segunda-feira, 13 de abril de 2009

A sátira como redenção

Em Gogol, para Gogol, foi muito isso que ocorreu: a revelação dos erros, vícios e imperfeições da conduta humana como caminho de redença, resgate, purificação do homem e da sociedade.

Em 2009 celebram-se os 200 anos do seu nascimento. Em Portugal, onde Nikolai Gogol tem tido alguma presença no teatro, recomendo a versão do O inspector geral pelo grupo A Barraca (no Cinearte até 31/5, vd. cheirinho e recensão aqui). Esta é uma das peças do autor que melhor corporiza uma das suas facetas mais fortes, a de crítica da sociedade e dos seus vícios. A estreia original (em 1836) foi um êxito, o próprio czar Nicolau I terá sugerido uma ida ao teatro aos funcionários públicos (dado a peça denunciar alguns dos seus pecadilhos). Porém, as críticas dos sectores reaccionários de S. Petersburgo, que o acusavam de fazer um ataque ao próprio sistema político, cairam mal no dramaturgo, que novamente retomou os seus périplos errantes e desesperados.

Para nosso mal, morreu novo, fugindo do mundo. Para nosso bem, ainda assim legou-nos várias obras de referência na sátira e no grotesco, de grande poder imaginativo e exigência formal e ética. Quanto ao poder imaginativo, recomendo a leitura do fantástico conto O nariz, ou a audição pela voz de Jorge Silva Melo, caso ainda não tenha esfumado a oportunidade (cf. programação do Teatro S. Luiz, em Lisboa). Quanto à exigência formal e ética, a obra central é Almas mortas. Quem estiver interessado, pode consultar e ler algumas das obras de Gogol no Projecto Gutenberg.

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