terça-feira, 14 de outubro de 2008

A crise em cartoons (II) - efeitos imediatos

Depois das causas, os efeitos, a começar pela corrosão da economia norte-americana, que o Fed tentou conter desesperadamente, mas também tardiamente (sendo o primeiro consequência do segundo...). Assina este cartoon o editor de caricaturas do jornal Seattle Post-Intelligencer, também ele multi-premiado, incluindo 2 Pulitzer (1999 e 2003). Quem quiser apreciar melhor a obra de David Horsey pode ainda ir aqui e aqui.

2 comments:

Porfirio Silva disse...

Porque é preciso recomeçar a pensar (a menos que se pense que "a crise" foi um carnaval e já estamos em quarta-feira de cinzas...), permito-me interromper para sugerir uma visita a Para uma economia política institucionalista .

Daniel Melo disse...

Já li a versão resumida (o tempo disponível não me permite agora mais do que isso) da proposta teórica de Alain Caillé e achei bem estimulante.
Concordo com muitas coisas, com algumas não, mas pareceu-me que falta ser mais concreto, ficando-se grandemente pelo enunciado:
"Uma das principais conclusões da economia política institucionalista é que não existe «a melhor de todas as receitas» para um arranjo: é preciso ter em conta o contexto e a dependência da trajectória para qualquer sistema económico".
É claro que se deve ter em conta o contexto e a trajectória, mas também tem que haver princípios comuns genéricos e a procura de fóruns para um novo modelo consensualizado. Quais são eles?

"A economia política institucionalista pretende que nenhuma cooperação viável e sustentável pode ser alcançada e estruturada apenas por via da racionalidade instrumental, seja paramétrica ou estratégica. Qualquer coordenação, para ser efectiva, envolve em maior ou menor grau a partilha de certos valores e a existência de uma regulação política."
A questão está em concretizar essa regulação política e, já agora, também o tipo e grau de redistribuição, sendo que esta última questão parece ser pouco explorada.

"Tanto as formas de regulação pelo mercado como pelo Estado devem ser combinadas para que sirvam a coordenação social em sentido lato – e, mais do que isso, é preciso contar com a própria sociedade civil e associativa e com as diversas formas de feixes de relações sociais".
Concordo e parece-me fundamental deixarmos de pensar a política em termos de Estado-mercado e introduzir também a sociedade civil organizada, mas acho que podia ser mais concreto. Que tipo de relações e procedimentos se devem estabalecer? Quais os fins a alcançar?

"uma sociedade democrática procura os meios efectivos para desenvolver as capacidades (empower) do maior número possível de pessoas". De acordo, mas quais são esses meios e essas capacidades?

A última parte do texto abre portas a trajectos bem distintos, sem contudo aprofundar as situações específicas que tem em consideração:
"É por isso que as reformas progressivas, e não impostas de fora, são mais seguras do que as reformas radicais. Mas isto não é defender um reformismo tímido? É defender reformas que, uma vez postas em marcha, ninguém quer travar (assim resistindo, por exemplo, a mudanças eleitorais). Assim é que se podem conseguir reformas basculantes (shifting reforms). Reformas tímidas que podem ser revolucionárias. Mas a situação política pode ser de tal ordem que só uma revolução, uma brusca mudança de regime político, seja capaz de iniciar tais reformas".
Ainda assim, ajuda a pensar, desde que ponha de lado essa ideia exclusivista de que "a convicção de que só uma economia política institucionalista pode dar um quadro de referência coerente e potenciador dessas diferentes abordagens [económicas não ortodoxas]". É que assim corre o risco de se tornar mais uma proposta fechada em si mesma, pois só ela se arroga a capacidade de fazer a síntese do que considera essencial, sem debate prévio, confronto e troca.