domingo, 3 de maio de 2009

A primeira frase

Hoje, o P2 do Público pediu a 12 escritores que escolhessem a primeira frase de uma obra de ficção.

Lembrei-me imediatamente da minha escolha. Conservo na memória a primeira frase de um livro que comprei há cerca de 20 anos numa Feira do Livro precisamente porque me apaixonei pela primeira frase (e pelo primeiro parágrafo). Não conhecia o autor, nem a obra. Já voltei a comprar livros num impulso depois de ler a primeira frase, mas só aquela ficou comigo para sempre.

Na barraca da Vega, peguei num livro e li:

"Todos conheceis a intratável melancolia que se apodera de nós ao recordarmos tempos felizes."

A frase.

"Todos conheceis a intratável melancolia que se apodera de nós ao recordarmos tempos felizes. Estes, porém, pertencem irrevogavelmente ao passado, e deles nos separa a mais impiedosa das distâncias. Todavia, as imagens parecem reflugir ainda mais sedutoras no seu reflexo; pensamos nelas como quem recorda o corpo de uma mulher amada já falecida, que repousa nas profundezas da terra mas que, como uma miragem, com um esplendor mais alto e espiritual, nos assedia e faz estremecer. E nunca nos cansamos de percorrer com os dedos o que passou em sonhos sequiosos, em todos os seus pormenores e circunstâncias. Parece-nos então que não tomámos ainda a medida plena da vida e do amor, mas não há arrependimento que traga de volta a oportunidade perdida. Pudesse este sentimento servir-nos de lição, mesmo em cada instante de felicidade!"

O parágrafo.

Ernest Jünger, Sobre as falésias de mármore, Lisboa, Vega, 1987.

O livro.

1 comments:

Sofia Rodrigues disse...

Sempre adorei essa «história» dos inícios de livros (e de filmes também). Para mim, continua a ser Dickens, A tale of two cities (1859):
"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way--in short, the period was so far like the present period, that some of its noisiest authorities insisted on its being received, for good or for evil, in the superlative degree of comparison only."