domingo, 12 de agosto de 2007

Torga, neste Verão

Li Novos Contos da Montanha (1.ª ed., 1944) na adolescência; fazia parte do programa de Português. Retenho a repugnância que me provocou uma passagem de um dos contos em que um leproso se metia numa tina de azeite. [Não tenho o livro à mão, por isso não posso confirmar se era mesmo assim.] Além do conto «Leproso», não me lembro em particular de nenhum outro, mas recordo-me vagamente de um mundo rural agreste, rude e pobre, povoado de personagens singulares. Um mundo que estava muito distante da minha realidade suburbana da década de 1980.
Uns anos mais tarde, já no 12.º ano, li no manual de Filosofia um poema de Torga: "Não sou livre, que nem a própria vida mo consente / mas a minha aguerrida teimosia / é quebrar dia-a-dia / um grilhão da corrente". Decorei-o e acompanha-me desde então, porque continua a fazer sentido para mim.
Mais tarde, ofereceram-me um livro de poemas de Miguel Torga. Li-o, gostei muito, mas perdi-o (coisa rara).
Recentemente, tomei conhecimento da sua actividade política de oposicionista à ditadura. Torga foi perseguido pela PIDE ( a Torre do Tombo já disponibilizou o volumoso processo). Renato Nunes publicou no passado mês de Maio um livro sobre Miguel Torga e a repressão aos escritores durante o Estado Novo, de que Daniel Melo falou aqui e aqui (blogue do movimento cívico Não apaguem a Memória!).
Vou voltar aos contos de Torga, ainda neste Verão, e reencontrar a sua poesia.

4 comments:

Anónimo disse...

Se calhar Torga foi posto demasiado nos píncaros e normalmente quando é assim cai-se no esquecimento em pouco tempo (veja-se o Namora, por ex.), mas não há dúvida que Torga tem coisas muito interessantes. Gosto muito dos Novos Contos da Montanha, dos diários, de alguma poesia,...

Anónimo disse...

A serie que Moita Flores produziu do livro,Quando os lobos uivam,para a RTP é muito interessante.Não ficava nada mal á estação pública que,porque já passou algum tempo,voltasse a transmitir a mesma.

Cláudia Castelo disse...

Quando os lobos uivam (1958) é de Aquilino Ribeiro, outro grande escritor português do século XX, também ele oposicionista ao Estado Novo. Aliás, esse romance valeu-lhe na época um processo criminal, sendo acusado de «a coberto da ficção literária» «desacreditar as instituições vigentes».

Anónimo disse...

Eu sei que é de Aquilino Ribeiro,no entanto retrate o Portugal Profundo que está presente em várias obras de Miguel Torga,seria bom que tambem fosse adaptado para televisão algumas obras de Torga.