quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Brincar com o fogo, literalmente

A terceira noite de confrontos em Villiers-le-Bel foi mais calma que as duas anteriores. Vamos ver se a tendência é para acalmar. Uma coisa para já parece evidente nestas três noites, apesar de até agora os tumultos se restringirem a uma zona dos subúrbios do norte de Paris, a violência é superior à de 2005. Nomeadamente foram usadas armas de fogo contra a Polícia. Aliás a Polícia é muito mais um alvo agora do que há dois anos. Tanto agora como em 2005 o que desencadeou a violência foi a morte de dois adolescentes num incidente com a Polícia. Não é por acaso, antes de se pôr já em causa todo a política de integração em França dos últimos 30 anos (apesar de ter bem por onde se lhe pegar) deve atentar-se nesta constante que é o mal-estar entre os jovens das banlieues e a Polícia. Em 2005 a morte de Zied e Bouna na central eléctrica de Clichy-sous-Bois resulta de erros grosseiros da Polícia, o que muito contribui para o desencadear dos tumultos. Desta vez o acidente parece ser da responsabilidade dos dois jovens, que circulavam numa moto não hologada (não devia circular na via pública), sem capacete, depressa, e não respeitaram a prioridade. No entanto, há um pequeno senão contra a Polícia: vendo o estado em que ficou o carro é possível que seguisse em excesso de velocidade. A versão oficial é que o carro foi danificado deliberadamente por jovens do bairro após o acidente. Um investigação do Le Monde desmente esta versão. Pelo contrário os populares isolaram o carro da Polícia e a moto para que nada fosse alterado. Eu só me pergunto "porquê tentar arranjar desculpas?". Com todos os elementos contra os dois adolescentes, assumir que o carro da Polícia talvez seguisse em excesso de velocidade seria visto como um gesto de boa vontade, de assumpção de responsabilidades. No mínimo a versão oficial vai ser vista como uma provocação, numa altura em que convém evitar uma escalada (acho eu...). A bem dizer ninguém deve ficar surpreendido, afinal os erros grosseiros da Polícia em 2005, confirmados por inquéritos independentes, nunca foram assumidos nem pela Polícia nem pelo Ministério do Interior, até hoje.
Claro que Sarkozy não tardou a anunciar a sua firmeza contra os delinquentes que causam os distúrbios. Acho muito bem! E gostaria ainda mais que ele fosse tão firme a resolver os problemas das banlieues - desemprego, exclusão social, delinquência, um sistema de ensino que agrava as desigualdades, precaridade, baixos rendimentos, etc... etc... - como é a publicitar a sua firmeza securitária. Se fosse, talvez nem tivesse estes problemas de tumultos para resolver.

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