sábado, 1 de setembro de 2007

A enxada da 'comprativa'

Este extraordinário diálogo é bem representativo de um problema que a esquerda ainda não conseguiu resolver: fazer-se entender pelo povo. A troca de palavras que preenche esta cena ajuda-nos a perceber porque é que o projecto colectivista da reforma agrária acabou em fracasso. Trata-se de um documentário excepcional, que nos conta uma história fantástica que poderia ter mudado o Alentejo (para melhor, é claro). Torre Bela de Thomas Harlan, ainda em exibição... a não perder!

4 comments:

Samir Machel disse...

Antes de mais Torre Bela é um belíssimo filme, "é um relato dos tempos em que as pessoas tinham a capacidade e a coragem de ir tentando resolver os seus problemas."
http://www.blogger.com/comment.g?blogID=10882620&postID=2014825638998526370&isPopup=true

Primeiro: o Wilson (protagonista) não era propriamente da "esquerda" que presumo a que te referes, uma mais "politizada".

Segundo: as propostas de reforma agrária eram várias e algumas bastantes diferentes.

Terceiro: Torre Bela era no Ribatejo. É um exemplo e uma experiência bastante diferente do que no Alentejo.

Quarto: Tendo algumas reservas a algumas das propostas avançadas de reforma agrária na altura, tenho a a certeza que poderia ter mudado a agricultura para melhor. Pior do que o abandono dos campos, compra ou aluguer pelos empresários espanhóis ou dependente de transgénicos era difícil...

Renato Carmo disse...

Concordo com todos os pontos. Aliás noutro blogue escrevi umas coisas sobre a RA, que tive oportunidade de estudar um pouco (fugaparaavitoria.blogspot.com). Mas este diálogo é em certo sentido paradigmático: de um lado o trabalhador agrícola que protege o seu meio de produção (a propriedade da sua enxada)e os seus interesses individuais, do outro o activista que pretende concretizar um dado modelo de cooperativa, mas que tem muitas dificuldades em se fazer entender pelo trabalhador. O curto circuito na comunicação e no entendimento de um interesse mútuo tem sido uma das tragédias da esquerda.

Está ainda por fazer a história da reforma agrária e, sobretudo, do pós-reforma agrária. De facto, ele foi tudo menos linear. Há experiências diferentes que variam de terra para terra. No entanto, o modelo colectivista acabou por ser dominante nas terras latifundiárias (independentemente de se situarem nos concelhos alentejanos ou ribatejanos).

Samir Machel disse...

O diálogo é paradigmático porque Portugal era um país atrasado a que foram somado 48 anos de ditadura obscurantista. Os meios rurais viviam autênticamente no tempo feudal, como o Duque tão bem ilustra no caso da Torre Bela. É natural que o trabalhador rural se apegue à forma de trabalhar antiga e única que conheceu.

O PREC nesse sentido foi uma terapia de choque de tentar recuperar o tempo perdido, nas zonas urbanas e especialmente nas zonas rurais.

Não creio que devas pôr o enfoque no "activista" local Wilson (que fez um trabalho importantíssimo). Ao invés, os representantes da esquerda seriam mais tipos como o Camilo Mortágua.

Renato Carmo disse...

Nunca pessoalizei a questão. Obviamente que a cena foi apresentada como uma metáfora.