terça-feira, 11 de setembro de 2007

Por que raio estou eu a ver esta merda?

Eu às vezes fico histérica. Mas é quase sempre com a minha vidinha. De resto, apenas me indigno. Às vezes refilo.
Eu por vezes leio nos jornais que desaparecem e/ou são traficadas, anualmente, cerca de um milhão de crianças.
Eu às vezes fico em frente da televisão a pensar por que raio estou eu a ver esta merda?* Mas sigo vendo. Porque há ali coisas que me interessam. Coisas que quero saber. Nem sei porquê ou para quê. Mas há.
Eu sei que, no nosso mundo, as pessoas brancas, sobretudo se forem loiras e tiverem os olhos verdes ou azuis, valem mais do que as pessoas pretas ou as muito morenas ou ainda as amarelas. Mesmo que sejam loiras.
Eu sei que os meios de comunicação social constroem e destroem personagens e acontecimentos.
Eu sei que nós construímos e destruímos personagens e acontecimentos. Sobretudo se tivermos acesso facilitado aos meios de comunicação. Mas mesmo que não o tenhamos é da nossa prática quotidiana tal construção e desconstrução.
Eu sei que há várias estratégias (em cada um de nós) para lidar com as desgraças que estão directamente dependentes da natureza das próprias e do momento em que nos encontramos (entre uma série de muitos outros factores).
Eu sei que gostamos de nos alimentar das desgraças alheias. E sei que por vezes nos solidarizamos com elas.
Eu sei que somos maus. Maquiavélicos. Tortuosos. E que gostamos de atirar pedras (raramente pedradas. Quase nunca nos charcos).
Eu sei que não é bastante formular hipóteses. Que é preciso recolher evidência empírica. Cruzar dados. Produzir resultados fiáveis.
Por isso. Desde o princípio de toda esta operação mediática extraordinária nunca me apeteceu atirar pedras. Ou deitar lágrimas. Estou na mesma.

*Tudo isto aconteceu porque estive a ver o programa Prós e Contras. Sobre o caso Madeleine Mccann. E a fazer a mim mesma aquela pergunta. É um desabafo ou coisa que o valha. Risquem, apaguem, ignorem o que for de riscar, de apagar e de ignorar.

2 comments:

Renato Carmo disse...

Aqui ninguém risca nada. Penso até que esse desabafo é mais ou menos consensual.

Elisa disse...

Ah pronto... :-) Como foi mesmo um desabafo enfim...