sábado, 5 de abril de 2008

Os Inúteis

Foi recentemente e em DVD que descobri I Vitelloni/Os Inúteis (parece que no Brasil o título é Os Boas Vidas) de Fellini. O filme data de 1953, do início da carreira do mestre italiano, que com ele ganhou um prémio no Festival de Veneza. Passa um pouco despercebido numa filmografia em que brilham obras primas: La Dolce Vita, Fellini 8 ½, Amarcord, etc. Mas é um grande filme, onde a memória do neo-realismo se mistura com o humor anárquico e a liberdade do olhar de Fellini.
Em Os Inúteis não há um argumento sólido ou tese visível – a narrativa vai construindo-se em volta de cinco personagens, das histórias e da inacção de cinco homens com trinta e tal anos, que vivem em casa dos pais, numa pequena vila italiana, e passam o tempo em festas, errâncias, seduções e quimeras. O líder do grupo, Fausto, engravida a namorada, é obrigado a casar e arranja um emprego medíocre que não tarda a perder. É uma história que não faz sentido nos dias de hoje. Ao mesmo tempo, a ideia de uma adolescência que se prolonga até ao absurdo, a inquietação, a dificuldade de levar uma vida a sério e satisfatória, parecem bem actuais. São os paradoxos da aldeia global, que tanto abre horizontes inconcebíveis numa pequena povoação dos anos 50, como recria condições de dependência e fragilidade social, psicológica, económica que não constavam dos sonhos modernos das cidades do futuro. I Vitelloni é um filme a redescobrir.

2 comments:

vallera disse...

e os planos dos inúteis quando um dos amigos deixa a cidade e parte de combóio?

João Miguel Almeida disse...

Mágníficos movimentos de câmara, como se os inúteis estivessem a ser filmados de um comboio em movimento.