sábado, 15 de dezembro de 2007

Parabéns Irene!

«Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes»
Ricardo Reis

A historiadora Irene Fulsner Pimentel acaba de ser agraciada com o Prémio Pessoa 2007. Felicitamos publicamente a Irene e aproveitamos para explicar, do nosso ponto de vista, a importância desta distinção.
Irene Pimentel, 57 anos, é licenciada em História pela FLUL (1984). Trabalhou na área da produção teatral e no sector livreiro. No início dos anos 90 começou a dedicar-se à investigação histórica. Em 1997 obteve o grau de mestre em História do Século XX (FCSH-UNL) com uma dissertação sobre as organizações femininas do Estado Novo. Foi então que a conhecemos e tivémos o gosto de ser seus colegas. Já este ano, doutorou-se com uma tese sobre a PIDE/DGS, polícia política do Estado Novo (1945-1974). Foi responsável pela divulgação bibliográfica e recensões críticas na revista História (1994-2001). Desde 2005 integra o movimento cívico Não apaguem a Memória!, tendo reflectido sobre a questão da memória da repressão ditatorial e da resistência. Foi neste contexto que Daniel Melo lhe lançou o repto para escrever um artigo A memória pública da ditadura e da repressão») para o dossiê «Os silêncios da História» do Le Monde Diplomatique - ed. portuguesa, a que se seguiu um muito estimulante debate público, ambos em Fevereiro deste ano.
O Prémio Pessoa distingue e dá visibilidade à investigação sobre a história contemporânea de Portugal e, especificamente, sobre a história do Estado Novo. Além disso, valoriza a coragem, o labor sério, rigoroso e minucioso, o investimento emocional, cívico e intelectual da Irene, que se abalançou a fazer a história de uma instituição como a PIDE.
Refira-se ainda que este prémio foi atribuído a uma historiadora que não tem qualquer vínculo laboral com uma instituição de ensino superior, centro de investigação ou laboratório associado do Estado. Faz história por gosto, vocação e convicção. O Prémio Pessoa 2007, no valor de 50 mil euros, é, aliás, entendido pela galardoada como um meio de financiar outras pesquisas que tem em curso. Ouvida pela TSF afirmou: «Há muitos jovens investigadores que têm muita dificuldade em investigar e que tiram do seu tempo privado tempo para investigar, queria que eles também usufruíssem deste prémio a nível material».
As palavras de Irene, além da sua generosidade, atestam que, no nosso país, o sistema universitário e científico está de tal fora montado, em circuito fechado, sem abertura à renovação, que um prémio que destaca "uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país" (Filosofia do Prémio Pessoa), pode ser um recurso para garantir trabalho ao premiado e a terceiros.
Desejamos à Irene Pimentel longa vida e muitos novos livros de história contemporânea.
Um abraço,
Cláudia e Daniel.
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Publicou diversos artigos em jornais e revistas científicas e colaborações em dicionários e obras colectivas. É autora dos seguintes livros:
História das Organizações Femininas do Estado Novo. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, imp. 2000.
Cardeal Cerejeira: Fotobiografia de Manuel Gonçalves Cerejeira. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, imp. 2002.
Os Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em fuga a Hitler e ao Holocausto. Lisboa: Esfera dos Livros, 2006.
Vítimas de Salazar. Estado Novo e Violência Política. Lisboa: Esfera dos Livros, 2007. (co-autora)
A História da PIDE. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, 2007.
Mocidade Portuguesa Feminina. Lisboa: Esfera dos Livros, 2007.


Quem quiser acompanhar as peripécias da Irene no concurso «Os grandes portugueses» pode ver aqui.

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