segunda-feira, 30 de março de 2009

A ronda infinita dos obstinados



Não sei que atenção tem merecido, fora de França o movimento de contestação universitário (de professores, em primeiro lugar) francês. Leva já praticamente dois meses de duração e dirige-se contra duas medidas fundamentais do governo: a reforma do estatuto da carreira docente e da formação de professores (para o ensino básico e secundário). Atrás disto está, como noutros países, o entendimento que os governos fazem do processo de Bolonha, e toda a política futura da universidade e da investigação científica.

O movimento tem, como todos, as suas contradições. Nalguns momentos, participo nele com o incómodo de poder parecer que estou a defender um sistema, o da universidade (e da escola) pública, com todos os seus defeitos. Mas peso os prós e os contras. E vejo que aqui, como em tantos outros casos, o problema não é reformar. É o conteúdo e o sentido da reforma. O governo Sarkozy está a torpedear o que existe - bom e mau - para criar uma mais que duvidosa selecção natural darwiniana.

O assunto daria pano para mangas. Deixo só este vídeo que ilustra uma das mais criativas manifestações em curso, de um simbolismo e uma dignidade impecáveis: a ronda infinita dos obstinados, na praça do município (noutros tempos, 'place de grève') em Paris. A ronda não pára, desde dia 23 de março passado. Como um carrocel, girando dia e noite. Já leva cerca de 150 horas, alimentada pela obstinação de cada qual. E promete só parar quando o governo perceber que é ele -- e não nós -- quem está a andar em círculos.

2 comments:

Daniel Melo disse...

Post bem oportuno, André, numa altura em que o sistema universitário está em crise e as soluções que surgem parecem ser pior emenda que o soneto.

Ainda por cima, rareia a informação por aqui. Que me recorde, até agora apenas deparara com um texto sobre o assunto, creio que num blogue.

Mesmo sobre a aplicação do processo de Bolonha em Portugal, que me lembre só o Miguel Vale de Almeida tem aprofundado uma análise crítica no seu blogue.

andre disse...

Pois é, caro Daniel.
Eu, sobre as reformas universitarias portuugesas, também so acompanhei alguns comentarios do MVdA. Lembro-me também de um artigo recente do Medeiros Ferreira no DN.
Por aqui a situação esta bastante complicada. Nas universidades a fronda não da sinais de acalmar e o governo, claro, finge que cede sem ceder.