segunda-feira, 31 de março de 2008

O descarte da dama de ouro

Lula não é de ir ao inferno com ninguém. Ao Contrário, gosta de estar no paraíso. E de preferência sozinho. Foi assim com o seu superministro e articulador político Zé Dirceu (com quem Lula nunca morreu de amores) e com Antônio Palocci (este sim homem de extrema confiança do presidente) , ambos muito bem cotados para a sua sucessão em 2010, mas que foram abatidos em pleno vôo por envolvimento em escândalos. Resultado: eles saíram queimados de todo o imbróglio e o presidente fortalecido.

Outro sério candidato à sucessão de Lula abatido pelofogo amigo” foi o senador Aloízio Mercadante. Como candidato ao governo do estado de São Paulo, na eleição de 2006, se fosse vitorioso poderia tornar-se um dos nomes mais fortes à presidência da República, em 2010. Entretanto, sem qualquer motivação lógica/e ou política foi envolvido no escândalo da compra de um dossiê contra candidatos do PSDB, o que resultou num tiro no . E de forte candidato petista a ganhar a eleição paulista e líder do governo no Senado, transformou-se numa opaca sobra moribunda da política nacional. Obra da causalidade política? Feitiço da oposição? Não acredito também.

Parece-me que a receita deu certo e com Dilma Russeff não será diferente. Com o argumento de que a Casa Civil se transformou num alvo fixo da disputa política, o Palácio do Planalto tratou de colocar a “dama de ourocomo possível carta de descarte, “até que a poeira do escândalo dos cartões corporativos abaixe”. Será este o verdadeiro motivo do descarte? Ou será que a visibilidade e o fortalecimento da ministra incomoda determinadas alas lulistas do PT? É exatamente esta a pergunta que me faço.

Como não acredito em coincidências em política, não desprezo a possibilidade de ser esse mais um capítulo de uma manobra de enfraquecimento de qualquer outro postulante do PT à presidência de República que não seja o próprio Lula. Ou seja, caso não passe a alternativa do terceiro mandato, o plano B seria entregar o governo federal à oposição e apostar no seu fracasso para uma volta triunfal de Lula, em 2014, por mais dois mandatos. Uma cartada perigosa, mas plenamente viável pra quem tem as melhores cartas na mesa e sabe como ninguém fazer o jogo político tupiniquim. E este é o caso de Lula, que se sair do governo como a popularidade que tem hoje será imbatível em 2014. Piração minha? Pode ser. Mas não creio. Então senhores, façam as suas apostas!

domingo, 30 de março de 2008

Manchete imaginária

Governo pede a D. Policarpo que controle o catolicismo de

alguns membros do Episcopado.

Uma Igreja litigante

A Igreja católica pede a Sócrates que controle o laicismo de alguns membros do PS! Era o que mais faltava! O que é feito do princípio da separação entre o Estado e a Igreja? Já se esqueceram que o Estado é laico?
Tudo por causa do fim anunciado do divórcio litigioso.
É manchete na última hora do Público em linha: O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Carlos Azevedo, criticou o projecto do PS de fazer desaparecer o divórcio litigioso da lei portuguesa, considerando-o "um grande erro que o país vai pagar caro no futuro". Disse ainda que o projecto, ­que será debatido no plenário da Assembleia da República a 16 de Abril, é mais um sinal claro da postura de afrontamento que o actual Governo assumiu relativamente à Igreja Católica.
Não vislumbro a tal postura de afrontamento da parte do governo. Já da parte da CEP verifica-se uma clara intromissão em matérias que não lhe dizem respeito, como a laicidade de membros de um partido político e o casamento civil. Ainda por cima, em defesa da litigância!

sábado, 29 de março de 2008

Verdades Paulo Teixeira-Pinto

José Mário Silva pôs aqui a nu os aforismos do monárquico e milionário Paulo Teixeira-Pinto, publicados no seu canto da revista NS sob a rubrica «Folha sem cálculo». JMS tem razão nas críticas que faz, não a tem na indignação que insinua. Teixeira Pinto, que defraudou os accionistas do BCP e teve um efeito nocivo no sistema financeiro português, contribui agora, com os seus aforismos e a sua personalidade, para enriquecer o léxico e o imaginário da língua portuguesa. Até 22 de Março, data da publicação dos pensamentos do ex-banqueiro, os portugueses (e imagino os brasileiros também) que quisessem denunciar de modo figurado uma verdade óbvia teriam de recorrer a uma personagem importada: o senhor La Palisse. Este nobre e militar (1470-1525), um dos grandes de França, era conhecido por não andar por terra quando navegava num barco.
Paulo Teixeira-Pinto, com apenas dois aforismos, colocou-se a par do imenso, do universal La Palisse. O segundo aforismo é o seguinte: «Atenção: em cada vida, há sempre múltiplas vidas, mas cada homem é ainda e sempre o mesmo desde o primeiro sorvo de ar até ao último sopro sob os ossos.» No primeiro aforismo conjuga-se com felicidade a transcendência judaico-cristã e a ressonância zen. Admirai, ó mortais e pobretanas, esta ilustre vacuidade: «O que faz de cada um de nós um indivíduo é exactamente ser um in-divíduo, ou seja, não divisível, uno e único.» Eis uma verdade Paulo Teixeira-Pinto.

Saravá!, São Salvador de Todos os Orixás e Santos

Foi do encontro dos Orixás africanos com os Santos católicos que, em 29 de março de 1549, nasceu São Salvador da Baía de Todos os Santos, ou simplesmente Salvador, a primeira capital brasileira e a cidade mais multiétinica e multicultural tupiniquim. A sua riqueza maior não está nas suas belas praias, na arquitetura ou na beleza natural de suas mulheres, que deixa o turista desavisado embasbacado. Não. Isso tudo muitas outras cidades também o têm. A sua riqueza maior é a sua multiplicidade cultural, onde todos são negros, índios e brancos. A cor da pele? Ora a cor da pele. É apenas um detalhe imperceptível aos olhosdaltônicos do soteropolitano. E é exatamente desta mistura racial que temos os principais ingredientes para a culinária mais saborosa de um povo: a boa índole, a solidariedade, a alegria, a musicalidade e a riqueza folclórica, enfim.... E que os atabaques do candomblé se juntem ao coro de anjos para te desejar muito axé e um feliz aniversário. Saravá!, São Salvador!

A republicana Condoleezza Rice elogia discurso de Barack Obama

Tudo indica que Barack Obama se recuperou do tsunami provocado pelo seu ex-pastor Jeremiah Wright. Uma nova sondagem divulgada ontem pelo Instituto Pew Research Center mostra o senador democrata na frente da senhora Clinton (com 49% dos votos contra 39% ). Ainda segundo a sondagem, 51% dos entrevistados disseram que Obama soube como lidar com a polêmica. entre o grupo de seus eleitores, este número sobre pra 84% . Noutra simulação, o candidato democrata também venceria a disputa pela presidência dos Estados Unidos com 49%, contra 43% dos votos do republicano John McCain. Aqui os dados completos desta sondagem.

Parece-me que o discurso de Obama conquistou (de certa maneira) corações e mentes dos dois lados da política americana. É o caso, por exemplo, de Condoleezza Rice. A secretária de Estado, em conversa ontem com o ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, não escondeu a sua satisfação de como Obama lidou com a questão racial nos Estados Unidos. Além de elogiar e aprovar o discurso do democrata, afirmou que “há um paradoxo e uma contradição para este país e nós ainda não os resolvemos".

Refeito do susto, os principais alvos de Barack Obama agora são o estado da Pensilvância, em 22 de abril, no qual estão em jogo 158 delegados e depois os estados de Indiana (com a disputa por 72 delegados) e da Carolina do Norte (115), ambos em 6 de maio. Veja infográfico da corrida democrata abaixo.

OBS. Como os números sobre as primárias diferem entre os vários veículos de Comunicação Social, tenho adotado a AFP como fonte de informação.

Para mais tarde recordar

Revisitar o erro, dez anos anos mais tarde.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Dia Mundial do Teatro

Foi ontem. E a RTP que tinha estado tão bem durante 30 anos a ignorar o dia, logo decidiu reatar a tradição do Aqui há fantasmas (que há-de ter passado pelo menos uma vez por semana durante toda a minha infância), para transmitir em directo uma indescritível peça vagamente inspirada em obras de Almeida Garrett.
Os primeiros 20mn (já não consegui ver o resto) foram agonizantes: coristas agarradas ao próprio Garrett davam à perna, as actrizes reviravam os olhos e guinchavam, os actores punham o peito para fora e atiravam a cabeça para frente, num cenário que de reconstituição histórica, só tinha o pior gosto de todas as épocas, mais uns vasos com plantas.
Se a RTP não consegue melhor que isto, só espero que passe outros 30 anos sem assinalar a data.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Por falar em racismo

Coisas destas ainda acontecem. A história passou-se com William Gallas, jogador de futebol titular da selecção francesa, e foi contada pelo próprio num programa de televisão. De passagem por Paris para jogar pela selecção francesa Gallas reuniu-se com a família e amigos, e quis celebrar a ocasião com Champanhe. Foi a uma loja no 16° bairro (a zona mais cara de Paris), e quis comprar 8 garrafas de Champanhe da melhor marca. O vendedor recusou sob o pretexto que apenas se podia vender duas garrafas de cada marca por cliente. Pequeno pormenor: Gallas é negro. Gallas saiu da loja e pediu ao chauffer para ir ele comprar as 8 garrafas de Champanhe. Pequeno pormenor: o chauffer era branco. Conseguiu comprar as garrafas de Champanhe sem problemas. Gallas regressou então à loja e confrontou o vendedor com a situação. A resposta do vendedor: "Desculpe, não o reconheci". Moral da história: racistas sim, mas para figuras públicas abrimos excepções.
Gallas apresentou queixa contra o vendedor e a loja.

Amy Winehouse entra na luta contra o cancro de mama. Boa!

A cantora britânica Amy Winehouse aparecerá como veio ao mundo (ou quase) para uma campanha de conscientização sobre os riscos do câncer (cancro) de mama entre mulheres jovens. As fotos, onde a vencedora de cinco Grammy posa apenas com uma guitarra e fitas adesivas sobre os mamilos serão publicadas pela revista inglesa "Easy Living", na edição de abril próximo. Além de Winehouse, a atriz Helena Bonham Carter e a cantora nigeriana Sade também aderiram à campanha. Não sei se esta é uma jogada de marketing para chamar atenção depois que notícias suas envolvendo drogas pesadas e álcool se tornaram lugar comum em sua vida. Mas, de qualquer forma, a iniciativa é digna de aplausos.

Nb: Foto de Carolyn Djanogly

O Poeta da Negritude

"mais l'œuvre de l'homme vient seulement de commencer
et il reste à l'homme à conquérir toute interdiction immobilisée aux coins de sa ferveur
et aucune race ne possède le monopole de la beauté, de l'intelligence, de la force
et il est place pour tous au rendez-vous de la conquête"(1)

Aimé Césaire, Cahier d’un retour au pays natal (1956)

(este post é uma promessa antiga à Cláudia)

Voltando ao episódio do rev. Wright que parece ter causado mossa na corrida de Barack Obama para a Casa Branca. Afinal o que tem o rev. Wright de tão escandaloso? Do tempo que tive nos EUA (que foi bastante, e adorei) uma das imagens que me ficou foi, quando assisti a um jogo da NBA, ver adeptos negros, que provavelmente pagaram com metade do ordenado o seu bilhete, levantarem-se, tirarem o chapéu, e com a mão no lado esquerdo do peito ouvir o hino dos EUA. Ficou para mim como um mistério insondável na natureza que negros, num país onde o racismo é quotidiano, onde as desigualdades socio-económica entre negros e brancos são gritantes, onde foi preciso passar por uma guerra civil para abolir a escravatura e onde nem sequer a promessa dos dois acres e uma mula foi cumprida, que negros, dizia eu, respeitem e sintam esse país como a sua pátria. Custa-me a perceber que cause tanta indignação que o rev. Wright diga "God Damn America!". Não temos que subscrever o que ele diz, mas a reacção da virgem ofendida soa-me a hipocrisia.

Este episódio fez-me reler o magnífico "Cahier d'un retour au pays natal" de Aimé Césire, o poeta da negritude. O Cahier é uma poema sublime, e ao mesmo tempo um murro no estômago, brutal, que deixa qualquer um encostado às cordas. É todo ele atravessado pela questão identitária da negritude. O que é ser negro? O que há de comum a todos os negros? A sua história, o seu sofrimento, a sua sorte. Há claro, quase nunca explicitado, o sentimento do branco como o inimigo e o culpado do sofrimento do negro. Mas por vezes o dedo apontado ao branco vem à tona. Com cinismo: "Parbleu les Blancs sont de grands guerriers, / Hosannah, pour le maitre et pour le chatre-negre! / Victoire! Victoire! / vous dis-je: les vaincus sont contents!"(2) Com rancor: "Ecoutez le monde blanc / horriblement las de son effort immense / ses articulations rebelles craquer sous les étoiles dures / ses raideurs d'acier bleu transperçant la chair mystique / écoute ses victoires proditoires trompeter ses défaites / écoute aux alibis grandioses son piètre trébuchement / Pitié pour nos vainqueurs omniscients et naïfs!"(3)

É claro que o discurso identitário pode levado longe demais, e correr riscos. O próprio Césaire se questiona: "Mais quel étrange orgeuil tout soudain m'illumine?"(4) É esse orgulho que pode lavar a pisar o risco. Não temos que concordar com tudo. Mas alguém pode negar o sofrimento negro? Alguém pode negar a escravidão? Alguém pode negar o direito a indignar-se contra esse sofrimento? E apontar o dedo a quem o causou? E, mais importante ainda, alguém acredita que sem este sentimento alguma vez teriam os negros alcançado metade do que alcançaram nas suas lutas pelos direitos civis?

E no entanto, a mesma pena que incita ao orgulho negro, apela à tolerância e à convivência entre raças, como na frase que coloquei em epígrafe.

Aimé Césaire é originário da Martinique, que tal como a Guadeloupe e a Guiana Francesa, é um departamento ultramarino francês nas Caraíbas e cuja população é numa enorme maioria negra ou mestiça, descendente de escravos. Nos anos 1930 Césaire, estudante brilhante, foi para Paris estudar e conseguiu um lugar na elitista Ecole Normale Supérieure. Aí conheceu Léopold Senghor (primeiro presidente do Senegal independente) de quem se tornou amigo pessoal, amizade que durou até à morte de Senghor. Césaire, Senghor e outros inciaram então o movimento intelectual que denominaram a "Negritude". Foi pelo, pelo menos em França, o primeiro movimento intelectual de negros para defesa dos negros, com um real impacto junto dos brancos. Editaram jornais e revistas em que falavam das questões raciais, e publicaram as suas obras literárias. O Cahier foi publicado pela primeira vez em 1939, sendo revisto mais tarde, e re-publicado em 1956. Aimé Césaire, como Senghor, teve também uma vida política activa, e com uma longevidade assinalável. Foi deputado no Assembleia Nacional no pós-guerra, participando à redefinição dos departamentos regionais franceses, e foi maire de Port-de-France, a capital da Martinique, durante 56 (cinquenta e seis) anos. É ainda maire honorário. Com 95 anos continua ainda intelectualmente activo, de uma lucidez impressionante (foi um crítico particularmente certeiro de Sarkozy antes das eleições). E é sobretudo uma referência incontornável para os antilheses.

Sim, o orgulho negro pode ser levado longe de mais, mas sem ele, e sem negritude, nada teria mudado, e nunca teria existido qualquer movimento anti-racista. Aimé Césaire e Jeremiah Wright são diferentes, muito diferentes, mas o sentimento é muito parecido.

O Cahier d'un retour au pays natal, é uma obra-prima, e é de facto um murro no estômago. Absolutamente essencial para (tentar) perceber o ponto de vista de um negro, por impossível que seja a quem não é negro percebê-lo. Foi logo de início e é ainda hoje uma obra emblemática, em França, em África, e até nos EUA. Começa assim: "Au bout du petit matin... / Va-t-en, lui disais-je, gueule de flic, guele de vache, va-t-en je deteste les larbins de l'ordre et les hannetons de l'esperance."(5)



tradução (possível):
(1)"mas a obra do homem apenas agora começou
e falta ainda ao homem conquistar todas as interdições fixadas nos resquícios do seu fervor
e nenhuma raça possui o monopólio da beleza, da inteligência, da força
e é um lugar para todos o encontro marcado com a conquista"
(2) Oh Céus os brancos são grandes guerreiros, Hosanah para o mestre e para o capado-negro! Vitória! Vitória! digo-vos eu: os vencidos estão contentes!"
(3) Oiçam o mundo branco horrivelmente exausto do seu imenso esforço / as suas articulações rebeldes sucumbir sob as estrelas duras / a sua rigidez de aço azul trespassa a carne mística / ouve as suas vitórias pérfidas aclamar as suas derrotas / ouve dos álibis grandiosos o seu miserável tropeçar / Piedade pelos nossos vencedores omniscientes e ingénuos
(4) Mas que estranho orgulho tão subitamente me ilumina?
(5) Ao cair da aurora... / Desaparece, dizia-lhe eu, focinho de bófia, focinho de vaca, desaparece detesto os labirintos da ordem e os escaravelhos da esperança.

terça-feira, 25 de março de 2008

25 de Abril sempre (daqui a um mês e até ao big bang apocalíptico em 7,6 biliões de anos)

Sei que é cedo para falar do 25 de Abril, mas estou a preparar uma animação cóltórali (é mais uma festa: o 25 de Abril festeja-se) na universidade sobre o assunto.

E por essa razão prática pus-me a ler o livro da Maria Inácia Rezola sobre a Revolução portuguesa. É um bom livro, com a informação bem detalhada e bem apresentada. Tem-me ajudado a colar as peças da informação fragmentada que tinha na cabeça. E chego a uma conclusão, a partir desta leitura, e que é um ovo de Colombo banal. Com o seu riquíssimo encadeamento de acontecimentos, com o campo político estilhaçado, o papel dos militares e dos partidos, a irrupção da participação popular, o laboratório ideológico, a aceleração do tempo histórico, a complexidade da acção e das suas motivações, a combinação de fontes que permite, entre fontes escritas e testemunhos publicados e orais, etc, etc, etc, o período entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro é um objecto histórico absolutamente extraordinário — e muito difícil, e por isso mesmo extraordinário. Um daqueles objectos que por si só justifica o ofício.

O texto da Inácia Rezola — como várias outras obras que ela cita — merece ser lido porque, não deixando de ter implicações políticas para o presente — outra coisa seria impossível —, está bem longe dos usos políticos da história que hoje dominam o espaço público português. Refiro-me aos prós e contras da história contemporânea tal como ela aparece hoje na TV, jornais e blogues (seja o tema o Regicídio, o Estado Novo ou o 25 de Abril).

PS: A propósito, é da minha vista ou o site da Associação 25 de Abril levou um lifting demasiado radical? Sinal dos tempos amnésico-salazaristas? Piratas cripto-spinolistas? Resolvam-me lá isso, senhores capitães de Abril, deve ser menos complicado do que conquistar os pontos nevrálgicos de Lisboa...

Íveis

A família: uma acumulação incrível (às vezes terrível) de coisas visíveis e invisíveis.

E as pedras de Scorsese vão rolar: it's only rock 'n roll (but I like it)





Finalmente a banda britânica Rolling Stones ganha um registro visual no cinema. E pelas lentes mágicas do cineasta Martin Scorsese. Em 4 de abril próximo, estréia em todo mundo o novo longa metragem documental The Rolling Stones Shine a Light. A filmagem ocorreu em 2006, no Beacon Theater, em Nova York, com apoio da ONG do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, e mostra toda a vitalidade musical das pedras rolantes, que foi formada em 25 de maio de 1962, mas resiste até os dias de hoje de forma bem atrevida e irreverente. Tai então uma boa oportunidade para ver (ou rever) e ouvir os vovozinhos Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts. Ou seja, as rugas vivas e rolantes do bom e velho rock and roll. Veja o trailer aqui e em Copacabana (Rio) aqui.

Boémia lusa, saudades de Bocage...

A pedido de várias famílias, cá vai, então, um guia boémio-cultural luso. Ficou para o pós-Quaresma, por respeito devoto.
Há muita coisa, desde os anos 80 que o país mudou muito nesta área (felizmente, pois). De modo que proponho uma selecção de links para o desopilanço. Links daqueles bons, que dão roteiros (de restaurantes, casas de dança, de fado..) ou espaços de referência em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Évora, Almada, Maia, e o mais que aí vier (aqui, o critério foi ter agenda on line).
E um bonus track, especialmente para a nossa peão Sofia, o sítio do fumador.
Fica tudo guardadinho na nova secção de links da coluna da direita, a seguir às listas de blogues e sites, com o sugestivo nome de «Roteiro boémio-cultural».
Atenção que não tem tudo, a começar por aqueles cafés icónicos, como o Nicola, A Brasileira do Chiado, o Majestic, o Café Santa Cruz, o Viana... Nem aqui constam bares de culto mas que não têm programação própria. É só um guia.
Agora já não há desculpas para não se sair de casa! Bocage, a ti brindamos!
*
Fabula Urbis [liv.ª-galeria, Lisboa]
Galeria Zé dos Bois [Lisboa]
Grémio Lisbonense [Lisboa]
Guia da noite
guia de bares e cafés da noite de Coimbra [alunos da U. Lusíada]
guia de restaurantes de Lisboa [alunos da U. Lusíada]
Guia do Lazer [jornal Público]
Hot Clube de Portugal [Lisboa]
Incrível Club [Almada]
le cool - ed. Lisboa
Livraria Trama [Lisboa]
locais de dança [Grupo Movimentus]
Lux [Lisboa]
Maus Hábitos - espaço de intervenção cultural [Porto]
Music Box [Lisboa]
OndaJazz [Lisboa]
opozine [cartaz portuense e nortenho]
Passos Manuel [Porto]
RedeCultural
roteiro de fado em Lisboa [Museu do Fado]
Santiago Alquimista [Lisboa]
Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul [Lisboa]
Sociedade Harmonia Eborense [Évora]
Speakeasy [Lisboa]
Sítio do Fumador
Tertúlia Castelense [Maia]
Time Out Lisboa [agenda cultural]
velha-a-branca estaleiro cultural [Braga]

Nb: na imagem,
reprodução de quadro de Laurinda Garradas, 2005 (in blogue Nesta hora). A propósito ou não, quem gosta de aniz tem aqui uma sugestão apropriada. Que é como quem diz:
«ELMANO, vate SADINO,
Nas musas sempre feliz
Só bebia um licor fino
Um cálice de bom ANIS».
À vossa saúde!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Zèd no '5 dias'...

Repórteres Sem Fronteiras protestam contra repressão no Tibete

Ativista protesta contra a repressão chinesa no Tibete, durante a cerimônia do acendimento da Tocha Olímpica realizada na Grécia nesta segunda-feira. Ativistas da organização Repórteres Sem Fronteiras foram detidos. Um deles mostrou uma bandeira estilizando os anéis olímpicos como algemas enquanto Liu Qi, president do Bocog (comitê organizador chinês dos Jogos) e membro do gabinete político do Partido Comunista, fazia seu discurso.

Eusko Alderdi Jeltzalea descarta referendo e fala em acordo com ZP

O Partido Nacionalista Vasco (PNV) ou Eusko Alderdi Jeltzalea (EAJ) – de centro-direita , no podermais de 25 anos -, quer trocar um possível apoio ao PSOE no Parlamento espanhol por mais autonomia do País Basco (Euskal Herria). Foi o que afirmou ontem , Iñigo Urkullu (presidente do partido), em discurso dirigido aos militantes partidários de Bilbao, nas comemorações do dia da Pátria Basca (Aberri Eguna). Com essa postura, Urkullu abre uma alternativa ao desafiador “mapa do caminho” proposto pelo lehendakari (presidente do governo basco) Juan José Ibarretxe, mas que foi de pronto rechaçado por Zapatero por considerá-lo "ilegal".

Acredito que esta mudança de rota do PNV/EAJ é consequência da derrota dos nacionalistas no 9-M. Vejamos, pois: no País Basco os socialistas conseguiram 38% dos votos, venceram nas três províncias (Álava, Guipúzcoa e Vizcaya) e obtiveram o seu melhor resultado desde 1993. O PP também teve um relativo crescimento na região e chegou a somar 19 % do eleitorado. Por sua vez, o PNV/EAJ perdeu 28 % de votos. Ou seja, ficou com um pouco mais de 300 mil eleitores, o que resultou numa perda de 118 mil em comparação às eleições gerais de 2004. Deduz-se assim, portanto, que tal mudança de postura do PNV/EAJ se deu devido a uma estratégia política adotada de última hora para tentar se recuperar destas “baixas além de querer reconquistar o eleitorado nacionalista moderado nas próximas eleições autonómicas, marcadas para abril de 2009.

O movimento nacionalista também reivindica que se inclua no mapa do País Basco a Comunidade Autônoma de Navarra e três departamentos da França. Entretanto, Navarra (Naforra) poderá vir a se tornar uma imensa pedra no caminho dos nacionalistas. Com aproximadamente 600 mil habitantes, ameaça se separar do País Basco caso haja qualquer ruptura constitucional e estatutária (em referência ao acordo assinado em 1979 e que ligou a província ao País Basco), como está previsto no Plano Ibarretxe”, que estabelece uma “consulta à sociedade basca”, em outubro próximo, como primeira etapa para se colocar em prática um referendo de secessão em 2010.

Como se , o Euskal Herria também não está livre de uma possível ameaça separatista no futuro. Tais fatores somados, com certeza, fizeram com que os dirigentes do PNV/EAJ mudassem o tom do discurso e adotassem a via "diplomática" em busca de novas negociações com o governo central. Obviamente, o objetivo final é o autogoverno Euskadi, mas esta também é a melhor forma de se ganhar tempo e mostrar ao eleitor moderado a pré-disposição do partido em encontrar uma solução negociada para o impasse criado pela imposição do referendo.

domingo, 23 de março de 2008

Na sala de aula ninguém mete a colher

Este episódio de violência na sala de aula via YouTube, releva uma realidade que existe, que provavelmente está a crescer, mas que ainda é relativamente circunscrita. Não se pode avaliar todo um sistema de ensino a partir de uma cena filmada por telemóvel. E, sobretudo, não se pode reduzir o sistema ao que se passa na sala de aula. Mas, de facto, este é quanto a mim um dos problemas: o interior da sala de aula. Para a maior parte dos professores a sala de aula é o seu reino, o último reduto na qual deverão ter o domínio completo da relação pedagógica. Tudo o que lá se passa só ao professor diz respeito. Gerou-se quase um código de conduta entre os professores relativamente à sala de aula: ‘na sala do colega ninguém mete a colher’. Se alguém se imiscui está de certa forma a intrometer-se num espaço que naturalmente não lhe pertence. Assim, para o bem e para o mal, o professor está isolado na sala de aula: nela é o senhor ou é o seu servo. Se muita coisa mudou na escola pública em relação a quase tudo, algumas ainda persistem desde dos tempos da escola tradicional onde o professor era de facto rei e senhor. E uma dessas coisas é, sem dúvida, o modo como os professores, entre si, encaram a sala de aula.
Infelizmente, as medidas que têm vindo a ser contempladas por este ministério têm atafulhado os professores num sem número de actividades administrativo-burocráticas, enquanto as questões do foro pedagógico e relacional têm sido claramente secundarizadas. O trabalho de sala de aula deveria ser também um trabalho de reflexão e de partilha de recursos e estratégias pedagógicas e científicas entre profs do mesmo grupo e dos mesmos níveis de ensino. O interior da sala de aula tem de deixar de ser tabu entre os colegas. Comungar o que se passa lá dentro não deve ser visto como uma fraqueza. Pelo contrário, se for realizado de uma forma sistemática este trabalho, que é muito pouco desenvolvido nas escolas, pode representar a salvaguarda e protecção dos próprios docentes. Um dos aspectos que mais me constrange ao ver aquelas imagens é a extrema solidão daquela professora, será que ninguém ouviu tamanha berraria, porque é que ninguém vem ao seu auxílio… um funcionário, um colega, etc.
A escola mudou extraordinariamente. Em muitos aspectos mudou para melhor. A nível europeu Portugal tem actualmente uma das mais elevadas taxas de qualificação superior entre os jovens até aos 35 anos. E isso deve-se em grande medida ao trabalho da escola pública democrática. No entanto, a sociedade não pára e a escola como parte integrante dessa sociedade está em mudança. Cabe aos professores pensar nessa mudança não como uma mera inevitabilidade mas como uma oportunidade de também poderem mudar.

sábado, 22 de março de 2008

The Meeting

The Meeting

Somewhere along the road
you meet up with yourself.
Recognition is immediate.
If it happens at the proper
time and place, you propose
a toast:

May you remain as my shadow
when I lie down.
May I live on as your ghost.

Then you pass, knowing you'll
never see yourself that way
again: the fires which burn
before you are your penance,
the ashes you leave behind are
your name.

Gerald Costanzo

The ladies of Llangollen

Ao ler a reportagem no Expresso, sobre seis lésbicas portuguesas, lembrei-me (sem qualquer ligação aparente) da história das Ladies of Llangollen, cuja casa visitei em férias no País de Gales.
A história tem todos os contornos românticos próprios do séc. XVIII: duas irlandesas, Eleanor Butler e Sarah Ponsonby, abastadas e cultas, apaixonam-se e no segredo teriam vivido, não fossem as famílias considerá-las sérias candidatas a solteironas e quererem casá-las. Perante a eminência do enlace, decidem fugir, mais ou menos disfarçadas de homens, para Inglaterra. Parece que o destino final não seria exactamente o País de Gales, mas ao verem o sítio, teriam ficado impressionadas e nele construíram a sua casa neo-gótica, Plas Newydd (New Place). Com uma existência discreta, ao início, a sua história foi chamando atenção, até que a casa, acabou por ter visitantes tão famosos como Shelley ou Byron e as Ladies receberam, mesmo, uma pensão do rei Jorge III.
Diz a história que a sua vida era aborrecida de tão pacata, embora Wordsworth sobre elas tivesse escrito "sisters in love, a love allowed to climb, even on this earth above the reach of time".
Llangollen é, também, o melhor sítio do País de Gales para comprar Lovespoons, colheres de madeira trocadas por namorados desde o séc. XVII.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Este ano festejamos aqui, no ano que vem, em Jerusalém*

Este ano ainda tivemos de rezar a absurda oração de sexta-feira santa pelos judeus que se encontram longe da Revelação, para o ano, o Vaticano já anunciou que vai modificar a fórmula, o que só demonstra ainda haver algum discernimento. Olhar para Páscoa sem tomar o que ela tem de judaico, é ver só uma parte, na realidade, a parte da Páscoa em diante, e que não torna presente o que Jesus, um verdadeiro judeu, também celebrou.
*A frase é retirada da Haggadah judaica, explicação que percorre a refeição ritual do Seder Pascal e que relembra e actualiza a história do povo judeu.

Yas (Yaas), a rebelião rap na terra dos aiatolás rabugentos



Se há alguma coisa que está enfurecendo os aiatolás esta coisa chama-se rap persa. Apesar de proibido desde dezembro do ano passado (por ser considerado indecente e obsceno), o rap iraniano continua bem popular entre os jovens, pois as letras abordam questões políticas e sexuais de forma direta. O único cuidado que os rappers têm é o de não atacar o Islã. De resto, vale tudo: falam das partes genitais, de prostitutas, de bebedeiras e da solidão. Os discos de Eminem e 50 Cent são importados e comprados no mercado paralelo a peso de ouro. Yas (Yaas), um dos primeiros e mais famosos rappers persas, diz que não há mais tabus a respeitar e faz uma rebelião silenciosa. E pela música. Usando como arma a Internet, que divulga tudo o que os aiatolás rabugentos proíbem.

Digo para ver

Um poema para ler em voz alta (um dos meus grandes prazeres).
LISBOA
Digo:
«Lisboa»
Quando atravesso – vinda de sul – o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas –
Vejo-a melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver
1977
Sophia de Mello Breyner Andresen, Navegações, Ed. revista, Lisboa, Caminho, 2004, p. 7.
A propósito do Dia Internacional da Mulher (8 de Março) e do Dia Mundial da Poesia (21 de Março) o Revelar Lx disponibiliza este e outros poemas de mulheres poetas sobre Lisboa.

quinta-feira, 20 de março de 2008

O clube de jazz mais antigo da Europa celebra 60 anos

... é verdade e fica em Lisboa! O Hot Clube de Portugal está celebrando 60 anos de existência, um feito raro e valioso.
Mais conhecido por Hot Clube de Lisboa, este decano do jazz na Europa teve um parto ao mesmo tempo singular e difícil.
Foi seu mentor Luís Villas-Boas, cativado pelo jazz na sua adolescência madeirense, isto nos anos de 1930. Em 1945, e já em Lisboa, o então funcionário dos correios de Portugal estreia um programa radiofónico dedicado a esta música então efervescente. Foi a partir daqui que Villas-Boas, juntamente com outros melómanos (parte deles ouvintes do programa), decidiu fundar um clube de jazz em Portugal.
A aprovação de estatutos ficou suspensa muito tempo pelo governo de Salazar, um regime que considerava esta música «dissolvente» e corruptora das boas tradições nacionais. Muitos dos fundadores eram, naturalmente, gente da oposição, o que complicava as coisas, embora não fossem seus subscritores nessa condição, como é óbvio, mas tão-só enquanto amantes de boa música. Embora os estatutos deste clube só tenham sido aprovados a 16/3/1950, a sua fundação recua a 1948, após anos de preparação.
Desde então, foram muitos os músicos de jazz que passaram pela pequena mas acolhedora cave da Praça da Alegria: Count Basie, Bill Coleman, Dexter Gordon, Benny Golson, Lee Konitz, Freddie Hubbard, Max Roach, Pat Metheny, Pinho Vargas, Mário Laginha, Maria João, entre muitos outros. Além de concertos regulares, criou também uma escola de música, responsável pela formação de grande parte dos jazzistas lusos.
Neste ano gordo, estão previstos concertos de homenagem, uma fotobiografia de Villas-Boas, um núcleo museológico, entre outras iniciativas.
Quanto ao título do post, digo que é o mais antigo clube de jazz da Europa segundo o que consegui apurar, há uns tempos, em pesquisa na Internet: além do HCP, os mais antigos ainda em actividade eram já de inícios de 50.
Parabéns, pois, ao Hot Clube de Portugal e siga o jazz!
Nb: imagens da famosa cave e traseiras de acesso ao jardim aqui.

Iraq Body Count, os contadores de corpos do terror



89.760 (50 cadáveres em média por dia). Este é o número estimado de civis mortos no Iraque desde a invasão das tropas de coalizão lideradas pelos Estados Unidos, em 20 de março de 2003, segundo a ONG Iraq Body Count (IBC) (contador de corpos). que o Departamento de Defesa norte-americano simplesmente ignora os dados sobre mortes de civis (informa somente o número de vítimas fatais de militares), investigadores independentes e pacifistas contrários à invasão criaram o IBC para desempenharem este papel.

Para chegar a este número, os voluntários do IBC somam as mortes violentas de civis registradas pela imprensa e informações que obtém nos hospitais, agências funerárias, ONGs locais e das forças armadas, e cruzam os dados para evitar qualquer erro na contagem. O contador macabro é atualizado diariamente. Ainda assim, acredita-se que o número seja ainda muitas vezes maior a este divulgado pelo IBC .

Os números de mortos nesses cinco anos de invasão são bem controversos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) menciona, até 2007, 200 mil mortos estimados na população como um todo e as mortes em combate pelos insurgentes. Em outra sondagem realizada pela Federação Americana de Cientistas, que pesquisou mais de 20 mil lares iraquianos, apresentou o estarrecedor número de 650 mil iraquianos mortos. Quase não havia um lar no Iraque que uma pessoa tivesse sido morta em cinco anos.

Por fim, num outro relatório, divulgado em 31 de janeiro último, o instituto britânico Opinion Research Business, em parceria com o Independent Institute for Administration and Civil Society Studies, afirma que o número de mortos passa do um milhão. O estudo foi baseado em depoimentos de testemunhas colhidos até setembro do ano passado. Além dos mortos, estima-se em mais de 5 milhões o número de refugiados iraquianos nos países vizinhos. Isto numa população de aproximadamente 27 milhões.


quarta-feira, 19 de março de 2008

Descubra as semelhanças




"I did not have sexual relations with that woman"






“I can no more disown him than I can disown my white grandmother,” [referindo-se ao reverendo Jeremiah A. Wright]




Obviamente que não acho que Bill Clinton devesse ter assumido o sua relação com Monica Lewinski, não devia ter sequer respondido à pergunta. A frase que Bill Clinton deixou para a história é apenas um de muitos exemplos do político que diz aquilo que acha que a 'opinião pública' quer ouvir, apenas e só por essa razão, porque pensa que é aquilo que a 'opinião pública' quer ouvir. Não por ser aquilo que pensa, não por ser aquilo em que acredita, não por ser aquilo que é preciso dizer naquele momento, mas apenas porque acha que é o que a 'opinião pública' quer ouvir.
Foi exactamente o que Barak Obama não fez, depois de estalar a polémica dos discursos incendiários do reverendo Wright (pastor da igreja que Obama frequenta há 20 anos). Barck Obama mostrou que tem de facto uma maneira diferente de fazer política. Podia ter procurado a saída mais fácil, e arranjado uma desculpa esfarrapada. Mas não, não negou o inegável, nem iludiu a questão. Tampouco deixou de dizer o óbvio, não é responsável pelo que diz o rev. Wright, nem tem que estar de acordo com tudo o que ele diz. Mas muito mais importante, recentrou o debate naquilo que é realmente importante, a questão racial nos EUA. Fez um diagnóstico lúcido, e contextualizou os discursos de Wright sem desculpabilizar. Fez provavelmente o melhor discurso de toda a campanha eleitoral. Nas questões morais, de cosutmes, de valores, como é o caso do racismo, as políticas tecnocráticas não chegam, as palavras, os simbolismos tornam-se absolutamente essenciais. Barack Obama fez um discurso brilhante, o que era fundamental quando a questão racial tomou (finalmente?!...) o centro da campanha. Se tinha dúvidas dissiparam-se, Obama é definitivamente o meu candidato preferido.

Quem tiver 40 minutos disponíveis que os gaste a ver isto (via Arrastão), vale a pena.

A ficção científica perde encanto e poesia

O escritor britânico de ficção científica Arthur C. Clarke morreu ontem, aos 90 anos. Em 1968, ele escreveu a sua obra-prima: “2001, Uma Odisséia no Espaço” (escrita simultaneamente com as filmagens) e auxiliou Stanley Kubrick na produção do filme de mesmo nome (o roteiro original foi inspirado no “A Sentinela”, de 1964). Graduado em física e matemática pelo King’s College de Londres, Clarke publicou mais de cem livros. Ganhou respeito entre a comunidade científica depois de ter escrito, ainda na década de 1940, o famoso artigo em que propunha o uso de satélites em telecomunicações.

Como reconhecimento às suas contribuições científicas, a órbita geoestacionária - a 36 mil quilômetros acima do Equador - é conhecida hoje como órbita de Clarke. Na TV, trabalhou na cobertura feita pela emissora norte-americana CBS das missões espaciais Apollo 12 e 18. Em 1981, ele também teve sua própria série televisiva com 13 capítulos: “O Misterioso Mundo de Arthur Clarke”, retransmitida em vários países do mundo. Em 1984, também foi protagonista da série “O Mundo de Estranhos Poderes de Arthur Clarke”. Seus livros imaginaram, com anos de antecedência, vários feitos espaciais de nossos dias. Para ele, o maior desafio era investigar a possibilidade de vida fora da Terra. Enfim, perde-se um poeta da ficção científica.