sábado, 16 de maio de 2009

Esquerdas plurais: Alegre despede-se do socratismo

Foi anunciado pelo próprio, é definitivo: Manuel Alegre, histórico deputado socialista e vice-presidente parlamentar, recusou integrar as listas do PS para as próximas eleições legislativas.

Este é só mais um passo no afastamento gradual de Alegre em relação ao socratismo, mas é um passo muito simbólico. Só Sócrates finge não perceber, ironizando com a alegada desilusão para muitos por Alegre não ter optado pela criação dum novo partido. Ora, a questão é que ninguém quer um novo partido (pelo menos, no curto prazo), mas sim uma reconfiguração das esquerdas no sentido de criar uma alternativa governativa à esquerda (via coligação das esquerdas plurais) às soluções já gastas que existem: governos PS, de direita ou o anunciado novo «Bloco central» (PS+PSD).

Na reunião de despedida, Helena Roseta, vereadora independente na Câmara de Lisboa, propôs o lançamento duma iniciativa de cidadãos, a enviar ao parlamento, possibilitando candidaturas de movimentos independentes às eleições legislativas. Para o efeito será necessário mudar a lei eleitoral. Aí se verá se Sócrates é tão pluralista e democrático como alardeia.

3 comments:

João Miguel Almeida disse...

Olá Daniel,

Nos últimos meses Manuel Alegre teria ganho em publicitar menos os seus estados de alma. Convinha que de vez em quando dissesse «a mim ninguém me obriga a falar», além do já conhecido e célebre «a mim ninguém me cala». Mas acabou por tomar a decisão certa. Sair do PS agora seria deixar mais isolada a esquerda do PS e empurrar o partido para o Bloco Central. Ficando no PS e renunciando às regalias e ambiguidade da posição de deputado reforça a sua autoridade para lutar pelas suas ideias no partido.

Daniel Melo disse...

Olá João Miguel,
nem mais, e aproveito a deixa para acrescentar 3 pontos que não referi no post, por falta de tempo e para não o alongar demasiado:

1) subjacente à actuação alegrista está a sua candidatura presidencial de 2010;

2) a crise internacional implicou esforços de convergência e levou o governo a pôr uns pós keynesianos antes abjurados, com isso retirando margem de manobra a Alegre;

3) Alegre nunca criará um novo partido, por questões sentimentais e idiossincráticas (o PS é o seu partido-concha) e porque o seu discurso nunca se centrou em novos partidos mas sim em convergências, movimentos, coligações (tal como referiu o próprio e Roseta).

Só que, em Portugal, ainda não é permitido candidaturas de movimentos independentes às legislativas. Daí os contorcionismos a que são obrigados muitos daqueles que querem ter uma intervenção política e cívica e que vêm a Res Publica como coisa de todos e não só coutada das elites do costume.

João Miguel Almeida disse...

Olá Daniel,

A autorização da candidatura de movimentos cívicos às legislativas não seria uma solução mágica que resolveria a crise de representatividade do nosso sistema político. Mas podia reduzir a abstenção política e estimular a reforma dos partidos políticos, colocando-lhes novos desafios e pedindo-lhes soluções que não passe pela repetição de fórmulas experimentadas e gastas. Enquanto a esquerda se consome em velhas querelas, o centro-direita, o centro-centro, ou seja lá o que for, parece ter mais iniciativa. Veja-se o aparecimento do MEP e do enigmático MMS.

PS Depois de meses de incursões muito irregulares na internet/blogosfera, voltei a ter ligação à internet em casa e vou seguir este blogue com mais atenção.