quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Memória e justiça em Espanha: Garzón ordena investigação judicial dos desaparecidos do franquismo e exumação de valas comuns

O juiz Baltazar Garzón declarou que a Audiência Nacional espanhola tem competência para julgar alguns dos crimes do franquismo, ordenando uma investigação judicial dos desaparecidos e a exumação de 19 valas comuns, incluindo a do poeta Federico Garcia Lorca. O argumento principal é o de que estão em causa crimes contra a Humanidade, o que cai na alçada deste tribunal e não foi abrangido pela Amnistia de 1997 nem são crimes que prescrevam. Segundo estimativas apresentadas no auto judicial, foram 114.266 os desaparecidos da Guerra Civil espanhola e da subsequente repressão franquista até 1951.
Este processo iniciara-se em Setembro, em resposta às denúncias apresentadas 2 meses antes por associações que lutam pela recuperação da memória histórica, que solicitavam uma investigação aos desaparecimentos, sequestros, assassinatos, torturas e exílios forçados cometidos após 1936, a fim de que o Estado espanhol "cumpra as suas obrigações de reparação" das vítimas pelas violações dos direitos humanos de que foram alvo (ap. El Mundo, cit. pelo Público).
Mais informações aqui ou aqui. Na imagem, presos políticos levados para um campo de concentração franquista.


6 comments:

Anónimo disse...

¿Se reabrirán las fosas de Paracuellos del Jarama?

Daniel Melo disse...

Caro anónimo:
a exumação da vala comum de Paracuellos del Jarama (http://es.wikipedia.org/wiki/Matanzas_de_Paracuellos) não está entre os pedidos feitos pelas associações de recuperação da memória, por isso, calculo que não conste da investigação de Garzón, mas não estou certo.
Seja como for, parece-me legítimo que caso alguém, ou alguma entidade, fizesse um pedido nesse sentido, esse pedido devia ser correspondindo.
Desenvolvo este post num post seguinte (vd. http://avezdopeao.blogspot.com/2008/10/histria-memria-poltica-e-justia.html), para os interessados.

Matos disse...

mais uma vez Baltazar Garzón nos entretêm com as suas palhaçadas mediáticas de perseguição política ...

engraçado ver a esquerda retrogada presa ao passado, aplaudir tamanhas enormidades... sintomático...

claro que os comunas foram sempre as vitimas, os malfeitores da história sempre foram os "Faiscistas"...

tortadejamon disse...

SIM À RESTAURAÇãO DA MEMÓRIA

Olá pessoal,

Acho que o que vocés chamam de "palhaçadas" e restaurar apenas a memória e a dignidade daquelas pessoas que foram assassinadas só por serem mestres de escola ou sindicalistas.

Ao respeito dos gajos que falam das valas de Paracuellos gostaría de lhes dizer que estas não existem. As vítimas de Paracuellos estão sepultadas no cemitério desse vilarejo e os seus assesinos foram julgados (e fusilados) no tempo da ditadura. As vítimas da ditadura que reagiu contra o regime democratico da república não tiveram essa sorte, e decerto foram mais.

As vítimas da ditadura franquista sumam mais de 100.000, estão sepultadas em beiras de estradas ou cemitérios ao longo do meu pais, é não há razão, mesmo, para não as procurar.

Uma democracia, se for verdadeira, nem só precisa disso, DEVE fazê-lo.

Daniel Melo disse...

Afinal, parece que o nosso caro anónimo só queria trazer ruído, pelo que nos informa tortadejamon no comentário supra, que agradeço.

Quanto ao comentário do sr. Matos, será que ainda vale a pena dizer-lhe que tem sido a pressão da sociedade civil a trazer para a ribalta a questão da punição dos principais fautores das ditaduras latino-americanas e ibéricas? E que foi o PSOE que trouxe esta questão para a agenda pública em Espanha, com a Lei da Memória Histórica, espaldado na legitimidade democrática obtida nas urnas? E que muitos dos que estão nesta luta pela dignificação das vítimas do franquismo são netos e outros familiares dessas mesmas vítimas, dinamizando dezenas de associações de recuperação da memória? E que o direito a um enterro condigno é um direito básico de qualquer ser humano?

Essa estória dos comunas vem de longe, era já assim que a ditadura salazarista se referia a todos os presos políticos, para os diabolizar e descredibilizar. Mas essa já passou à história. Outros há que teimam em repetir frases gastas do passado e em misturar alhos com bugalhos, na vã esperança de apagar as inconveniências e a má consciência.

Matos disse...

o que para si DM é "estória de comunas", para mim é coerência simples ... qual o critério deese Juiz? porque raio o Baltazar Garzó se apressou-se a ir prender o Pinochet ao aeroporto, enquanto os ditadores Africanos passeiam-se impunes pelas cimeiras Europeias ?

sejamos coerentes sff