as pessoas, mediada pelas crianças e estendendo-se aos pais sorridentes. O bac-à-sable é o contrário do metro em hora de ponta. A desconfiança e a inveja, o empurrão, o insulto, a ameaça de confronto físico, tudo são ali coisas de criança que se combatem com suaves sermões. Reina a tolerância, o sorriso amável, a pedagogia do bem comum em harmonia com a vontade individual. Não é um oásis, entenda-se, é um lugar primordial que existe e onde se está bem. Quem volta do bac-à-sable, volta um bocadinho Proudhon, volta um bocadinho Rousseau (embora eu duvide que o Rousseau fizesse castelos de areia tão bem como o Michelangelo).

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