quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Os dualismos do Zé

O interessante post do Zé Neves sobre que perguntas faz a esquerda, tem por base a estipulação de uma série de dualismos de cariz cartesiano que, a meu ver, encaixotam as diferentes posições em categorias estanques de análise, como se os tempos que correm ainda funcionassem sob a alçada de uma engrenagem eminentemente moderna e industrial. Para o Zé, a relação entre as perguntas e as respostas resulta de uma operação (mental?) sequencial. A única diferença é que, entre as esquerdas, uma só faz as perguntas para as respostas que conhece, enquanto a outra (a sua) só põe aquelas perguntas às respostas que gostaria de vir a conhecer. Mas quer uma quer outra se regem pelo mesmos princípios que um certo filósofo francês sintetizou no postulado “eu penso, logo existo”, que poderia muito bem transmutar-se para uma formulação do tipo “eu pergunto, logo respondo” ou “eu pergunto, logo procuro a resposta”.
Penso que a esquerda tem de deixar para trás uma visão dicotómica de si e do mundo e arriscar-se de uma vez a transgredir os pressupostos inoperantes de uma modernidade há muito perdida. Considero que esses “novos” trilhos deverão ser traçados tendo por base uma interdependência (uma dialéctica?) - e não uma linear sequencialidade - entre reflexividade e acção. Foi neste sentido que escrevi o post da rua à prática política, no qual propus uma reflexão (um questionamento) a partir das experiências, protestos, rastos… da rua, capaz de potenciar-nos para um (ou vários) caminhos de acção, ou seja, para respostas em aberto que se vão reformulando e reconfigurando noutras perguntas. É este processo que eu designo de prática política. De facto, a esquerda necessita de uma praxis construída a partir de um cogitando que se vai fazendo existir ou, dito de outra forma, em perguntas que se vão fazendo resposta.

3 comments:

Zé Neves disse...

renato, a superação dos termos do problema, superação que tu esperas, espero também eu na medida em que falo de um modo comunista (ou outra coisa, o termo aqui não importa assim tanto) de perguntas&respostas políticas. a tua última frase, "perguntas que se vão fazendo resposta", parece-me a esse respeito muito adequada.

Zé Neves disse...

ah, é verdade... a isto - ao modo comunista ou pós-cartesiano de produção política, voltarei no post 3, conforme prometido neste post 2.

um abraço
zn

Renato Carmo disse...

Ok... aguardaremos.

Um abraço, Renato.