quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O direito à tristeza

Já repararam que o amor, quando não correspondido, se torna um interdito, quase um tabu, uma vergonha a esconder (para quem o sente, bem entendido)? No entanto, nem sempre foi assim e não o é em todo o lado.

Grande parte da literatura universal criou-se à luz de amores desamados e autores há que engalanam até em arco por causa deles. Sociedades há em que do pranto se faz arte e até profissão. No nosso tempo e espaço de hedonismo é que sofrer - por amor ou outra causa - se tornou obsceno, quase pecaminoso, um atentado às nossas obrigações.

A felicidade a todo o custo - e o consumo generalizado de ansiolíticos e anti-depressivos: um belo par de irmãos siameses. Ao que parece, não nos podemos permitir a tristeza, a angústia, a mágoa. A realização dos sonhos tem que ser hoje, já - o que se compreende, tantos anos passados a fazer do futuro um dia cada vez mais incerto.

O meu pleito é que esta regra não escrita que nos proíbe a tristeza, a angústia e a mágoa seja como todas as outras, ou seja, para ser quebrada. Ainda que o mundo acabe amanhã, permitam-nos a nossa tristeza hoje.

(não ponho tags que não me entendo com uso que deles por aqui se faz)

4 comments:

Renato Carmo disse...

Não há qualquer racionalidade nos tags, é um puro exercício de irracionalidade... é triste mas é a verdade.

Zèd disse...

E ser triste é uma virtude, põe as tags como te aprouver

Zèd disse...

E em relação ao post propriamente dito:

"Ditoso seja aquele que somente
Se queixa de amorosas esquivanças,
Pois por elas não perde as esperanças
De poder n'algum tempo ser contente.

Ditoso seja quem, estando ausente,
Não sente mais que a pena das lembranças,
Porque inda que se tema de mudanças,
Menos se teme a dor quando se sente.

Ditoso seja, enfim, qualquer estado
Onde enganos, desprezos e isenção
Trazem o coração atormentado.

Mas triste quem se sente magoado
De erros em que não pode haver perdão,
Sem ficar n'alma a mágoa do pecado. "

Luis Vaz

samuel disse...

...e também há uns fados absolutamente gloriosos na sua tristeza, angústia, mágoa (é escolher), que felizmente estão gravados. Alguns até têm mesmo música e versos muito bons.