quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mafalda, a contestatária, fez 45 anos

A pequena Mafalda, que odeia a sopa e o racismo na mesma medida, apareceu pela primeira vez em 1964, pela mão do argentino Quino. O seu criador começara a congeminá-la 2 anos antes, para uma promoção publicitária dos electrodomésticos Mansfield, que, felizmente, nunca foi adiante.
As suas histórias duraram até 1973, graças à popularidade que granjeou em todo o mundo. Estas vinhetas inconformistas ainda hoje continuam a ser traduzidas, para livro ou filme de animação. O escritor Umberto Eco comparou-a a outra série famosa, a dos Peanuts.
Para consulta: o site oficial de Mafalda; a página de Mafalda no site de Quino; este pequeno filme de animação da Mafalda, em castelhano; e os sites Los Amigos de Mafalda e El mundo de Mafalda; sobre a história da protagonista e seus amigos vd. aqui.

Pão e circo, versão sms

cartoon de GoRRo (c) 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Perseguições



Na sexta-feira passada, estava a trabalhar na Torre do Tombo, consultando processos de emigrantes, passadores, exilados, engajadores e outras pessoas que a PIDE/DGS perseguia.
Recebo um sms. De quem? De DGS.....!!!??
Meu coração bate mais forte, olho a minha volta. Pensei que o Silva Pais, o Sacchetti, o Barbieri Cardoso continuavam a perseguição, sendo eu o novo alvo. Afinal não. Estava só a ser perseguido pela higienite aguda que reina na Europa.
A Direcção-Geral de Saúde convidava-me a ficar em casa (se tinha síntomas de gripe, não para impedir-me de participar em manifestações ou revoluções), a evitar de contagiar outros (com a gripe, não com ideias subversivas).
Mas querendo salvar-me da gripe A, a DGS quase me provocou um ataque cardíaco...

Um Presidente da República passado

Cada palavra que Cavaco Silva comunicou ao país hoje, às 20 e 30, foi uma palavra a mais. O Presidente da República ainda não se tinha pronunciado sobre o caso «das escutas» e hoje percebe-se que nunca o devia ter feito. Bastava ter mandado alguém colocar, a 18 de Agosto, um texto de dois parágrafos no site da Presidência da República. O primeiro a esclarecer que o Presidente da República não autorizara ninguém a falar sobre o «caso». O segundo a anunciar que ia pedir a técnicos que averiguassem a existência de eventuais fragilidades no sistema informático da Presidência.
O silêncio de Cavaco Silva empolou um caso do qual não assume qualquer responsabilidade. E agora o Presidente fala para causar ruído, acicatar suspeitas e atirar a cooperação institucional pelo cano. A maior parte das notícias, dos políticos que reagiram à declaração e dos comentadores têm sublinhado que o Presidente da República atacou o PS, ou seja o partido que acabou de ganhar as eleições e que ele não é, por lei, obrigado a convidar para constituir Governo. Não atacou o PS com base em factos, mas em «interpretações pessoais» que teria sido «forçado» a divulgar. O homem passou-se.

O presidente que caiu numa dupla ratoeira

No final de contas, parece que o Presidente Cavaco Silva caiu, não numa, mas em duas ratoeiras: a dos seus ex-cooperantes institucionais, que o 'picaram' para tropeçar em armadilha de campanha, um passo em falso por mero excesso de nervosismo; e a do seu ex-assessor principal, que, pelos vistos, agiu contra a vontade do PR. Como «quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto», o resto é desvario de imprensa. O PR nada sabia e nada fez. Um modelo esfíngico para a posteridade: cego, surdo e mudo; e hirto que nem uma barra de aço.
Será possível esta rebobinagem do filme O silêncio ensurdecedor das escutas e outros mistérios irresolúveis?
Aceitam-se apostas.

Ao volante

cartoon de GoRRo (c) 2009

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Depois das parlamentares, as autárquicas

É verdade, o ciclo eleitoral 2009 ainda não terminou em Portugal: faltam as autárquicas, a 11 de Outubro. Até lá, nova campanha, agora com novos figurantes, folclore redobrado e mais sondagens... Como gostamos de eleições, resolvemos dedicar-lhes uma nova série de cartoons. Esperemos que gostem!

Ontem, Zé Socas fez bem em puxar para o palanque «extraordinário» o seu candidato alfacinha, António Costa, pois as coisas não estão nada de feição para ambos, apesar dos corações bem intencionados. Pelos resultados destas eleições, Costa perderia a câmara para a coligação PSD/PP: 40,4% contra 34,8. Aqui está uma má notícia para a esquerda: é que a pressão para o «voto útil» à esquerda vai voltar e em força. De pouco adiantará dizer que os putativos vereadores do BE e CDU possam ser cúmplices construtivos duma governação séria, ou oposição crítica a uma má governação. Precisarão mesmo de fazer boas campanhas, começando por 'marcar' taco-a-taco Costa e Lopes, que, mesmo em tempo de eleições legislativas, não pararam de mandar propaganda para os media. E, talvez, esperar que as sondagens se alterem alguma coisa. Ou não. A ver vamos.

A vez do parlamento, num quadro político menos abafado

Com os resultados das eleições parlamentares de ontem, Portugal acordou com um ambiente menos abafado. Muitos resumos taxativos foram já emitidos, todos redutores, claro. Proponho um exercício diferente: a aplicação da teoria do «copo meio cheio, copo meio vazio» (que até condiz bem com a vivência destes momentos...).
Assim, na versão «copo meio cheio» todos venceram: o PS porque ficou na frente; o PSD porque teve +deputados (3), votos (c.6 mil) e percentagem (29,1%, em vez de 28,8); a CDU idem (1/ c.14 mil/ 7,9% em vez de 7,6); o CDS idem (9/ c.177 mil/ 10,5% em vez de 7,3); o BE idem (8/ c.93 mil/ 9,9% em vez de 6,4).
Na versão «copo meio vazio», o PS vence, mas por pouco (perde a maioria absoluta e meio milhão de votos e tem a 2.ª vitória mais baixa desde 1975); o PSD porque assumiu a derrota dum modo que revelava expectivas injustificadas, dada a péssima campanha (arrebanhando um dos piores resultados do seu historial); a CDU porque desce para 5.ª força; o CDS porque não consegue fazer uma coligação maioritária de direita; o BE porque não conseguiu ser a 3.ª força, nem formar maioria com PS e porque ficou aquém das expectativas íntimas de muitos.
Algures, o veredicto de cada um de nós combinará partes disto. Já o dos comentadores encartados dos media tem tendência a inclinar-se para o conservadorismo e os «srs. responsáveis», como lhes chama Rui Tavares.
Além disso, em termos factuais, a bipolarização erodiu-se bastante, e com ela o «voto útil» (embora este ainda tenha funcionado à esquerda, sobretudo quanto às expectativas existentes); a maioria eleitoral continua de esquerda, c.57% dos votos e 60% dos deputados (isto, claro, se inserirmos o PS neste segmento), ligeiramente menor mas mais à esquerda (como realça o Renato, esta teve +de 1 milhão de votos), devendo ser aí que se deveria procurar entendimentos (por muito difíceis que sejam, e devendo ser o PS a fazer convites); e a direita radicalizou-se, com o CDS a reforçar-se significativamente, permitindo-lhe ser parceiro para maioria absoluta.
Outro mito que ruiu: muitos insistiam em dizer que o sistema eleitoral português é anti-maioria absoluta. Discordo: ele é sobretudo a favor da bipolarização. Ora, vejam-se os resultados eleitorais e o modo como os partidos mais pequenos têm muitos menos deputados.
Nb: faltam apurar os resultados dos círculos da emigração, mas que não deverão alterar significativamente este panorama; a imagem é de miss red.

Morre mulher que inspirou “Lucy in the sky with diamonds”

Lucy Vodden, a garota que inspirou a música “Lucy in the sky with diamonds”, lançado pelos Beatles em 1967, morreu depois de uma longa batalha contra o lúpus aos 46 anos. A canção surgiu quando Julian (filho do primeiro casamento de Lennon) chegou da escola com um desenho e disse ao pai: “Essa é a Lucy no céu com diamantes”. Houve muitas especulações sobre uma associação da letra ao LSD por causa das iniciais do título, principalmente porque os Beatles viviam naquela época a fase psicodélica do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, um marco da pop music.

Uma boa e uma má notícia

Boa porque o Partido Socialista venceu as eleições legislativas. A má é porque José Sócrates governará Portugal por mais 4 anos. Nem tudo pode ser perfeito.

domingo, 27 de setembro de 2009

1 000 000

Mais de um milhão de portugueses votaram à esquerda
do PS.

Cerveja Guinness comemora 250 anos. Tim-Tim.

Guinnes

No dia 24 de setembro de 1759, na Irlanda, Arthur Guinness iniciou a produção da cerveja batizada com seu sobrenome. Nascia assim uma das cervejas mais famosas do mundo, que este mês comemora 250 anos de atividades etílicas. Parabéns então à deliciosa pretinha com espuma branquinha. Brindemos, pois. Tim-tim. Mais.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Prognósticos...

Em final de campanha, o corropio de palpites domina o espaço público. Há-os para todos os gostos. Evitemos os mais hipotéticos, porque só temos um post para isto (não, não é racionamento, é economia pessoal).
Os cenários mais prováveis são: 1) governo minoritário PS, com acordos pontuais; 2) Bloco central; 3) governo de direita. Tudo o resto é delírio ocioso, atendendo ao contexto.
Como o primeiro será o mais provável, aqui vai: Guterres I (1995-99) em versão reloaded. Ou seja, com acordos aqui e ali, mais à direita do que à esquerda (foi isso que então ocorreu, e repetiu-se em Sócrates I, mesmo tendo maioria absoluta), mas durando uma legislatura inteira e tendo obtido ganhos relevantes nas políticas social e cultural. Por muito que doa a Vital Moreira, que veio na 3.ª feira* anunciar o apocalipse no Público que o PS tanto incensa, é o melhor que lhe sairá na rifa (entretanto refez o sermão: é conforme o freguês e a quebra de lucidez).
Como inesperadas transferências de voto são pólvora rara (e, por estes tempos, estoirada nas europeias), a única certeza é que murchou de vez o Marquês de Pombal recauchutado. Na próxima reencarnação, quando muito, teremos um Intendente Pina Manique reloaded. E já não é mau, que o homem parece que também tinha uma costela benemérita... É o que há, por ora...
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*Vital Moreira, para a posteridade próxima: «embora seja possível a formação inicial de governos minoritários, a sua sustentabilidade é escassa [...] trata-se de governos enfraquecidos, sempre na iminência de serem desfeiteados no Parlamento e, até, de serem obrigados a executar políticas aprovadas pela oposição contra si. [...] Os únicos governos que garantem a estabilidades e consistência governativa são os governos monopartidários dotados de maioria parlamentar. Nenhuma outra solução governativa pode dar garantias iguais ou aproximadas. Ou são governos efémeros, ou governos fracos, ou ambas as coisas».

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Candidatas cor-de-rosa (choque)

Heloisa Helena

Dilma Rousseff

Caso se confirme as candidaturas de Dilma Rousseff e de Marina Silva, o Brasil terá pela primeira vez 2 candidatas ao Palácio do Planalto. A ministra-chefe da Casa Civil e a senadora, ex-PT e agora filiada ao PV, podem ganhar ainda a companhia da ex-senadora Heloisa Helena, do PSOL, que já concorreu à presidência da República nas eleições de 2006. E o melhor de tudo: são excelentes candidatas de esquerda. Saravá! Mais.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

As pífias de Cavaco II - ou o "affaire Clearstream" resumido para aprendizes na arte da manipulação

Enquanto em Portugal o "misterioso caso das escutas a Belém que afinal só existiam na cabeça do presidente e seus lacaios" está no auge, em França o "affaire Clearstream" chega à barra dos tribunais. Os dois casos têm em comum a tentativa de manipulação com objectivos políticos e o provável rebentamento da bomba nas mãos de quem a tentava armadilhar (demonstrando que, contrariamente à crença popular, o crime não compensa). No resto os dois casos são até bastante diferentes, e o contraste que mais salta à vista é o gritante amadorismo, para não dizer infantilidade (oops, já disse...) da troupe de Cavaco.
O "affaire Clearstream" (pode ler-se aqui um recapitular mais completo), sendo complexo, pode resumir-se assim: 1) um jornalista tinha uma lista autêntica de detentores de contas bancárias secretas na sociedade financeira Clearstream, sediada no Luxemburgo, contas essas que serviam para receber dinheiro sujo (corrupção, branqueamento, etc...) 2) um técnico informático de passado duvidoso, obtém essa lista em 2003, e acrescentou-lhe nomes de pessoas que não tinham nada que ver com o caso, entre os quais o de Nicolas Sarkozy, à época ministro das finanças e pretendente a sucessor do então presidente Jacques Chirac, contra a vontade deste 3) para servir de cobertura o informático duvidoso é contratado por uma empresa de aeronáutica a pedido de um general dos serviços de informação (equivalente do SIS) com ligações a Villepin, e em 2004, o chefe do informático duvidoso envia anonimamente a lista adulterada das contas bancárias a um juiz de instrução, numa tentativa de incriminar Sarkozy 4) o dito Juíz apercebe-se rapidamente que há uma tentativa de manipulação, e trata de investigar não a denuncia mas os denunciantes 5) Sarkozy cedo informado da tramóia, deixa a coisa correr apostando (e com razão) que a coisa lhe vai ser favorável 6) os indícios recolhidos pela investigação do juiz de instrução sugerem que Dominique de Villepin, então ministro dos negócios estrangeiros, mais tarde primeiro-ministro, e fiel delfim de Jacques Chirac, como tendo tido conhecimento da manipulação e não a ter impedido, ou de tê-la mesmo encorajado. O julgamento que agora começa visa determinar se houve denúncia caluniosa, e Villepin está no banco dos réus. Sarkozy, entretanto decidiu envolver-se no processo e constituiu-se como parte civil. Um testemunho do processo terá alegado que Jacques Chirac estaria ao corrente da situação, mas não há quaisquer indícios disso, e não vai sequer a julgamento. Ora aqui temos o primeiro contraste: Villepin (e talvez mesmo Chirac, nunca o saberemos....) manipula - presumivelmente - sem deixar provas, passando por entrepostas pessoas que falsificam documentos e fazem denúncias anónimas, Fernando Lima vai tomar um café num lugar público com um jornalista, leva um dossier sobre um assessor do primeiro-ministro, e até hoje ainda ninguém desmentiu que Cavaco tivesse conhecimento de tudo como referem as mensagens trocadas entre jornalistas do Público. Nem que fosse pela falta de sofisticação, Cavaco e toda a casa civil deviam ser destituídos imediatamente das suas funções. Se é para manipular, que manipulem com estilo.
Outra diferença notória é na atitude de quem é apanhado com a boca na botija. O Villepin vocifera que é uma cabala contra ele, dirigida por Sarkozy, que não só está inocente, como é ele próprio a vítima da manipulação - e há que reconhecer consegue ser um nadinha convincente na sua indignação. E o que diz Cavaco? Nada (-pausa para riso-), não diz nada, mas demite o homem da sua confiança como quem não quer a coisa. Mas se não quer a coisa, demite o assessor? Isto faz alguma sentido? Assume a sua culpa pelos actos, e não diz uma palavra para se justificar. Nem que seja pela incapacidade de elaborar um raciocínio lógico, Cavaco deveria cessar funções imediatamente.
Outra diferença curiosa: o caso "Clearstream" veio a público em 2005 graças a um trabalho de investigação jornalística notável do Le Monde, as escutas de Belém vieram a público graças a uma imbecilidade do jornal Público (repararam como eles hoje tentam fazer pressão sobre Cavaco para disfarçar?, como se não fosse nada com eles).
Reparem bem que no caso "Clearstream" todos tentam manipular, e ficamos sem saber quem na realidade manipulou o quê, no caso das escutas de Belém não houve sequer manipulação por manifesta incompetência de quem tentou manipular.
Nisto apenas Sócrates parece estar a seguir o exemplo de Sarkozy, por enquanto não diz nada, mais tarde se verá. Uma máxima alegadamente napoleónica diz "não interrompas o teu adversário quando ele estiver a cometer um erro".

Adenda - Lembrei-me de mais um contraste entre estes dois casos: comparado com escutas ao presidente ordenadas pelo primeiro-ministro uma lista falsa de contas bancárias no Luxemburgo é pevides, ainda assim o "affaire Clearstream" está a abalar seriamente o sistema político em França, já as escutas fantasma de Belém parecem ser apenas mais um caso do momento, até ver...

Finalmente Carlos Drummond ganha um site oficial

carlos drommond

Carlos Drummond de Andrade completa 25 anos no catálogo da editora Record este ano. Para homenageá-lo, a editora acaba de lançar o site oficial do auto com informações sobre sua vida e obra. Clique aqui.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Acordo global para o clima: últimas oportunidades

Porque os encontros relativos ao acordo global para o clima não findaram hoje, e o que se segue pode ser determinante, aqui fica o calendário completo das derradeiras rondas:
>Pittsburgh (cimeira do G20, 24-25/IX);
>Banguecoque (28/IX-9/X);
>Barcelona (2-6/XI);
>Copenhaga (7-18/XII).
O premiê britânico, Gordon Brown, alertou ontem para o perigo de não se chegar a um acordo, o que não é bom augúrio.
Entretanto, a ONU também está a pressionar os países para chegarem a um entendimento. Lançou uma campanha internacional, a Seal the Deal!, e designou esta a Semana Climática Global. Elaborou ainda a petição Climate for Change.

As pífias de Cavaco

É impressão minha ou o editorial do Público revela um José Manuel Fernandes (JMF) um pouco acossado? JMF vê Fernando Lima descartado como uma fralda de bébé, e fica nervoso a pensar que vai sobrar para ele. O tão adorado Cavaco, por JMF endeusado ao longo dos anos, parece ter-lhe deixado uma bata quente a queimar-lhe as mãos. "Ah!, que ingratidão", pensa, e rosna qu'isto não fica aqui. É assim..., os fretes têm destas coisas...
Mas ficam-me ainda umas pequenas questões. JMF diz que gosta de factos, e enuncia alguns; diz no primeiro que "Dados fornecidos por uma só fonte que se quer manter anónima não são notícia no PÚBLICO." falando do que se passou há 17 meses. É impressão minha ou esses mesmíssimos dados foram publicados 16 meses depois? Um facto que JMF não refere.
Outra: diz JMF que "E ninguém perdoará se se perceber que as suspeitas ou não existiam, ou não tinham fundamento, ou eram simplesmente paranóicas.", presume-se portanto que JMF perdoará, porque não percebeu. Ou será que percebeu? E se percebeu porque raio publicou a notícia?
Nisto, em França o "Affaire Clearstream" começou a ser julgado nos tribunais. Há paralelos interessantes (à suivre...).

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ventos de Espanha

Uma curta incursão em Madrid/Alcalá de Henares, de quatro dias, por motivos académicos, deu-me a oportunidade de ver de relance Portugal desse «outro lado do espelho» que é o país vizinho. Mesmo o efémero viajante que renuncia, por alguns dias, a comprar jornais, é bombardeado com informação nas televisões e nos periódicos de distribuição gratuita. Basta entrar num restaurante e há grandes probabilidades de se ver sentado entre paredes com ecrãs onde desfilam noticiários televisivos e videoclips. Nas estações ferroviárias deparei com uma inovação – locais onde qualquer um pode colocar o seu jornal gratuito, depois de lido, para outro qualquer o ler de seguida. E na universidade também havia distribuição gratuita de um diário de dimensão nacional. Dois temas obsessivos: a Espanha como o «maior produtor de desemprego» e a necessidade de combater a «falta de autoridade dos professores». Curiosamente, a gripe A era relegada para um lugar secundário ou terciário. Quanto ao célebre caso do TGC/AVE, nada. Almocei com um professor galego e tive de me esforçar para lhe arrancar um comentário. Por fim, lá sorriu, encolheu os ombros e, referindo-se, à campanha política em Portugal, soltou um distanciado «vale tudo.»
Quando regressei a Portugal e consultei os jornais do final da semana passada e do último sábado, percebi que o TGV já enjoa. Os políticos cavalgam-no como se fosse o fantasma do fim da independência nacional ou o cavalo de Tróia para entrar na Europa. Não sou especialmente qualificado para escrever sobre o tema, mas, já que a massa está no prato, meto a minha garfada. A viagem de avião de Lisboa para Madrid são cinquenta minutos. Mas cheguei ao aeroporto de Lisboa uma hora antes, para fazer o «check-in». Em Madrid, foi ainda preciso esperar pela bagagem e comprar primeiro um bilhete de metro e depois um bilhete de comboio que me leva em mais cinquenta minutos até Alcalá de Henares. Um colega disse-me que fez recentemente a viagem de comboio de Lisboa-Madrid e levou 10 (dez) horas a percorrê-la. Um TGV seria uma melhoria inegável. Mesmo que fosse mais usado por espanhóis para vir a Lisboa ou por galegos para ir a Madrid via Lisboa, não vejo como é que isso poderia prejudicar Portugal.
O TGV de Lisboa a Madrid é um passo para a ligação de Portugal à Europa central via rede de alta velocidade. No ano passado tivemos um exemplo da importância desta ligação que, para surpresa minha, ninguém cita, quando vozes políticas se opuseram à assinatura do Tratado de Lisboa na capital portuguesa com o argumento de ela implicar um elevado custo ecológico por os representantes dos Estados europeus terem de viajar de avião. A questão aqui não é se o Tratado é bom ou se devia ser assinado em Lisboa, mas que as viagens de avião fossem uma razão para excluir Lisboa como local para assinar um tratado. Não vejo por que é que mais tarde não se poderá usar o mesmo tipo de argumentos para excluir Portugal de cenário para outras iniciativas políticas, culturais, económicas, ou desportivas. Se os habitantes da Europa além-pirinéus não quiserem vir a Portugal, que não seja por não terem uma alternativa rápida e ecológica ao avião.

domingo, 20 de setembro de 2009

É Hora de acordar!

Dezenas de ONG's internacionais (Amnistia Internacional, Greenpeace, WWF, MoveOn, Avaaz, Union of Concerned Scientists, Centre for Social Markets, Christian Aid, etc.) organizam amanhã o evento mundial Hora de Acordar, com vista a pressionar a ONU e os G20 a reforçarem as medidas contra as alterações climáticas. Esta mega-acção global surge no contexto do encontro da ONU sobre o clima, que se realiza na 3.ª feira.

Um novo e melhor acordo climático está em xeque devido às pressões da indústria energética. Por isso, esta é uma oportunidade para os cidadãos e a sociedade civil mostrarem que defendem um bom tratado climático: ambicioso, justo e vinculativo, capaz de travar a catástrofe climática.

Neste momento são c.2500 os eventos agendados, entre marchas, seminários, manifestações, caminhadas, etc. (a respectiva lista e mapa por país e cidade podem ser vistos aqui). Por países, destacam-se os EUA (com 590), Reino Unido (231), Brasil (206), Canadá (190), Espanha (142) e França (110). Em Portugal realizar-se-ão eventos em 44 cidades. Lisboa lidera, com 5 (Largo Camões; Praça do Comércio; cinemas Amoreiras, Vasco da Gama e Alvaláxia).

Um dos eventos que marcará esta iniciativa será a difusão, em mais de 700 cinemas de 40 países, do vídeo Hora de acordar, que promoverá o documentário A era da estupidez, a estrear na 3.ª feira nas mesmas salas de cinema (o vídeo de cima é uma apresentação deste documentário).

Dinner for one: imperdível ementa do melhor humor inglês

O sketch que segue em cima é um dos melhores pitéus do humor inglês. O seu argumento é dos anos 1920, e o actor Freddie Frinton interpretou-o pela primeira vez em 1945. Nos anos 50, adquiriu os respectivos direitos para o levar aos palcos ingleses sem ter que pagar royalties. O êxito foi tal que foi comprado para a Broadway.

Também os alemães se interessaram por ele, e a peça foi representada ao vivo no programa dum entertainer famoso, Peter Frankenfeld, em 1963. Novo sucesso levou à sua gravação para televisão no Hamburg's Theater am Besenbinderhof, dois meses depois, sob direcção de Heinz Dunkhase (é esta versão da NDR que as tv's actualmente mais passam). Em 1972, uma tv alemã decidiu retransmitir o sketch na passagem de ano e, desde então, tornou-se uma tradição alemã dessa quadra!!! Mais tarde sucedeu o mesmo na Escandinávia, Áustria, Holanda, Austrália, etc. E esta voga deve-se, em grande medida, ao facto de ser considerado um marco do humor 'tipicamente' inglês. Curiosamente, caiu no esquecimento na própria Inglaterra, dando razão ao provérbio «santos da casa não fazem milagres».

Outro aspecto curioso é que o Frinton deste sketch, excelentemente acompanhado pela actriz May Warden, faz lembrar passagens doutros actores como Vasco Santana (em O pátio das cantigas, salvo erro) ou Jacques Tati (nos filmes do sr. Hulot). Aliás, sobre as semelhanças com Vasco Santana descobri outro sketch de Frinton, The drunk, que ainda é mais surpreendente.

A versão que aqui fica tem c. de 10 minutos e é a preto-e-branco, uma opção seguida pela maioria das tv's ainda hoje em dia. Porém, há também esta versão a cores, com um intróito dum apresentador alemão (pode-se passar adiante), mas sem a banda sonora de acompanhamento. Existe uma versão paralela da que apresento, mas com outros ângulos de filmagem e a sincronização não parece tão boa.

Ah, é verdade, e escolhi fazer este post hoje pois cabe às mil maravilhas na rubrica «vinhos ao domingo», como podereis constatar. Além de ter vinho do Porto, claro, não fosse um repasto 'tipicamente' inglês!!

Fontes: BBC; Everything2; Wikipedia; filmografia completa de Frinton aqui.

Os melhores híbridos Disney/Marvel

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Depois que a Disney anunciou a compra da Marvel, apareceu muitos desocupados por este mundo a fora fazendo mashups com os personagens mais famosos dos 2 estúdios. Para deixar a coisa mais interessante, o Freaking News e o Worth1000 resolveram promover um concurso de híbridos. Para os tarados em photoshop, taí uma boa aventura.

Via Getro.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Bob Dylan troca versos e música pela pintura

bob dylan   p bob dylan (museu) - P

Bob Dylan é sem sombra de dúvida um dos músicos e compositores mais influentes do século passado. Mas nem só de música vive ele. De 2 anos pra cá, Dylan também tem se apresentado como artista plástico e poderá ser visto na Galeria Nacional da Dinamarca (Statens Museum for Kunst), onde realizará uma exposição de cerca de 100 obras no próximo ano. Pela primeira vez será exposta ao público a recente série de 30 acrílicos do cantor.

Dylan tem se dedicado à pintura desde os anos 60, mas só mostrou ao grande público em 2007, quando realizou uma exposição na Alemanha, passando depois a participar de pequenas mostras em galerias da Europa e Estados Unidos. Aliás, essa vertente para a pintura não é lá uma grande novidade e já pôde ser visto na capa do seu álbum “Self Portrait”, de 1970. Outras de suas obras aparecem também em seus livros “Writings and Drawings” e “Lyrics”, lançados respectivamente em 1962 e 1985.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Políticas públicas: as propostas partidárias em tempo de campanha

Depois dos 10 debates televisivos, que permitiram vislumbrar perspectivas genéricas dos programas partidários, a campanha para o parlamento português tem patinado num cornucópia de casos. Ao precedente caso TVI sucedeu a polémica em torno da 'imunidade' madeirense à asfixia democrática; à discórdia em torno do TGV sobrepôs-se a alegada compra de votos nas eleições internas do PSD. E a coisa irá continuar.

Mas há mais vida para lá do casuísmo, por muita luz que este possa trazer quanto a atitudes e posicionamentos políticos e éticos face à vida pública. Por isso, é de aplaudir a preocupação dalguma imprensa (e dalguma blogosfera, onde sobressai o Ladrões de Bicicletas) em aprofundar o debate, divulgando declarações dos partidos parlamentares sobre várias políticas públicas.

Em Agosto, o Jornal de Negócios deu o tiro de partida, como bem destacou Ricardo Paes Mamede (posts I e II).

O Público seguiu-lhe as pisadas esta semana, com a rubrica «Partidos respondem às perguntas do PÚBLICO» (no início chamava-se «Líderes partidários respondem às perguntas do PÚBLICO»). Até agora centrou-se na política económica e suas declinações. Como tem interesse, deixo aqui a lista de temas até hoje:

2.ª) política macroeconómicaHá cada vez mais sinais de que a pior fase da actual crise internacional já terá passado. Que política macroeconómica é que defende como forma de potenciar o previsível período de retoma que se seguirá?»);

3.ª) política de empregoApesar da melhoria que é esperada, o desemprego, por reagir mais tarde, deverá manter-se em crescimento ainda durante algum tempo. Que soluções alternativas às actuais defende como forma de protecção dos desempregados?»)

4.) política de apoio às PMEAs pequenas e médias empresas são as que mais empregam e mais contribuem para o crescimento económico. Indique as três prioridades que defende para apoiar estas empresas?»)

5.ª) política fiscal (introduzida dum modo algo enviesado: «Quais considera serem as condições mínimas para ponderar uma baixa de impostos?»)

AI: violência de gênero não é conto-de-fadas

branca de neve

chapeuzinho vermelho

A nova campanha da Anistia Internacional utiliza personagens de conto-de-fadas para denunciar a violência de gênero: Chapeuzinho Vermelho e a Branca de Neve. Com a frase “Mom was reading me a tale, till daddy came back…” (Mamãe estava lendo um conto pra mim, até que papai voltou), a AI bate de frente contra a violência a que muitas mulheres estão expostas dentro de seus próprios lares. Pode ser um pouco mórbida, mas não deixa de ser bem interessante.

Fonte.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quando o humor inesperado esmiúça a campanha, e tem um ar revolucionário, dá confusão na certa

Foi o que sucedeu esta tarde à dupla «Homens da luta», na sessão de campanha de Zé Socas no Seixal. A coisa deu balbúrdia tal que a sessão acabou mais cedo (ver vídeos aqui e aqui; notícia aqui).

«Homens da luta» são, entre outros, o cantor Neto (aka Jel) e o músico Falâncio (aka Nuno Duarte), cujo singularidade humorística reside em andarem pela rua a improvisar canções de nonsense revolucionário, de megafone em riste e guitarra, e em provocarem as pessoas com isso. O programa que os projecta, «Vai Tudo Abaixo: os Homens da Luta», já tem anos, passa actualmente no Sapo Vídeos, estreou-se na SIC-Radical e tem resmas de vídeos na Internet. Mas há quem não dê por isso e não tenha sentido de humor.

Já agora, e para quem os quiser conhecer melhor, aqui fica uma dica: a canção «E o povo, pá?».

Direita, volver! É duro, pá.

durão barroso

A Europa caminha de vento em popa rumo à direita. Como o previsto, Durão Barroso foi hoje reeleito pelo Parlamento Europeu para um segundo mandato de presidente da Comissão Europeia, com uma maioria absoluta de 382 votos a favor, 292 contra e 117 abstenções. Até aí tudo bem, pois é a informação menos importante. O que realmente me incomoda nisso tudo é o aval que o ex-premiê português recebeu dos socialistas Zapatero e Sócrates. E assim caminha a mediocridade.

Estudo espanhol coloca a Universidade do Porto em 149° lugar

universidade do porto

A Universidade do Porto (UP) foi avaliada como a 149.ª melhor universidade do mundo, aponta o Webometrics Ranking Web of World Universities, ranking promovido pelo Ministério da Educação da Espanha e que avalia 17 mil instituições de ensino superior, mas apenas 6.000 (v. aqui) foram relacionadas. O ranking é feito semestralmente e tem como critério a visibilidade e o desempenho global, que inclui indicadores de pesquisa e de qualidade de estudantes e docentes. Já pelo lado brasileiro, a Universidade de São Paulo (USP) figura em 38ª posição.

Notas das férias

Ficar sem o que ler numa vila do Algarve pode revelar-se um problema de difícil solução, sobretudo para quem, com eu, tenha ido de comboio e estiver limitada ao centro do dito burgo, já que, imagino, todos os centros comerciais entretanto construídos, e, talvez com livrarias, se devem situar algures à beira de rotundas e vias rápidas nos arredores.
No primeiro quiosque o espanto de quem lá estava foi genuíno, «livros?!?», como a loja não era de bóias, nem de sapatos para o peixe aranha, mas de jornais e revistas comecei a ficar preocupada com o desfecho da busca e alguns quiosques depois continuava a ter a mesma resposta.
Já a pensar entrar num hotel à socapa para sair de lá com um qualquer livro do John Grisham em inglês, encontrei uma loja de jornais, revistas, cruzadex e livros de cowboys com umas prateleiras nos fundos cobertas de pó e com livros completamente avulsos que iam desde dicionários, a livros de receitas e com alguma ficção. Os títulos situavam-se entre a Freira no subterrâneo e Fernão Capelo Gaivota.
Acabei a ler uma biografia romanceada do Nureyev.
Imagem: Peter Samuelson - Bridget Reading, 1959 . Tirada daqui.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

The problem with the world is that everyone is a few cigarettes behind

Lauren Bacall sempre foi uma das minhas estrelas favoritas. Fiquei contente ao ler hoje no Público que o Óscar honorário de 2010 seria para ela.
Mas o melhor, mesmo, foi a apreciação que fez ao facto de ter 85 anos, qualquer coisa como «Finalmente podemos fumar todos os cigarros que queremos».
E eu não podia deixar de fazer esta citação.

Tão amáveis que eles ficam em tempo de eleições...

Ficam tão amáveis que até dão borlas. Depois dos frigoríficos, autocolantes e canetas, chegou a era da oferta de bilhetes de estacionamento em campanha eleitoral.

É verdade: hoje com o jornal Público, a empresa municipal de Lisboa responsável pelo parqueamento público, a EMEL, resolveu oferecer um bilhete de 1 hora de estacionamento. Vinha colado num folheto 'informativo' que, pela linguagem, deve ser feito para aprender português.

Estes bilhetes são uma espécie de raspadinha, onde se raspa a hora e dia pretendidos, colocando-se o dito cujo na parte dianteira do carro, para fiscalização.

Ora, o que nos diz o espantoso fraseado final do folheto: "Durante o período de tempo para o qual o Título é válido, o veículo pode estacionar em todas as zonas tarifadas da EMEL, sem precisar de moedas!".

Fantástico, Mike! E nós a pensar que o bilhete servia só para dar cor ao carro...

Afinal com esta borla já não precisamos de pagar nada!!! Incrível.

E vivam as eleições autárquicas! Sem elas nunca teríamos borlas destas.

Mesmo que sejam para pagar mais tarde...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A Beira revisitada - Guarda

Não tinha uma imagem nítida da Guarda, que conhecia de passagem, e trouxe de lá uma memória refrescada da Sé. O largo da Sé foi reabilitado e convida à frequência de um dos bares, à noite. No cume das montanhas circundantes perfilam-se, elegantes, moinhos que produzem energia eólica. Visitei o novo centro comercial de vários andares. Esperava mais da capital de um distrito onde abundam aldeias e vilas surpreendentes.
A Guarda pareceu-me uma cidade pacata, o avesso da sua imagem mais forte criada por uma cantiga de amigo atribuída a D. Sancho I, e que muitos conhecem dos compêndios de literatura, na qual a cidade surge como lugar inquietante, lugar de perigo e perdição:

Ai eu coitada! Como vivo
en gran cuidado por meu amigo
que ei alongado! Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ai eu coitada! Como vivo
en gran desejo por meu amigo
que tarda e non vejo! Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!

O que atrasou o amigo na Guarda – mau tempo, percalços, outra mulher, um salteador? Nesse tempo as pessoas acreditavam na intervenção sinistra de demónios, como o da gárgula que se vê na foto. Aprendi recentemente que a imagem terrível do diabo apareceu mais tarde e em regiões mais setentrionais. Descartes é que colocou a hipótese de um génio maligno que o enganava acerca de quase tudo. O diabo que deambulava em Portugal na Idade Média tinha poucos poderes, era mesmo um pouco ridículo. O povo ria-se dele. Se foi a mão de um destes diabos que atrasou o amigo na Guarda, não o impediu de chegar ao destino.

domingo, 13 de setembro de 2009

10 debates depois...

... ficámos mais informados sobre os programas e a perspectiva dos líderes dos principais partidos a votos. Nesse sentido, todos os líderes ficaram a ganhar. Quem neles queria ver um meio expedito para poupar trabalho e esclarecimento, pode tirar o cavalinho da chuva. Os debates não só foram equilibrados como não decidem nada por si mesmos: apenas são mais uma referência para reflexão.

O último debate, que opôs os líderes do centrão, não fugiu à regra. É claro que cada um usou a táctica que julgou mais conveniente. O actual premiê achou que ganharia mantendo a sua pose arrogante e agressiva, versão «moderada». Como se confirmou neste debate, aquele que teimava em fazer oposição à oposição por esta ser «maledicente», resolveu ser ele próprio a abusar da maledicência (como bem nota Daniel Oliveira). Assim conseguiu pôr os seus oponentes em guarda (e obter um ou outro deslize) mas daí resultou que foi o que menos expôs o seu programa. Se calhar não lhe convinha: é mais do mesmo... Na ânsia de arrebanhar votos, Sócrates conseguiu um inédito: despachar em directo os seus ministros, dizendo que, se ganhar, convidará novas caras, isto para dar um ar de renovação, de homem moderno, atrevido e ousado. A coisa foi tão exagerada e ambígua que hoje já teve que refazer a pintura.

Do debate há a reter alguns pontos. O 1.º remete para a segurança social: Ferreira Leite assumiu que manterá a recente reforma da mesma, para manter a confiança das pessoas, embora a tenha criticado por assentar no prolongamento do tempo de trabalho e na redução das reformas (daqui a 10-12 anos será apenas c.50% do salário bruto, enquanto antes era 70-80%). Assim marcou pontos no terreno do adversário, que não soube retorquir. Por sua vez, Sócrates esteve bem em trazer à colação o papel do Estado, em geral e numa situação de crise em particular. A sua resposta assenta na manutenção dos serviços públicos na saúde (embora queira cortar na ADSE), educação e segurança social, em geral, e no investimento em grandes obras públicas e apoios às PME's e pessoas mais carenciadas, para o segundo. A líder do PSD contrapôs a prioridade absoluta no apoio às PME's, e descartou as grandes obras por achar que há pouco dinheiro e o que há deve ir para as PME's. Denunciou a pressão espanhola para Portugal avançar no TGV, pois só uma linha transfronteiriça terá mais apoios comunitários. Mas fê-lo dum modo um quanto exagerado (o outro deslize foi quanto à desistência de portagens nas SCUT's). E criticou o rol de auto-estradas que o PS quer continuar a construir. É a lógica do fontismo a ser recusada por um dos seus antigos apoiantes...

Já a relação entre Estado e sociedade civil é resumida, pelo centrão, ao estímulo à iniciativa privada. De fora ficou mais uma vez a economia solidária, um vector relevante da sociedade que, porém, não foi esquecido pelos restantes partidos. O BE e a CDU pretendem mais apoios ao associativismo, em especial ao cooperativismo (sendo o programa da CDU mais detalhado: vd. p.17). O CDS propõe o recurso às misericórdias para reforçar a rede hospitalar coberta pela prestação pública e para certas consultas e operações, como as oftalmológicas (nb: não consegui aceder ao programa do CDS).

Na imagem: símbolos de partidos concorrentes às eleições parlamentares de 1975, retirada daqui.

sábado, 12 de setembro de 2009

A resposta de Hugo Chávez a Lula

A resposta não tardou e veio na lata, tipo pá e pufe. Depois do convênio militar no valor de 50.000.000.000,00 de dólares firmado entre o Brasil e a França, Hugo Chávez não perdeu tempo e respondeu rapidamente a Lula. O presidente da Venezuela anunciou ontem à noite, em Caracas, que o seu país adquiriu da Rússia mísseis com um alcance de 300 km e carros de combate T-72 e T-90. E lo peor de tudo é que tem por aí uns babacas dizendo que todas essas negociações trata-se apenas de uma modernização das forças armadas da América do Sul. Eu, hein!? Mais informação.


Imagem: Arcadio, “La Prensa”


Morre Juan Almeida, o número 3 da revolução cubana

revolução cubana O comandante histórico e vice-presidente de Cuba Juan Almeida Bosque, que chegou a ser considerado o número 3 da revolução cubana, morreu na noite de ontem aos 82 anos, após uma parada cardiorrespiratória. O governo de Cuba decretou 3 dias de luto oficial. Na foto: Che, Fidel Castro, Calixto García, Ramiro Valdés e Juan Almeida (último à direita), nos finais dos anos de 1950. Mais.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O 11 de Setembro chileno

Último discurso de Allende


11 de setembro de 1973. Um ataque terrorista orquestrado pelas forças norte-americanas derruba o governo chileno. Salvador Allende, democraticamente eleito presidente, morreu (por suicídio ou executado não se sabe) no mesmo dia, dentro do Palácio de La Moneda, bombardeado pela força aerea do seu próprio país, comandada por Augusto Pinochet. O resto da história tudo mundo sabe no que deu. Esta é uma data para a América do Sul não esquecer.

Alguém nos salve destes cartazes!

A outra campanha que já está aí a palpitar é a das autárquicas. Como essas eleições sucedem às parlamentares, têm estado um pouco arredadas do centro do tufão. Mas, não tarda nada, tomarão o palco.

Entremezes, os cartazes que vão surgindo que nem cogumelos pelas terras e terrinhas deste alegre Portugal, são a prova de que a crise, afinal, nem tudo levou consigo. Olhando para algum (a maioria?) deste material iconográfico, quase apetece gritar: ó crise, volta, e leva isto também contigo!

Suspeito que muito eleitores suspirem ao verem este cortejo kitsch. Na escola havia um termo para isto: poluição visual. Nalguns casos, a dúvida instala-se: se rir, se chorar. Motivos não faltarão, de resto: mau gosto, falta de jeito e imaginação, monotonia, repitação, ego trip.

É isso mesmo, uma ego trip selectiva, uma espécie de epidemia sectorial: o pessoal candidato a manda-chuva da xafarica chega a estas alturas e acha que é modelo de passerele. Doutro modo não se percebe esta fixação nas suas caras, penteados e fatiotas.

Que saudades do antigo bilhete-postal...

PS, PS: ah, e sobre o cartaz, não dá para evitar: sim, o Fundão vai ganhar - paciência; o povo votante vai ganhar - juízo; o candidato também - experiência, certamente (e umas novas gravatas também era capaz de dar jeito). Quem fica a ver navios é a Dona Estética. Discriminação de senhoras, onde é que já se viu isto? Tá mal.

nb: a imagem foi retirada do blogue acima referido, que, além das imagens, tem também bons comentários, incidindo em especial no design e na comunicação visual.

Até que enfim - os esmiuçadores chegam já na próxima 2.ª!


YouTube bloqueia vídeo anti-Aids/Sida

DE-A6-Stalin

DE-A6-Saddam
















O YouTube bloqueou o vídeo de uma campanha publicitária de prevenção da Aids/Sida que mostra um homem caracterizado como Adolf Hitler fazendo sexo. A polêmica campanha já tinha sido criticada pela Associação Alemã de Ajuda contra a Aids (DAH), por supostamente insultar todas as vítimas do nazismo, estigmatizar as vítimas e prejudicar o combate à Aids.

Segundo a produtora da campanha, a ONG Regenbogen, a decisão de se utilizar as fotomontagens dos ditadores Adolf Hitler, Josef Stálin e Saddam Hussein, tem como objetivo alertar a população para os riscos da doença.

“No mundo, morreram mais de 28 milhões de pessoas. E a cada dia surgem 5.000 novas vítimas. Com isso, a Aaids/Sida é um dos maiores assassinos de massas que já existiram até hoje”, disse a Regenbogen em defesa de sua ação. Já o YouTube se justifica dizendo que o “vídeo foi retirado do ar por atentar contra o regulamento”. Para quem não viu o vídeo, ele ainda pode ser visto aqui.

Fonte: Agências internacionais.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Toda a verdade sobre o caso Manuela Moura Guedes!

US$ 40.000.000.000,00 é o que a América do Sul já gastou em armas

exercito02 O acordo de cooperação militar firmando, na última segunda-feira, entre o Brasil e a França (v. aqui) pode consolidar o país como a primeira e indiscutível potência bélica sul-americana. Este é apenas mais um capítulo de uma história que vem se desenrolando há algum tempo e que tem como um dos protagonistas Hugo Chávez. Na verdade, essa foi também uma resposta direta de Lula ao presidente venezuelano, que não esconde o seu desejo de se tornar a maior liderança na América do Sul, mesmo que seja na marra.

Com o pretexto de estar se preparando para um possível ataque norte-americano, Chávez tem investido pesadamente na compra de armas. Só da Rússia já comprou mais de 4 bilhões de dólares em armamento (v. aqui), aquisição que vai desde armas leves a aviões de combate. Apesar do “por qué no te callas” do rei, a Espanha acertou um acordo com o governo venezuelano no valor total de 1,5 bilhão de dólares na compra de barcos patrulheiros e aviões de transporte (v. aqui). Detalhe: esta foi a maior venda de armamento já realizado pelos espanhóis em toda a sua história.

Assim que assumiu a presidência da República, um dos primeiros atos de Lula foi revogar o projeto de seu antecessor (o tucano Fernando Henrique Cardoso) de reequipamento e modernização das Forças Armadas Brasileiras, com o argumento de que o país não corria qualquer risco na pacífica América do Sul. Depois de um pouco mais de 6 anos de governo, parece-me que Lula mudou radicalmente de posição. Em 2003, o orçamento militar do Brasil era estimado em 1,90% do PIB, índice que passou para 2,60% em 2008, ou seja: quase 7 bilhões de dólares já foram reservados para aumentar o poder bélico brasileiro (v. aqui).

É visível a olhos nus que os países da América do Sul têm investido muito dinheiro no setor militar. Dos 44 bilhões de dólares liberados em 2007 pelos respectivos Congressos para a compra de armamento e reestruturação de defesa, cerca de 40 bilhões já foram gastos, principalmente por Brasil, Venezuela, Chile, Colômbia e Equador.

Para um continente que vive relativamente em paz e com fronteiras estáveis há mais de um século (exceto pela Guerra das Malvinas) não vejo sentido em se gastar tanto dinheiro assim com defesa, sobretudo quando toda a região assolada por profundos problemas sociais até agora longe de serem resolvidos.

Benjamim Enes Pereira

Começou hoje, no ISCTE, o IV Congresso da Associação Portuguesa de Antropologia, sob o tema «Classificar o Mundo».

O Congresso homenageou Benjamim Enes Pereira (Montedor, 1928) pelo trabalho que realizou em prol da antropologia portuguesa, na equipa de Jorge e Margot Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, primeiro no Centro de Estudos de Etnologia, no Porto, e depois no Centro de Estudos de Antropologia Cultural / Centro de Antropologia Cultural e Social e no Museu de Etnologia.

Na conferência de homenagem, João Leal (FCSH-UNL) disse que Benjamim Pereira viveu em dois países. Do primeiro país, profundamente rural, embora diverso nas suas múltiplas ruralidades, recolheu objectos de cultura material, testemunhou práticas e contextos, apreendeu significados, contribuiu para a elaboração de uma imagem sólida e estruturante.

O segundo país, aquele onde agora vive, já não é rural, sem ser inteiramente urbano; não se revê nos objectos recolhidos por Benjamim Pereira; não dispõe de uma teoria antropológica sobre si próprio. Leal faz um repto às novas gerações de antropólogos no sentido de pensarem o país actual, para além dos estudos de caso e das novas visões essencialistas, aprendendo com o exemplo de Benjamim Pereira, nomeadamente com a sua minúcia descritiva e com a imersão na história dos objectos. 

Benjamim apreciou o repto e ficará, certamente, atento aos seus frutos.

Para melhor conhecer o percurso singular de Benjamim Pereira, veja-se a entrevista publicada nos Arquivos da Memória (Dez. 1996 só disponível em papel) e o número 6 (2000) da revista Recherches d'anthropologie au Portugal (disponível em linha) que lhe foi dedicado (inclui entrevista, bibliografia, artigos sobre o autor e inédito do autor).

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Igualdade(s) em debate

Igualdade(s) em Debate | 9 Setembro | 21h | Lisboa

Da organização:

Estando a cerca de três semanas de um acto eleitoral - as eleições legislativas - e apresentados publicamente os programas dos diferentes partidos políticos, julgamos que é de particular importância a realização de um debate sobre políticas de igualdade, de modo a que as visões e projectos de cada partido possam, nessa(s) área(s), ser explicitados e para que os/as cidadãos/ãs possam não só deles ter conhecimento como debatê-los e esclarecer dúvidas. Tendo em conta que o valor da igualdade faz parte do ADN do MPI - designadamente a defesa do acesso ao casamento civil por parte de pessoas do mesmo sexo - realizarar-se-á a 9 de setembro, em Lisboa, sob iniciativa do MPI, "Igualdade(s) em debate", com representantes dos partidos políticos e moderação de Ana Sousa Dias e José Luis Peixoto, para o qual a presença de todos/as é fundamental. 
Este debate pode ser outro grande momento de visibilidade pública do MPI e das causas que defende e um grande passo rumo a mais igualdade!

Dêmos as mãos, mas cuidado com os papões

Foi um debate intenso aquele que opôs Sócrates a Louçã, mas também crispado. E a crispação, provocada pelo actual premiê, serviu uma estratégia, a de impor-se pela agressividade e a atemorização, procurando assim estancar a fuga de votos para o BE e evitar a repetição do desfecho das eleições europeias.

O conflito de personalidades que lhe subjaz diz mais da atitude de certas elites do que propriamente do eleitorado, mais poroso, comprovado na votação presidencial de Alegre e nas últimas eleições europeias (e como referiu André Freire em comentário na RTPN). Mas é justamente por ser poroso que o premiê resolveu ser agressivo como foi.

Sócrates preocupou-se mais em tentar descredibilizar e desqualificar o BE do que em apresentar as propostas do PS. E fê-lo não só pela estafada dramatização do «voto útil» (ou nós ou vem a direita; os resultados das europeias mostram que, apesar do PS ter perdido, a direita ficou apenas com 40%) como tentando provar que o BE é um partido radical, e, surprise!, um autêntico papão da classe média. Aqui foi ainda mais insistente do que com Portas, apresentando a proposta do BE de eliminação das deduções fiscais em sede de IRS como sendo um ataque à classe média. De nada valeu Louçã explicar que assim não era pois o BE propunha em paralelo a gratuitidade do acesso à saúde (extinguindo as taxas moderadoras) e educação (acabando com as propinas e ofertando os livros escolares) e a substituição dos planos de poupança reforma (vulgo PPR's) pela revalorização do aforro público (que o actual governo esvaziou). O líder do PS achou por bem repetir a 'denúncia' mais 2 vezes, pelo menos (é claro que o tema seguinte era o desemprego...). E Louçã esteve bem quando referiu que o IRS é um «sistema cheio de armadilhas», um puzzle kafkiano talhado para peritos ou para quem se disponibilize a contratar 'assistência técnica' (contabilista, advogado, etc.), pois só assim se consegue aproveitar de forma completa e sem dores de cabeça.  Além da simplificação do sistema fiscal, o líder do BE defendeu ainda a necessidade dum imposto sobre as grandes fortunas, questão sobre a qual o PS é omisso. E devolveu os mimos a Sócrates, criticando o seu governo por falta de transparência e de rigor.

Outra 'denúncia' esgrimida por Sócrates foi a da alegada nacionalização da banca, seguros e energia proposta pelo BE. De nada valeu a Louçã referir que no programa estava tornar público ou reforçar a intervenção pública nestas áreas, dando como exemplo o facto da Caixa Geral de Depósitos dever reduzir as taxas de juro e tornar o crédito mais acessível para as PME (pequenas e médias empresas, o grosso do tecido empresarial) em vez dos esquemas com grandes empresários. Louçã criticou o facto da Galp ter sido privatizada por acordo directo com José Eduardo dos Santos e Américo Amorim, privilegiando interesses de poucos em detrimento das pessoas e das empresas, que têm de recorrer a energia mais cara fornecida em regime de monopólio privado; Sócrates justificou-se dizendo ter-se assim evitado «que a Galp caisse em mãos de estrangeiros», como se Angola ainda fosse uma colónia portuguesa. Outro caso de ajuste directo referido foi o do terminal de Alcântara, com Sócrates a dar novo tiro no pé dizendo que foi «a melhor forma de defender o interesse nacional».

Depois do ataque cerrado e das constantes interrupções, cortando o raciocínio ao oponente e ao arrepio das regras que impôs aos debates, o premiê pôs-se em tom de virgem ofendida acusando o BE de ter eleito o PS como o «inimigo principal» e de, em tempos de crise, apresentar com um programa radical, em vez de dar as mãos e pôr de lado essa coisa supérflua da alternativa política, imagina-se. Haja dó!

Louçã esteve ainda bem quando contrariou a euforia socrática do fim da recessão económica, dizendo que a recessão é o desemprego. O qual superou o meio milhão de desempregados, com certos grupos sociais sem protecção (jovens à procura de emprego ou com empregos de curta duração) ou com fraca protecção, como o caso do subsídio social de desemprego, que se fica pelos 240 euros num país em que o salário mínimo é de 450 euros. O único ponto de acordo foi o da necessidade de reforçar o investimento público para combater o desemprego (além da desastrada visita de Manuela Ferreira Leite à Madeira).

Em lugar de argumentar e expor, Sócrates privilegiou o ilusionismo e o amedrontamento. O aproveitamento da proposta de eliminação dos benefícios fiscais (que até o social-cristão Bagão Félix já quis acabar: vd. aqui um post oportunamente repescado por Daniel Oliveira) foi tiro ao lado. Já a má formulação programática do tema das nacionalizações, bem como a carga controversa que este ainda tem devido ao ocorrido no PREC, pode ter amedrontado algum eleitorado ainda indeciso. No geral, porém, o premiê pode ter ganho em termos de ofensiva, mas perdeu em termos argumentativos e de exposição do seu programa. Embora tenha sido o debate mais animado, não foi o mais esclarecedor.

E os comentadores pós-debate das tv's (SICN e RTPN), já por hábito predominantemente de direita, voltaram a sê-lo, o que se torna ainda mais ridículo sendo este um debate supostamente decisivo à esquerda, tal como bem relembram Bruno Sena MartinsDaniel Oliveira.