quinta-feira, 13 de março de 2008

Se acham que os transgénicos são maus, o que dizer das alternativas...

É curioso que os transgénicos sejam considerados como "Organismos Geneticamente Modificados" e outras plantas produzidas por métodos tradicionais de melhoramento vegetal como a mutagénese não o sejam. Mutagénese, como o nome indica, é quando são provocadas mutações deliberadamente, como químicos ou raios ultra-violeta, ou outras coisas do género. No melhoramento de plantas é coisa que se utiliza desde o início do século passado. Como a mutagénese é feita às cegas, para depois se procurar e seleccionar mutantes com as características desejadas, não se sabe muito bem que raio de alterações genéticas se estão a produzir. Vem isto a propósito de um estudo publicado na respeitada revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (o estudo é todo feito por investigadores a trabalhar em Portugal, também vale a pena realçar). Este estudo mostra que a técnica de mutagénese provoca perturbações no genoma das plantas muito mais radicais do que os transgénicos. Quando um do principais argumentos contra os transgénicos é a chamada "poluição genética", quando as regras de cultivo de transgénicos são muito mais apertadas, quando a grande maioria dos transgénicos são estéreis contrariamente às variedades geradas por mutagénese, não deixa de ser preocupante.
Nota: Caso não seja ainda óbvio, não sou um adepto dos transgénicos, não gosto é que sejam recusados por más razões, sem debate, e graças à desinformação em massa. E repito o problema dos transgénicos não é ambiental nem de saúde pública, é económico.

Parte 2:
Clara Pinto Correia, figura conhecida do grande público principalmente pelos artigos de opinião que plagia, mas também pela sua actividade ocasional de dançarina, diz que também têm opinião em assuntos relacionados com a Biologia. Pelo que conheço tem mais talento para a dança do que para a Biologia (mas quem sou eu?...). Clara Pinto Correia no programa de Radio da Antena 1 sobre Ciência, "A1 Ciência", falou sobre transgénicos, e disse um chorrilho de asneiras. Pedro Fevereiro, investigador com créditos firmados na matéria, dirigente da Ordem dos Biólogos, e presidente do Centro de Informação de Biotecnologia escreveu uma carta aberta em resposta aos disparates de Clara Pinto Correia, vale a pena ler essa carta. Para quem quiser ouvir o programa de rádio em questão (o que desaconselho vivamente) e ler a carta de Pedro Fevereiro, ambos estão disponíveis no lado b do Peão. Mas fica a pergunta: porque é que não convidam para estes programas especialistas que realmente percebam do assunto?

5 comments:

Anónimo disse...

Convidam a CPC porque é irmã da Margarida que é casada com o Represas, e por aí fora.

São sempre as mesma famílias que aparecem em todo o lado e que têm o poder. Chama-se lobbie.

Anónimo disse...

Aborrece-me escrever um comentario que possa de alguma forma ser interpretado como uma reaccao a favor da CPC, mas aborrece-me ainda mais que se argumente que os 'especialistas' sao as pessoas mais indicadas para falar de transgenicos (ou outro qualquer assunto relacionado com technologia). Percebo que o autor do post deseje que o debate seja mais 'informado' mas a perspectiva dos especialistas e' insuficiente para definir o contexto e processo de inovacao e implementacao das tecnologias. O facto e' que na Europa ocidental ha uma proporcao consideravel da populacao que nao ve necesssidade para a implementacao de trangenicos (porque nao teem dificuldade de acesso a comida, porque preferem biologico, etc.) e que portanto sobrevalorizam os riscos potenciais da tecnologia e subvalorizam os ganhos potencias em productividade, etc. Isto sao juizos racionais e que portanto teem de ser levados em consideracao no processos de deliberacao. E por levados em consideracao nao quero dizer convida-los para uns 'focus groups' ou assim mas tomados como interlocutores serios em 'conversas' com especialistas, campanhias de biotecnologia, etc.

Prontos, era so' isto..

Tiago

samuel disse...

Normalmente os "especialistas que realmente percebem do assunto" estão ocupados a trabalhar nos tais assuntos, exactamente para os perceberem...
Por isso é que quase sempre os comentadore e convidados de programas disto e daquilo, são especialistas em generalidades, com muuuito tempo livre.

Zèd disse...

Tiago,
Concordo mas não em tudo. Nem só os especialistas podem falar do assunto, mas quem fale do assunto para o público tem a obrigação de fazer o trabalho de casa e não dizer barbaridades. É claro que os juízos são racionais, e devem pesar na tomada de decisão, independentemente de se estar de acordo ou não. No entanto se esses juízos são baseados em informações erradas, ou falta de informação, então o assunto deve ser debatido, e quem tem conhecimentos deve comunicar a quem quer formar uma opinião informada sobre o assunto. No caso dos transgénicos há muita desinformação, e opiniões baseadas em argumentos incoerentes ou contraditórios.

Samuel,
Sim os especialistas podem estar muito ocupados, mas faz parte, ou devia fazer das suas obrigações comunicar para fora da comunidade científica. Deviam arranjar um bocadinho de tempo. Ainda para mais muito do financiamento vem dos contribuintes, convinha que dissessem aos contribuintes para que serve o dinheiro.

dr maybe disse...

Tiago,

a questão económica dos transgénicos é provavelmente muito mais perversa nos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. a maioria das sementes transgénicas são estéreis, as plantas que crescem dessas sementes não dão sementes, o que cria um ciclo vicioso de dependência relativamente aos detentores das patentes transgénicas. por isso, se aqui na europa a nossa preocupação inicial é o consumo de produtos "naturais" a preocupação racional noutros paises é a dependência na agricultura a um fornecedor de sementes após qualquer colheita. e acredite que a percentagem do lucro que os fornecedores de sementes transgénicas é uma boa maquia do resultante da produção...