sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A narrativa a partir da rua

Em jeito de adenda a este post do Renato, com o qual concordo sem alterar um vírgula, dou uma achega à questão da "narrativa a partir da rua". Se bem percebo do post do Renato essa narrativa inclui, mas não se limita, a manifestações, greves e acções de protesto. Entendo essa narrativa de um modo muito mais amplo, englobando tudo o que a sociedade civil pode fazer "enquanto elemento (re)organizador dos sistemas sociais económicos" (para utilizar as palavras do Renato).
Dito isto, eu sou um gajo que até gosta de Manifs. Quanto maiores melhor. Acho que Manifs, Greves e acções de protesto podem ser muito úteis ao(s) combate(s) da esquerda, conquanto - pequeno pormenor - sejam em defesa de uma causa justa. Mais ainda, como acredito na democracia, acho que os movimentos de protesto na rua são úteis se, e apenas se, tiverem influência sobre a opinião pública. Sobretudo se, por último, influenciarem positivamente o sentido de voto dos eleitores. Não concordo que o protesto possa ser um fim em si mesmo, nem que seja O meio de atingir os objectivos da transformação política, social, económica que a esquerda defende. Que é, se bem percebo (e que me desculpe se interpretei mal) o que defende Rick Dangerous. Como saber então quando e como protestar? Obviamente com sentido crítico, auto-crítico (coisa que bastantes vezes falta à esquerda, mas mais ainda à direita). É preciso avaliar se as causas são realmente justas, em coerência com os princípios da esquerda, e - com um pouco de pragmatismo - avaliar que impacto o protesto vai ter na opinião pública. Acredito que quase sempre as duas coisas andam juntas, porque afinal o cidadão tem um sentido de justiça.

3 comments:

Renato Carmo disse...

Caro Zèd, a construção dessa narrativa não assenta meramente na capacidade de protesto. O post anterior teve como objectivo chamar atenção para os sinais supostamente contraditórios que se manifestam na rua e que a esquerda tem demonstrado grande dificuldade em interpretar e, sobretudo, em criar um discurso que enquadre essas diferentes expressões.
Temos que ultrapassar e que desconstruir algumas dicotomias "naturalizadas" que nos condicionam a visão da sociedade e, particularmente, do mundo do trabalho. Por exemplo uma dessas dicotomias é a que opõe os "instalados" aos "oprimidos", como se os primeiros representassem a causa da marginalização dos segundos. Tentarei escrever um post sobre isso. Temos de encetar um debate que não fuja da realidade concreta. Um dos grandes contributos de Marx foi o de atribuir materialidade à dialéctica. É isso que o faz distinguir-se claramente de Hegel. "Da rua à prática política" representa a urgência de uma dialéctica que não quer perder o chão. Não me apetece brincar às revoluções, já passei essa fase. Tenho dois filhos e já me falta a paciência para mais criancices.

Um abraço

PS. há vinhos este Domingo?

Zèd disse...

Renato,

Concordo inteiramente, mais uma vez. Venha de lá mais um post (andas inspirado).

Sim, há vinhos este Domingo. Há voluntários para o Domingo que vem?

Zèd disse...

Para o caso de susbsistirem dúvidas ou ambiguidades quanto ao que escrevi no post (e no debate com o Hugo Mendes na caixa de comentários do post anterior) esclareço que na minha opinião a esquerda não deve recusar liminarmente o protesto de rua, mas muito menos deve assentar nele a base da sua acção. Como já defendi várias vezes aqui no blogue, o protesto de rua deve ser usado pela esquerda APENAS em caso de necessidade extrema, sempre com muita SABEDORIA e PARCIMÓNIA.

E sim, Renato, não quero confundir o protesto de rua com a "narrativa a partir da rua". A segunda ultrapassa largamente o primeiro.