sábado, 4 de outubro de 2008

É IgNobel!

Como todos os anos, foram atribuídos esta semana os prémios IgNobel. Fiquei ligeiramente desiludido; e não é que no meio dos trabalhos hilariantes que com toda a justiça merecem um IgNobel houve prémios para trabalhos que até são interessantes? Que g'anda seca! O comité IgNobel está a baixar o nível de exigência na atribuição dos prémios. Outra nota interessante é que vários dos trabalhos premiados, três pelo menos, foram publicados em revistas científicas das mais prestigiadas: a Nature, o New England Journal of Medicine e a Proceedings of the National Academy of Sciences.

Resumindo...
Os merecidos IgNobel deste ano foram:
- IgNobel da Paz: Para o Comité Federal Suiço para a Ética da Biotecnologia Não-Humana, extensível aos cidadãos suíços, por consagrarem o princípio legal que as plantas também têm dignidade. O que será da jardinagem na Suíça daqui para a frente? E as vacas vão poder continuar a pastar?
- IgNobel da Biologia: Para uma equipa da Faculdade de Medicina Veterinária de Toulouse, França, por descobrirem que as pulgas de cão saltam mais alto que as pulgas de gato. Informação de extrema utilidade.
- IgNobel da Física: Para dois físicos californianos por demonstrarem matematicamente que um fio de cabelo, ou qualquer tipo de corda, se agitado o suficiente acabará inevitavelmente por formar um nó. Mais informação de extrema utilidade.
- IgNobel da Química: Exaequo para uma equipa inglesa por demonstrar que a Coca-Cola é um excelente espermicida e para uma equipa taiwanesa por demonstrar exactamente o contrário. O pior é que ficamos sem saber se é ou não.
- IgNobel da Literatura: para o inglês David Sims pelo ensaio "You Bastard: A Narrative Exploration of the Experience of Indignation within Organizations.". O títalo diz tudo.

Os prémios para trabalhos que até me parecem realmente interessantes:
- IgNobel da Economia: Para três estudantes do Novo México, EUA, por demonstrarem que as dançarinas de strip-tease ganham mais em gorjetas durante a fase da ovulação.
- IgNobel da Medicina: Para Dan Ariely, da Universidade de Duke, nos EUA, por demonstrar que os placebos caros são mais eficazes do que os placebos baratos.
- IgNobel das Ciências Cognitivas: Para um grupo de investigadores japoneses e húngaros, que observaram que uma amiba (ser unicelular) consegue descobrir o caminho mais curto para sair de um labirinto, o que sugere que a amiba com uma única célula pode ter alguma inteligência. Uma amiba inteligente não é fascinante?

Ainda há um ou outro que não é nem merecido nem interessante. E aproveito para deixar um prognóstico: com essa estória da contaminação com o HIV através de gotas de sangue, suor e lágrimas (ou uma cuspidela) para cima de legumes crus, não me espantaria se visse os juízes da relação de Lisboa, e do STJ a receber um IgNobel.

Pelo que vi nenhum dos premiados deste ano chegou ao nível do vencedor do IgNobel da Medicina de 2007. Podem ver o discurso de aceitação no vídeo abaixo (o vídeo da cerimónia de 2008 estará em breve no site improvavél).


2 comments:

JSA disse...

Até que enfim vejo mais alguém que acha que algumas destas investigações são realmente interessantes. Não sou só eu...

Mas, num comentário pessoal, parece-me que a experiência com a amiba não explicitará necessariamente inteligência. Poderá ser uma questão algo diferente e que tenha a ver com as dinâmicas de fluidos em que a amiba se move. Mas sem ler o artigo (coisa, por muito interesse que o assunto até possa ter, não vou fazer), não posso dar uma opinião mais concreta.

Zèd disse...

Caro JSA, ainda bem que concordas comigo, partilho do mesmo sentimento "não sou só eu..."

Quanto às amibas, a "inteligência" é na realidade processamento de informação, obviamente não a mais remota forma de consciência. Mas é interessante que uma só célula consiga determinar o caminho mais curto para sair do labirinto (a amida estende prolongamentos celulares em todas as direcções, preenchendo o labirinto, e depois determina o caminho mais curto). Talvez o funcionamento da amiba seja, a nível celular, algo semelhante a um neurónio individual, e por isso perceber a amiba pode eventualmente ser útil para perceber o processamento de informação.

O artigo na Nature são na realidade apenas cinco parágrafos (http://www.nature.com/nature/journal/v407/n6803/full/407470a0.html), vale a pena ler.