quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Beira revisitada - Trancoso

Trancoso na minha memória era uma vila no cume de uma montanha. Agora é uma bela «cidade amuralhada», cintilando na internet, como se pode ver aqui. Durante os meus primeiros verões, os meus pais, ou o meu tio iam, depois de almoçar na aldeia, beber «uma bica» a Trancoso. Era preciso atravessar um vale verdejante e vencer uma subida penosa e tortuosa, que sempre recordo no primeiro carro do meu pai – um diane – ou no Toyota do meu tio, num modelo que hoje nos parece primitivo. Voltar a Trancoso foi uma oportunidade de revisitar as muralhas, que cercam o «núcleo duro» da povoação, a igreja (na foto), a capela erguida em memória do casamento de D. Dinis, o majestoso jardim público feito não de flores, mas de frondosas árvores. E também de me surpreender com as inovações: a estátua ao Bandarra (como diria José Hermano Saraiva, foi aqui que nasceu o sonho do regresso de D. Sebastião), o novo e luxuoso hotel, o cinema, o «pavilhão multiusos».
Ao observar a feira de S. Bartolomeu senti o choque de uma evidência: não podemos viajar no espaço sem viajar no tempo. A feira de que me lembrava da minha infância na década de 70 era uma balbúrdia multiforme, repleta de cores, cheiros e ruídos que impregnava toda a povoação. Pessoas e animais circulavam por todo o lado e em toda a parte se vendiam cintos e sacholas, chocalhos e enxadas, botas e ancinhos, regadores e cartuxos, cabritos e queijos, capotes e t-shirts, além de um imenso etc. Agora a feira de S. Bartolomeu decorre num recinto fechado, no qual se paga para entrar a partir das 19 horas. À porta vêem-se seguranças com músculos que só podem ter sido treinados em ginásios. Lá dentro, numas tendas brancas com o tecto em cone, que também se podem encontrar em Monte Gordo, vendem-se artefactos africanos e outras coisas giras. Nos stands que expõem diversos produtos, os jovens vendedores a quem escasseiam os clientes no início da tarde, matam o tédio a pesquisar a internet usando computadores portáteis wireless. Os equipamentos agrícolas mais em destaque são pequenos tractores e outra maquinaria reluzente. No recanto que faz parede com o jardim estava montado um palco onde ensaiavam os «santos e pecadores», que iam actuar nessa noite.
Foi pena o castelo estar vedado ao público para obras. Será um monumento a redescobrir noutra ocasião.

2 comments:

Papo-seco disse...

Peço, desde já, perdão pela intromissão, mas a curiosidade foi mais forte. De que aldeia falas?.

Vivi em Trancoso até aos meus 11 anos e durante muitos anos seguidos, continuei a passar por lá uma parte das férias.

É esta a razão da minha curiosidade.

Um abraço

João Miguel Almeida disse...

Eu passava as minhas férias de verão em Sobral Pichorro, que fica na encosta do outro lado do vale.
Escrevi sobre isso no primeiro post desta série «A Beira revisitada - Barroco da Pena».
Um abraço,