sábado, 30 de junho de 2007

Até à vista

Este é o meu último post no "Peão". Este sempre foi para mim um espaço de debate, e, como sabemos, os debates - vivos, frontais, agonísticos - têm riscos. E por vezes há riscos que não vale a pena correr.

Deixo um abraço forte a todos os outros peões, e uma particular saudação aos que, bloggers e outros leitores, participaram e acompanharam os debates (e também aos que se irritaram com eles) ao longo destes últimos meses.

Por agora, estarei por aqui.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Importa-se de explicar um pouco melhor?

Através do Glória Fácil cheguei a um interessante post, assinado por João Paulo Geada, e intitulado "Vamos falar claro sobre a homossexualidade" onde se pode ler:

"Não vale a pena ir muito longe na análise mas pensemos apenas por alguns segundos na tragédia que representa a SIDA, cujas origens – é bem sabido – têm muito a ver com a prática cada vez mais generalizada da sodomia a partir da “revolução sexual” dos anos 60. A responsabilidade pela expansão desta e doutras doenças, mesmo não do foro sexual como as próprias tuberculoses ultra-resistentes tem muito a ver com a promiscuidade sexual de que é expoente máximo a expanção da homossexualidade, e em particular da sodomia, um comportamente e um vício claramente nefasto para a sociedade como foi sempre reconhecido ao longo dos séculos. Para já não falar na fronteira por vezes muito ténue entre homossexualidade, prostituição, pornografia, pedofilia."

É bem sabido que a SIDA tem a ver com a "prática cada vez mais generalizada da sodomia"? Olha!, eu não sabia, curioso... Poderia o João Paulo Geada indicar-nos um qualquer estudo epidemiológico que estabeleça essa relação? Seria interessante saber em que se baseia.
E essa prática (da sodomia) generalizou-se nos anos 60? Vejam lá eu, na minha ingenuidade, que pensava que vinha já do tempo dos Gregos, enfim...
E a tuberculose ultra-resistente também se deve ao aumento da sodomia? É que eu estava capaz de jurar que se deve ao mau uso de anti-bióticos, mas de certeza que o João Paulo Geada deve saber mais do que eu. Mais uma vez, se nos poder indicar o estudo epidemiológico em que se baseia para fazer essa afirmação, a malta agradece encarecidamente.
Ah!, é verdade, há ainda a relação entre a homossexualidade e a prostituição, a pornografia e a pedofilia. É óbvio! Todos sabemos que não existe nem pornografia heterossexual, nem prostituição heterossexual, nem pedofilia heterossexual, evidentemente... Onde é que eu estava com a cabeça?

Caminhos perigosos

Para encerrar o caso Charrua (sobre o qual escrevi aqui, e o Hugo aqui), e agora que se sabe melhor o que está em causa, esclareça-se o seguinte: o contexto aqui importa muito, sob pena de tornarmos as nossas vidas profissionais um inferno na terra.
Quem nunca desabafou em privado no local de trabalho junto de colegas/ amigos que atire a 1.ª pedra. Mesmo que um certo desabafo em privado seja um impropério - e este será sempre condenável -, não deixa de ser um desabafo em privado. Sobre este caso, Francisco Teixeira da Mota traz-nos o seu parecer de jurista, com o qual concordo:
"Veja-se o caso do professor Fernando Charrua e da DREN, que se continua a arrastar e em que o Ministério da Educação já deveria, há muito, ter 'pulverizado' o processo disciplinar com a constatação da evidente inexistência de qualquer infracção. É pena que a ministra não tenha sido capaz de fazer frente a uma tal inépcia dos seus serviços, pondo termo de imediato ao processo. Mesmo que as palavras proferidas tenham sido as que se referem na acusação - «somos governados por uma cambada de vigaristas e o chefe deles todos é um filho da puta» -, parece claro que, tendo em conta a situação, não há mais do que um desabafo privado. Pouco louvável certamente quanto aos termos, mas insusceptível de configurar qualquer ilícito disciplinar ou criminal sob pena de qualquer dia termos receio de falar livremente com colegas, amigos ou vizinhos. Todos nós já desabafámos quanto aos mais diversos governos do nosso desagrado..." (in "Fretes administrativos", Público, 23/VI).
Também José Vítor Malheiros perspectivara este como um lamentável caso de delito de opinião (vd. Público de 22/V, p. 41). Agora, parece que vem aí outro caso, o do afastamento da directora do Centro de saúde de Vieira do Minho por causa dum cartaz-fotocópia jocoso alusivo ao ministro da Saúde...

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Quem é o James Watson, anyway?

Como tinha prometido, aqui vai um post a dizer o que penso de James Watson. James Watson é um Dantas! James Watson é meio Dantas! James Watson permite-se dizer todo o tipo de barbaridades porque foi o descobridor da Dupla Hélice do ADN. James Watson pensa que foi o descobridor da Dupla Hélice do ADN. James Watson era um rapazito de 22 anos quando chegou a Cambridge para se juntar ao projecto em que Francis Crick, e Rosalind Franklin e Maurice Wilkins já trabalhavam há anos (a estrutura do ADN). James Watson mandou uns bitaites e apanhou boleia para o prémio Nobel. Para corroborar o que digo basta ler o livro "A Dupla Hélice" do insuspeito James Watson (o próprio). James Watson não produz nada de cientificamente relevante desde os seus 25 anos. James Watson é racista, James Watson é misógino. A James Watson permite-se que diga todo o tipo de disparates porque James Watson ganhou o prémio Nobel, por ter co-descoberto a estrutura em Dupla Hélice do ADN.

O que nos leva a uma questão porventura mais interessante: Qual é a importância da descoberta da Dupla Hélice? James Watson tem a chancela da autoridade científica por ter feito uma grande descoberta, mas ninguém sabe dizer o que tem de tão especial essa descoberta. É um excelente exemplo de como funciona a mediatização. Toda a gente sabe que é importante mas ninguém sabe porquê. Eu por acaso até acho que o modelo da Dupla Hélice está longe de ser a descoberta mais importante da Biologia Molecular (expliquei porquê aqui, aqui e aqui). A Dupla Hélice é famosa porque é uma imagem bonita, e isso faz de James Watson uma vedeta. Uma vedeta com ideias esquisitas que gosta de atrair os holofotes.

Rui Rio Superstar: passerelles e lantejoulas à desgarrada

Num excelente post, sugestivamente intitulado «As mentiras de Rui Rio», Tiago Barbosa Ribeiro desmonta todos os clichés anti-culturais que o edil portuense lançou ao longo destes anos para fazer passar o seu populismo de direita na área cultural.
Em 1.º lugar, Rio criticava o Rivoli e privatizou a sua gestão por alegadamente não ter público: os relatórios entretanto tornados públicos provam justamente o contrário e até dizem que davam lucro (vd. tb. o JN aqui).
Em 2.º lugar, dizia que a empresa municipal responsável pela gestão cultural, a Culturporto, só dava prejuízo (o que é desmentido pelos resultados do Rivoli) mas criou uma nova empresa paralela, a Porto Lazer, desvalorizando a cultura em favor do entretenimento e, pelo meio, alimentando nomeações sem concurso de amigos políticos (vd. tb. TBR aqui).
Em 3.º lugar, verberou contra a subsidiodependência, mas o que é um facto é que financia agora (indirectamente ou não) a empresa de Filipe La Féria (numa concessão entretanto considerada irregular pelo Ministério Público), tendo esvaziado a atractividade de várias organizações culturais que tinham consolidado uma oferta de referência: o FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica) e o TEP (Teatro Experimental do Porto) exilaram-se em Gaia (tb. o FantasPorto e a Feira do Livro do Porto já ameaçaram fazer o mesmo); o Seiva Trupe queixa-se de asfixiamento; a Casa Cinema Manoel de Oliveira estagnou; as galerias de arte estão a transferir-se para Lisboa por falta de apoio à animação cultural, como a Graça Brandão.
Como se tudo isto não bastasse, o edil prossegue na sua propaganda indecorosa, à qual juntou entretanto outro condimento; assim, e ao estilo das vigilâncias de má memória, resolveu divulgar no site municipal um vídeo feito exclusivamente para mostrar a presença do dir.-adjunto do Jornal de Notícias na manifestação anti-privatização do Rivoli que ocorreu a 14 deste mês (vd. aqui), alegando conflitos de interesses deste, como se um jornalista não pudesse exercer o seu direito de cidadania (TBR fala disso aqui; vd. tb. este editorial de Manuel Carvalho no Público).
Por fim, Rui Rio promove gincanas automobilísticas (sobre isso escrevi aqui) e outros despautérios, tendo ficado na memória de todos o rídiculo despique com o seu vizinho de Gaia para ver quem gastava mais dinheiro em foguetório e pirotecnia durante as passagens de ano.
Pelos vistos, há por aí uma elite que precisa de passerelle para se pavonear e mostrar os vestidos e as operações de cosmética. Para esse efeito, nada melhor que ocupar salas recuperadas com o dinheiro de todos, pois claro.
É a política cultural populista-conservadora em todo o seu esplendor.
PS: sobre a alienação do Rivoli e a política cultural escrevi na devida altura 3 posts no Fuga (1, 2 e 3).

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Cavaco

Sera' so' impressao minha ou a vinda do nosso PR aos EUA foi um nao-acontecimento? Mesmo nao sendo visita de Estado, deveria ter alguma relevancia. Ca' nao, claro, mas parece que nem sequer ai.
Entretanto, os reitores portugueses visitam o Prof. Cavaco, preocupados com as reformas. Um bom teste ao anunciado apoio ao governo em materia de ciencia e educacao. Quem quer profissionalismo tem de querer os meios, ao menos para isso a visita aos states deve ter servido para relembrar...

Um percursor da ética neo-liberal

I didn’t care if I worked for Uncle Joe [referindo-se a Joseph Staline] or Uncle Sam, as long as he was a rich uncle.

Wernher Von Braun

Von Braun foi o engenheiro responsável pelo programa V-2. Programa esse que resultou na construção e utilização do primeiro míssil da História, na circunstância pela Alemanha Nazi durante a II Guerra. No fim da guerra rendeu-se aos americanos e foi levado para os EUA. Acabou por tornar-se no director do programa espacial americano nos anos 60, quando os EUA conseguiram chegar à Lua. A citação é retirada de uma entrevista que deu nessa época.

Regresso (II)

Tinha-me esquecido de como a Europa é lenta.

Metabloguismo

No Abrupto, ontem:
"Agora que os blogues começam a sentar-se no banco dos réus, o que é normal em si mesmo porque a lei não pode ficar à porta da Rede se nela se cometerem crimes, independentemente do juízo que se possa ter sobre os casos da actualidade, há uma coisa que me parece indefensável: que o autor ou autores de um blogue não sejam responsáveis pelos comentários que publicam, anónimos ou não, caso as suas caixas de comentários sejam totalmente abertas. Por isso, os blogues que acham que lá por porem uma salva de prata, ou um prato de barro, em cima de um monte de lixo, podem ser vistos apenas pela prata ou pelo barro, enganam-se. O lixo dos comentários, tantas vezes puramente calunioso, está lá, à vista de todos e não serve nenhuma liberdade, nem nenhuma opinião "anti-sistema", muito menos o "povo" ou a democracia. Bem pelo contrário, serve quase sempre o pior dos sistemas, a mesquinhice da aldeia, a claustrofobia do boato e da insinuação, o crime da calúnia. Depois não se queixem."
De que caso fala ele, sabem?
Como ja' a semana passada, nada disto e' novo e, apesar do tom, o JPP tem linkado e ate' escrito muita coisa distorcida, caluniosa e canalha que facilmente lhe poderia cair em cima; por isso o que me interessa e' aquilo a que ele faz referencia.

Parlamento condena Fundação D. Pedro IV no litígio com moradores

Por votação unânime do Parlamento, as 1400 casas dos bairros dos Lóios e das Amendoeiras (Marvila, Lisboa) entregues à Fundação D. Pedro IV vão reverter para o Estado (+inf. aqui). Os moradores e suas associações representativas vêm finalmente reconhecido o seu protesto e as suas razões (só faltou mesmo levar a lógica até ao fim e dissolver a dita Fundação, por desvio de funções).
Esta foi uma causa a que aqui nos associámos, ajudando na denúncia e na divulgação da petição pública.
O facto do Parlamento em peso ter votado neste sentido é um claro sinal da gravidade da situação, bem como um passo importante na vigilância parlamentar da actividade pública e na defesa do bem comum. E é mais uma prova de como um Parlamento a funcionar é vital para a democracia.

Há dias assim ou Smile you're at smiley's

My name is Lester Burnham.

This is my neighborhood.
This is my street.This is my Iife.
I'm 42 years oId.
In Iess than a year, I'll be dead.
Of course,I don't know that yet.
And in a way,I'm dead aIready.
Look at me:jerking off in the shower.
This will be the high point of my day.
It's all downhill from here.
Kevin Spacey in American Beauty

terça-feira, 26 de junho de 2007

Dionísio Pereira: manifesto a prol da liberdade de creación científica

Caros amigos,
Aproveito o seguinte e-mail enviado por Dionísio Pereira, investigador galego adicado (entre outros asuntos) ó estudo da represión franquista.

"Manifesto:
A todos/as os/as historiadores/as e investigadores/as. Compañeiras, compañeiros:
Como sabedes, hai poucos días foi admitida a trámite polo Xulgado de 1ª Instancia de A Estrada unha demanda contra min por parte da familia de Manuel Gutiérrez Torres, "camisa vella", antigo xefe local de Falanxe e ex alcalde de Cerdedo ate os anos 60. Non abundarei na cuestión, porque vos supoño coñecedores/as (ver a páxina web http://www.sinhorafranio.com/) dos detalles do asunto; tan só informarvos que a miña avogada considerou interesante a publicación na prensa dun manifesto a prol da liberdade de creación científica, na que se insire o labor do/a historiador/a, apoiado polo maior número de persoas adicadas a este tipo de traballos. O devandito manifesto, apoiado polas sinaturas, podería ser presentado no xulgado no momento procesal máis indicado, de acordo coa evolución do xuízo ou dun posible recurso.
En consecuencia, envíovos o devandito manifesto (redactado por colegas solidarios) no arquivo adxunto e solicito a voso apoio. A efectos de posible presentación no Xulgado, sería preciso o voso DNI, así como o lugar de residencia e a profesión. As sinaturas recolleríanse neste correo ou no de Xoán Carlos Garrido.
Obrigado a todos e todas de antemán.
Saúde
Dionísio Pereira".

PD (de Daniel Lanero): algunhas informacións sobre este desagradable e incrible asunto xa circularón pola blogesfera lusa, en concreto aqui no "Peão" en febreiro deste mesmo ano.

O dia B: do quiosque do Joe ao Centro Coltural Berardo

Sobre o foguetório do salão Berardo, já o essencial foi dito, embora pouco debatido quanto às suas implicações no quadro da política cultural.
Pelo lado positivo, é um chamariz e, a médio prazo, possivelmente uma (valiosa) colecção pública; pelo lado negativo, é o Estado a financiar de modo excessivo uma fundação privada para um investimento de alto risco, sendo que a compra de obras devia ser para colecções já públicas (Serralves, Chiado, Soares dos Reis, MNAA, etc.), e condicionando fortemente o principal centro cultural nacional e a sua política de diversificação de exposições e eventos ao desviar a maioria do espaço para a nova colecção.
Em tom sério recomendo os posts específicos do Daniel Oliveira (no Arrastão), do Nuno Teles (no Ladrões de Bicicletas) e do Pedro Sales (em 0 de conduta). O Nuno chama a atenção para 2 argumentos esquecidos: antes alegava-se não haver dinheiro para reforçar os orçamentos, mas para este tipo de museus já há; ficam agora em situação mais complicada os restantes museus (excepto Serralves), que vêm reduzida a sua fatia orçamental por desvio para este outro museu, faltando ainda os hermitages e quejandos que se anunciam.
Em tom humorístico, recomendo este tesourinho reprimente retirado do Fuga:
"Em 1.ª mão, eis como tudo começou, com grande sacrifício self-made man, tudo tão suadito, credo, foi só o amor à arte e aos indígenas que lhe permitiu aguentar as agruras desta separação:

cartoon de GoRRo (c) 2006"

ADENDA: no próprio dia da gala houve uma baixa de peso, entretanto tornada pública - António Mega Ferreira abandonou a presidência do redundante Conselho de Fundadores da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo (ler carta de demissão aqui).

Actrizes II





















A pedido do Carlos...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Galas à la carte

Hoje, ao passar pelo CCB exactamente à hora da «grande » abertura do agora Museu Berardo deparei-me com o trânsito fechado, um forte cordão policial, um desfile de automóveis do Estado e de personalidades da sociedade portuguesa vestidas a rigor. Confrontada com o acontecimento fiquei a pensar, em como parecem estar sempre a acontecer festas de gala, quer seja a propósito de finais de programas televisivos, ou de eventos culturais e, tristemente, cheguei à conclusão de que umas e outras são indistinguíveis.

Actrizes

Como estamos em mare' de posts cinematograficos, ficam 3 apostas para as proximas decadas de cinema (sem fotos, quem as quiser pode coloca'-las aqui no Peao).
Claire Danes (my personal choice)
Natalie Portman (runner up)
Tea Leoni (a nova Barbara Hershey?)
E estreiam agora filmes com duas delas.

Regresso (I)

Tinha-me esquecido de como a Europa é bonita.

domingo, 24 de junho de 2007

Tio e sobrinha

Image and video hosting by TinyPic

(para o enchamos tudo de futuros)

Long bullshit

Sem saber muito bem como, acabei numa sala de cinema a ver "Shortbus". É, sem a mínima dúvida, o pior filme que vi nos últimos anos.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Bom São João!


A fogueira de São João costuma fazer-se à noite, para a moças solteiras saltarem. A primeira que saltar bem a fogueira é a primeira a casar-se. Todas procuram saltá-la bem, para não ficarem solteiras.
Também se crê que o Sol baila na madrugada de São João. Para ver o milagre pega-se numa peneira e olha-se para o Sol. O mesmo sucede com as estrelas, à noite.
António Fontes, Etnografia Transmontana.

One Shot

Hoje, Meryl Streep faz 58 anos.


Na foto tinha 29. Interpretava Linda, e estava dividida entre Michael (Robert de Niro) e Nick (Christopher Walken), o teórico do "one shot" e o seu discípulo.
"You have to think about one shot. One shot is what it's all about." - Michael

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Apanhados do clima: olá, fresquinho!

Cartoon de GoRRo (c) 2007

Elevator Repair Service: Gatz

Na Culturgest. Para mais informações ver aqui.


Gatz é um espectáculo-maratona que apresenta o texto integral d’O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald: ipsis verbis, sem cortes nem montagem. Tudo começa quando um homem chega para trabalhar num escritório, saca de um exemplar do romance e começa a ler em voz alta. Os seus colegas mal parecem dar-se conta, mas como que por coincidência há acções e imagens que começam a sugerir ligações entre o livro e o escritório. Gatz aproveita o que há de único no teatro: ao vivo, imprevisível e emotivo; ao mesmo tempo o desafio é o de trazer para o palco a força da prosa de Fitzgerald, provocando a imaginação do espectador através do texto.O espectáculo pode ser visto todo num só dia (com três intervalos, um deles para jantar) ou em duas prestações.
Elevator Repair Service é uma companhia nova-iorquina que existe desde 1991. É um dos mais importantes grupos experimentais da cidade. Nos seus espectáculos combina comédia slapstick, cenários de alta e baixa tecnologia, textos literários ou found-texts, objectos encontrados e mobília deitada fora, assim como um estilo coreográfico altamente desenvolvido. (informação retirada do site da Culturgest)

Uma semana sem anúncios!?!

Desculpem lá mais este anúncio... mas não é todos os dias que um Peão é figura de cartaz. E ainda por cima para falar sobre desigualdades socais. A ver vamos!

Atención Perigo!! Conmemoradores soltos.




No seu excelente ensaio “Memoria del mal, tentación del bien” (Editorial Península, Barcelona, 2002), o filósofo, historiador e crítico literario búlgaro Tzvetan Todorov diferencia e ailla alomenos tres grandes tipos de discursos do pasado no presente: o da testemuña, o do historiador e o do conmemorador. Para Todorov o “conmemorador” produce o seu discurso no espacio público e o presenta como dotado dunha irrefutable verdade.
A conmemoración, a diferencia da historia, simplifica o noso coñecemento do pasado, tendo como obxectivo fornecernos de figuras e ídolos ós que venerar e de inmigos ós que aborrecer. A conmemoración ten un dos seus lugares preferentes nos medios de comunicación e, xornalistas e políticos (de tódolos niveis), téñense erixido nos “grandes conmemoradores” e nos grandes interesados na conmemoración do noso tempo. A conmemoración, resume o intelectual búlgaro é: “a adaptación do pasado ás necesidades do presente”.



Esta referencia introductoria ó pensamento de Todorov cobra sentido neste texto á vista da onda conmemorativa que ten asolagado á opinión pública española na derradeira semana. O venres día 15, cumpríronse trinta anos da celebración (15 de xuño de 1977) das primeiras eleccións “democráticas” en España despois dos corenta anos de dictadura do xeneral Francisco Franco. Foron unhas eleccións peculiares, nas que moitos españois e españolas votaban por primeira vez e outros facíano despois de corenta e un anos. Malia celebrárense nun día laborable (mércores) e estar fortemente controladas por un goberno herdeiro da dictadura, a participación superou o 80%.



Agora, trinta anos despois, non faltaron as conmemoracións e os programas especiais nas canles de TV, tanto públicas como privadas, así como as reportaxes especiais na prensa escrita e nos seus suplementos de fin de semana. O xoves día 14 tiña lugar un acto conmemorativo en Madrid ás portas do Congreso dos Deputados coa presenza de moitos dos deputados da primeira lexislatura da transición política, dos actuais, dalgún ex – presidente do goberno e mesmo dos reis de España.
Un agardaba – inxenuamente - que, a estas alturas, o discurso público (no seu plano conmemorativo) respecto da transición da dictadura á democracia tivera mudado algo dende que, a finais da década dos 80, inicios dos anos 90, comezara a conformarse unha interpretación do proceso de natureza autocomplacente e acrítica, na que se destacaba permanentemente o suposto carácter “modélico” (e mesmo exportable a outros contextos políticos como Latinoamérica ou a Europa do Leste postsoviética) da transición española; na que se lle outorgaba todo o protagonismo do proceso a habilidade e xenerosidade dunha irrepetible xeración de políticos e na que, sobresaían dúas personalidades por riba de tódalas demais, o rei Juan Carlos I e Adolfo Suárez, o fundador do pseudopartido “Unión de Centro Democrático” (UCD), e primeiro presidente do goberno da democracia.



Esta visión, sancionada a nivel dos medios de comunicación pola serie documental “La Transición”, encargada por Televisión Española á periodista – testemuña Victoria Prego ignoraba o decisivo papel da sociedade civil española nas mudanzas daqueles anos: as manifestacións populares en demanda de amnistía para os presos políticos; a presión exercida por novos movementos sociais como o veciñal, o estudantil, as feministas, os ecoloxistas; a conflitividade laboral protagonizada polos traballadores e as súas recuperadas organizacións sindicais; a reedificación e restauración – nun novo contexto – das vellas culturas políticas anteriores ó golpe de Estado de 1936; as reivindicacións de dereitos políticos por parte dos nacionalismos históricos… Tan só se deixaba un pequeno espazo (autocelebrativo) destinado a lembrar o papel dos medios de comunicación – e en especial da prensa escrita – na contribución á progresiva apertura da opinión pública e a consecución dunha verdadeira “liberdade de expresión”. Foron estes, por exemplo, os anos da aparición de cabeceiras tan importantes como “El País” ou “Diario 16”.



Un agardaba algo así como un novidoso “discurso dende abaixo” (por limitado que fose) dos conmemoradores, que reparara un pouco máis no papel daqueles españois que quixeron deixar de ser súbditos “aforados” para convertirse en cidadáns e deixara de insistir en que a democracia foi, en certo modo, o mérito de “políticos aperturistas”, modernos, conscientes e fillos do seu tempo que, malia formar parte dos cadros dirixentes da dictadura franquista, entenderon que o único futuro posible para España era a instauración dun réxime democrático e a “natural” integración no noso contexto europeo…



Agora si, as reportaxes – en especial as televisivas – teñen aportado desta vez un contributo decisivo, o que faltaba: a transición vista dende a óptica dos tan exitosos, dende hai uns anos en España, programas chamados “rosas” ou “do corazón”. E o centro das preocupacións “conmemorativas” desta prensa rosa ten sido Adolfo Suárez. ¿Por qué? Pois porque en Adolfo Suárez xúntanse unha personalidade pública de relevo para a recente historia de España, e unha vida persoal e familliar ideais para o tratamento folletinesco. É sinxelo “conmemorar” dende esta perspectiva a figura de Adolfo Suárez. Por unha parte porque o ex – presidente é hoxe, en certo sentido, e dito sen querer ferir a sensibilidade de ninguén, un “morto en vida” aqueixado de Alzheimer ou demencia senil e, xa se sabe, a conmemoración non está pensada para celebrar ós vivos, senón para celebrar ós mortos servindo ós intereses (mesmo as necesidades comercias dunha “prensa do corazón” que devora “personaxes” a toda velocidade), dos vivos.



Nestas semblanzas televisivas de Adolfo Suárez apenas se falou da súa biografía política, e menos aínda – só de pasada - da súa extracción política falanxista (mesmo daba a imprensión de que pertencer ó partido do réxime era a única opción posible para poder levar este cara á democracia), ou de que foi director xeral de Radio – televisión española durante o franquismo, ou mesmo que foi ministro – secretario xeral do Movimento (Falange) - . En troques, enfatizábase en que cando o rei o nomeou presidente do goberno era un político “semidescoñecido”. Tampouco se detiñan moito en feitos tan relevantes como a legalización do Partido Comunista de España (PCE), a violencia terrorista da estrema dereita, o enterro dos cinco avogados laboralistas asasinados en xaneiro de 1977 en Madrid, os “Pactos da Moncloa” (1977), a promulgación da Constitución de 1978, por poñer uns cantos exemplos.



Ó que máis metraxe adicaban era á enfermidade da súa muller e da súa filla primoxénita, ambas falecidas como consecuencia do cancro de mama hai uns anos, a que outra filla casou cun sobriño – neto crápula e drogodependente do dictador Francisco Franco, ou que o propio Adolfo Suárez padece, como consecuencia das traxedias familiares, o mal de Alzheimer dende hai cinco ou seis anos. Como tamén adoita acontecer, nesta ocasión, a conmemoración derivou cara á compasión, neste caso coa personaxe, conducindo en realidade cara a unha banalización do seu verdadeiro significado como líder político no plano do histórico. Desapareceron – do espacio do público, aínda que non de todo, por sorte – os xuízos históricos, para seren substituídos pola lacrimóxena composición química do papel couché. Adolfo Suárez vai camiño de transmutarse – sen poder el mesmo evitalo – nunha especie de Lady Diana de Gales, e xa é quen de xenerar adhseións sentimentais incondicionais entre persoas de idades tan novas que até estes días atrás nunca antes escoitaran falar del.



Daniel Lanero.

Em audição

Amanhã, quinta-feira, toca no grande auditório do CCB o Jay-Jay Johanson, que regressa a Portugal para apresentar o seu novo álbum "Long Term Psysical Effects Are
Not Yet Known" (2007), que podem ouvir na íntegra no DJPeão.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Ausências

Esta é mais ou menos a razão pela qual ando ausente há quase 1 mês. Nem sei mesmo se voltarei, porque depois de tudo concluído talvez esteja como o «Sr. Gouveia».



À atenção do futuro edil de Lisboa (e dos ladrões de bicicletas)


Vai iniciar-se em breve (15 de Julho) em Paris o serviço Velib "oferecido" pela Marie de Paris. Estão a ser instaladas pela cidade toda estações "self-service" de bicicletas, haverá uma estação a cada 300 metros, e para começar vão estar disponíveis 10000 bicicletas (dez mil!). As bicicletas são alugadas, mas a primeira meia-hora é gratuita. Pode obter-se uma subscripção ao ano, à semana ou ao dia (tudo baratinho), e é gratuito para quem tem o passe para os transportes públicos (NaviGo). Uma boa ideia que pode bem ser aproveitada noutras cidades.
Sim, eu sei que Lisboa é uma cidade com colinas, não plana é como Paris ou Amesterdão, etc... etc... Lyon também é uma cidade com bastante relevo e um sistema semelhante já existe há dois anos, onde aliás Paris se inspirou. E pelos vistos funciona.

(pequena video-reportagem aqui)

Independência fácil?


O debate televisivo de ontem que juntou sete candidatos às eleições da Câmara de Lisboa não trouxe grandes novidades. Mesmo aqueles que à partida sabem que jamais poderão assumir a presidência e que, por isso, estarão mais descomprometidos para poder avançar com propostas inovadoras, demonstraram uma tremenda falta de arrojo e de imaginação. Fiquei particularmente desapontado, embora já estaria de certo modo à espera, com o desempenho de Helena Roseta. Para além da proposta um tanto inoperacional da gestão partilhada que recuperou da sua vereação em Cascais (já lá vão 20 anos), não avançou nada mais de concreto. Preferiu assumir-se como uma espécie de conciliadora das diferenças, a mediadora de serviço que tentará criar pontes entre as várias sensibilidades. Ao fazê-lo esvazia a possibilidade de constituir um projecto autónomo e verdadeiramente independente para a cidade. Escolheu a via mais fácil!

terça-feira, 19 de junho de 2007

Parar

Hoje morreu-me um pedaço da infância: das corridas de bicicleta que empoeiravam os montes, das malandrices pegadas, da soltura... da esperança em querer ser alguém. Morreu jovem e desgraçado num país que não lhe deu oportunidade. Um país que teimamos em esquecer porque ambicionamos ser modernos e perseguimos alucinados a crista do mundo. Deixámos de olhar para trás como se isso significasse perder qualquer coisa de insignificantemente recente. Resta-me pelo menos parar… nem que seja para escrever este post.

Estado "social-democrata" vs. "corporativo"

Substituam "França" por "Portugal" na maioria dos locais e tirem algumas conclusões.
Traduzido do livro de que falei aqui (p.56-7).

«Em França, a esquerda recusa a ideia que há desigualdade entre os empregos públicos e os empregos privados. A ideia de que a sobreprotecção de uns produz desigualdades em detrimento dos segundos é refutada em nome da recusa do nivelamento por baixo. Na Dinamarca, tal dicotomia é considerada como inaceitável porque profundamente injusta. Uma das características do modelo dinamarquês é de assentar sobre o princípio da continuidade das condições de emprego e de trabalho entre o sector público e o sector privado. Não apenas a função pública é mais limitada (4% dos assalariados contra 30% em França), mas tudo é feito para aproximar o funcionamento da função pública do do sector privado (...) Para além disso, a correspondência entre a função e o estatuto (...) não existe no sistema dinamarquês, onde apenas uma reduzida minoria de funcionários beneficia de um emprego protegido. A ideia de que o Estado deve dispor de um grupo de funcionários amplo e protegido para assegurar as suas funções centrais é totalmente estranho à cultura política de um país onde a grandeza do Estado não faz qualquer sentido. Porque não queremos renunciar aos estatutos, mas dado que não estamos em condições de os generalizar, em França, os trabalhadores que beneficiam de um estatuto e outros que a ele não têm acesso são capazes de exercer a mesma função. Este tipo de situação seria simplesmente inaceitável num país escandinavo, dado que isso simbolisaria a desigualdade construída não pelo mercado mas pelo Estado. A regra é por isso aquela do contrato único para todos os empregos, incluindo os públicos. (...) O modelo dinamarquês (...) é ao mesmo tempo muito liberal e muito protector, sendo que o conteúdo desta protecção é muito diferente daquele que atribuimos em França. [Na Dinamarca] protege-se para facilitar e mudança e não para a conter

Nota: na Dinamarca, as desigualdades sócio-económicas e escolares são mais baixas, o desemprego mais reduzido, o imposto sobre o rendimento muito mais elevado, os níveis de protecção social mais altos, os indicadores de desenvolvimento social e de capital social superiores, e o PIB per capita mais elevado do que na França.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

It takes all kinds

Ha' textos que nem se percebe bem o que pretendem (mas nao partidarizemos!).
Ha' outros, como o de JMF sobre a inquisidora do ME, de que ali em baixa se fala, que se percebem demasiado bem - e ainda revelam a falta do uso de espelhos (o narcisismo dispensa-os, decerto).
Mas o que melhor se percebe sao certas omissoes (ja' escrevi um post com esse titulo e as reaccoes foram elucidativas, alias): depois de uma vista de olhos por alguns dos blogs mais activos sobre as questoes palestiniana e libanesa no ano passado, nao espanta ver o silencio dos que indicavam Arafat como a causa de todos os males e a genialidade da estrategia de Bush para forcar eleicoes na Palestina; nem o desinteresse demonstrado pelos teoricos da conspiracao e indignados a tempo inteiro de ontem perante a autodestruicao da Palestina e do Libano 'as maos de terroristas apoiados por estados ditatoriais da zona.
Ser faccioso deve ser delicioso, a avaliar pela quantidade de gente que pratica o genero.

Só a teimosia de Sócrates os leva a sério




Grandes clubes

O Real lá se sagrou campeão, conforme previsto. Em Barcelona, como em Lisboa, espera-se com ansiedade a próxima época. O Barça, como o Sporting e o Benfica (mais o Sporting, por muito que me custe..), teve o campeonato na mão e deixou-o fugir num jogo que não assisti, mas que fui ouvindo, vislumbrando e sentindo pelas ruas de Barcelona. Primeiro, e em antecipação, os adeptos do Barcelona e do Espanhol, misturavam-se pela cidade, entre milhares de turistas e habitantes anónimos. Depois, e enquanto, procurava um local simpático para jantar, as ruas despovoaram-se aos poucos, restando apenas alguns turistas. Ao passar por um restaurante, espreitei pelo vidro e vi na televisão a repetição de um golo do Barcelona. Queria ficar ali, mas não havia mesa e as minhas companheiras de viagem suspiravam por um jantar sem televisão, sem futebol. Fomos andando, e encontrámos um sítio com esplanada. Comemos e conversámos. Segui a conversa, enquanto olhava em redor, tentando analisar as expressões faciais de quem passavam, ao mesmo tempo que ouvia os gritos de golo entoados nos apartamentos de janelas escancaradas. Não sabia o resultado. Quando olhei para o relógio e percebi que o jogo teria acabado, percebi, então, que o Barça não tinha vencido. A cidade estava em silêncio. Sepulcral.
Embora me fosse indiferente o resultado, gosto de futebol. E, afinal, estava ali, e o Figo até tinha ali jogado no seu expoente máximo. Aí reside a grande diferença. Quem não gosta perde algo da vida, pode até parecer pouco. Mas não. Porque quem não gosta de futebol, tem pena de não gostar, e sabe, no seu âmago, que está em perda.

Provedoria

Ainda sem ler a continuação/conclusão, este post no Abrupto merece nota:

«6/6/07
Metabloguismo – sinais de crise


Assiste-se a um significativo empobrecimento da blogosfera que tem mais leitores, para além da pornográfica e futebolística, e que é essencialmente política e "literária". Por um lado, é cada vez maior a sobreposição da agenda comunicacional "lá fora" com a agenda "cá dentro". É um processo que resulta do reforço do contínuo entre blogues e jornais. Hoje não há nenhum tema dos blogues que não chegue praticamente em tempo real aos jornais, cujos jornalistas observam os blogues todos os dias. Por outro lado, o efeito de politização intensa dos blogues e da cada vez maior circulação dos autores de comentário nos blogues para as colunas dos jornais, da rádio e da televisão, torna obrigatório que eles sigam também em tempo real os eventos políticos. As agendas tornam-se mutuamente dependentes e o efeito final é empobrecedor. Há, no entanto, aspectos, como a crítica aos media, que ainda se centram apenas nos blogues.Este pode ser apenas um efeito transitório, mas existe. Mas o mais empobrecedor, é o aparecimento em força de fenómenos de "amiguismo" e "grupismo", que abafam o espírito analítico e tornam os blogues tão permeáveis à cultura da troca do favor e do silêncio crítico que já existe quanto baste na comunicação social tradicional e na sociedade portuguesa. Um livro não é bom apenas porque é publicado pelo autor do blogue ao lado e a permuta de pré-publicações e anúncios congratulatórios não pode ser apenas feita por passividade ou expectativa de retribuição. É suposto que quem anuncia um livro o acha com qualidade, o conheça ou o tenha lido. Senão os blogues ficam iguais ao Jornal de Letras, mais uma coterie, ou um grupo de coteries, mais ou menos rivais que disputam entre si o escasso espaço público das editoras e da "influência".
A polémica do "amiguismo" suscitada por João Pedro George foi um primeiro alerta para esta situação. Rapidamente redundou, pela habitual máquina simplificadora, em se saber se se podia ou não escrever críticas dos livros dos amigos e colegas, o que não é o ponto. No ponto, George tinha toda a razão e o modo hostil como foi recebido particularmente revelador de que tocara numa questão sensivel.
É uma espécie de Princípio de Peter. As razões do sucesso podem tornar-se as razões do insucesso. O sucesso da blogosfera criou um novo circuito literário, jornalístico, de comentário político, de crítica, que é, como se costuma dizer, "incontornável" para directores de órgãos de informação, editores, organizadores de colóquios, animadores culturais, empresas "culturais", vereações municipais, etc.. Mas os sintomas de entrada no establishment começam a ser evidentes, com a complacência generalizada nos blogues com os produtos da própria blogosfera.Que isto se discuta tão pouco é já por si um sintoma da doença. Não era isso uma das coisas que os blogues criticavam na imprensa?(Continua)»


Além de fazer justiça ao JPG, nele JPP retoma uma tese comum a bloggers, a da suposta originalidade da blogosfera; mas apenas para dar conta, ao contrário do entusiasmo autocongratulatório do meio (também nisso tão mainstream…), do fenómeno de redundância na bloga portuguesa em relação aos meios tradicionais que alegadamente superaria, e não sem um travo hegeliano.
Mais uma vez, e isto é a norma desde o inicio da blogosfera portuguesa, a evidência do «empobrecimento» é dada sem nunca se enunciar qual foi o enriquecimento prévio. Como aqui tenho de me repetir, posso ser breve: desde 2003, numa tese publicada em 2005 pela INCM, aguardo que me indiquem onde se encontra esse acervo de pérolas originais apenas na bloga acessíveis. O novo circuito, naquilo que a JPP interessa, é mimético do anterior – sempre foi.
Aquilo que sempre aconteceu foi justamente o que agora é motivo de queixa por JPP: são os circuitos «literário-políticos» (em muito apenas conversa de redacção vertida para a net) que se repetem nos blogs, sempre com a mesma (falta de) matéria e superficialidade. É por isso, aliás, que cada vez têm mais leitores, cujos gosto não variam quanto a conteúdo mas apenas quanto ao formato (e preço associado). O Abrupto é um exemplo dessa redundância, aliás, apesar de um genuíno esforço de originalidade e comunicação.
Haverá ainda que dizer uma palavra sobre o futebol e a pornografia, afinal dois de raros campos mais em que a bloga acrescentou comunicação até aí cerceada em vez de repetir o já feito. Apesar de (no Esplanar) já ter dado o exemplo da cultura rock (não apenas o consumo de música) como verdadeiro separador cultural daqueles que usam a net para reeditar o que já faziam noutros meios e os que a fazem original, não desdenho nem o porno nem a bola como factores influentes na bloga portuguesa. E haveria ainda que falar do humor, que JPP muitas vezes reduz a «engraçadinhos», e que é algo diferente da nossa velha tradição pícara e canalha. Até porque nada em tudo isso é tão empobrecedor como práticas habituais no Abrupto, desde a desinformação sistemática (como a sobre a INCM) até links para sites de canalhas minúsculos (passando por furar de bloqueios, que em Portugal são sempre apenas simulados).
Mas como é possível dar entrevistas para o JL a cada novo livro enquanto se diz mal dele como se nada se tivesse a ver, é sempre possível continuar a escrever como se se estivesse a ser muito original e contra-corrente. A continuar, portanto…

E ele di-lo como se fosse uma coisa má

E mais nada!

"J'ai demandé à François Hollande de quitter le domicile, de vivre son histoire sentimentale de son côté, désormais étalée dans les livres et les journaux, et je lui ai souhaité d'être heureux."

domingo, 17 de junho de 2007

Post ecologicamente incorrecto


Que saudades das ondas de calor!

sábado, 16 de junho de 2007

Empresários de meia face


Na maior parte dos casos não tenho grande paciência para o estado de espírito de Vasco Pulido Valente, mas não há dúvida que à custa de atirar em todas as direcções às vezes acerta no alvo. Hoje escreve, a propósito do tal relatório mistério da CIP sobre o novo aeroporto, que até o grupo de empresários que financiou o estudo se esconde de medo do seu melhor cliente: o Estado. De facto, é um sinal preocupante para a nossa economia quando assistimos os seus patrões mais proeminentes acobardarem-se perante o tal monstro que tanto acusam de ineficácia e de desperdício.

Esta democracia é muito injusta


Acho piada ao actual Ministério da Educação, quando os professores o acusaram de arrogância a Ministra respondeu que estes eram lamechas e vitimizavam o seu discurso. Agora, face aos vários escândalos mediatizados pela imprensa, o discurso do Ministério é o da vitimização. Afinal, os jornalistas são muito maus e até conseguem ser piores que os sindicalistas.

Dizem que é uma espécie de jornalismo

O país já discutiu muito o "caso DREN". O que vem nos jornais é, nestes episódios, central para a leitura pública que deles é produzida, e quem sabe como isto funciona, sabe que as histórias são muitas vezes, como se costuma dizer, "mal contadas". Não interessa para o caso. Independentemente do que possamos dele pensar, há todavia algumas coisas que julgamos difíceis de encontrar escritas, ou limites que pensamos quase impossíveis de serem ultrapassados. Hoje, sexta-feira, no "Público", José Manuel Fernandes (JMF) escreveu coisas que não podemos deixar de considerar de uma extraordinária boçalidade.
JMF tem, claro, direito a tudo: a pedir a demissão de tudo e todos, a atribuir isto e aquilo ao Ministério da Educação (ou qualquer outro Ministério), como faria qualquer transeunte que percebesse tanto de política como eu de bijouteria (ou seja, nada, sem desprimor para com o respectivo métier); afinal, com a "qualidade" das análises a que nos habitou nos últimos anos, já mesmo nada é de espantar. Mas confesso que estranhei como fora possível, no editorial do "Público" - escrito a propósito da entrevista dada na quinta-feira por Margarida Moreira ao "Diário de Notícias" -, JMF utilizar expressões como "a rotunda senhora" ou "a megalomania da senhora é proporcional ao seu volume".
Quando se chega ao ponto de evocar características fisionómicas de uma pessoa para a criticar, abandonámos o jornalismo de qualidade mínima e entrámos no populismo mais boçal.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Para quem acha que está tudo nos genes

O James Watson, por exemplo, acha que está tudo nos genes, e que a esquerda não gosta da Genética porque assim a culpa já não é do capitalismo (talvez em breve eu escreva um post a dizer o que acho do James Watson).
Para quem pensa como o Watson vale a pena ler as letras miúdas de três artigos publicados recentemente. Dois deles apresentam a descoberta de um gene responsável pela obesidade, o outro descreve um gene associado com a uma patologia cardíaca da coronária. Todos os três têm imensos autores, estudam amostras enormes (o que eu acho muito bem) para chegar a conclusões espantosas. Vejamos...
O primeiro artigo (pode ler-se o resumo aqui) mostra que os portadores de uma mutação no gene FTO (que quer dizer fat mass and obesity associated), que são 16% da amostra, têm em média cerca 3 quilos a mais que os restantes (TRÊS QUILOS). Ficamos a saber de onde vêm três dos quilos que temos a mais, para os anafadinhos resta saber de onde vem o resto. O segundo artigo (resumo aqui) diz que os portadores de mutações no mesmo gene FTO têm um risco de 22% de serem obesos. Isto quer dizer que têm 22% de probabilidade A MAIS do que os restantes de serem obesos. Se a população em geral tem uma taxa de, digamos, 10% de obesidade então os portadores do FTO terão 12,2%. Estão a ver a diferença que faz o gene? Finalmente o terceiro artigo (resumo aqui) mostra que para um tipo muito particular de doença coronária, os portadores de uma mutação num determinado gene (ainda não completamente identificado) têm um risco de 30 a 40% A MAIS do que o resto da população de ter a dita doença. Novamente, se a população tiver, digamos, um risco de 5%, quem tem esta mutação terá um risco de 7 ou 8%.
Sem dúvida, está tudo nos genes. Pois, pois...

To Renato with LUV :-)

Cinema francês em destaque: nas salas, estreia-se Lady Chatterley, de Pascale Ferran; no DVD, são lançados quatro filmes de François Truffaut, incluindo o belíssimo O Último Metro (1980), com Catherine Deneuve e Gérard Depardieu
Estreias da semana: "The Bridge" de Eric Steel "Lady Chatterley" de Pascale Ferran "Teresa, Corpo de Cristo" de Ray Loriga

ESTREIA
Belle Toujours de Manoel de Oliveira 5 de Julho
Bug: de William Friedkin 26 de Julho
Simpsons: O Filme de David Silverman 26 de Julho
A Invasão, de Olivier Hirschbiegel 13 de Setembro
Evening, de Lajos Koltai 25 de Outubro

informação retirada do blogue: sound + vision

People, a Tapada das Necessidades está necessitada, ok?

Numa das minhas deambulações bloguíticas, fiquei a saber que o Jardim da Tapada das Necessidades está em avançado estado de degradação. Duas das candidaturas à CML, por sinal ambas de esquerda, aproveitaram para se juntar ao Grupo dos Amigos do Jardim, na denúncia de tal situação (vd. aqui).
Este jardim de média dimensão (10 hectares) é um dos mais belos do país (tem um relvado à inglesa e uma fabulosa colecção de cactos). Está situado logo ao lado dum ministério, mas de nada lhe tem servido, pobre criatura (a não ser para parque de estacionamento forçado).
Fui vasculhar na Internet para ver se havia mais informação. Sim, há. É uma informação cuja leitura actual se afigura, no mínimo, bizarra; cá vai ela: a 3/6/2004 foi celebrado um protocolo entre o Ministério da Agricultura e a Associação Portuguesa de Jardins e Sítios Históricos, justamente para a requalificação do Jardim e de 3 edifícios (Estufa Circular, Casa do Regalo e Casa do Fresco), num prazo de 10 anos. Esse protocolo estabelecia a apresentação dum Plano de Restauro até 2005. E, agora, a pergunta sacramental: onde pára esse Plano de Restauro?
O pior disto tudo é que cabe à tal associação fazer a obra, a qual partiu para esta aventura sem conseguir apoios oficiais, a não ser a cedência dos tais 3 edifícios. E agora, como é? Passa-se a batata quente aos outros e prontos? Chegados a 2007, não deveria haver um ponto da situação, talvez mesmo o Estado assumir o que lhe compete? É que a propriedade é sua e tem seguramente mais facilidades para encontrar financiamentos comunitários e parcerias viáveis. Proposta sensata: o Ministério da Agricultura que transfira a propriedade para o Ministério dos Negócios Estrangeiros ou, se este não quiser, para a CML. Doutro modo, nunca mais é sábado...
À atenção das restantes candidaturas democráticas.
Nb: imagem retirada daqui.

Perdeu a vez?



Parece que o Peão se está a transformar num blogue de anúncios, tipo agenda cultural. Estará a chegar ao fim a sua breve caminhada?

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Atenção!

Hoje, dia 14, pelas 22 horas, a Eterno Retorno, livraria de Filosofia e Teatro, e a Ler Devagar, inauguram uma nova livraria comum na antiga Fábrica de Braço de Prata.

Ler mais aqui e aqui.

Blogosfera da semana

O funcionário cansado, com excelentes posts sobre a feira do livro, e não só. E, ainda, o magnífico sound + vision para quem gosta de música e de cinema. Que me dizem, amigos peões, de pôr na coluna da direita estes dois blogues?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

40 anos de erros

A semana passada por ocasião dos quarenta anos da Guerra dos Seis Dias o Courrier International publicou um número especial com um excelente dossier sobre esse conflito e as consequências que teve para o Médio Oriente nos últimos quarenta anos. Sem re-inventar a roda este número traz uma visão algo nova (pelo menos para mim), e coloca a Guerra dos Seis Dias como momento fundador do confilto Israelo-Palestiniano como o conhecemos hoje. A estrondosa vitória de Israel em 1967 tornou-se no seu maior problema. Israel ocupou então os territórios palestinianos, podia depois ter trocado Terra por Paz mas ficou com a Terra. Não oferece qualquer contestação a necessidade que Israel tinha de fazer a Guerra dos Seis Dias para a sua própria sobrevivência naquele momento. A questão é a de saber o que fazer depois com a vitória. Os Partido Trabalhista, força política claramente dominante na altura, preferiu perseguir o sonho da Grande Israel, ocupou e começou de imediato a contruir colonatos (enganando o aliado americano, para depois fazer a política do acto consumado). A prazo não conseguiram nem a Grande Israel nem a Paz, o que ditou a destruição do próprio Partido Trabalhista e abriu a via para as forças políticas religiosas. Aliás o fenómeno simétrico aconteceu do outro lado, entre palestinianos como entre israelitas o conflito asfixiou os movimentos laicos e catapultou o extremismo religioso.
Do outro lado também abundaram os erros. Os países Árabes vizinhos nunca souberam (nel quiseram) negociar a Paz com Israel, nem os Palestinianos tão pouco. Arafat sempre foi muito mais um chefe de um movimento de resitência armada do que um Chefe de Estado. Nunca hesitou em comprar alianças e dividir as hostes para manter o poder (o que provavelmente não é alheio aos conflitos entre palestinianos que se vêm hoje).
Este número do Courrier International têm testemunhos dos que viveram a Guerra dos Seis Dias de ambos os lados. E sobretudo, o que apreciei bastante, apresenta opiniões de israelitas e palestinianos críticos para com o seu próprio campo. Como por exemplo o psiquiatra palestiniano Eyad Al-Sarraj que escreve um artigo de opinião defendendo que os palestinianos não aprenderam nada com os seus próprios erros, nem com as vitórias e derrotas de outros povos (como África do Sul e Argélia por um lado e Somália por outro). Apresenta também a visão de uma nova geração de historiadores do conflito. Por exemplo é Gershom Gorenberg, um desses historiadores, que refere que os Trabalhistas enganaram os governo americano com respeito aos colonatos, para levar a cabo a política do facto consumado.
No final a opinião consensual é, tragicamente, que nada de substanical mudou nos últimos quarenta anos. A Guerra dos Seis Dias criou um problema que persiste, sem melhorias e sem solução à vista. Para resumo vale a pena ler o editorial (na coluna da direita) de Philippe Thureau-Dangin, e este outro no The Economist a que o primeiro faz referência.

terça-feira, 12 de junho de 2007

atmosferas

Há cidades incriveis e há maneiras incriveis de representar as cidades. Uma cidade é o espaço, mas também é o tempo. São indestrinçaveis. Ao estar em Barcelona, lembrei-me vezes sem conta do filme Lost in translation (2003) de Sofia Coppola. Não que Barcelona tenha algo que ver com Tóquio, nem que me tivesse sentido em perda, ou que me fosse difícil entender o "outro". Rigorosamente nada disso. Também não senti a leveza das imagens do filme de Sofia Coppola, nem parti para o aeroporto ao som dos The Jesus and Mary Chain. Porque é que, então, os associei? Esta dúvida persistiu uns dias, pois não estava a fazer sentido. Até que hoje, no combóio para Coimbra, entre o embalar da velocidade do Alfa, a leitura que interrompi, e o olhar lá para fora pela janela, fez clique. O primeiro clique foi o óbvio: o facto de eu ir num combóio e ter olhado pela janela, qual Scarlett Johanson (com um ar, todavia, menos melancólico e muito menos estiloso). O segundo clique é que já me convenceu. A forma como as sensações se sobrepõem à narração, ou melhor, como as sensações criam a narração. Sofia Coppola é magistral no modo como representa essas sensações e da forma como as cria. Toda a atmosfera do seu filme (e dos outros também) é intrinsecamente sensorial. As suas imagens autorais possuem essa marca da sensorialidade, e também da sensualidade, embora não seja isso que me interesse neste momento. O clique fez com que me apercebesse que o importante ali era o facto de as sensações terem um poder dominante sobre tudo o resto. O Palau de la música e as casas do Gaudi, no seu expoente modernista, são isso mesmo: quem olha para ele(a)s derrete-se em sensações várias. Ou seja, as formas da arquitectura modernista de uma cidade burguesa que é Barcelona, provocam no espectador (aquele que olha embasbacado) momentos de sensorialidade extrema perante o objecto impossível. (Há uma impossíbilidade intuída na arquitectura modernista, uma vez que aquilo que criaram não parece, de facto, possível. O Palau é exemplo disso)

Histórias de vida (agenda)

Quem se interessa por histórias de vida tem esta 3.ª feira dia gordo. Durante todo o dia decorrerá o «Simpósio Internacional Histórias de Vida: novos desafios teóricos e práticos», no ISCTE (sala B203). É coordenado pela antropóloga Elsa Lechner no CEAS-ISCTE, e nele participam especialistas oriundos do Brasil, Canadá, França, Suiça e aqui do cantinho.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Fórum Sociológico


Saiu mais um número duplo da revista Fórum Sociológico, o nº15/16 (do Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), com um dossiê dedicado às "Realidades e Contextos Profissionais", organizado por José Resende e Luís Rodrigues. O índice pode ser encontrado aqui (e os números anteriores aqui).
Deste número duplo consta uma recensão minha, onde apresento e discuto o livro do sociólogo François Dubet, L'école des chances: Qu'est-ce qu'une école juste? (2004, Seuil, La république des idées).



Descubra as semelhanças


Pista: Aparentemente Vodka constava do menu da refeição antes de ambas as conferências de imprensa.

No domingo passado...

O domingo passado foi o último dia da 77.ª Feira do Livro de Lisboa.
Ficam na retina os jacarandás no seu esplêndido espectáculo lilaz.
O bolso mais leve. Mais fólios em casa.
Agradáveis passeatas e encontros ao sol. E a vista do Tejo, claro.

Portanto, o local é excelente, não dá para 'inventar' outro.
Agora, dá para melhorar o que há, lá isso dá.
Aqui ficam umas dicas desgarradas. É de graça, e nunca se sabe. E se fizessem sentido, queres lá ver?

Primeiro que tudo, dar nexo àquilo, meu santo Olegário! Todos os anos muda a ordem. Porque não deixarmo-nos do preguiçoso sorteio e trabalharmos para os visitantes? O espaço dos alfarrabistas já existe, mas é modesto, não vem sinalizado no mapa e em lado nenhum, portanto, sinalizar os espaços sectoriais; haver um só espçao para editoras institucionais; outro só para o ensaio; outro só para a ficção (no caso de editoras híbridas, dividiam a produção); um para pequenas editoras (que deviam ter descontos), etc.. Faz sentido haver um grande espaço infanto-juvenil, sim, mas todo concentrado num dos lados.
Depois, espaços para descansar no meio dos estaminés, dos próprios organizadores, onde se pudessem folhear catálogos, jornais, etc..
Mais programação cultural avulsa. A CML devia concentrar aí o arsenal cultural neste período.
Em certos fins-de-semana valeria a pena abrir mais cedo do que as 15h costumeiras.
Nb: imagem retirada daqui.

domingo, 10 de junho de 2007

"La gauche doit sortir du pessimisme social"

Enquanto a UMP de Sarkozy se preparar hoje para obter mais uma verdadeira landslide eleitorial, a esquerda devia ler as reflexões do politólogo Zaki Laïdi numa entrevista de hoje no Le Monde. E, já agora, o livro que assina com outro politólogo, Gérard Grunberg, intitulado Sortir du pessimisme social : Essai sur l'identité de la gauche (Paris, Hachette, 2007).

Little Portugal

Hoje é feriado nacional, Dia de Camões [1524? - 10.06.1580], de Portugal e das Comunidades Portuguesas (gosto desta ordem: o indíviduo, a nação, a diáspora). O Público destacou as Comunidades e eu lembrei-me da festa do ano passado em Kennington Park, South Lambeth, Londres. Fui consultar o programa deste ano e tudo na mesma: missa, rancho folclórico, música pimba e fados. Tal como nas festas religiosas e profanas que se sucedem nos meses de Verão, um pouco por todo o país. Não me identifico com as 'atracções' do programa, mas iria lá na mesma, pela companhia, pelas sardinhas, pelo caldo verde... Sabendo que ali se cruzam múltipas identidades e, mesmo a identidade partilhada pelo maior número de foliões (ser português), tem significados muito distintos para cada um.

Continuas a vestir-te mal


Sobre Portugal lembro-me muitas vezes de uma música de Sérgio Godinho intitulada "Não te deixes assim vestir...", do albúm Coincidências (1983) que, quanto a mim, é um dos melhores discos que já se fizeram por estas terras .




Ai, Portugal
dar-te conselhos é bem pouco original
(mas) se realmente não quiseres querer-te mal
olha p´ra ti, ó Portugal e não te deixes assim vestir
O meu país
foi outro dia ao alfaiate encomendar
"toilettes" novas p´ro mundo se embasbacar
e se dizer, e se elogiar
que bem, que chique
que beleza
para falar com franqueza
parece outro com esse ar
Mas há coletes que são de forças
por mais que o digam não ser
não te deixes assim vestir
não te deixes assim vestir
Ao meu país o alfaiate respondeu: venha cá
quero saber com que linhas se coserá
o fato feito que fará
a sensação das redondezas
bem que eu não tenha a certeza
que seja de elogiar
O meu país outrora usando fraque, luva e paletó
se rebentar pelas costuras, é só
que o fato que é da trisavó
não é necessariamente
aquele que no presente
nos fará soltar um "oh!"
Porque há coletes que são de forças
por mais que o digam não ser
não te deixes assim vestir
não te deixes assim vestir
Sérgio Godinho

O meu mote para o 10 de Junho

"Não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo". (Sócrates-o-original)

Portugall

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional (que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas

Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador

Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir

Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade

Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos
o meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos

Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propôr-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou

Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe

Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca.

Jorge de Sousa Braga
("Portugal", in O poeta nu, 2ª ed., Lisboa, Fenda Edições, 1999 [1991])
Gosto muito deste poema. Vai directo ao assunto, embora de modo imprevisível. Desconstrói e ao mesmo tempo é terno e cúmplice. Fala seriamente de coisas sérias sem deixar de ser irónico. Em suma, retira a pomposidade donde ela nunca devia ter estado. E, claro, é muito apropriado ao dia de hoje. Digo eu.
Quem quiser saber mais sobre o autor, que é do Norte e médico, além de poeta nado na minhota Vila Verde, pode ir aqui.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Livre acesso ao conhecimento

Foi recentemente apresentado na Câmara dos Deputados do Brasil um projecto-lei que requer que todas as instituições de ensino superior público e as unidades de investigação fiquem obrigadas a construir os seus repositórios institucionais, onde deverá ser depositada toda a produção técnico-científica dos seus corpos docente, discente e de pesquisa. O diploma estabelece ainda que esses conteúdos deverão ser divulgados através da rede global, a internet, de forma livre, para que qualquer pessoa possa consultar, copiar, descarregar.
Trata-se de uma iniciativa de grande importância, não apenas para o Brasil, mas para o conjunto da comunidade científica. Em Portugal, há também um movimento a favor do Acesso Livre à literatura de carácter académico ou científico.
Eu gostava que este movimento fosse ainda mais longe: além da investigação 'acabada' (dissertações, teses, relatórios, trabalhos de final de curso, etc.), o auto-arquivo em livre acesso devia também incluir instrumentos de análise de suporte à produção científica. Por exemplo, inquéritos, entrevistas, biografias, recolhas de história oral e outros trabalhos de base, elaborados por investigadores de Ciências Sociais, em instituições públicas e com financiamento público.
Quando citamos um livro ou uma fonte existente num arquivo público, é fácil qualquer pessoa cotejar a citação com o original. Porém, quando citamos um excerto de uma entrevista que dirigimos ou nos reportamos aos resultados de um inquérito que lançámos, os nossos pares (para não falar do público em geral) não têm acesso garantido à informação que recolhemos. Se outras razões não existissem, parece-me que esta é suficientemente forte para defendermos o auto-arquivo em acesso livre da produção científica (acabada e em curso) realizada no sector público: a possibilidade de verificação/confrontação. Ocorre-me também que muitas vezes repetimos trabalho já feito ou podíamos aproveitar dados compilados por outros (com a respectiva menção de responsabilidade, é claro).
À atenção do Conselho de Reitores e do Conselho dos Laboratórios Associados.
___
Imagem retirada daqui.

A blogofrase da semana


Por mariomar no umafotopordia

Diz que é uma espécie de compromisso sem compromisso

quinta-feira, 7 de junho de 2007

O ADN da esquerda

"A esquerda não gosta da genética, porque mostra que nem todas as falhas dos seres humanos se devem ao capitalismo. Pode ser apenas má sorte com os genes que se tem".

James Watson, biólogo que descobriu a sequência do ADN, entrevista ao Público (31/3/07).
Citação chegada por email (obrigado Zé!).

MD - edição de Junho

Separados à nascença

Há umas semanas, passei umas boas horas a rir ao ler um dos blogues de que o Carlos Leone tinha deixado referência: http://ceposdos90.blogspot.com. As descrições são de ir às lágrimas, e de repente ficamos nostálgicos de ver jogar estrelas como Luiz Gustavo, Horvath ou Paulinho Santos (esse grande caceteiro).
Ao ler hoje a crónica de Santana Castilho, fina e sofisticada como sempre, no "Público", fez-se, de repente, luz: cheguei à conclusão de que ele é o mais caceteiro opinion-maker que por aí escreve, o verdadeiro Paulinho Santos do nosso espaço público.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Babyji

Abha Dawesar é uma escritora indiana que vive em Paris (creio). Estou a ler uma obra intitulada babyji, comprada na feira do livro, e que saiu há pouco tempo traduzida. Estou a gostar muito do livro, da narração de uma adolescente, que faz com que o leitor se aperceba que está a ser guiado por uma perspectiva totalmente juvenil. Através da personagem principal, entramos no vasto mundo da trama. Vemos o que ela nos mostra, sendo que ela se pauta por uma avidez de mostrar, de conhecer, de viver e de amar.
Abha Dawesar esteve em Lisboa em Março a promover este seu livro. Além disso, ela tem um blog, no qual fala de Lisboa.