quarta-feira, 9 de abril de 2008

Daniel Sempre

Na matéria da atitude perante a participação nos jogos olímpicos, concordo muito com o que diz Daniel Cohn-Bendit que sempre me pareceu um político muito lúcido.
"Foutre le bordel" em Pequim, parece-me a postura mais proveitosa na perspectiva duma melhoria das condições de vida dos próprios chineses e dos habitantes do Tibet (e claro da Sousa Pires e irmãos de Vila Nova de Famalicão que iniciou o boicote para lutar contra a concorrência chinesa).
O boicote "simples" não serve para nada. Os outros boicotes (Moscovo e Los Angeles) não mudaram grande coisa. Mas a participação de atletas (alguns deles, apesar dos treinos e dos produtos que devem ingerir, devem ter uma opinião sobre a democracia e os direitos do homem), a presença de centenas de jornalistas, de turistas, etc. na China pode, sim, causar muitos calafrios à ditadura chinesa e quebrar um pouco o ambiente liberticida. Imagino que é de isso que os democratas chineses estão à espera.

E o discurso da autonomia do desporto perante a política, é uma treta. Escolher Pequim foi político. Pequim quis os jogos por razões políticas. E até cá no nosso burgo, o desporto é política. E há muito tempo. Lembra-o o selo que foi sobre o SLB campeão europeu. Lembra-o o uso do Eusébio pelo Estado Novo no tempo das guerras coloniais.

Aqui fica uma parte do discurso do Cohn-Bendit

"Il faut foutre le bordel pendant les jeux olympiques à Pékin"
Discours en séance plénière à propos du comportement de l'UE face à la Chine
26. mars 2008
Le fait que les jeux olympiques aient lieu en Chine est indiscutablement un acte politique et nous ne devrions pas l'ignorer. C'est pourquoi Dany Cohn-Bendit demande de saisir cette occasion pour établir un grand débat sur la démocratie et la situation des droits de l'homme en Chine. Il invite le monde entier- que ce soit les sportifs, les politiques, les journalistes ou le grand public à "foutre le bordel", un désordre promulguant la liberté d'expression, de pensée et d'information, un premier pas vers un régime plus démocratique en Chine. Car c'est seulement en cette liberté que "courir, sauter et nager valent la peine."

Aqui fica o discurso do DCB

3 comments:

Sofia Rodrigues disse...

Nem sabia se deixava o meu comentário aqui o no post abaixo. A pressão pelo «boiocote» está toda a ser posta nos cidadãos, turistas e atletas, deixando de lado o verdadeiro responsável, ou seja o Comité Olímpico, que deveria ser muito mais exposto e pressionado. Deviamos saber quem são aqueles que tomaram a decisão, quais os seus interesses para depois institucionalmente serem postos em causa. Penso que quem tomou a decisão não pode continuar a fazer parte do Comité.

Zèd disse...

Oh Sofia, isso leva-nos para uma outra discussão, seguramente muito longa. Basta lembrar o que foi a escolha de Salt Lake City para os JO de Inverno 2002, ou a escolha de Londres para os JO de 2012.
Parece-me que os protestos que já ocorreram com a chama olímpica, e talvez os que ainda vão ocorrer, põe a pressão também no COI. Se os protestos levarem a China, como diz Conhd Bendit, a arrepender-se de ter organizado os JO, o COI também se vai arrepender de ter escolhido Pequim. Esperemos que sim.

Sofia Rodrigues disse...

Eu sei Zéd, mas para essa exposição do Comité, em muito podia contribuir o jornalismo, o jornalismo de investigação. Assim, tudo se passa ao nível das imagens dos protestos, que claro que têm impacto, mas que fica muito aquém da profundiade do assunto.