sábado, 29 de março de 2008

Verdades Paulo Teixeira-Pinto

José Mário Silva pôs aqui a nu os aforismos do monárquico e milionário Paulo Teixeira-Pinto, publicados no seu canto da revista NS sob a rubrica «Folha sem cálculo». JMS tem razão nas críticas que faz, não a tem na indignação que insinua. Teixeira Pinto, que defraudou os accionistas do BCP e teve um efeito nocivo no sistema financeiro português, contribui agora, com os seus aforismos e a sua personalidade, para enriquecer o léxico e o imaginário da língua portuguesa. Até 22 de Março, data da publicação dos pensamentos do ex-banqueiro, os portugueses (e imagino os brasileiros também) que quisessem denunciar de modo figurado uma verdade óbvia teriam de recorrer a uma personagem importada: o senhor La Palisse. Este nobre e militar (1470-1525), um dos grandes de França, era conhecido por não andar por terra quando navegava num barco.
Paulo Teixeira-Pinto, com apenas dois aforismos, colocou-se a par do imenso, do universal La Palisse. O segundo aforismo é o seguinte: «Atenção: em cada vida, há sempre múltiplas vidas, mas cada homem é ainda e sempre o mesmo desde o primeiro sorvo de ar até ao último sopro sob os ossos.» No primeiro aforismo conjuga-se com felicidade a transcendência judaico-cristã e a ressonância zen. Admirai, ó mortais e pobretanas, esta ilustre vacuidade: «O que faz de cada um de nós um indivíduo é exactamente ser um in-divíduo, ou seja, não divisível, uno e único.» Eis uma verdade Paulo Teixeira-Pinto.

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