domingo, 24 de maio de 2009

Nas feiras doutros tempos

«Aquando da feira [de Alcântara], o bairro ganhava outra cor, outra vida. [...] A entrada do recinto ficava reservada para as barracas consideradas pacatas e decentes (queijadarias ou cervejarias) [...]. Por estes espaços confraternizavam não só grupos de amigos, mas também famílias inteiras [...] que, por hábito, aproveitavam os domingos de feira para se reunirem [...]. Nestas tendinhas vendiam-se palitos de Oeiras, queijadas de Sintra, cavacas das Caldas, torrão de Alicante. [...]

As barracas de comidas e bebidas eram as mais concorridas e nas quais as vaidades mais se manifestavam. Importava descobrir quais as melhores sardinhas com pimentos; que pão com chouriço era mais saboroso; quais os pastéis ricos de bacalhau... e claro onde se vendia a melhor pinga... [...] na Adega do Saloio, nada melhor que o atum com batatas, a Barraca Arganilense recomendava o caldo verde à moda do Minho, o Forte sem Medo propunha a sopa à saia calção e a Saúde Engarrafada esmerava-se para ver os seus clientes saudáveis.

Comportamento habitual a que o clima de à-vontade apelava era à cantoria; cantigas ligeiras, cançonetas picantes, canções carnavalescas ou fados, todos os géneros eram cantarolados e bem-vindos».

In Mário Costa, Feiras e outros divertimentos populares de Lisboa, Lx, CML, 1950, p. 166.

Nb: imagem da Feira de Alcântara, no dia 8/V/1905 (in Ilustração Portuguesa), retirada daqui. Deixo-vos ainda duas outras imagens do mesmo espaço (situado defronte à estação ferroviária de Alcântara-Mar), c.1900 (I e II). Sobre as feiras livres vd. este estudo de Gilmar Mascarenhas e Miriam Dolzani.

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