sábado, 3 de outubro de 2009

A Beira revisitada - Belmonte



A minha ideia de Belmonte estava muito associada ao criptojudaísmo, tema que me interessa como de uma maneira geral todos os ligados a questões de identidade e resistência. Não associava a terra aos descobrimentos, o que é quase um paradoxo, dado Belmonte se situar no interior. Penso não me afastar da verdade ao imaginar que a maior parte dos seus habitantes durante a Idade Média ou a Idade Moderna nunca viu o mar. Não foi o caso de Pedro Álvares Cabral, filho do alcaide-mor de Belmonte, donde saiu aos onze anos para ir viver no Seixal e depois
Lisboa. Ao pensar segunda vez sobre o assunto não é estranha a associação de Belmonte à chegada dos portugueses ao Brasil. A povoação está perto da fronteira entre Portugal e Espanha e foi por causa de outra fronteira, a traçada pelo Tratado de Tordesilhas, que a armada de Pedro Álvares Cabral terá procurado terras a Ocidente, no hemisfério Sul.
Belmonte deve ser a terra portuguesa com mais museus por metro quadrado. São quatro: um dedicado aos Descobrimentos, o museu judaico, o Ecomuseu do Zêzere e o Museu do Azeite. Já em fim de viagem pela Beira, limitei-me a visitar o Castelo, a Igreja de Santiago, com um espaço reservado ao panteão dos Cabrais, e o museu judaico, que vi como uma espécie de verso e reverso da nossa História. Pedro Álvares Cabral é o Portugal oficial. O criptojudaísmo representa um Portugal clandestino. Entre um e outro sempre houve passagens subterrâneas que nem sempre se descobrem.
Este site é um postal em movimento de Belmonte. Resta acrescentar que o lugar não é só feito de lendas, misticismo e museus, mas também de património vivo, magníficas paisagens e o restaurante, perto do Castelo, em que almocei melhor e mais barato durante o meu périplo pela Beira.

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