sábado, 5 de janeiro de 2008

Seymour Benzer (1921-2007)

Morreu a 30 de Novembro passado Seymour Benzer, um dos maiores cientistas do séc. XX. Apesar da sua formação universitária, e mesmo o doutoramento, serem na área da Física, os seus trabalhos mais notáveis foram na Biologia Molecular primeiro, e nas Neurociências depois. Um Físico tornar-se um grande biólogo parece-me que só é possível nos países anglo-saxónicos, e por mais evidências que haja em contrário (Benzer não é um caso raro) é um fenómenos que os académicos na maior parte da Europa (França e Portugal incluidos) nunca vão compreender. Benzer foi muito bem sucedido enquanto físico, contribuiu para o desenvolvimento dos primeiros transistores, mas ainda assim achou que a Biologia era mais interessante (é compreensível...) e começou a trabalhar com vírus. Esse seu trabalho determinou que um gene não é indivisível, mas que é constituido por unidades mais pequenas. Verificou-se mais tarde que essas unidades mais pequenas correspondem aos nucleótidos ou bases que compõem o ADN. Na continuação do seu trabalho chegou também ao conceito de cistrão que conduziu ao conceito de gene tal como o conhecemos hoje. Foi um enorme passo na transição da Genética Clássica para a Genética Molecular, em que o gene deixou de ser uma entidade abstracta para passar a ter uma existência concreta. Nos anos sessenta decidiu mudar novamente de área, e decidiu estudar o comportamento através de uma abordagem genética. Largou os Vírus e adoptou a mosca do vinagre Drosophila como modelo experimental. Fez inúmeras descobertas importantíssimas, nomeadamente na descoberta das bases genéticas e moleculares da neurofisiologia, ou dos comportamentos circadianos (o ritmo diurno/noturno). Embora fosse um defensor da ideia que o comportamento tem uma importante componente genética, um assunto sempre controverso e mais ainda na época em que começou a estudá-lo, Benzer nunca entrou em polémicas (contrariamente a James Watson, como sabemos). A sua resposta a essas controvérsias era um lapidar "Let the Science speak for itself" ("Deixem a Ciência falar por si"). Seymour Benzer continou a trabalhar, e a ser produtivo, até ao fim da vida, no seu laboratório na Caltech (California Institute of Technology), em Pasadena, Califórnia. Publicou 36 artigos nos últimos dez anos, mais do que em qualquer década anterior. Seymour Benzer nunca ganhou o prémio Nobel (o que é uma enorme falha no currículo da Academia Sueca).

Fontes: RETROSPECTIVE:Seymour Benzer (1921-2007), publicado pelos seus antigos colaboradores Yuh-Nung Jan e Lily Jan na revista Science, e obituário por Utpal Banerjee e S. Lawrence Zipursky publicado na revista Cell (ambos apenas para assinantes).

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