segunda-feira, 30 de junho de 2008

Foi assim no Euro-2004. Foi também assim no último Mundial. Os vencedores não foram os melhores. Em 2004, Portugal perdeu o título para o covarde futebol grego e, em 2006, o mastodonte italiano venceu a leveza francesa. Com a vitória espanhola sobre a Alemanha, foi decretado o fim da maldição do futebol sem brilho, burocrático, da disciplina tática, do pragmatismo. Aliás, a praga do pragmatismo ronda todos os aspectos das nossas vidas. sentiram isso?. É o pragmatismo político. É o pragmatismo sindical. É o pragmatismo na administração pública . Enfim, há "pragmatismos" pra todos os lados, para diversos gostos e paladares. Basta ir ao hipermercado mais próximo e comprar. Pronto. Lá está ele e vem enlatado, embalado e prontinho pra ser consumido. As autoridades sanitárias deveriam ficar mais atentas a esse tipo de produto que tanto mal faz à saúde dos apaixonados por futebol. Mas, enfim, deixa pra lá.

Felizmente ontem venceu o melhor futebol. A Espanha encantou o mundo com seu jogo envolvente, majestoso, genial e mágico. Um futebol vivo e colorido, onde a garra, a técnica e a plasticidade resultaram numa pintura de rara beleza, capaz de causar inveja aos grandes artistas da bola. Entretanto, não foi a Espanha espetacular nesta Eurocopa. Justiça seja feita também às desacreditadas seleções russa e croata. Apesar de não terem chegado à grande final, essas duas equipes mostraram com todas as letras que o futebol europeu está no caminho certo. Com um jogo ofensivo e criativo, superaram a sonolência e a burocracia sem imaginação do futebol-de-resultados, do futebol de manual. Jogadores como Andrei Arshavin (Rússia) e Luka Modric (Croácia) atestam o que digo. São verdadeiros craques. Mas como em qualquer competição, tem de haver um campeão. E dessa vez foi a Espanha. Porém, não foi a Espanha a campeã. O grande vitorioso da Eurocopa-2008 foi, acima de tudo, o fantástico futebol-arte. Viva España!, então.

Planos de férias

Incluir uns dias em Londres (eu vou tentar) para ver a exposição retrospectiva de Vilhelm Hammershoi na Royal Academy.
Pintor dinamarquês (1864-1916), esquecido, logo após a sua morte, tem vindo, na última década, a ser redescoberto. É mais conhecido pelos seus quadros de interiores (quase todos das suas casas em Copenhague) algures entre o simbolismo e o modernismo, mas é, também, autor de paisagens serenamente geométricas.
Mais recentemente, ainda, a sua obra tem sido lida como profundamente marcante para o cinema escandinavo e frames de filmes de Bergman são justapostos aos seus quadros.
Talvez a melhor definição para Hammershoi seja a de Michael Palin, que o apresentou no seu documentário para a BBC como uma fusão entre Vermeer e Hoper.
Imagem: Sunbeams or Sunshine. Dust Motes Dancing in the Sunbeams, 1900.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Zapa veste-se de rojo e vai à final da Eurocopa

Perdida politicamente e ainda aturdida com “la paliza” no 9M, agora a direita espanhola recorre à superstição e faz campanha para que Zapatero não vá a Viena assistir ao jogo final da Eurocopa. “Quédate en la Moncloa y no vengas. Esta claro quién es el gafe!”, dizem eles. É o que resta à direita espanhola: acreditar em coisas sobrenaturais. Mordam-se, coño!!!!!!.

Mais...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

“1.000.000 de assinaturas contra as leis discriminatórias do Irã”

Desde o início de abril, jornalistas do sexo feminino enfrentam uma forte onda de repressão por parte das autoridades iranianas. Algumas foram presas e condenadas a 10 chicotadas (como foi o caso da jornalista Nahid Jafari), outras intimidadas e uma foi proibida de deixar o país. Desde então, o Tribunal Revolucionário de Teerã não tem dado trégua e até provedores de Internet têm recebido ordens para bloquear o acesso a centenas de sites que mantenham em seu conteúdo opiniões consideradas dissidentes ao governo. Nos últimos dias, foram bloqueados diversos sites e blogues feministas, como Meydaan-e Zanan (Campo das Mulheres), Kanoon Zanan Irani (Centro das Mulheres Iranianas), Shir Zanan, que cobre eventos esportivos femininos, e o Change for Equality.

Aqui o link da campanha “1.000.000 de assinaturas para mudar

as leis discriminatórias contra a mulher no Irã”.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Não só de democratas e republicanos vivem os eleitores dos EUA

A mídia quer nos fazer crer que a eleição presidencial nos EUA se resume a escolher entre Obama e McCain. Nada mais enganoso, pois não de democratas e republicanos vivem os eleitores norte-americanos. São muitos os candidatos definidos pelas respectivas convenções partidárias à presidência dos Estados Unidos. Entre eles, destaco Brian Moore, do Partido Socialista (Socialist Party), Bob Barr, do Partido Libertário (Libertarian Party), Roger Calero, do Partido dos Trabalhados Socialista (Socialist Workers Party) e o “independenteRalph Nader. Apesar do imbróglio em que se encontra o Green Party, aposto em Cynthia McKinney (foto) como candidataverde”, em novembro próximo. Até o momento, são estes os demais candidatos à Casa Branca definidos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O 3.º Congresso Feminista português é já esta semana

O 3.º Congresso Feminista português inicia-se esta 5.ª feira, em Lisboa, por iniciativa da associação UMAR- União de Mulheres Alternativa e Resposta.
Durante 3 dias serão apresentadas dezenas de comunicações por reputad@s especialistas em estudos femininos (vd. aqui). Paralelamente, decorrerá um extenso programa cultural, com exposições, concertos, filmes, lançamentos de livros, arraial, etc..
A data escolhida pretende também celebrar os 80 anos do último congresso feminista que se realizou em Portugal: o 2º Congresso Feminista e da Educação, organizado pelo Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. A 1.ª edição ocorreu em 1924 (vd. historial aqui).
Os locais de acolhimento deste encontro científico serão a FCG (a 26 e 27/7) e a FBAUL (a 28/7).

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sugestão para o referendo na Irlanda, a realizar seguramente em 2009, por forma evitar futuras crises na União Europeia

Boletim de voto:

A macumba saiu errada

Ontem Portugal foi eliminado do campeonato da Europa. Mas não vale a pena chorar sobre leite derramado.

A verdade é que falhámos. Claro que vão dizer que falhámos por culpa do guarda-redes Ricardo, ou do defesa Paulo Ferreira, ou do árbitro.

Mas só eu sei por que é que falhámos e é minha obrigação — e de superior interesse lusitano — dizê-lo aqui. Falhámos porque a macumba chegou tarde e saiu errada. Explico: vários e destacados membros do departamento de Português da Universidade de Rennes reuniram-se ontem aqui em minha casa para ver o jogo com a Alemanha (que o destino veio a revelar fatídico, mas apenas porque o contra-fatídico não chegou a tempo).

Aquilo começou a correr mal, como todos vocês viram, a partir dos 20 minutos, com continuação aos 24 e atenuação só aos 40 e tal.

Pois nós, com uma preguiça nervosa de fim de estação, só com o golo de Nuno Gomes decidimos fazer uma macumba contra os alemães. Só perto do intervalo é que acordámos e seguimos a receita da nossa grande chefe macumbeira.

E a receita foi esta:

Escrevemos o nome do Ballack e do Schweinsteiger em dois papéis diferentes. Escrevemos mais dois com o nome da Alemanha, em português e em alemão. Corremos para a cozinha, pegámos em Polenta (é uma farinha de milho italiana, não havia mandioca, tivemos que recorrer ao que havia), molhámos a Polenta, embrulhámos os quatro papéis na Polenta molhada, colocámos película transparente em volta da mézinha antecedente, enfiámos furiosamente pauzinhos nestes embrulhos para fazer agonizar os alemães. E, claro, no fim pusemos tudo no congelador.

Girei o botão do congelador para o 7, que é o máximo.

Mas era tarde de mais. A congelação revelou-se demasiado lenta e a macumba só começou a fazer efeito com o golo do Postiga, a três minutos do fim. O resultado é este: saímos do Europeu por culpa exclusivamente nossa, isto é, do departamento de Português de Rennes 2.

A única consolação é que a Alemanha não passa das semi-finais. Porque a macumba lá está, no frigorífico, pronta para estragar a vida do Ballack e do lourinho Schweinstai-não-sei-das-quantas.

(por favor, não tentem fazer isto sozinhos em casa e sem a assistência de uma verdadeira baiana. É demasiado perigoso)

The Trons, enfim uma banda roqueira de boa conduta: não se drogam, não consomem alcoólicos e não criam confusão nos concertos ao ar livre


The Trons é uma uma banda de rock da Nova Zelândia formada somente por robôs. Composto por 4 “músicos” - Ham (vocal e guitarra), Wiggy (guitarra), Swamp (bateria) e Fifi (teclados) -, o grupo foi programado para tocar instrumentos musicais reais e causa inveja a muitas outras bandas de humanóides. Segundo o seu “produtor”, o quarteto é influenciado pelas bandas Velvet Undergound, Stereolab e Yo La Tengo. O nome da música que eles tocam no vídeo é "Sister Robot". Para quem quer vê-los ao vivo, eles se apresentarão amanhã, na cidade de Hamilton. Taí uma boa oportunidade para os defensores dos bons costumes e da moral irem a um concerto de rock.

Via Gizmodo e MySpace.

Grandes Portugueses

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Evo Morales e a directiva do retorno

O presidente boliviano Evo Morales escreveu uma carta aberta exortando a União Europeia a não aprovar a "directiva do retorno". Infelizmente não foi muito bem sucedido, como se sabe a dita directiva foi aprovada. No entanto vale a pena ler a carta de Morales, disponível aqui, na íntegra (em francês). A carta começa lembrando o óbvio, que obviamente muitos querem esquecer:
"Até ao fim da Segunda Guerra mundial, a Europa era um continente de emigrantes. Dezenas de milhões de europeus partiram para as Américas para colonizar, escapar à fome, às crises financeiras, às guerras e aos totalitarismos."

P.S. - Vale a pena ler este artigo sobre a "directiva do retorno".

Descubra as diferenças

Descubra as diferenças com o partido de Sócrates:
[...] O Estado que eles estão a construir é supranacional: a viagem global é uma das suas características fundamentais. Os seus traços geográficos são hóteis exclusivos, estâncias de férias exclusivas, condomínios fechados inacreditavelmente dispendiosos. Os seus habitantes não viajam nunca em transportes públicos e só recorrem a hospitais privados. O impulso que leva estas pessoas a agir assim é o medo do contacto com a grande massa da humanidade - e de uma eventual contaminação. Desejam viver no meio dessa massa (ou melhor, não têm outra hipótese senão viver no meio dessa massa), mas usam o seu dinheiro para erguerem o maior número de defesas, o maior número possível de fronteiras a fim de que todos os seus contactos significativos se restrinjam a pessoas do seu próprio tipo económico e cultural.
O modo despudoradamente íntimo como o New Labour se envolveu com essas pessoas - a nível interno, através de coisas como a Private Finance Initiative, e, a nível externo, através do apoio a Bush e aos neoconservadores americanos - mostra que, no essencial, o partido de Blair as apoia no seus objectivos elitistas e divisionários. Pequenas iniciativas de cariz social-democrata nos campos da saúde e da educação são uma cortina de fumo, uma espécie de engodo para iludir a velha Esquerda, tendo por único fito camuflar a verdadeira natureza do projecto do New Labour.
COE, Jonathan - O círculo fechado. Porto: Asa, 2008. p. 326-327

It's a nice day for a white wedding

Del e Phyllis, juntas desde 1952, casaram hoje na Califórnia.
Foi o primeiro, e porventura o mais romântico, dos 2300 casamentos marcados para os próximos três meses para a cidade de São Francisco.
Como serão muitos casamentos para anular, esperemos que, desta vez, a legislação se mantenha sem anulações posteriores do Supremo Tribunal.

Atlas do ambiente

Esta 6.ª feira vai ser dia gordo. Além da tertúlia sobre os ciganos portugueses, haverá uma mesa-redonda em torno do lançamento do Atlas do Ambiente do Le Monde diplomatique (Lx., Fundação Calouste Gulbenkian, aud.º, 18h).
A mesa-redonda contará com os seguintes intervenientes:
● Viriato Soromenho Marques (UL) - «Política de ambiente em Portugal»
● Luísa Schmidt (ICS-UL) - «Cidadania ambiental, entre os "interesses" e a governança»
● João Pato (ICS-UL) - «Políticas públicas da água em Portugal»
● Sandra Monteiro (Le Monde diplomatique - ed. portuguesa) - «Cartografar análises e soluções»
O livro estará disponível a partir de 20 de Junho, é editado pela Outro Modo, Cooperativa Cultural, tem prefácio de Luísa Schmidt, introdução de Ignacio Ramonet e direcção de Philippe Bovet, Philippe Rekacewicz, Agnès Sinaï e Dominique Vidal.
Nb: mais informações sobre o livro aqui.
Apoios: Fundação para a Ciência e a Tecnologia Programa Gulbenkian Ambiente da Fundação Calouste Gulbenkian Agência Portuguesa do Ambiente Instituto Franco-Português.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Cyd Charisse 1921-2008


Não é tarde nem é cedo

Já que estamos em hora de prognósticos, cá vai o meu:
as selecções que merecem ir às meias-finais são as de Portugal, Espanha, Holanda e Croácia.
E a final vai ser ganha pelos «patrícios»!!!
Quer dizer, pode ser ganha por.
Há reais hipóteses de.
Nunca se sabe.
Porque não?
Vá lá.
Alguém tem que ganhar, não é?
Prontos, desisto: num xi xabe.

Nb: na imagem, cartoon de Mordillo, retirada daqui.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Ciganos portugueses: mitos e realidades

Quem quiser saber mais sobre os ciganos portugueses tem um bom programa na próxima 6.ª feira, com a tertúlia «Ciganos portugueses: mitos e realidades» (Lx., Fábrica Braço de Prata, 19h).
Será uma boa ocasião para se desfazerem preconceitos e estereótipos.
A tertúlia contará com a presença inestimável do peoníssimo Ruy, e doutros amigos.

sábado, 14 de junho de 2008

Retratos imaginários de Mr. Fields

Inagura hoje a exposição de gravuras «Retratos imaginários de Mr. Fields», na galeria Work&Shop, junto à Sé de Lisboa.
O 'pai' da mostra é um dos co-autores do livro A globalização no divã.
Para quem puder, vale a pena dar lá uma saltada, porque o artista é um bom artista e sabe bem da poda.
Salvo erro, a inauguração será ao fim da tarde, mas pode-se confirmar junto da galeria.
Nb: +inf. aqui; localização aqui.

Tecno-pimba e turbo-punk é com o duo romantik Tocha Pestana!

Quem teve a sorte de curtir a noite de St.º António com o duo Tocha Pestana e ficou com água na boca pode ouvi-los novamente hoje, no arraial da Mouraria (Largo da Rosa, a partir das 22h30). Ou, então, pode ouvi-los aqui, embora seja outra coisa ao vivo.
Quem tem saudades do hit «Lisboa Lisboa Lisboa» pode ouvê-la aqui, em versão reduzida, claro...

O escritor em construção

Vi e gostei de ver a exposição sobre José Saramago, «A Consistência dos Sonhos», aberta ao público no Palácio da Ajuda. Organizada pelo comissário Fernando Gómez de Aguilera, da Fundação César Manrique, consegue atingir um bom equilíbrio entre a cobertura dos anos hiper-mediáticos do prémio Nobel da literatura e os longos «anos obscuros» em que Saramago era uma figura secundária da cultura portuguesa.
Saramago é um escritor que suscita reacções extremadas na sociedade portuguesa, dividindo os fãs incondicionais e os detractores biliosos. Não me encontro em nenhum dos extremos. Aprecio alguns dos seus romances, sem colocar o Memorial do Convento num pedestal e preferindo O Ano da Morte de Ricardo Reis. Como poeta não se destaca no panorama português e muitas vezes dá entrevistas falando como o ensaísta que não é.
Esclarecido o meu ponto de vista, interessei-me particularmente pela primeira parte da exposição, que mostra o «escritor em construção» na sua penosa, laboriosa e incerta luta pelo reconhecimento. O visitante depara-se com as limitações, os obstáculos que Saramago tem de enfrentar e que documentam uma sociedade, um meio literário.
Os materiais expostos são valiosos auxiliares neste processo de conhecimento: fotografias; uma reconstrução da mesa de trabalho do escritor; manuscritos e páginas dactilografadas, inclusive de livros nunca publicados. As fichas temáticas e os planos para escrever romances como O Memorial do Convento ou O Evangelho Segundo Jesus Cristo introduzem-nos, produzindo um certo fascínio, na «oficina» do escritor. As agendas abertas permitem-nos ter uma noção do dia-a-dia de Saramago nos anos 80. Alguma correspondência mostra as relações de amizade ou de cumplicidade com outros escritores. Entrevistas televisivas gravadas, um vídeo de um filme adaptado de uma história infantil ou gravações de obras adaptadas a ópera multiplicam os pontos de vista sobre uma obra complexa. Todos estes elementos são apresentados com coerência graças à estrutura cronológica da exposição.
Aspectos negativos, em meu entender, são as «instalações» de grande aparato tecnológico que raramente vi a realizar as intenções anunciadas e explicadas nas legendas. Estas legendas são outro ponto fraco da exposição: encontram-se escritas em letra demasiado pequena e quase nunca colocadas à altura dos olhos de um português de estatura média, dificultando a sua legibilidade.
Causou-me uma certa decepção o processo de escrita de Ensaio sobre a Cegueira, em minha opinião o melhor romance de Saramago, se encontrar pouco documentado. Este ano estreia-se o filme, sobre o qual Fernando Meirelles, o realizador, manteve um blogue aqui. Será um pretexto para voltar a falar de um romance que Saramago imaginou e escreveu no rescaldo do desmoronamento da utopia soviética, criando uma fábula e metáforas que se tornam de novo actuais num momento em que o optimismo liberal do «fim da História» se afundou e não cessam de aparecer novas crises desvelando cegueiras secretas.

Post-scriptum: Decidi abandonar a blogosfera, pelo menos a blogosfera genérica e de comentário da actualidade, por tempo indeterminado. Em coerência com esta decisão vou sair do Peão, por motivos alheios à dinâmica deste blogue. Mas, parafraseando John Donne, nenhum blogue é uma ilha e tenho de me concentrar noutro tipo de escritos. Fico em dívida para com o generoso convite de escrever aqui e faço votos de que os outros peões continuem a postar muito e bem.




A Feira do Livro de Lisboa


A Feira do Livro de Lisboa tem aguentado os dias de mau tempo, a concorrência do Rock in Rio e a descida do nível de vida. Recomenda-se, apesar de tudo.
O «tudo» começou por ser uma polémica, em meu entender sem sentido, por causa da exigência de pavilhões diferenciados pelo grupo Leya. Teoricamente, a realização da Feira do Livro esteve em perigo. Na prática, causou-lhe um atraso. Não percebi a polémica porque as barraquinhas da Feira nunca foram exactamente iguais. Basta pensar na «tenda dos pequenos editores», no espaço de edições da Assembleia da República ou, este ano, no pavilhão dedicado ao livro brasileiro. A questão é que a concorrência temia um pavilhão megalómano e esmagador do Grupo Leya. Tratava-se, portanto de uma falsa questão. Se o grupo Leya falhou no processo foi no timing da proposta, demasiado em cima do acontecimento e sem dar tempo aos outros editores de reagirem. Falhou também, em minha opinião, no resultado. A praça Leya é constituída por uma série de pequenos pavilhões em roda de uma caixa central. Quando por lá passei, em dia de calor e de abundante afluência de público, senti claustrofobia e quase tive de abrir caminho às cotoveladas. Os pequenos pavilhões permitem – pouca gente de cada vez – circular entre livros luzidios. É o estilo «montra de livraria de centro comercial» aplicado à Feira do Livro. Há quem goste e não é o meu caso. Para mim, a Feira de Lisboa cruza o espírito de um «salão do livro» e o espírito de alfarrabista, em sentido lato – proporciona o gosto de encontrar livros já desaparecidos dos escaparates das livrarias e a oportunidade de comprar a preço mais baixo livros com pequenos defeitos. Não se percebe como um grupo com catálogos tão ricos como o das editoras Caminho, Publicações Dom Quixote, Asa, etc, só expõe ao público os títulos mais recentes.
Outros percalços da edição deste ano são de assinalar: o sistema de som nem sempre funcionou; o restaurante habitual na Feira desta vez não existiu. Ainda assim, que prazer passear entre livros, numa solarenga tarde de Lisboa.

O regresso do verdadeiro herói

Indiana Jones, aos sessenta anos, continua a ser o verdadeiro herói. Os «super», como é óbvio, não contam, pese a minha simpatia pelo homem-aranha ou a aura de que Tim Burton conseguiu rodear Batman. Indiana Jones não tem poderes especiais ou mordomo, nem precisa de tê-los. Não é galo de aviário, como Rambo; não possui uma parafernália de armas especiais, como James Bond; não se arma em esquisito, como o Zorro, que não troca a espada por uma pistola nem quando está prestes a apanhar um tiro. Indiana safa-se com o que tiver à mão. Não tem fetiche por mulheres fatais nem tropeça em legiões de mulheres cheias de glamour, estilo bondgirl. A mulher da sua vida, Marion Ravenwood, é campeã de shots; beija-lhe as feridas e manda-o à fava; engravida dele e dispensa-o durante o tempo em que um embrião se transforma em jovem rebelde.
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal tem sido recebido com alguma condescendência e não há razões para isso. O melhor da saga está lá: o espírito da aventura e os temperos habituais, como os pequenos animais nojentos e a porrada de criar bicho com homens espadaúdos e musculados. Mas a maturidade não se mostra só nos cabelos brancos de Harrison Ford. As personagens evoluem, tornam-se mais densas. Depois da relação com o pai ter sido abordada em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), desta vez o arqueólogo aventureiro reencontra Marion Ravenwood e confronta-se com a existência de um filho ignorado. Os soviéticos substituem os nazis como «maus da fita», mas a coronel Dr.ª Irina Spalko não tem só defeitos – ela é também motivada por um genuíno amor ao conhecimento. A sociedade norte-americana contém, além de «bons tipos» e «bons rebeldes», os vilões que alimentam a «caça às bruxas» do Maccartismo.
Seria abusivo ver neste filme uma pretensão de ser uma metáfora da «crise de civilização», como A Guerra dos Mundos. Mas há nele uma vigilância crítica, uma depuração ou até revisão do sentido da saga que se deve assinalar. A crítica que alguma esquerda fez à série quando apareceu – Indiana Jones como um corsário de tesouros de civilizações exóticas – deixa de fazer sentido. O herói muda de atitude ao devolver a caveira de cristal ao sítio de origem. Os defensores da igualdade de género também não têm neste filme razões de queixa: o papel atribuído à cinquentona Karen Allen destoa, positivamente, do tom de machismo dominante nos filmes de acção mainstream de Hollywood.
Os pseudo-puristas da sagra irritaram-se com a deriva de ficção científica. É não compreender que se trata de mais um regresso de Spielberg no filme de todos os regressos: ao armazém onde ficara encaixotada a «arca perdida»; aos anos 50 da adolescência de Spielberg e de Lucas; ao terror da bomba atómica, que Indiana Jones defronta logo no início do filme; a uma «espiritualidade pop» que alimentou a mística Jedi de A Guerra das Estrelas. Não tendo, como Lucas, imaginado um sistema religioso alternativo, os primeiros filmes de Spielberg eram sensíveis à mística difusa que, deixando de se reconhecer nas religiões instituídas, tomava a busca do além no sentido literal do termo e concebia o seu fim como um encontro com extraterrestres. Era esse o tema de Encontros Imediatos do Terceiro Grau, que Spielberg escreveu e realizou, o primeiro filme dele nomeado para o Óscar de melhor realizador. Nesta perspectiva, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal completa uma saga popular assente em três pilares da sabedoria: a arca da aliança, o Graal e os extraterrestres.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Irlandeses dizem "não". E agora senhor Durão Barroso?

Os eleitores irlandeses disseram ontem o que está entalado na garganta de muitos europeus: o “não” ao Tratado de Lisboa. E agora senhor Durão Barroso? O plano “B” será partir pro jogo-sujo, pra coação, pra guerrilha emocional e pras manobras macabras? Será este o seu conceito de democracia? Creio que os europeus não concordariam com ele.

Os 120 anos de Pessoa e o segredo da juventude

«Sou um ano mais velho do que o seu correspondente e sinto-me jovem pelas razões exactamente opostas às dele. Tenho trinta e oito anos e sinto-me mais novo cada ano, porque todos os anos estou mais próximo de nunca ter realizado coisa alguma na vida. A realização envelhece-nos. Tudo tem o seu preço; o preço da realização é a perda da juventude. Só a falta de objectivos e um modo de vida inconsequente – se a palavra “modo” pode ser aplicada a uma tal ausência de rumo – nos mantêm jovens. Não me casei e por isso mantive-me livre tanto dos prazeres especiais como dos cuidados próprios dessa espécie de parceria; e o bem e o mal desse estado são igualmente envelhecedores. Nunca assentei numa profissão ou num rumo de vida, nem sequer numa opinião que durasse mais que o minuto passageiro em que foi defendida. Nunca tive uma ambição que um belo dia (e Lisboa tem sobretudo dias belos, em todas as estações) ou um vento leve não dissipassem e reduzissem a um sonho agradável e acidental. Nunca fiz um esforço real atrás de coisa alguma, nem apliquei fortemente a minha atenção excepto a coisas fúteis, desnecessárias e ficcionais. Sinto-me jovem porque tenho vivido desta maneira.»

ZENITH, Richard (Edição), Cartas. Obra Essencial de Fernando Pessoa, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, pp. 274-275.

Perdidos e achados (em dia de Sto. António)

A encontrar perdidos desde o séc. XIII.


Se milagres desejais, recorrei a Santo António
Vereis fugir o demónio e as tentações infernais.
Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão,e no auge do furacão cede o mar embravecido.
Pela sua intercessão, foge a peste, o erro, a morte,
O fraco torna-se forte, e torna-se o enfermo são.
Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão, e no auge do furacão cede o mar embravecido.
Todos os males humanos se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram, e digam-no os paduanos.
Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão, e no auge do furacão cede o mar embravecido.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão, e no auge do furacão cede o mar embravecido.

Rogai por nós, bem-aventurado António
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

120 anos da "não-existência" de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernado Soares, Alexander Search...

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

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Aqui mais de 1000
poesias



Almada Negreiros - Retrato de Fernando Pessoa
(1954): óleo s/ tela, 200 x 200

quinta-feira, 12 de junho de 2008

40 anos de “Beggars Banquet” e “Jumping Jack Flash”

Esta é a capa original que os Stones queriam. Mas....
foram vencidos pela gravadora que optou por esta.

O
ano de 1968 foi muito fértil para a música pop internacional. Depois do lançamento do “Their Satanic Majesties Request” (1967) - uma frustrada viagem de Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Bill Wyman e Charlie Watts ao psicodelismo -, os Rolling Stones lançam, em 1968, o LP “Beggars Banquet”, um dos grandes discos que completam 40 anos neste 2008, junto com o single “Jumping Jack Flash(veja aqui o vídeo).


Bibiana Aído Almagro: a ministra blogueira de Zapatero

Ela tem apenas 31 anos, um blog (que ela mesma atualiza), um canal no YouTube, uma conta no Flickr e seu perfil no Twitter. Falo da andaluza Bibiana Aído Almagro, Ministra da Igualdade do governo Zapatero. Na blogosfera espanhola, é conhecida como a ministra 2.0, uma alusão às ferramentas de web 2.0, de rede e comunicação social. Taí uma idéia que deveria ser copiada pelos políticos e administradores públicos. É uma maneira bem eficiente de reduzir a distância entre o Estado e o cidadão e atenuar o mofo de seus gabinetes intransponíveis.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uma noite nas marchas

Este domingo fui assistir ao concurso das marchas populares de Lisboa, que se realiza num pavilhão fechado, antes do desfile na Avenida. É um primeiro momento de avaliação pelo júri.
Num Pavilhão Atlântico quase lotado era já a 3.ª (e última) noite de competição. O ambiente era de corropio e barulheira popular (portanto, não havia a tal tosse convulsa dos concertos de música clássica cá do burgo), com petizes e graúdos dos vários bairros da cidade, e uns quantos paraquedistas de fora, como a Cinha Jardim, que era a madrinha «da Linha» da marcha de Alfama. O elemento feminino predominava na audiência, mas não no palco. Também havia as incontornáveis pipocas, algodão doce e queijadas de Sintra, além do stock líquido cá fora e do speaker assim a dar pró-Feira Popular.
Desfilaram então 7 das 20 marchas a concurso.
S. Vicente vinha com o melhor guarda-roupa, inovador, simples, atractivo, com umas sombrinhas alegres a substituir os pesadões arcos convencionais. A letra e melodia também eram boas. Pena é que não tenha aproveitado para referir o seu santo Vicente, pois ele é que é o padroeiro de Lisboa, o que poucos sabem, e pese a relevância do St.º António, que já é referido por muitas outras marchas.
O Lumiar tinha uma canção com boa melodia, daquelas que ficam no ouvido, mas pouco mais.
O Beato também inovou, com o toque de percussão ao jeito da música de corte suspendendo o canto e os metais do «cavalinho». O pior era a decoração dos arcos e roupas, um quanto kitsch.
Benfica aproveitou para evocar a actriz Beatriz Costa e a sua 'costela' saloia, o que é apropriado.
O grande momento veio quase no fim, a representação de Alfama e a verificação se tinha traquejo para ser novamente a favorita. Parece que sim, a julgar pela coreografia, onde foi, de longe, a que revelou mais desenvoltura, variedade e risco. E, também, a atestar pelo apoio do público: mal a marcha desapareceu atrás do pano, o pavilhão encolheu para metade. Os seus apoiantes haviam saído, apesar do pedido do apresentador - a noite já ia longa, os assentos eram desconfortáveis e muita gente pegava cedo ao trabalho no dia seguinte.
As marchas alfacinhas são um dos "50 melhores eventos europeus", segundo a estrutura organizadora, a EGEAC.
Fernando Pessoa (120.º aniv.º natalício), Padre António Vieira (IV centenário do seu nascimento), a Chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil (bicentenário) e o Ano Europeu do Diálogo Intercultural foram os temas propostos (além do inevitável de Lisboa), mas que as colectividades pouco agarraram durante esta sessão. Sobre o Ano Europeu do Diálogo Intercultural vale a pena ver este vídeo feito pela EGEAC. As sardinhas estão cada vez melhores...
Amanhã à noite é o momento final: o desfile na Avenida. Antes disso, é tempo de arraial nos bairros históricos da cidade. Iééé, Lisboa é que é!!! Iééé, Lisboa é que é!!!
Nb: +inf. aqui; imagem de Alfama 2007 retirada daqui.

Se isto é a terceira via, venha depressa a quarta...

Com mais de dez anos dos Trabalhistas no poder, as desigualdades e a pobreza no Reino Unido aumentaram.

Terra Alerta: a vez dos produtos tradicionais

O programa «Terra Alerta» de hoje é dedicado à salvaguarda de variedades de certos produtos agrícolas em vias de desaparecimento em Portugal. Vem inserido no «Jornal da Noite» da SIC e é um programa de reportagens sobre ambiente e sustentabilidade da responsabilidade da jornalista Carla Castelo.
Irá abordar a actuação da associação «Colher para Semear», que se dedica a preservar sementes de frutas e legumes que se cultiva(ra)m no país, algumas das quais pouco conhecidas e parte em vias de desaparecimento. A um desses produtos, as cherovias, já me referi neste aqui, num post antigo. Para quem quiser comentar há este blogue específico.
ADENDA: o programa não foi hoje para o ar, por causa da futebolomania e dos camionistas, que entupiram o telejornal (será transmitido na próxima 4.ª; quem não puder acompanhar na hora, pode sempre ver os vídeos e os textos no site do programa).

Habitantes de Lesbos não querem ser lésbicos: querem ser lésbicos.

Moradores da ilha de Lesbos (Grécia) entraram na
Justiça para impedir que a palavra lésbica seja usada
como sinônimo de mulheres homossexuais.
Querem
que “lésbico” designe apenas uma região
geográfica. Pasmado com tal absurdo, prefiro deter-me
com a poesia de Safo.


Mais...




Imagem capturada aqui

A uma mulher amada

(Tradução: Décio Pignatari)

Ditosa que ao teu lado por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem , às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto
um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no
transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma
nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E
pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.

Desigualdades Socio-Económicas na Saúde (em 22 países europeus)

A revista New England Journal of Medecine (a revista médica internacional mais cotada nos rankings de publicações científicas) acaba de publicar um estudo de saúde pública em que analisa o impacto das desigualdades socio-económicas na saúde. Foram estudados 22 países europeus, e o principal indicador utilizado foi a taxa de mortalidade.
Não é muito surpreendente que o estudo conclua que os grupos mais desfavorecidos tenham maiores taxas de mortalidade. Nunca é demais repeti-lo: a pobreza mata. No entanto o estudo vai mais além, e é isso que é mais interessante, no estudo das causas destas desigualdades. A primeira conclusão é que as desigualdades socio-económicas têm um impacto muito diferente na mortalidade consoante os países. Assim na Suécia e na Grã-Bretanha (i.e. Inglaterra e Gales, a Escócia não faz parte do estudo) são os países onde as desigualdades menos impacto têm na mortalidade. Curiosamente são países onde existe um sistema de saúde público e universal. No polo oposto, é em países do leste da Europa e Báltico que é maior a diferença na mortalidade entre grupos socio-económicos.
Este estudo analisa vários factores que podem contribuir para o impacto das desigualdades nas taxas de mortalidade (e.g. alcoolismo, tabagismo, obesidade). Desses factores a análise feita determina que um dos factores que mais peso tem é o acesso a cuidados de saúde, daí a necessidade de um sistema de saúde universal. O que me parece também bastante relevante, é que a consciência para os problemas de saúde aparece também como um factor determinante. Ou seja capacidade das pessoas diagnosticarem os seus próprios problemas de saúde (o "self-acessement") é menor nos grupos mais desfavorecidos, e isso causa uma maior taxa de mortalidade nestes grupos. Quer isto dizer que é uma questão de educação. As populações mais desfavorecidas parecem não ter consciência dos seus próprios problemas de saúde, e talvez procurem menos os cuidados médicos quando deles precisam. Os outros factores analisados parecem ter pouco peso, no que respeita às desigualdades.
No caso de Portugal, é dos países onde são detectadas maiores desigualdades em termos de educação e de rendimentos. É também dos países onde as desigualdades socio-económicas têm uma maior correlação com a obesidade (especialmente nas mulheres), mas por outro lado é dos raros países onde existe uma correlação negativa com o tabagismo (os mais pobres fumam menos, especialmente as mulheres). Finalmente em Portugal, apesar das desigualdades nos rendimentos e na educação, as desigualdades socio-económicas têm um impacto relativamente reduzido na mortalidade comparado com outros paíes (anda lá pelo meio da tabela). Talvez o sistema de saúde português não seja tão mau quanto isso, e consiga atenuar o impacto das desigualdades socio-económicas na saúde.

AU AU AU AU

Vai aqui uma sublime canção para ilustrar o post do Daniel. Aproveito a oportunidade para dedicar a mesma música a S. Ex.ª o Sr. PR, Prof. Anibal Cavaco Silva, um homem que não consegue se livrar das amarras do passado.

Mutantes - Vida de Cachorro

terça-feira, 10 de junho de 2008

Cartas na mesa...

...é o nome do novo programa de entrevistas da jornalista Constança Cunha e Sá, nas noites de 3.ª na TVI. Hoje foi a vez de Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP.
Foi uma boa entrevista, sem espalhafato decibélico, onde se sabia bem quem era o entrevistado (ao contrário do que sucede noutros canais), com tempo para falar, perguntas difíceis e respostas estimulantes. O início estendeu-se um pouco na paralisação dos camionistas, embora seja o tema do dia, mas depois houve tempo para se abordarem várias questões mais relevantes.
Valeu a pena. A ver vamos se o programa consegue manter a abertura para caras que, regra geral, têm pouco espaço na tv, pese a sua relevância social, e que, quando aparecem, é 'à molhada', nos tais mega-debates políticos.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A gaffe «puro sangue» do nosso PR

Em declarações aos media, o PR Cavaco Silva disse hoje que não queria comentar a actualidade política, porque "hoje só quero sublinhar o dia da raça..." [pausa para 'pensar'] "... de Camões, de Portugal".
Vamos lá contar as gaffes: já não há «dia da raça», isso era no tempo do «Botas». E não, hoje ainda não é 10 de Junho, há que esperar ainda um pouquinho, tanta ansiedade para quê?
Enfim, lapsus linguae em forma de gaffes estivais, ou fixações a mais no 10 de Junho?
Em homenagem, aqui fica uma colecção de raças para o nosso PR.
Nb: imagem retirada daqui.

É a bondade do mercado a funcionar II

Passamos a vida a levar com campanhas de "sensibilização" alertando para a importância de uma alimentação saudável. Talvez o problema não seja falta de sensibilidade. Uma alimentação saudável custa caro, e cada vez mais caro (pelo menos em França a fruta e os legumes são os que mais têm encarecido). O poder de compra, esse está em baixa, e a correlação entre a má nutrição e a pobreza é fortíssima.

domingo, 8 de junho de 2008

A cultura imaterial como recurso para o desenvolvimento local

Está em preparação uma rede de conteúdos em 9 concelhos alentejanos visando a salvaguarda do património cultural imaterial da região. A iniciativa é da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, terá uma entidade central de concentração das memórias sociais e prevê a criação dos seguintes espaços:
>Casa da décima e do verso improvisado (Alcácer do Sal, dedicado à poesia popular/tradicional e ao improviso);
>centro do tapete (Arraiolos, vocacionado para o estudo dos têxteis do Alentejo);
>núcleo museológico dos modos de construir e da arquitectura tradicional (Avis);
>Casa da Fala (Barrancos, para preservar o dialecto barranquenho e à dialectologia);
>arquivo de história oral (Baleizão, dedicado à memória social);
>Casa do Teatro Tradicional (Borba);
>Casa da Viola Campaniça e do Baldão (Ourique, dedicada ao tradicional canto de improviso local e ao único instrumento de cordas alentejano);
>Casa do Cante (Serpa/Cuba, dedicado a este canto coral tradicional);
>Jardim do Mundo (Portel, que permitirá o conhecimento do território, das paisagens e das identidades do Alentejo).
A ideia é que cada uma daquelas unidades possa depois criar uma rede sectorial, para dinamizar e potenciar outras tradições, técnicas e produtos da região, como no caso da Casa do Tapete, que deverá articular uma rede que inclua os bordados de Nisa, as tapeçarias de Portalegre, as rendas de nós da Trindade e as mantas de Reguengos de Monsaraz e Mértola.
O coordenador deste projecto é Paulo Lima, que publicou recentemente o livro O fado operário no Alentejo - séculos XIX e XX. Esta rede primária estará conectada a um Centro de Articulação de Conteúdos (o Centro Michel Giacometti, a instalar em local a definir do Alentejo Central), o qual terá como funções a articulação de conteúdos, a gestão do Centro de Documentação Digital e a sensibilização para uma boa prática de conservação de arquivos do património imaterial.
Ainda segundo Paulo Lima, está previsto o desenvolvimento duma rede de encontros científicos, a articular com um conjunto de festivais temáticos (Monsaraz, Marvão, etc.) ou pequenos projectos emergentes, como é o caso dos cantos iberoamericanos de improviso em Alcácer do Sal, que "podem ter relevância para o turismo cultural". Outros projectos almejados são a construção de conteúdos multimédia para sítios e monumentos de interesse patrimonial (caso dos castelos de Amieira do Tejo e Campo Maior, da Torre do Salvador e do Castro da Cola), para a culinária do Alentejo, para os produtos agro-florestais e a paisagem.
Esta iniciativa baseia-se na Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, adoptada em X/2003 (32.ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO), que foi aprovada pelo Estado português em I/2008. Nela ficou consagrado a promoção do Património Cultural Imaterial, entendido como "um conhecimento que é recreado constantemente pelas comunidades e grupos em função do contexto em que vivem, da sua interacção com a natureza e com a sua historia" e que inclui os usos, representações, expressões, conhecimentos e técnicas, instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais colectivos. Tal convenção teve como finalidade incutir um sentimento de identidade e continuidade pelo respeito da diversidade cultural e da criatividade humana.
Este é um projecto exemplar de como o desenvolvimento local e regional pode e deve contar com a consolidação duma política cultural, entendida numa perspectiva transversal, que abranja a economia, a formação, etc.
Fonte:
*ZACARIAS, Maria Antónia, "Alentejo vai cartografar e preservar o seu vasto património cultural imaterial", Público, 8/VI/2008, p.29.
Nb: imagem do Grupo Coral e Etnográfico do Ateneu Mourense retirada daqui.