segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Desinformação e falta de debate dá nisto.

Nesta última semana os transgénicos voltaram à baila aqui em França. Confesso que à partida até me parece bem tudo o que seja para chatear a Monsanto (a grande multinacional dos OGMs que detém uns quantos monopólios, sim, porque cada OGM é um monopólio). Mas quando não é pelas boas razões preocupa-me um bocado. A história é a seguinte. Os transgénicos não são muito populares em França, como em muitos lados. Aqui o icon altermundialista José Bové dedica-se a destruir campos de transgénicos, ou então a fazer greve de fome. Não sei se a generalidade das pessoas sabe muito bem o que é um OGM, suponho que tenham uma visão da coisa mais influenciada pelos mitos do Frankenstein ou do Admirável Mundo Novo do que por artigos de jornais ou documentários. Por um lado talvez tenham esquecido que aqueles livros são de ficção-científica, ou talvez tenham esquecido o significado da palavra ficção, por outro lado é verdade que notícias de jornais, documentários ou reportagens autenticamente informativos sobre o assunto não abundam (convenhamos que um invasão de um campo de transgénicos em directo no jornal da noite é muito mais excitante). Entretanto o presidente Sarkozy está em franca queda nas sondagens, e nem o romance com a ex-manequim o ajuda, mas isso agora não tem nada a ver. Como não tem nada a ver a proximidade das eleições autarquicas. Nem sei bem com que origem levantaram-se umas ondas a respeito de um milho transgénico MON810, da Monsanto. Vai dai nomeia-se uma Alta Autoridade Provisória (sic) para os OGM, para deliberar sobre o assunto. O presidente Sarkozy diz que se houver "dados novos" e "dúvidas sérias" sobre o MON810 se suspende a cultura. No dia seguinte o diligente porta-voz da recém-criada Alta Autoridade, Jean-François Le Grand (da UMP, partido de Sarkozy) anuncia que há "dados novos" e "dúvidas sérias" e, acto continuo, é suspensa a cultura do milho transgénico em França (a elaboração e aprovação de uma lei sobre o assunto fica para depois das eleições, mas isso também não tem nada a ver). Tudo estaria muito bem não fora logo de seguida 12 dos 15 cientistas membros da Alta Autoridade, mais dois não cientistas, se sentirem na obrigação de esclarecer publicamente que no parecer que emitiram nunca serem mencionadas "dúvidas sérias" e que os "elementos novos" nunca são qualificados como negativos.
Assim de repente parece-me que se está a instrumentalizar politicamente um assunto em que as pessoas têm receios, resultado - na minha opinião - da falta de informação e debate. De caminho, em vez de se regulamentar uma área que precisa de regulamentação e intervenção estatal, deita-se fora uma tecnologia que tem um grande potencial e na qual - diga-se de passagem - muitos governos investiram dinheiro em investigação fundamental que produziu resultados. Vai fora o bébé com a água do banho.

1 comments:

Isabel Valente disse...

A ausência de comentários é capaz de ser mais uma prova da desinformação sobre este assunto...