quinta-feira, 31 de julho de 2008

A história da Humanidade em 8m46s de pura ironia

Vale a pena deliciarem-se com o olhar mordaz e cómico deste filme de animação. Sobre o seu autor, um dos melhores no activo, falarei brevemente.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O 2 em 1: combater a exclusão social e a poluição pela reciclagem do óleo

A fórmula é inovadora e temos todos a ganhar com esta iniciativa louvável da AMI. Aproveito para aqui deixar o texto de divulgação da AMI:
"Talvez não saiba, mas o óleo alimentar que já não serve para si pode ainda ajudar muita gente. Em vez de o deitar fora, entregue-o nos restaurantes aderentes para que este seja recolhido. Além de diminuir a poluição do planeta, cada litro de óleo será transformado num donativo para ajudar a AMI na luta contra a exclusão social. Dê, vai ver que não dói nada.
Para participar neste projecto da AMI:
- junte o óleo alimentar que usa na sua cozinha numa garrafa de plástico e entregue-a quando estiver cheia num dos restaurantes aderentes. Os restaurantes estão identificados e a lista completa está disponível em
www.ami.org.pt [http://www.ami.org.pt/media/pdf/oleos_aderentes0608.pdf];
- afixe cartazes no comércio da sua localidade e distribua folhetos nas caixas de correio. Solicite materiais, enviando um e-mail para
reciclagem@ami.org.pt;
- divulgue esta informação no seu site ou blog;
- encaminhe este e-mail para a sua lista de contactos.
Press release:
Pela primeira vez, vai passar a existir em Portugal, uma resposta de âmbito nacional para o destino dos óleos alimentares usados. A partir de dia 15 de Julho, a AMI lança ao público este projecto que conta já com a participação de milhares de restaurantes, hotéis, cantinas, escolas, Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais.
A AMI dá com este projecto continuidade à sua aposta no sector do ambiente, como forma de actuar preventivamente sobre a degradação ambiental e sobre as alterações climáticas, responsáveis pelo aumento das catástrofes humanitárias e pela morte de 13 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Os cidadãos que queiram entregar os óleos alimentares usados, poderão fazê-lo a partir de agora. Para tal, poderão fazer a entrega numa garrafa fechada, dirigindo-se a um dos restaurantes aderentes, que se encontram identificados e cuja listagem poderá ser consultada no site
www.ami.org.pt.
Os estabelecimentos que pretendam aderir, recebendo recipientes próprios para a deposição dos óleos alimentares usados, deverão telefonar gratuitamente para o número 800 299 300.
Este novo projecto ambiental da AMI permitirá evitar a contaminação das águas residuais, que acontece quando o resíduo é despejado na rede pública de esgotos, e a deposição do óleo em aterro. Os óleos alimentares usados poderão assim ser transformados em biodiesel, fornecendo uma alternativa ecológica aos combustíveis fósseis, e contribuindo desta forma para reduzir as emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE). Ao contrário do que por vezes acontece com o biodiesel de produção agrícola, esta forma de produção não implica a desflorestação nem a afectação de terrenos, nem concorre com o mercado da alimentação.
São produzidos todos os anos em Portugal, 120 milhões de litros de óleos alimentares usados, quantidade suficiente para fabricar 170 milhões de litros de biodiesel. Este valor corresponde ao gasóleo produzido com 60 milhões de litros de petróleo, ou seja, o equivalente a cerca de 0,5% do total das importações anuais portuguesas deste combustível fóssil. A AMI dá assim a sua contribuição para favorecer a independência energética do país, conseguindo atingir este objectivo de forma sustentável e com uma visão de longo prazo, não comprometendo outros recursos igualmente fundamentais para o desenvolvimento da sociedade e para o bem-estar da população.
Segundo a União Europeia, o futuro do sector energético deverá passar pela redução de 20% das emissões de GEE até 2020, assim como por uma meta de 20% para a utilização de energias renováveis. Refere ainda uma aposta clara na utilização dos biocombustíveis, que deverão representar no mínimo 10% dos combustíveis utilizados.
A UE determina ainda que os Estados-Membros deverão assegurar a incorporação de 5,75% de biocombustíveis em toda a gasolina e gasóleo utilizados nos transportes até final de 2010 e o Governo anunciou, em Janeiro de 2007, uma meta de 10% de incorporação de biocombustíveis na gasolina e gasóleo, para 2010.
As receitas angariadas pela AMI com a valorização dos óleos alimentares usados serão aplicadas no financiamento das Equipas de Rua que fazem acompanhamento social e psicológico aos sem-abrigo, visando a melhoria da sua qualidade de vida
."
Fundação AMI
Rua José do Patrocínio, 49
1949-008 Lisboa
Tel.: 218 362 100
Fax: 218 362 199
Internet: www.ami.org.pt

domingo, 27 de julho de 2008

Fados ao entardecer

A maior fadista da actualidade dá hoje o último dos seus 3 concertos na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, às 18h.
Aqui está uma boa oportunidade para quem quiser escutar o novo disco de Aldina Duarte, «Mulheres ao espelho».
Os outros concertos do ciclo «Fados ao entardecer» decorreram a 13 e 20 deste mês, na Sala Prado Coelho.
Ainda nesta semana faleceu uma decana do fado, Fernanda Baptista, aos 89 anos de idade (nota biográfica e comentários no blogue de Vítor Duarte Marceneiro).
Nb: imagem da capa do disco «Mulheres ao espelho».

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Lisboa republicana

Amanhã, 25 de Julho, pelas 15.30h, será apresentado no Salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa o programa comemorativo do Centenário da Eleição da Primeira Vereação Republicana em Lisboa (1908-2008). A programação incluirá uma exposição, um colóquio, ateliers educativos, visitas guiadas e recriações históricas. O Comissário Científico do projecto é o Professor Doutor António Reis (FCSH-UNL) e o Coordenador Geral, o Dr. Álvaro Costa de Matos (Hemeroteca Municipal de Lisboa).
Na ocasião, será lançada a vinheta comemorativa do histórico acontecimento (um pormenor da obra do pintor Veloso Salgado, de 1913, na altura intitulada “A Cidade de Lisboa elege a sua primeira Vereação”, mas posteriormente conhecida por “O Sufrágio”), que, por deliberação camarária, será aposta no estacionário municipal ao longo do corrente ano. O quadro “O Sufrágio”, do espólio do Museu da Cidade, encontra-se em exposição no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
Ao comemorar a vitória do Partido Republicano Português nas eleições municipais de Lisboa de 1 de Novembro de 1908, um dos acontecimentos que assinalaram o caminho para a instauração da República a nível nacional, a CML compromete-se a:
1. Tratar e divulgar os seus fundos e colecções patrimoniais relacionados com a temática da República;
2. Valorizar o legado republicano de liberdade, igualdade, democracia participativa, cidadania, emancipação pela educação, inclusão social, descentralização e autonomia municipal;
3. Promover as bibliotecas, os arquivos e demais equipamentos culturais da Autarquia, enquanto espaços privilegiados de exercício do direito à informação, à educação e à cultura, preservação da memória histórica e divulgação do conhecimento.

sábado, 19 de julho de 2008

Languedoc, porque há dias assim.

Andava eu à procura do Peidoque perdido (by the way o "Le P'tit Canon" está vivo e recomenda-se, como eu suspeitava mudou-se para outra freguesia, na circunstância a 17ª, mas eu dei com ele, continua autêntico como antes, e com bastante mais espaço, mas isso agora não interessa nada) - perdão - andava à procura do Pays d'Oc perdido, para descobrir que o Pays d'Oc é afinal uma designação vaga e indefinida, no que toca ao vinho pelo menos. Pensaria então que Languedoc seria ainda mais vago e indefinido, pois se Pays d'Oc quer dizer o País da Occitânia e Languedoc a Língua da Occitânia, seria de esperar que se um território ou país fosse definido pelo menos com umas fronteiras geográficas, enquanto que a língua pode ser falada em territórios e por gentes mais difíceis de delimitar. Nada mais errado. Aliás, nunca tentem perceber o que quer que se passe em França com uma abordagem lógica, simples e linear (eles não gostam). Tudo isto para dizer que, nas minhas pesquisas sobre vinho francês, me chegou ao conhecimento a existência da região demarcada do Languedoc, também denominada de Roussillon, que é bem concreta e definida. Na minha escala cartesiana de classificação dos vinhos franceses, Bourgone nas abcissas e Bordeaux nas ordenadas, ou vice-versa, o Languedoc é o vinho mais equilibrado que já encontrei, diria mesmo que leva uma pontuação de 2,5:2,5. Não é nem muito escuro nem muito claro, nem demasiado leve nem demasiado pesado, robusto que chegue, com uns aromas agradáveis, enfim... equilibrado. É assim uma espécie do vinho ideal para aqueles dias especiais que têm de especial o facto de não terem nada de especial. Há dias assim. Há dias que não sabemos se somos de esquerda ou de direita, não sabemos se queremos ver um jogo de futebol ou ler um livro erudito, não sabemos se vai chover ou fazer sol, se o trabalho ata ou desata. Principalmente não sabemos se queremos carne ou peixe para o jantar, nem se vai ser cozido ou grelhado. E nesses dias, e há dias assim, acabamos sempre numa decisão salomónica, em que nos damos à cozinha criativa e conseguimos meter um chouriço no bacalhau. O difícil é escolher o vinho que vai com o prato acabado de nascer, nesses casos porque não experimentar um Languedoc? Tem a vantagem de ir bem com tudo, contudo. Há apenas um preceito a ter em atenção, quando se bebe um Languedoc, é bom que seja à base da cepa Grenache, e menos de 80% não é aceitável. E se tiver que escolher uma denominação eu iria para o Fitou, mas lá está, eu ainda conheço muito poucas denominações do Languedoc.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Booker dos Booker

Salman Rushdie venceu esta semana e sem grandes surpresas o Booker dos Bookers, no ano em que o prémio faz 40 anos. Pela segunda vez, Os filhos da Meia Noite (D. Quixote), ganha a distinção (a primeira vez tinha sido nos 25 anos de existência de Bookers).
Para quem ainda não leu, é sempre mais uma possibilidade para acrescentar à lista dos livros para as férias. E cruzar a história que começa às 00:00h da independência da Índia com o livro de Khushwant Singh, Um comboio para o Paquistão (Cavalo de Ferro). Afinal a história da Índia às 00:01, passada numa pequena aldeia da fronteira, onde sikhs e hindus serão forçados a separarem-se. Uma lúcida reflexão sobre o retalhar geográfico contemporâneo.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Todos os aromas de uma míni horta dentro de casa

Este post foi inspirado no “A propósito de um tomateiro....”, de Paula Tomé.

Para quem gosta de cozinhar (aliás, todos deveriam saber fazer os próprios alimentos ou então serem condenados a comer eternamente no McDonald’s), não existe nada melhor do que ter os próprios temperos à mão. Que tal então montar uma míni horta dentro de casa, hein? Além de ser mais saudável, ela exalará por todo o ambiente aromas deliciosos, que dará à sua vivenda um ar todo especial e único. Ela não é nada exigente. Só precisa de um cantinho onde bata sol (que pode ser o quintal, se morar em casa térrea, ou na varanda, se for dentro de um apartamento) e cuidados básicos, como água e um pouco de atenção. Não é necessário que se mantenha diálogos metafísicos com ela, como dizem muitos malucos que andam à solta por aí. Nada disso, pois isso é coisa de pirado. Neste caso, aconselho que se use o dinheiro que seria gasto com a compra dos objetos para pagar a terapia psiquiátrica. Abaixo, seguem algumas dicas de como montar uma míni horta e em espaços fechados.

Local - Como eu disse no texto acima, a míni horta precisa de ser instalada num local bem iluminado pelo sol (ao menos pela manhã), pois como todos nós sabemos em locais escuros ou mal-iluminados, as plantas não fazem fotossíntese e não crescem adequadamente. Locais mal iluminados ou escuros são adequados a outras atividades, menos à atividade agrícola, digamos assim.

Recipientes - Para isso não há regras, pois elas são meio anárquicas e se acomodam bem em vários tipos de vasos (veja aqui algumas instruções). Nesse caso faço apenas algumas recomendações básicas: os recipientes devem possuir furos em baixo para drenar a água. Podem ter mais ou menos uns 20 cm de altura (a largura e o comprimento vai depender do espaço disponível e quantidade de variedades que se deseja cultivar). Vasos muito altos são desnecessários e os rasos em demasia secam rapidamente.

O que cultivar - Para uma míni horta em vasos as melhores opções são as pequenas hortaliças. No meu apartamento tenho cultivado com sucesso coentro, salsinha, cebolinha, manjerona, manjericão, hortelã, alecrim e pimentas variadas. Para quem não cozinha, mas é hipocondríaco, as ervas medicinais são uma boa alternativa para manter um perfume bem agradável dentro de casa. Mata-se aqui dois coelhos com um tiro só: tem-se aquele remedinho natural (não sei se ele cura alguma doença, mas mal não faz) pra qualquer emergência e matém-se o ambiente bem saudável.

Como preparar os recipientes - Há inúmeras formas de se preparar os recipientes. O fundamental e facilitar a drenagem, para evitar o encharque e a inevitável morte da raiz. Para evitar que isso aconteça, devemos cobrir o fundo do vaso com uma camada fina de pedras britadas ou cacos de telha. Depois coloca-se uma mistura de terra comum, terra vegetal e húmus. Atenção: não coloque húmus em exagero, pois o excesso pede levar algumas espécies à morte. O que seria lamentável depois desse trabalho todo.

O plantio - Quando forem semente (encontradas facilmente nos hipermercados), semeie conforme a recomendação de seus produtores que vem estampada nas embalagens. Caso sejam mudas, o plantio é bem mais simples. Plante a muda nivelando-a com o solo do vaso, preenchendo os espaços vazios com terra. Pressione levemente em torno da muda para eliminar os bolsões de ar. Depois regue lentamente até que a terra fique apenas úmida, sem inundar o vaso.

Pronto. Agora e só esperar a colheita e elaborar deliciosos pratos e convidar os amigos. Mas antes disso, vais precisar manter esta preciosidade. O que não é muito difícil. Basta manter o vaso sempre levemente úmido (aqui uma dica de rega - vídeo), mas sem deixá-lo encharcado, uma vez que isso pode matar a planta ou deixá-la indefesa contra uma série de pragas. A adubação é outro cuidado constante que se deve ter. Mas, como já disse, sem exageros. Além do húmus, os adubos minerais ou líquidos são bem apreciados. E como nada é eterno nesta Terra (exceto o desmatamento da Amazônia), as pequenas plantas não duram pra sempre e precisarão ser replantadas quando começarem apresentar aspectos negativos (folhas amareladas ou secas, por exemplo). Quando isso ocorrer, você deverá retirar toda a terra do vaso e replantar as mudas (ou sementes), utilizando o mesmo procedimento anterior. Para obter informações mais técnicas, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) dispõe de manuais pra esse fim, que são fornecidos muitas vezes gratuitamente. Para entrar em contato, clique aqui. A QuizCamp, que tem lojas em vários países europeus, é outra empresa que também poderá ajudar na criação da sua míni horta. Veja aqui outras dicas.

Fonte: O jardim e a míni horta – F.B Souza & G. Huber (Expressão Editorial)



quarta-feira, 16 de julho de 2008

A propósito do poema "Pater Noster"



Ofereceram-me o Paroles do Prévert e ando deliciada a ler e a reler os vários poemas.
Este fez-me lembrar de uma coisa que vi há uns tempos na Cass Sculpture Foundation. Chama-se It pays to pray, uma série de máquinas onde pomos uma moeda e escolhemos uma oração... E, claro, fez-me lembrar ainda deste anúncio fantástico da Diesel.

Pater Noster

Notre Père qui êtes au cieux
Restez-y
Et nous nous resterons sur la terre
Qui est quelquefois si jolie
Avec ses mystères de New York
Et puis ses mystères de Paris
Qui valent bien celui de la Trinité
Avec son petit canal de l'Ourcq
Sa grande muraille de Chine
Sa rivière de Morlaix
Ses bêtises de Cambrai
Avec son océan Pacifique
Et ses deux bassins aux Tuileries
Avec ses bons enfants et ses mauvais sujets
Avec toutes les merveilles du monde
Qui sont là
Simplement sur la terre
Offertes à tout le monde
Eparpillées
Emerveillées elles-mêmes d'être de telles merveilles
Et qui n'osent se l'avouer
Comme une jolie fille nue qui n'ose se montrer
Avec les épouvantables malheurs du monde
Qui sont légion
Avec leurs légionnaires
Avec leurs tortionnaires
Avec les maîtres de ce monde
Les maîtres avec leurs prêtres leurs traîtres et leurs reîtres
Avec les saisons
Avec les années
Avec les jolies filles et avec les vieux cons
Avec la paille de la misère pourrissant dans l'acier des canons.


Jacques Prévert

terça-feira, 15 de julho de 2008

13/07/08 (to Rita with luv)

Já a pensar em todos os livros de histórias que vais ler, aqui está uma Sereiazinha de Lisbeth Zwerger.

A insanidade tem nome: Guantánamo


A Justiça canadense autorizou a divulgação do primeiro vídeo de um interrogatório feito a um prisioneiro na base militar dos Estados Unidos na baía de Guantánamo, em Cuba. Trata-se de Omar Khadr, um adolescente canadense de 16 anos (hoje ele tem 21 anos). Ele é acusado de ter lançado uma granada que matou um soldado americano durante um tiroteio no Afeganistão, em 2002. Há notícias de que foi interrogado por mais de 7 durante 3 dias. Khadr será julgado por um Tribunal Militar em Guantánamo, marcado para começar no dia 8 de outubro. Entre várias acusações, consta a de assassinato. Ele corre o risco de ser condenado à prisão perpétua.

A poesia em P&B de Chema Madoz



domingo, 13 de julho de 2008

Dia Mundial do Rock 'n' Roll

A história ainda é muito controversa e gera estrondosos bate-bocas. Mas muitos historiadores apontam a canção "Rocket 88", gravada em 1951, por Ike Turner (letra) e o saxofonista Jackie Brenston (música), como a primeira gravação de rock. Lançada pela Chess Records, a música não é a rigor rock. Ela está mais pra um rhythm & blues metamórfico e bem próximo da idéia do que viria a ser o rock 'n' roll, uma música revolucionária culturalmente, com heranças tanto brancas (country and western e o bluegrass) quanto negras (blues, R&B, gospel e outros). Outros (talvez os mais puristas), entretanto, são irredutíveis e capazes de jurar sobre a Bíblia que a criação efetiva do rock 'n' roll só se deu com a cristalização do gênero. Ou seja, em 1954, com o lançamento de We’re Gonna - Rock Around The Clock”, com Bill Haley and The Comets. Pra agradar a todos, vai aqui o vídeo de "Rocket 88" e aqui o de “We’re Gonna - Rock Around The Clock”. De qualquer forma, hoje é o Dia Mundial do Rock e não importa quem seja seu pai. Dancemos, pois!

PS.: Parece-me que a banda “Jackie Brenston and his Delta Cats”, que consta no rótulo do disco da foto nunca existiu. Há quem diga que tudo não passou de uma jogada comercial de Ike Tuner.

sábado, 12 de julho de 2008

O que Carla Bruni quer dizer com “Tu Es Ma Came”?

O que será que Carla Bruni quis dizer com a música “Tu Es Ma Came”? No seu novo disco “Comme si de rien n'était” (não ouvi e jamais ouvirei), a primeira-dama francesa canta: “você é minha droga, mais mortal que a heroína afegã, mais perigosa que a branca colombiana”. Será que a canção foi inspirada no presidente francês? Se foi, ela foi certeira com uma precisão cirúrgica dos diabos. O gajo é mesmo uma droga perigosa. Ouça aqui a tal música.

Até onde vai o relativismo?

Talvez mais um caso para atiçar o debate entre relativistas e absolutistas. Uma mulher marroquina, residente em França há oito anos, casada com um francês, mãe de três filhos nascidos em França, viu recusado o seu pedido de naturalização. A cidadania francesa foi-lhe negada por a sua prática religiosa ser considerada, por quem estava encarregue de avaliar o processo, demasiado radical, e por isso incompatível com valores fundamentais da república francesa. A mulher em causa é muçulmana, e considera-se pertencente ao salafismo. Lê-se no artigo que é a primeira vez que a nacionalidade é recusada a um muçulmano tendo por base o 'grau' de prática religiosa e as opções pessoais. Até aqui a nacionalidade era negada aos indivíduos próximos de movimentos islamistas e tendo tomado posições públicas em favor do islamismo radical.
À partida tendo a ser relativista, e acho que um dos valores fundamentais de uma república laica deve ser a liberdade de escolha, onde se incluem as escolhas religiosas. Nada do que faz esta mulher é crime pela lei francesa, ela não procurou convencer ninguém a adoptar o mesmo tipo de práticas. Limitou-se a fazer uma escolha individual. No entanto, se olharmos para este caso apenas pelo que ele é, e fizermos abstracção do clima político anti-imigração e islamofóbico actual na Europa, e particularmente em França, encontramos até alguns argumentos razoáveis nesta recusa. Lendo o artigo até ao fim fica a impressão que esta decisão se deve mais à submissão voluntária da mulher ao marido do que à sua prática religiosa. A mulher reconheceu nas entrevistas que se veste com uma burqa mais por hábio e porque o marido lho exige, do que por convicção religiosa. Segundo consta do processo, ela não tem qualquer ideia da laicidade ou do direito de voto, vive isolada da sociedade francesa e é completamente submissa aos homens da família, o que lhe parece normal e não lhe ocorre sequer contestar.
Deverá a república considerar este tipo de prática aceitável e normal? Eu acho que sim, quero dizer aceitável sim, normal não. É o preço da liberdade, e da coerência quanto ao significado da palavra 'liberdade', mas reconheço que tenho dúvidas.

"Está morto e vai morrer"

"Em 1865, o jovem Lewis Payne tentou assassinar o secretário de Estado americano, W. H. Seward. Alexander Gardner fotografou-o na sua cela; ele aguarda o enforcamento. A foto é bela, o rapaz também: é o studium. Mas o punctum é: ele vai morrer. Leio ao mesmo tempo: isto será e isto foi. Observo, horrorizado, um futuro anterior em que a morte é a aposta. Dando-me o passado absoluto da pose (aoristo), a fotografia diz-me a morte no futuro. O que me fere é a descoberta dessa equivalência. Diante da foto da minha mãe criança, digo para mim mesmo: ela vai morrer. Estremeço (...) perante uma catástrofe que já aconteceu. Quer o sujeito tenha ou não morrido, toda a fotografia é essa catástrofe. (...) Há sempre nela [na fotografia histórica] um esmagamento do tempo; isto está morto e isto vai morrer."


Roland Barthes, A Câmara Clara, p. 107.

Quando olho para a fotografia da minha mãe, ou minha, ou de um familiar ou amigo vivo, não me ocorre esta catástrofe e não estremeço, embora o argumento de Barthes tenha toda a pertinência. Quando olho para esta foto de Lewis Payne, sinto , de facto, essa catástrofe e estremeço. É que há aqui uma grande diferença: As primeiras fotos de que falo são de pessoas que sabem que não vão enfrentar a morte imediata. Payne, aka Powell, foi condenado à morte, está algemado e sabe que vai morrer brevemente, como refere Barthes: "Está morto e vai morrer", ao que eu acrescento: e sabe que vai morrer breve, brevemente. É este paradoxo que me seduz e me faz estremecer, tal como a arte do fotógrafo Alexander Gardner.


P.S. While hangman Christian Rath was placing the noose over young Powell's head he remarked, "I hope you die quick." He had been impressed by Powell's courage and determination in the face of death. To this Powell replied, "You know best, captain." However Powell did not die quickly as hoped by Rath. After the drop he struggled for life more than five minutes. His body swinging wildly, twice he "Moved his legs up into the sitting position" and was the last to die.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Pity the Nation

Lawrence Ferlinghetti
Awake!, 2001

A livraria City Lights em San Francisco comemora os 50 anos da publicação da obra A Coney Island of the Mind do poeta e pintor Lawrence Ferlinghetti. Deram-me hoje um postal com um poema do autor, que é por sinal de descendência portuguese entre outras. Desconhecia o poema e achei-o muito bonito. Chama-se Pity the Nation. Aqui fica:

Pity the nation whose people are sheep,
and whose shepherds mislead them.
Pity the nation whose leaders are liars, whose sages are silenced,
and whose bigots haunt the airwaves.
Pity the nation that raises not its voice,
except to praise conquerors and acclaim the bully as hero
and aims to rule the world with force and by torture.
Pity the nation that knows no other language but its own
and no other culture but its own.
Pity the nation whose breath is money
and sleeps the sleep of the too well fed.
Pity the nation -- oh, pity the people who allow their rights to erode
and their freedoms to be washed away.
My country, tears of thee, sweet land of liberty.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Grand Tour

No ano passado, a National Gallery, numa parceria com a HP, decidiu arejar a colecção e enfeitar as paredes da cidade. A Grand Tour , consistiu em pendurar pelas ruas de Soho, Picadilly e Covent Garden alguns dos quadros mais conhecidos da National. Os transeuntes, apressados ou não, foram apanhados de surpresa e adoraram. Este ano foi publicado um livro chamado "Tiger Seen on Shaftesbury Avenue " onde constam muitas das fotos tiradas aos encontros desprevenidos da cidade com algumas das obras mais famosas do mundo. O sucesso foi tão grande que se fala da possibilidade de levar a Grand Tour a outros países. Estejam atentos!


INGRES
, 1780 - 1867
Madame Moitessier

Mudar de vida para não mudar de hábitos


Não obstante algum (ligeiro) desencantamento com Paris, a que a eleição de Sarkozy não será alheia, nem alguns parisienses tampouco, há algo que continuo a fazer com prazer nesta cidade: subir de bicicleta a rue Froidevaux. Aliás mereceu um dos meus primeiros posts, que estava até escrito na minha cabeça antes que me lançar na blogosfera. Entretanto mudei de casa, mas a Froidevaux continuou no meu caminho quotidiano. E eis que senão quando o meu chefe resolveu mudar de local de trabalho, e com ele toda a equipa. A ideia até era que eu o mudasse com ele, mas inenarráveis proezas de que só a napoleónica burocracia é capaz fizeram com que a história mudasse o curso. Pelo menos assim reza a versão oficial. Na realidade talvez o meu inconsciente, se é que ele existe, não tenha perdoado a alteração do trajecto de e para o trabalho, que por mais boa-vontade que tivesse não contemplava a Froidevaux. Mudei de emprego. Voltei a poder subir essa rua pela manhã, e que nesta altura do ano está tã' verde, tã linda. Sei também que o novo instituto onde trabalho agora vai mudar de instalações em breve. Tive o cuidado de verificar antecipadamente: a Froidevaux vai continuar no caminho. O único senão é que o trajecto vai ficando cada vez mais longo, seja...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Psycho Buildings

A Hayward Gallery, em Londres, comemora os seus 40 anos com uma exposição verdadeiramente "psycho". A "Psycho Buildings" consiste numa "brincadeira" em que vários artistas exploram o espaço da galeria com ambientes e instalações em grande escala dedicados à relação entre o indivíduo e o seu meio. Entre eles contam-se o brasileiro Ernesto Neto e Rachel Whiteread, com uma "cidade" fantasmagórica deliciosa feita com mais de 200 casas de bonecas. Há ainda um lago no topo de um dos terraços da galeria e uma bolha gigante onde se pode andar a rebolar. É divertido!

Não ficam a pensar

que quando o calor chega e Lisboa se transforma num cenário de uma esbranquiçada aridez, e a ponte entope, e no Guincho sopra o vento, e em Sintra a neblina cai que seria mesmo bom haver uma grande piscina em Lisboa? Com relva, árvores e famílias, gelados e batatas fritas.
Na minha infância era a piscina do Parque de Campismo de Monsanto que cumpria, e bem, essa função, mas acabou por entrar em definitiva decadência, assim como as piscinas do Campo Grande e dos Olivais.
E Lisboa secou com elas.
Imagem: Liu Hong Wei (1965-) - Swimming Pool, 2006.

terça-feira, 8 de julho de 2008

75% da subida do preço dos alimentos deve-se aos biocombustíveis

Quem o diz é o Banco Mundial, que apela à redução de subsídios aos biocombustíveis, tanto na Europa como nos EUA. A cacha foi lançada pelo The Guardian, no final da semana passada, de acordo com um estudo do Banco Mundial que datava de Abril (e que só entretanto foi divulgado, em cima da Cimeira dos G8).
Este estudo contraria as estimativas oficiais do governo dos EUA, o qual sustentava que os biocombustíveis afectavam os preços alimentares em apenas 3%.
O Banco Mundial divulgou um plano de acção com 10 pontos, para travar o aumentos dos preços dos alimentos.
O mandatário da ONU para o direito à alimentação, Jean Ziegler, já há vários meses que vinham denunciando a situação (vd. aqui).
E agora, o que dirão os neoliberais que teimavam em refutar o que muitos já suspeitavam? Voltarão a assoprar para o ar, como de costume?
Fonte: PEIXOTO, Margarida (2008), "Banco Mundial pede redução de subsídios aos biocombustíveis", Diário Económico, 7/VII, p. 14.
Nb: imagem de cartoon de Miel retirada daqui.

Graverso

Paul Curtis, conhecido por Moose, é um artista bastante original. Ele cria obras de arte ao limpar espaços urbanos marcados pela poluição e pelo descuido. É um bocado grafite ao contrário, "graverso" como ouvi alguém dizer. O resultado pode ser surpreendente e pensei que seria engraçado dedicar-lhe um post. Aqui fica então o link do projecto "graverso". Ele tem também um site engraçado sobre projectos publicitários em que esteve envolvido. Vi-o no Discovery Channel a explicar que tem problemas com a polícia por andar a "limpar paredes". É que a lei sabe o que fazer em relação a casos de grafite, mas grafite ao contrário é mais complicado!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A propósito de um tomateiro...


Quando o calendário anunciou o fim do período bolorento, o Inverno londrino, nós fizemos o que faz toda a gente por estas bandas, corremos para o “garden centre” mais próximo e comprámos pacotes e pacotinhos de sementes. Depois plantámos as ditas em mil e um vasinhos que ficaram espalhados pela cozinha à espera que o Inverno se tocasse e se retirasse.

Finalmente, um belo dia transplantámos os frágeis rebentos lá para fora e a coisa resistiu às geadas fora de época e a outros acidentes meteorológicos.

Hoje de manhã, notei que temos uns tomateiros que cheiram divinamente. Confirmámos assim que o humilde fruto não nasce realmente nas caixas de plástico do supermercado, mas começa por ser uma simples florzinha amarela. Foi um momento de reencontro com a natureza que achei comovente e revigorante, na verdade, diria mesmo terapêutico.

Não faço uma ode ao tomate porque não tenho alma de poeta, mas os mistérios e milagres do nosso humilde canteiro fizeram-me pensar nas “seedbombs”, literalmente bombas de sementes, e na guerrilha de jardineiros.

Nos tempos que correm, não posso deixar de sentir uma grande admiração por Richard Reynolds, que munido de sementes e sob o lema “Let’s fight the filth with forks and flowers”, tenta melhorar os espaços urbanos clandestinamente.

Quando visitarem Londres, não ignorem o fogo-de-artifício natural que prolifera pela cidade nesta altura do ano. Esqueçam por alguns instantes o Big Ben e lembrem-se dos jardineiros clandestinos armados de amores-perfeitos e coisas afins. Eles representam a capacidade que as pessoas deste país têm de, efectivamente, se empenharem na mudança para o bem colectivo.

E se quiserem, participem e tornem este movimento universal. Parece que fazer uma bomba de sementes até é fácil...


Lisboa merece melhor, ou a chaga dos prédios devolutos

O incêndio de ontem em Lisboa reacendeu em muitos o receio dum novo incêndio devastador, como o do Chiado (a 25/8/1988), à beira dos 20 anos.
As chamas irromperam por um prédio devoluto da Avenida da Liberdade, o n.º 23, e alastrarem a 2 outros edifícios, deixando 150 pessoas sem casa. A capital do país tem actualmente 4600 edifícios devolutos, metade deles aguardando licença para recuperação e grande parte deles propriedade municipal. É, simplesmente, indecoroso, sabendo-se da sangria de habitantes, que vão viver cada vez mais longe, agravando ainda mais o caótico trânsito pendular e outros factores negativos a si associados: ocupação de mais território (que podia ter outro fim que não urbanístico), pressão para novas infra-estruturas, mais poluição e ruído, sobreocupação de espaço na capital pelo automóvel, falta de habitantes na cidade, desenraizamento, etc..
Um dos moradores do prédio ao lado disse à reportagem do telejornal da RTP2 que irá processar o proprietário, por incúria, e a CML, por não ter chamado a atenção ao proprietário. Acho muito bem. De facto, ao invés do que quer fazer crer o actual edil, a CML também tem culpas no cartório, pois tem sido negligente. É verdade que a propriedade não é sua, mas pode e deve ser mais interventiva e fiscalizadora. E deve dar o exemplo, reabilitando o seu património devoluto (algo que devia ser apoiado pelo governo, em vez daquele 'show' da «frente ribeirinha»), para o arrendar, vender, ocupar com equipamentos. E vendendo parte dele a particulares antes de reabilitação, nos casos que se justifiquem face à situação financeira.
Nessa reportagem ouviu-se ainda o presidente da Associação Lisbonense de Proprietários dizer que os proprietários de imóveis devolutos deviam ser apoiados pelo Estado. Vamos lá ver: uma coisa é o problema do arrendamento com rendas baixas, onde pode ser equacionado uma solução de comparticipação estatal em caso de inquilinos sem posses para pagar uma renda mínima (que, porém, é apenas uma parte do arrendamento urbano actual, o restante está já em regime de renda livre, desde 1991); outra coisa é o Estado comparticipar na especulação imobiliária feita à descarada por proprietários que a única coisa que pretendem é deixar ruir o seu imóvel para construirem um novo prédio, com mais área e melhor preço, claro. Essa é que é essa. Não me venham com a léria costumeira dos toxicodependentes, que supostamente estariam lá dentro. Independentemente de quem pegou fogo ao imóvel, o que é um facto é que é vantajoso para muitos proprietários deixaram ruir os seus prédios, e quanto mais depressa melhor. Porquê? Porque a CML (aliás, todas as câmaras do país) não aplicam taxas penalizadoras suficientemente fortes, essa é que é essa. E o governo também tem culpa, pois podia e devia intervir nesta área, com uma lei geral.
São vários os responsáveis, e enquanto continuarem todos a assobiar para o lado, o problema manter-se-á, e só poderá piorar. E há muitos barris de pólvora espalhados pela cidade...
Oxalá esta seja uma oportunidade para arrepiar caminho.
PS: a quem desvaloriza os efeitos nefastos dos prédios devolutos aconselho a ver esta reportagem da SIC, sobre um prédio devoluto sem regras mínimas de segurança, também da Av. da Liberdade...

“Miles In The Sky”, a cobaia sonora do jazz-rock

Dando sequência aos discos que considero marcantes e que foram lançados no conturbado ano de 1968, não poderia deixar passar em branco o “Miles In The Sky”. Com a gravação deste disco, no final de 1967, Miles Davis (1926 – 1991) partia pra mais uma renovação estética ao incorporar em sua música elementos elétricos. Depois de "criar" o cool-jazz e o jazz modal, o trompetista começa a dar os seus primeiros passos em direção do rock e da fusion. E “Miles In The Sky” é a sua primeira experiência “elétrica” para o que viria a ser a sua obra-prima eletrônica: o “Bitches Brew” (1969), álbum duplo que traria efetivamente à luz o revolucionário jazz-rock, a sua fase mais criticada pelos rabugentos de plantão. Enfim, não se pode agradar a todos todo o momento.

Com quatro longas faixas (Stuff*, Paraphenalia, Black Comedy e Country Son), Miles In The Sky” teve como convidado o jovem guitarrista George Benson e outros 4 músicos de primeira linha: Herbie Hancock (piano acústico e elétrico), Wayne Shorter (sax tenor), Ron Carter (contrabaixo) e Tony Williams (bateria). Além desses músico, Miles também formou as suas futuras bandas de jazz-rock com o bateriata Jack DeJohnette, o contrabaixita Dave Holland, os tecladistas Chick Corea e Joe Zawinul, os organistas Keith Jarret e Larry Young e o guitarrista John McLaughin (o responsável por "apresentar" Jimi Hendrix - talvez o meu próximo post -a Miles) , entre outros.

(*) Nessa música, o piano e o contrabaixo acústicos foram substituídos pelos respectivos instrumentos elétricos. Por ser bem longa (mais de 17 minutos), dividi a música em 5 partes.



domingo, 6 de julho de 2008

A oposição católica ao Estado Novo

Na próxima 3.ª feira, pelas 18h30, realiza-se um colóquio sobre o livro «A oposição católica ao Estado Novo (1958-1974)», tendo como participantes Fernando Rosas, Guilherme d'Oliveira Martins e o autor da obra, João Miguel Almeida.
O evento, organizado pelo Centro de Reflexão Cristã, decorrerá na Galeria Fernando Pessoa do Centro Nacional de Cultura (Lx., Lg. do Picadeiro, 10-1.º; metro Baixa-Chiado).
Este livro, recém-editado, é uma versão revista da tese de mestrado de João Miguel Almeida, sendo já uma obra de referência sobre a temática.
Existe mais informação sobre o mesmo e sobre o ex-Peão aqui, aqui e aqui.
Parabéns ao autor e que a obra seja debatida e divulgada como merece.

sábado, 5 de julho de 2008

pensamentos fluidos (uma colagem)

To Renato with luv

Estado...
Propulsor ou não?
Agente impulsionador.
Direita liberal?
Delírio!
Esquerda?
Feitiço!
Folclore político,
Das vias esgotadas
Dos desígnios locais,
Do Estado parceiro
Às dinâmicas sociais.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Orçamento participativo, porque não?

Voltando à questão da via (esgotada) do centralismo e do papel do Estado como um agente impulsionador de novas dinâmicas económicas e sociais, gostaria de reflectir um pouco sobre aquilo que alguns autores têm designado como processo de localização e aprofundamento da democracia. Não se trata de mais um delírio ou feitiço esquerdista. Aliás este debate está cada vez mais no centro das reflexões sobre a reforma do Estado Social. Do meu ponto de vista, a ideia (em que venho empreendendo) de um Estado propulsor tem na sua base precisamente a questão do aprofundamento da democracia, que em grande medida passa por essa capacidade de localização da mesma. Ou seja, a ideia de que parte dos problemas locais e regionais devem ser resolvidos ao nível dessas mesmas escalas, implicando, para o efeito, a participação e a responsabilização das populações. Não se trata de esvaziar o papel do Estado, como desejam alguns sectores da direita liberal que defendem um comunitarismo completamente desligado do Estado. Nada disso! O que se propõe é um Estado parceiro que pela via institucional seja capaz de induzir novas capacidades (no sentido de Amartya Sen) nas populações de modo a se apropriarem dos seus próprios desígnios locais. Como defendem alguns autores, este processo passa necessariamente por uma politização da democracia, em que as decisões políticas ao invés de serem impostas hierarquicamente (de cima para baixo) são definidas implicando a participação de múltiplos actores locais, mas sempre enquadradas numa plataforma jurídica e normativa ancorada nas instituições do próprio Estado.
Os Orçamentos Participativos (OP) são um exemplo interessante neste âmbito. Depois de ultrapassada uma fase inicial de alguma experimentação aliada a um certo folclore político, a prática dos OP está a entrar numa etapa de maior maturidade, que se vem disseminando por diversas zonas do Mundo, deixando de ser um instrumento político exclusivo dos países em vias de desenvolvimento. O facto de deter um âmbito necessariamente local, favorece a sua maleabilidade, pois, tem sido desenvolvido tanto em cidades como em zonas rurais. Sendo dinamizado sobretudo pelas diversas instituições de poder local (regiões, prefeituras, autarquias, juntas de freguesia…). Isto é, o OP representa um instrumento efectivo de ‘agencialização’ por parte do próprio Estado, na medida em que reforça a sua ligação com as populações implicando-as no processo democrático e atribuindo-lhes um certo poder de monitorização e de responsabilização. O OP pode deter diferentes configurações: ser um processo consultivo ou deliberativo; ser alargado a toda a população e/ou só a organizações e associações; a dimensão orçamental que é colocada à participação pode ser definida à partida ou não; pode ser um orçamento temático ou sectorial; pode ser criada uma estrutura de controlo e monitorização; etc. Em Portugal já existem cerca de 20 experiências auto-designadas de OP, penso que é um caminho interessante a percorrer e que pode resultar se for implementado com adequação. Talvez se justificasse uma previsão regulamentar no quadro legislativo nacional. Para mais informações sobre OP ver aqui.
Este post também foi publicado neste blogue.

1001 culturas, hoje e amanhã

Inicia-se esta tarde um encontro para reflectir "sobre as condições da criação e produção cultural em Portugal e na Europa", na Fábrica de Braço de Prata (Lx, Poço do Bispo). A iniciativa é organizada pelo eurodeputado Miguel Portas, prolongando-se até sábado.
Do programa de hoje, destaco a conversa com o filósofo Slavoj Žižek, conduzida por Nuno Ramos de Almeida (17h45) e, a partir das 19h, o colóquio «Políticas culturais na Europa de hoje», que contará com depoimentos de António Pinto Ribeiro (ensaísta e programador cultural), João Fernandes (programador cultural) e Luciana Castelina (ex-presidente da Comissão da Cultura e Educação do Parlamento Europeu).
No sábado, às 15h30 começará o colóquio "Esquerda: uma política para o 'gosto'?». Nele intervirão António Guerreiro (ensaísta e jornalista cultural), Manuel Gusmão (poeta, ensaísta e prof. univ.) e Manuela Ribeiro Sanches (investigadora da UL com vasta obra publicada sobre questões de identidade na era pós-colonial).
Em redor do prato forte, haverá ainda espaço para outras conversas, exposições, ateliers, concertos (com Bernardo Sassetti, Mário Laginha, Hélder Moutinho, etc.) e jantar mediterrânico (estes últimos pagos).
A apresentação e o programa completo podem ser consultados aqui.

quinta-feira, 3 de julho de 2008


O Bolhão desce a Lisboa

Neste final de tarde lisboeta, haverá debate com Manuel Alegre, arq. Joaquim Massena e outros a pretexto da iminente demolição do mercado municipal portuense do Bolhão, na Sociedade Portuguesa de Autores (a Picoas).
Nesta ocasião será apresentado o manifesto «Participação e Cidadania», aprovado no Fenianos a 14 de Junho passado e que se desdoba por 4 vertentes: 1) o Estado e a gestão pública; 2) o património e a memória colectiva; 3) o equipamento ao serviço dos munícipes; 4) a memória e a operacionalidade no património.
A iniciativa é da Plataforma de Intervenção Cívica do Porto.
Mais inf. aqui e aqui.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ingrid Betancourt foi finalmente libertada!!!

É verdade, soube-se há um pouco: a libertação da senadora pacifista colombiana Ingrid Betancourt ocorreu hoje mesmo, por resgate militar. Ufa, já não era sem tempo!!!
Na mesma ocasião foram libertados vários outros reféns proeminentes. A ver vamos se este gesto pode ser o princípio da pacificação da Colômbia.
Mais informação disponível aqui ou aqui.

Sarkozy vintage

O presidente francês Nicolas Sarkozy, continua em grande forma, não deixando os seus créditos por mãos alheias. A semana passada anunciou a sua reforma da televisão que determina que as estações públicas de televisão devem estar sobre o controlo do governo (i.e. ele próprio), medida que suscita críticas de todo o lado, incluindo do próprio campo de Sarkozy. Poucos dias depois vai a uma dessas cadeias públicas de televisão, a France 3, para uma entrevista. O Rue89 pôs on-line um vídeo dos 6 minutos que antecedem a entrada de Sarkozy no ar (sim, é suposto ser em 'off'). Para começar um técnico de som não responde ao cumprimento de Sarkozy - o que começa a tornar-se numa tradição francesa - Sarkozy passa da justificada indignação "Quando somos convidados temos o direito a que nos dêem os Bons Dias" à impaciência - revelando au passage o seu desprezo pelos funcionários públicos - "Isto não é o serviço público" (leia-se Sarkozy acha que no serviço público os funcionários são mal-educados) e continua "parece que estamos no meio dos manifestantes" (donde se depreende que manifestar também é falta de educação), e passa depois à ameaça mais ou menos velada "Isto vai mudar! Isto vai mudar!", parece que a ameaça é dirigida tanto ao técnico de som pouco educado como aos manifestantes. Mas isto foi só o aperitivo. Sarkozy tinha em estúdio dois jornalistas figurando entre os signatários de uma artigo de opinião muito crítico da reforma da televisão, um desses jornalistas, Gérard Leclerc, esteve dois anos na prateleira. Sarkozy achou de bom tom mencionar o assunto poucos minutos antes de entrar no ar, com o delicioso pormenor de tratar o jornalista por 'tu', primeiro uma irónica saudação "É um prazer ver o Sr. Gérard Leclerc por aqui" para logo de seguida lançar um seco "Tu, quanto tempo é que tiveste na prateleira?". Pergunta inocente só para fazer conversa de circunstância ou táctica de intimidação do jornalista? A vous de voir. Segue-se um desconfortável e longo silêncio. Mesmo antes de entrar no ar Sarkozy sugere ao director de informação da France 3, Paul Nahon que lhe sejam feitas perguntas sobre um tema da actualidade, o drama de Carcassone (um sargento do exército numa demonstração militar aberta ao público feriu 17 pessoas, e Sarkozy havia visitado os feridos nesse mesmo dia). Manifestamente dava-lhe jeito falar do assunto, e o director de informação aquiesceu sem grandes hesitações. O entrevistado pode dizer ao entrevistador como fazer o seu trabalho. Será que a intimidação funciona?


Curiosamente a coisa não fica por aqui. Agora é a France 3 (televisão pública, relembre-se, controlada pelo estado) quem ameaça o Rue89 (orgão de informação independente) com um processo judicial por divulgar as imagens que deviam ser em "off". Esta é nova, um orgão de informação que processa outro orgão de informação para tentar obter as suas fontes, e impedir a divulgação da notícia. Obviamente que a publicação do vídeo pelo Rue89 já foi bastante criticada, ao que o próprio Rue89 já respondeu (e, a meu ver, bem).

Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) começa hoje

A Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que acontece de hoje a 6 de julho, no centro histórico de Paraty (Rio de Janeiro), vai reunir este ano mais de 40 autores dos Estados Unidos, América Latina, Europa e África. Serão 22 escritores brasileiros no total, além de artistas, cineastas e músicos. Os convidados irão participar de mesas-redondas, oficinas literárias, debates, performances e shows musicais. O homenageado desta edição será o escritor Machado de Assis. Para lembrar os 100 anos de sua morte, o crítico Roberto Schwarz vai coordenar um debate sobreDom Casmurro”, na Tenda dos Autores. Este ano, a FLIP volta a contar com autores portugueses. Além de Inês Pedrosa também virão de Portugal Francisco José Viegas e Patrícia Reis. O show de abertura ficará a cargo de Luiz Melodia e os debates serão transmitidos ao vivo pela Internet no hotsite www.oi.com.br/flip (ainda em construção). Confira aqui toda a programação da Festa Literária e aqui as atividades paralelas, o OFF FLIP.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Vencer a ditadura do centralismo

Estou cada vez mais convencido que um dos entraves bloqueadores do desenvolvimento socioeconómico de Portugal deriva, em grande parte, do excessivo centralismo estatal sem qualquer tipo de contrabalanço ao nível de uma sociedade civil sólida e estruturada. Os debates sobre a reforma e sustentabilidade do Estado social passam cada vez mais por conceber o próprio Estado como um agente potenciador que incida sobre as capacidades dos indivíduos e colectividades de modo a intervir, por esta via, na atenuação (e, porque não dizer, na erradicação) das situações de maior precariedade e exclusão social. Este objectivo poderá ser alcançado traçando três caminhos interdependentes: agilizar a organização e o modo de operar das instituições e agências públicas (por ex.: reduzindo a burocracia); dotar a sua acção de uma componente mais empreendedora (e até pedagógica) e não meramente fiscalizadora ou controladora; conseguir gerar plataformas de confiança com os cidadãos. O exemplo da ASAE, que tanto se tem falado, parece-me paradigmático a esse respeito. Esta agência que lida todos dias com um tecido económico, em muitos casos já de si muito fragilizado, acabou por se ficar pelo papel coercivo de policiamento, gerador de desconfiança e mal-estar nas populações. A insensibilidade demonstrada, designadamente, sobre a especificidade de certos sectores tradicionais da economia é reveladora sobre as consequências mais nefastas do centralismo cego, como se a realidade do país se resumisse a uma matriz regida por procedimentos administrativos. Se ao invés de encerrar logo à partida locais de comércio e de serviços que não cumprem os requisitos mínimos, a ASAE tivesse como pressuposto de actuação os três princípios que enunciámos atrás, provavelmente ter-se-ia prestado um outro serviço à dinâmica das economias locais. Quer se queira, quer não, Portugal ainda é (muito) feito das economias locais, não só em termos produtivos, mas ao nível das extensas redes sociais que se organizam em seu redor. Muitas vezes, são estas redes as estações de protecção que restam a populações mais desfavorecidas, nomeadamente, os idosos. À partida tudo isto parece ser muito insignificante, mas se pudéssemos somar todas essas insignificâncias, chegaríamos provavelmente a números consideráveis. A ideia que tenho veiculado sobre o Estado Propulsor, vai precisamente no sentido oposto: em vez de se destruir essas redes, as agências públicas deveriam encará-las como algo em potência, capaz de catapultar um conjunto de dinâmicas imprevistas. Refiro-me sem dúvida ao capital social, nas suas mais diversas acepções (não interessa agora para o caso): promover as redes existentes em territórios concretos, de forma a que estas se aglutinem em torno de nós de dinamismo bem estabelecidos (sejam eles produtivos, associativos ou culturais). É neste sentido que abordo a dualidade embedded/autonomy: imergir nos contextos da pequena (e, em muitos aspectos, débil) vida económica e social de maneira a gerar os mecanismos fundamentais para que estes incrementem valor acrescentado e se tornem, por este meio, gradualmente mais autónomos (e, consequentemente, menos dependentes) do próprio Estado. Só assim se poderá vencer a ditadura do centralismo burocrático e territorial :)

Este post foi também publicado aqui.