quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

70 anos da Aquarela Brasileira


A música “Aquarela do Brasil” fez este ano 70 anos. Composta (letra e música) por Ary Barroso em 1939. Foi a primeira canção responsável pelo surgimento do samba de exaltação, cujo principal característica é o ufanismo, o que aliás anda em alta aqui em Terras Tupiniquins nos últimos tempos. Interpretada por grandes cantores e cantoras brasileiros e estrangeiros, “Aquarela” já foi até apresentada por alguns desavisados como o Hino Nacional Brasileiro em muitas cerimônias internacionais, principalmente as esportivas.

Feliz Ano Novo a todos!

Bons vinhos que provei em 2009

Concerteza que não iríamos deixar 2009 sem fazer uma mini-selecção dos melhores vinhos, já que estamos em época de balanços. E, seguindo o prudente conselho do João Miguel Almeida, fico-me por balancetes anuais, e já é muito.

Enfim, refinando um pouco mais: os melhores que apreciei pela 1.ª vez nesta quadra. Então aqui vai: Ad. Coop.ª de Borba Reserva 2005, Mouchão 2003, Lavradores de feitoria 3 bagos 2005, todos tintos (notas de prova para os 2 primeiros no Guia de vinhos 2008, do Rui Falcão, p.51 e 83).

No vinho do Porto, gostei bastante do Fonseca Vintage 2007.

Quanto aos brancos, e quebrando a regra, pois descobri-o este Verão, destaco o Arenae Colares Malvasia (2007, salvo erro), uma pérola! É uma experiência única, aquele sabor adocicado mesclado de mel, fruta e flores. Uma pequena grande amostra dum dos mais raros néctares ibéricos. Pode ser comprado em enotecas ou, melhor ainda, in locu, o que é uma vantagem, pois permite uma visita à sua belíssima Adega Regional de Colares (para horários e visitas vd. aqui). É claro que o Arenae Colares Ramisco 2007 também é bom, só que tem que ser guardado uns bons anos, pois ainda está muito adstringente...

E, já agora, para quem quiser descobrir outros vinhos recomendo o site do crítico de vinhos Rui Falcão, começando por esta boa mini-lista.

E prontos, boas entradas para todos, e bom apetite!

Décadas globais

As listas do melhor e do pior de uma década valem o que valem. São uma forma tão boa como outra qualquer de organizarmos a nossa memória, de discutirmos hierarquias de valores e as perspectivas, ainda limitadas, sobre acontecimentos nacionais e internacionais. As listas da «primeira década do século XXI» têm um problema: ainda falta um ano para terminar a referida década. Se tem dúvidas pode consultar esta entrada da wikipédia. Não que a wikipédia seja um autoridade acima de qualquer suspeita, mas o problema é simples: ou o nosso calendário teve um «ano 0 a.c» e «ano 0 d.c.» ou o «0» do nosso calendário corresponde, vá lá, à meia noite entre 31 de Dezembro do ano 1 a.c e 1 de Janeiro do ano 1 d.c.. Como a segunda alternativa é a verdadeira, no final do ano 9 d.c. ainda faltava um ano para terminar a primeira década do século I d.c e no final de 2009 ainda falta um ano para terminar a primeira década do século XXI.
Os balanços das décadas e dos séculos são sempre exercícios arbitrários, pois os acontecimentos e tendências obviamente não se encaixam nos números redondos do calendário. O que não quer dizer que não possam ser exercícios interessantes e não existam «coincidências poéticas». A década passada, por exemplo, começou em 1991, o ano do fim da União Soviética e terminou em 2000, o ano em que o mundo suspirou de alívio por o «bug» do ano 2000 ser uma ameaça fantasma. Foi a década da «pax americana», também conhecida por «fim da História». A actual década começou em 2001, o ano do ataque às torres World Trade Center. Tem sido a década da crise. Primeiro de segurança internacional, depois financeira, económica, social e com sinais inquietantes de não se conseguir prevenir a tempo uma crise ambiental. Ah, como dava jeito que esta década acabasse já hoje e levasse com ela a crise…

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Capitalismo, uma história mal contada

É caixa-de-óculos, gordalhufo, usa jeans xxl e tem um andar desajeitado. Além disso, fala sobre coisas chatas como trabalho, dignidade, justiça social, desigualdades, etc.. Um cromo destes só pode ser um incómodo, claro.

Capitalism: a love story é o seu último filme. A recepção foi desigual, indiferente à adesão nos cinemas, urbi et orbi. Por mim, considero-o o melhor filme que vi em 2009, mais, um dos melhores de sempre.

Vou tentar explicar porquê. Um dos pontos mais fortes do documentário (sim, porque é um documentário, se virmos o género sem espartilhos tecnicisto-formais) é o ponto onde começa: Flint, berço do cineasta e satélite da todo-poderosa General Motors, que se torna cidade-fantasma mal esta sai de lá, por razões meramente economicistas. Foi por aí que Michael Moore começou a sua carreira, com Roger & me (sendo Roger o presidente da GM a quem ele nunca consegue chegar à fala), um documentário cru sobre a devastação da sua cidade-natal, assim qualquer coisa como uma cidade do tamanho de Aveiro. No presente Capitalism, vemos o pai de Moore a confessar-nos que, enquanto operário dessa multinacional nos idos de 50-70, o ambiente de trabalho era bom, tinha férias pagas, automóvel, casa, qualidade de vida, etc.. Hoje, tudo isso está em risco para esse e outros grupos sociais...

Para Moore, criado no ideal norte-americano, de terra de oportunidades para todos, de prosperidade (ainda que desigual), a actual situação de descalabro financeiro-económico, de engodo, de desigualdades extremas, é um autêntico pesadelo. É esta a tese central do filme: também ele, um tipo de esquerda, acreditou que a América era uma terra de esperança, e agora apercebe-se de que tinha acreditado numa mera encenação, numa grande ilusão. A crise financeira e económico-social recente é apenas um apropriado locus do dia: o problema é bem mais fundo. Wall Street e os seus interesses comandam as vidas de todos nós, prejudicando-nos; pior, eles manobram os próprios representantes do povo para beneficiar interesses privados, em detrimento do interesse público.

Além disso, o filme tem momentos inesperadamente dolorosos, mesmo para o mais impedernido dos cépticos, como o caso dos seguros sobre a morte de empregados de empresas (sim, o dinheiro do seguro de morte apenas revertia para essas empresas, @s viúv@s ficavam a ver navios).

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Site lista os 100 melhores comics de sempre

watchmen

O conceituado site norte-americano especializado em quadrinhos Comic Book Resources divulgou a lista completa das 100 melhores histórias do gênero em todos os tempos. O ranking foi elaborado a partir de votação dos leitores do site.

A lista é encabeçada pela graphic novel "Watchmen", de Alan Moore e Dave Gibbons, originalmente publicada entre 1986 e 1987. A HQ da DC Comics sobre um grupo de super-heróis durante a Guerra Fria ganhou uma adaptação para o cinema neste ano, dirigida por Zack Snyder.

Em segundo lugar, ficou "A saga da Fênix Negra", arco de histórias da revista "X-Men" assinado por Chris Claremont, John Byrne e Terry Austin e publicado durante o ano de 1980 pela Marvel Comics.

Confira abaixo as 10 histórias mais votadas ou clique aqui para ler a lista completa no site do Comic Book Resources.

1 - Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons
2 - A saga da Fênix Negra, de Chris Claremont, John Byrne e Terry Austin
3 - Born again (Demolidor), de Frank Miller e David Mazzucchelli
4 - Batman - Ano um, de Frank Miller e David Mazzucchelli
5 - Batman - O cavaleiro das trevas, de Frank Miller e Klaus Janson
6 - All star Superman, de Grant Morrison e Frank Quitely
7 - Crise nas infinitas terras, de Marv Wolfman, George Perez, Dick Giordano e Jerry Ordway
8 - Sandman - Estação das brumas, de Neil Gaiman, Kelley Jones, Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Matt Wagner, Dick Giordano, George Pratt e P. Craig Russell
9 - Reino do amanhã, de Mark Waid e Alex Ross
10 - Maus - A história de um sobrevivente, de Art Spiegelman

Via G1.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

«Afterschool - Depois das aulas»

Afterschool – Depois das aulas, realizado por António Campos (nascido em 1983), é um dos mais estimulantes filmes que chegou às salas de cinema em 2009. Um filme que reflecte sobre o cinema como um meio específico de produção de imagens e sobre o mundo que essas imagens reflectem. O mundo que António Campos vê em Afterschool põe em causa algumas dicotomias com que nos habituámos a ver/pensar a realidade: a dicotomia orwelliana que opõe totalitarismo a ausência de um centro de controlo; a dicotomia liberal que opõe educação de elite a cultura de massas.
O mundo em que António Campos coloca a sua personagem – Robert – é um mundo de clausura, um universo que seria claustrofóbico se o medo pudesse ser nomeado ou expresso, se a angústia fosse mais do que uma perturbação a resolver pela administração de doses de medicamentos. É o mundo de um colégio de elite nos Estados Unidos, no século XXI. Robert tem acesso à internet no seu quarto, mas ela não funciona como a porta para outros mundos, apenas para o acesso a outras imagens – kitch, pornográficas ou de violência – que não lhe oferecem qualquer alternativa intelectual ou emocional ao mundo do colégio. De entre todas as falsas imagens e emoções oferecidas pela internet, Robert apenas reconhece uma emoção genuína – o medo.
Longe do ideal liberal da educação de elite como uma forma de desenvolver a autonomia de um indivíduo, o colégio em que Robert vive é um espaço de conformação de emoções, ideias, comportamentos. Uma conformação cuja força reside em grande parte na concentração do mundo num espaço pequeno cercado de imagens opacas. Não há um «big brother» - apenas professores e «conselheiros» ao serviço de um processo disciplinar. Não há uma doutrina além da difusa mas eficaz mentalidade da necessidade do sucesso.
Alguns falaram de Stanley Kubrick e de Gus van Sant a propósito deste filme. Campos vai buscar a Kubrick o aparato tecnológico e a solidão da personagem central. Mas recusa a estética do espectacular e do perfeito. O seu cinema é uma arte do impuro e do desejo de intimidade. Campos partilha com Gus van Sant um objecto: os adolescentes norte-americanos. Mas os adolescentes de Gus van Sant são miúdos esquecidos, «desenquadrados», que vivem na margem do sistema. O horror dos adolescentes de António Campos é produzido no coração do sistema. Um coração vampiresco que dissolve facilmente em kitsch a violência da tragédia.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Quando Dickens brindava com vinho do Porto (II)

- Passa-se alguma coisa com o senhor Snodgrass, senhor? - perguntou Emily, muito ansiosa.
- Não se passa nada, minha senhora - redarguiu o desconhecido. - Partida de críquete... jantar... festa de arromba.... canções fantásticas... Porto velho... clarete... muito bom, vinho belíssimo... O vinho, minha senhora, vinho...
- Não foi o vinho - murmurou o Sr. Snodgrass numa voz entrecortada. - Foi o salmão.
(Pode ser qualquer outra coisa, mas o vinho nunca é causa de nada nestas circunstâncias.)
- Não era melhor eles irem para a cama, minha senhora? - perguntou Emma. - Dois dos moços podem conduzi-los até lá acima.
- Eu cá não vou para a cama - declarou o Sr. Winkle, peremptório.

Charles Dickens, Os cadernos póstumos do Clube Pickwick,
Lisboa, tinta-da-china, 2009, p. 148 (v.o. de 1837)


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O meu voto de Boas Festas


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O jazz já não mora aqui

O Hot Clube de Portugal, um dos clubes de jazz mais antigos do mundo (com 61 anos de vida), foi forçado a suspender a sua actividade devido a um incêndio no prédio onde estava sediado e que obrigou os bombeiros ao seu apagamento por inundação. Ignora-se ainda quando e se poderá retornar à velha casa, situada bem no centro da cidade, e próxima dum outro antigo espaço cultural também ele encerrado recentemente, o Ritz Club.
O incêndio terá sido provocado por intrusos no desabitado andar cimeiro, aliás metade do prédio estava devoluto e o proprietário não procedera a obras de recuperação, tal como sucede em grande parte dos centros históricos das cidades portuguesas.
Os centros históricos dum país que se quer mostrar moderno vão apodrecendo, ou incendiando-se, como em Lisboa (depois do desastre do Chiado nos anos 80, seguiu-se uma fileira de prédios na Av. Liberdade, agora subiu para a Pr.ª da Alegria).
E, apesar da irresponsabilidade que tal significa em termos de segurança, de sustentabilidade, de efeito turístico, os proprietários, juntamente com as autoridades públicas, continuam a adiar respostas consistentes. Que triste desleixo, que lamentável incúria pública.
Sobre isso, e as suas implicações na desvalorização das cidades portuguesas, vale a pena ler a crónica de Rui Tavares no Público de hoje (brevemente disponível no seu blogue).

Neve e Natal

As estradas europeias estão mergulhadas na combinação caótica de mau tempo e época natalícia. Neste processo de auto-reeducação, há já uns tempos que me questiono sobre a necessidade moderna que as pessoas têm de andar de um lado para o outro o mais depressa possível e pagando o menos possível. Somos constantemnte relembrados do custo que estas viagens têm para o ambiente e continuamos a fazê-las, à espera que alguém resolva o problema que nós criamos. Este artigo hoje publicado no The Guardian pareceu-me pertinente, aqui fica. "There are no two ways about this. Travelling must bear the global externalities that it imposes on other users of the planet. There is no absolute right to roam. There is no free trip. We must initiate the rebirth of domestic space".

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Banksy pós-Copenhaga


Um "comentário" de Banksy à decepção que foi Copenhaga

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ecos da COP-15

Como o previsto. A Conferência de Copenhague foi mais um grande fracasso. Foi mais um filme onde os protagonistas se travestiram de meninos e meninas do bem e interpretaram com maestria suas personagens cínicas e hipócritas. Coisa de causar inveja aos melhores astros e estrelas de Hollywood.

O que se viu na verdade na capital dinamarquesa foi mais um daqueles filmes de horror, onde prevaleceu os interesses econômicos das nações desenvolvidas e em desenvolvimento, a geopolítica e a desconfiança mútua, principalmente por parte de EUA e China.

Durante a realização da COP-15, alguns discursos foram convincentes e até chegaram a emocionar muitos espectadores. Mas tudo não passou de uma estrondosa fantasia cinematográfica, produzida para agradar a opinião pública e o respectivo eleitorado, cujo resultado de fato foi um esboço de uma mera carta de intenções de conteúdo essencialmente político, não vinculante e cheia de compromissos comuns mínimos e vagos, tipo: “realizar profundos cortes nas emissões globais de gases causadores do efeito estufa”, mas sem mencionar números e metas específicos.

Agora, a sequência desse filme será produzida no México, ano que vem. Aguarde a estreia nos melhores cinemas do mundo. Mas não se iludam. As personagens serão quase as mesmas, o roteiro e diálogos serão os mesmos. E o final também será o mesmo. Estes filmes eu já vi todos.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Falar de comeres e beberes...

... está a acontecer, no programa Câmara Clara (RTP2), graças aos convidados António Manuel Monteiro e Inês Ornellas e Castro, ambos estudiosos do tema. Da Grécia Antiga à(s) dieta(s) mediterrânica(s) e de montanha, passando por muitas revelações (existência secular do couscous transmontano, a doçaria portuguesa como a melhor do mundo, etc.) e pelos comentários às belas imagens de Os gestos dos sabores, documentário a transmitir no mesmo canal, a seguir à missa do Galo.

Para quem gosta de livros de gastronomia, viajou-se por vários: sobre a Antiguidade clássica, de Maria de Lurdes Modesto, de A. M. Monteiro (Crónicas comestíveis), de José Pedro de Lima-Reis (Algumas notas para a história da alimentação em Portugal), entre outros.

Para quem não pôde ver, ou quer rever, o episódio estará disponível no sítio de Internet do programa de Paula Moura Pinheiro.

Nb: na imagem, estufado de beldroegas (semizotu çipohorta) da cozinha turca.

sábado, 19 de dezembro de 2009

«Agora» de Amenábar

É possível realizar um grande filme histórico passado na Antiguidade escapando a «clichés» de Holywood? É possível abordar o tema da intolerância religiosa sem cair em maniqueísmos? «Agora» de Amenábar mostra que sim. Onde outros viram dispersão da narrativa, eu vi multiplicação de perspectivas. Onde outros viram uma história de perseguição por cristãos eu vi a história de uma sociedade contraditória que cede à violência e lhe entrega a solução dos seus problemas. Uma das histórias mais actuais deste ano é contada neste filme histórico.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O triunfo da decência: Aminatu está de regresso ao Sara Ocidental

O governo espanhol lá se mexeu, e a activista sarauí está neste momento de regresso à sua terra natal, no Sara Ocidental. Ao embarcar no avião, assegurou que o seu regreso pressupõe «um triunfo da justiça internacional e da causa sarauí». Assim mesmo, ambas juntas. Ainda bem que me enganei neste post, em que temia o pior, dada a insensibilidade então reinante. Ainda bem que muita gente pressionou pelo seu regresso: políticos, activistas e apoiantes dos direitos humanos, bloggers, etc.. A maioria, gente comum, mas que mostrou que, com gestos simples, por vezes ainda é possível mudar o rumo cínico das coisas.

Sai mal na foto, porém, o governo marroquino e ainda por cima derrotado - a soberba dos fortes é por vezes a vitória dos fracos. Antevendo uma derrota maior, i.e., o boicote comercial da UE, Marrocos negociou com Espanha o silêncio da mesma UE. Seja como for, a causa sarauí ganha agora outra projecção. A ver se é desta que o governo espanhol vai até ao fim e organiza o referendo no Sara Ocidental para que foi incumbido pela ONU.

Excitações barretianas sobre o "antigo regime"

António Barreto dixit, ao vivo e a cores

É caso para dizer, tomando de empréstimo a 'legenda' de Daniel Oliveira:

Se excluirmos a chuva que me cai na sala, a falta de casa de banho, de esgotos, de água e de electricidade, a minha barraca é um palacete

Para os anti-ambientalistas com linguagem de 'taxista' que poluem as caixas de comentários de notícias sobre a Conferência de Copenhaga

Numa conferência por telefone de emergência com 3000 membros da Avaaz ontem, o Primeiro-Ministro do Reino Unido Gordon Brown disse:
(informação difundida pela Avaaz;
entretanto já +13 milhões assinaram a mega-petição pró-acordo pra valer)

E, depois dos abalos, os escaldões...

gay-earthquake-powers


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Copenhaga como reflexo do estado do mundo

Más notícias vêm-se acumulando a propósito da Cimeira de Copenhaga. Primeiro, foi uma lei especial que permite prender quem quer que se mexa, do estilo «são proibidos ajuntamentos de mais duma pessoa». A que se juntou um pesado dispositivo policial e seu exagerado protagonismo. Depois, foi  a confusão processual da própria cimeira - alguém consegue perceber o que se passa dia-a-dia? A que se juntaram as dificuldades extremas de convergência negocial. Hoje soube-se que a maioria das mais importantes ong's internacionais foram proibidas de entrar no espaço da cimeira, o Bella Center, apesar de estarem creditadas para o efeito (aliás, apenas 90 dos seus 22 mil representantes poderão entrar no centro!). É uma machadada grave na credibilidade do encontro, ainda que a organização tenha contraposto um espaço alternativo para seguir a cimeira, algures na cidade (enfim, écran por écran, os dirigentes associativos bem podiam ter ficado em casa).

Com isto tudo, faltam apenas 3 dias para acabar a Conferência de Copenhaga, uma maratona de 60 horas de negociações directas com os dirigentes de 110 países, facto inédito na política internacional. Uma das ong's interditas, a Avaaz, lançou uma nova mega-petição para pressionar no sentido de se alcançar um acordo ambiental justo, ambicioso e vinculante. Neste momento, já são mais de 11 milhões os seus subscritores. A Avaaz promete uma acção espectacular para apresentar a petição histórica na capital da Dinamarca. Porque o mundo precisa dum acordo pra valer.

Almoço de graça

Hoje em Trafalgar Square, apesar do frio e da neve, um grupo de voluntários serviu um almoço de graça. A ementa consistia de alimentos rejeitados pelos supermercados por razões absurdas como forma e tamanho. O objectivo era mostrar que a comida estava em perfeitas condições, mas que normalmente teria ido para o lixo, agravando ainda mais a famosa pegada...

Ainda sobre este assunto destaco o livro Waste - Uncovering the Global Food Scandal de Tristram Stuart.

Tinta-da-china natalícia

Até ao próximo dia 23/XII, a tinta-da-china propõe os seus livros com 30% de desconto, pelo menos, a adquirir nas instalações da editora, lá para os lados do «Glorioso» SLB.

E, agora, algo realmente diferente, e bem extravagante

É o mínimo que se pode dizer deste video, ou melhor, da paciente e maníaca preparação que implicou. Parece que houve um momento em que pensaram desistir. Embora sendo um anúncio publicitário a um carro (talvez o Honda Accord não-sei-das-quantas), o que cai mal num momento de negociações sobre alterações climáticas, é-o muito vagamente e, sobretudo, é um grande momento artístico e lúdico. É conceptual, à anos 70, tipo rock progressivo. Bem melhor que as cascatas de peças de dominó, já muito batidas. Ora espreitai.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Vigílias de solidariedade com Aminatu Haidar (agenda)

Segundo informação da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental, «o grupo promotor do apelo firmado por 42 personalidades e entregue na passada 6.ª feira nas embaixadas de Espanha e de Marrocos, decidiu, em estreita colaboração com a Amnistia Internacional - Portugal, convocar uma nova vigília de solidariedade com Aminatu Haidar».

A vigília é já hoje, em Lisboa, às 18h30, defronte à Delegação do Parlamento Europeu e da União Europeia (Lg. Jean Monet, à R. do Salitre).

Entretanto, ontem foi a vez de Coimbra, amanhã será a vez do Porto (+ inf. aqui).

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

E, agora, sobre um Planeta que há muito se salvou

Chama-se Planeta Tangerina, é uma pequena editora, mas tem feito prodígios. A começar pelos livros para crianças da dupla Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, passando pelas ilustrações de Madalena Matoso, pela Agenda Rufino, etc., etc.. Para quem não conhece, aconselho uma vista de olhos aqui. Quem já conhece, gosta e tem algum tempo disponível amanhã, olhó convite:

Some People are Gay

A Stonewall é uma organização que luta contra a homofobia e promove os direitos gay no Reino Unido. Uma breve, mas não suficientemente breve, passagem pelo Facebook e um comentário que por lá vi fizeram-me perceber que por incrível que pareça ainda há quem tenha de ser educado na matéria. Enfim, com o planeta intoxicado, o extremismo e a islamofobia a tomarem conta do mundo civilizado, haja paciência... Aqui fica, é um bom slogan.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Quando o Diácono dos Remédios desce à cidade (versão excursionista)

Um grupo excursionista de idosos que veio à capital para ir ao teatro, por intermédio do INATEL, resolveu dar espectáculo dentro do espectáculo, e também já fora dele. Mais um pouco e ainda acabam contratados. É claro que seria para outro tipo de teatro, etéreo, imaculado, asséptico, certamente mais 'coltural'. Entre outras pérolas: «Isto é que é a cultura?», «Valia mais mandá-los semear batatas»; «É por isso que a nossa mocidade anda aí nas drogas. Aquilo que os ensinam é isto, os maus caminhos, em vez de lhes ensinarem o A e o B». O duplo espectáculo foi a 12/XI, o 2.º interrompendo o 1.º, mas só agora desaguou nos media e na blogosfera, se calhar para suscitar um debate público, se calhar para ajudar a puxar pelas audiências. Seja qual tenha sido a intenção, revela os curto-circuitos destes circuitos de divulgação cultural e os desencontros entre diferentes formas de estar e conceber a arte. Já agora, a peça em apreço (a 1.ª, que a 2.ª não tem nome) é «O que se leva desta vida», com Gonçalo Waddington e Tiago Rodrigues, e se for isto que se leva desta vida estamos tramadex.

Nos 900 anos do nascimento do primeiro ilustre luso

Para os eventuais interessados, aqui fica a chamada de atenção e a disponibilização do acesso a mais informação, na hiperligação supra.

sábado, 12 de dezembro de 2009

À atenção dos senhores reunidos em Copenhaga, da parte de George Carlin

O objectivo não é salvar o planeta, ele não precisa da nossa ajuda. O objectivo é salvar-nos o couro (a nós, humanos), e nós é que precisamos do planeta.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Primeiro Prémio Pessoa para sacerdote católico

Este ano o Prémio Pessoa distinguiu D. Manuel Clemente, bispo do Porto e professor de História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa. É a primeira vez em 22 anos que o galardão reconhece uma figura da Igreja católica.

O júri valorizou a sua «postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja» bem como a sua «intensa actividade cultural de estudo e debate público», para finalizar reconhecendo no premiado «uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo".

Manuel Clemente tem uma extensa obra historiográfica, na qual se destacam os seguintes livros: Um só propósito (2009), Portugal e os portugueses (2008), Igreja e sociedade portuguesa, do liberalismo à República (2002) e Nas origens do apostolado contemporâneo em Portugal - a «Sociedade Católica» (1843-1853) (1993). Restante bibliografia activa aqui.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dia dos direitos humanos, dia de Aminatu Haidar

Na sequência da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) a ONU instituiu o Dia Internacional dos Direitos Humanos, em 1950. Este ano a efeméride foi bem aproveitada para defender a causa da activista saraui Aminatu Haidar, em greve de fome contra a interdição pelas autoridades marroquinas de retorno para junto dos seus (já aqui me referira ao caso).

As accções de protesto foram tão diversas e profundas que resgataram alguma decência colectiva e fixaram definitivamente no mapa uma causa injustamente esquecida, a do povo sarauí. Eis as acções mais relevantes: um grupo de eurodeputados foi visitar Haidar e exigiu à UE a suspensão de acordo de associação com Marrocos; houve concentrações de protesto nas universidades espanholas; foi entregue uma carta ao rei espanhol subscrita por dezenas de intelectuais de diversos países no sentido daquele interceder; multiplicam-se as declarações políticas de apoio - as do parlamento português, de deputados de 9 países latino-americanos, de congressistas norte-americanos, etc. (vd. aqui; video com conferência de imprensa dos eurodeputados aqui).

Por seu turno, Haidar escreveu a Sarkozy e Angela Merkel a pedir-lhes «apoio urgente», para si e «para todo o povo saraui que nos últimos 34 anos tem sido forçado a viver ou sob uma injusta e brutal ocupação no Sara Ocidental ou em desolados campos de refugiados no deserto argelino».

Haidar, que admitiu estar a perder as forças físicas, foi reconhecida com o Prémio do Centro de Direitos Humanos Robert Kennedy e com o Prémio de Coragem Civil da Suécia. E foi nomeada para o Nobel da Paz. Não merecia a indiferença dos governos dos países vizinhos: Marrocos, Espanha, Portugal (sim, porque o governo português não apoio a resolução de solidariedade do parlamento).

À medida que o tempo passa a vergonha dos dirigentes políticos europeus aumenta. Já nem falo do espezinhar do direito internacional, abandonando um povo que tem o apoio duma resolução da ONU e aguarda desde 1975 por um referendo sobre a independência cuja incumbência a Espanha ainda não assumiu. Falo somente duma questão de humanidade. De decência: mas afinal, Haidar esvai-se num parque de estacionamento dum aeroporto espanhol, dum aeroporto europeu. E a Europa tem responsabilidades cívicas, éticas, políticas: afinal, o Tratado de Lisboa recentemente ratificado adopta a Declaração dos direitos humanos da ONU. Não à volta a dar.

Cidadãos europeus vêem a corrupção como «grande problema»

E, entre estes, os portugueses são dos mais críticos, segundo os dados para 2009 do Eurobarómetro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um discurso perigoso de Sarkozy

Num texto publicado no «Le Monde» (ver aqui), Nicolas Sarkozy pronuncia-se sobre a interdição dos minaretes na Suíça num tom ilusoriamente moderado e potencialmente perigoso. O perigo consiste em três confusões que fortalecem a extrema-direita.
Em primeiro lugar confunde a legitimidade do referendo em França sobre a Constituição europeia em 2005 com a legitimidade de um referendo sobre a construção de edifícios religiosos de uma minoria. E acusa os críticos do referendo suíço de «desconfiarem do povo». A minha resposta é simples: no primeiro caso os franceses pronunciaram-se sobre um texto que iria afectar a sua vida. No segundo caso a maioria dos votantes decidiu sobre a vida religiosa de outras pessoas. Invocar o povo para confundir os dois casos é desonesto. O povo deve decidir sobre o que lhe diz respeito. Pelas mesmas razões acharia bem, ainda que não seja costume, que o «povo» de uma religião (uma comunidade religiosa) decidisse por voto como é que devem ser construídos os seus edifícios religiosos. Absurdo é que decida como devem ser construídos os edifícios de outra comunidade menos numerosa.
Em segundo lugar expõe uma bizarra concepção de direitos humanos. Sarkozy escreve do seguinte modo o seu ponto de vista: «Les peuples d'Europe sont accueillants, sont tolérants, c'est dans leur nature et dans leur culture. Mais ils ne veulent pas que leur cadre de vie, leur mode de pensée et de relations sociales soient dénaturés. Et le sentiment de perdre son identité peut être une cause de profonde souffrance.» O direito humano que preocupa Sarkozy é o dos povos europeus conservarem a sua identidade naturalmente acolhedora e tolerante. Qualquer pessoa que estude a História da Europa na primeira metade do século XX, incluindo a do regime de Vichy, não conseguirá engolir esta visão. A tolerância europeia foi o resultado de uma Guerra Mundial, não brota como as flores nos prados. Pior ainda é Sarkozy não associar os sentimentos de perda de identidade e os sofrimentos respectivos às mudanças sociais, à crise económica, às mutações tecnológicas, mas referir a questão apenas do contexto da presença em França de minorias religiosas – neste caso um eufemismo para o islão.
Em terceiro lugar, a sua crítica à «ostentação e provocação religiosa» e o seu apelo a uma prática religiosa discreta esconde uma discriminação. Por que raio é que um minarete há-de ser «ostensivo» e uma peregrinação a Lourdes não? Sarkozy usa a «identidade nacional» da França para definir o que é religiosamente correcto. E para deslocar o debate de questões económicas e sociais para o da imigração e da relação com minorias religiosas. Onde é que eu já li isto?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Identidade Nacional: Proponho que se discuta o caso dos polícias que andavam a roubar imigrantes legais

A França está em pleno debate sobre a identidade nacional, o grande debate de toda a sociedade que Sarkozy desejou, e que o seu ministro da imigração e identidade nacional (sic) tornou realidade (sobre o que já escrevemos aqui no Peão . A coisa está deveras interessante. Para começo de conversa, o ministério da identidade nacional enviou umas circulares com instruções sobre o que se devia discutir no tal grande debate nacional, e lá constava a relação entre a imigração clandestina e a delinquência (toda a gente sabe que esses malandros vêm para cá só para roubar, mas vindo do ministério tem outra legitimidade); só que depois o tal tema desapareceu dos documentos oficiais, como quem não quer a coisa. É o actual ministro, Besson, a seguir as pisadas do seu antecessor, Hortefeux, que acha que um árabe numa reunião do seu partido é uma coisa boa, quando há muitos árabes juntos é que é um problema; mas depois também veio dizer que não disse aquilo que tinha dito. Neste debate lá está também, como não podia deixar de ser, o presidente da junta, na circunstância de Gussainville - uma terriola com 40 habitantes -, eleito pela UMP de Sarkozy, que acha que este debate é essencial porque "está na altura de reagir, pois que senão vamos ser todos comidos" porque eles são "já 10 milhões pagos por nós para não fazerem a ponta dum corno"; está bom de ver, este também não é racista (vale a pena ler a justificação que faz jus ao velho "pior a emenda que o soneto"). Vá-se lá saber porquê há quem no próprio partido da maioria ache que a coisa não está a correr bem e se distancie da iniciativa.

Ora, se é para discutir a relação entre a imigração e a criminalidade eu sugiro humildemente que se discuta este caso ocorrido a semana passada em Paris, que demonstra definitivamente que existe uma relação causa-efeito entre imigração e criminalidade: dois polícias da secção encarregue da imigração ilegal entram numa loja de telemóveis, propriedade de imigrantes, sob pretexto de levar a cabo um controlo de identidade, e de passagem pela caixa dão uma baixa no imigrante. Podem ver o vídeo aqui em baixo, e sim, são mesmo polícias, no exercício das suas funções, sigam o link para ler a história toda.


Evo Morales reforça esquerda socialista na Bolívia

Na Bolívia, depois do banzé na rua levantado pelos grandes grupos económicos, o presidente Evo Morales foi reeleito com c. de 63% dos votos nas eleições realizadas no domingo passado. O candidato dos grandes interesses, Ryes Villa, ficou à distância de mais de 35% dos votos. Além disso, o Movimento para o Socialismo obteve acima de 2/3 dos lugares no parlamento e no senado. Uma das suas primeiras promessas a concretizar será o levantamento do sigilo bancário para investigar fortunas suspeitas (dica daqui). O pior já passou na Bolívia, já não há margem para ameaças de guerra civil. E o cartoon de Boligan, mostrando um Morales pesaroso, perdeu a sua razão de ser, em termos de humor da pessoa, não de humor artístico. Ainda bem.

O Brasil à beira duma Assembleia Constituinte?

Um mega-caso de corrupção similar ao «mensalão» está a revolver a política brasileira. A revelação surgiu na sequência duma investigação policial com o sugestivo nome de Caixa de Pandora. O presidente Lula da Silva já veio condenar o escândalo e sugerir uma Assembleia Constituinte após as eleições de 2010, para fazer uma revisão da lei eleitoral, considerada um dos focos da desgraça.
Mas outras propostas já estão no terreno, por iniciativa da sociedade civil, como a Campanha Ficha Limpa, da rede Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e já com mais dum milhão de aderentes. Oxalá os políticos as saibam acolher.
Para grandes males grandes remédios. A ver vamos.

O mundo precisa dum Acordo pra valer!

E por isso mesmo centenas de ong's de todo o mundo juntaram-se num derradeiro esforço de sensibilização e pressão junto dos decisores políticos reunidos desde ontem na Cimeira da ONU sobre Mudança Climática, em Copenhaga. Nesse sentido, para o próximo sábado estão já previstas 1700 vigílias em 110 países. Está na hora!

Como refere uma das ong's organizadoras, a Avaaz, «O mundo inteiro, incluindo 200 organizações da sociedade civil que representam milhões de indivíduos, bem como muitos governos e praticamente todos os especialistas e cientistas climáticos estão se unindo em torno do que está sendo chamado de um "Acordo pra Valer" - que se traduz em 3 pontos chave: justo, ambicioso e vinculante. São metas concretas para deixar clara nossa demanda, impedindo políticos de disfarçarem resultados medíocres como uma vitória heróica».

Como antecipou a Paula Tomé, 56 jornais de 44 países publicaram ontem um editorial conjunto: «14 dias que vão definir a opinião da História sobre uma geração». Ele é bem claro e grave; só não vê quem não quer...

Além do site da ONU acima fixado, e da sua campanha pró-acordo, a organização dinamarquesa tem também um atraente site próprio para acompanhar o evoluir desta longa cimeira, que só finda a 18 deste mês.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

80 anos de Zeca

Há uns tempos atrás, em conversa com amigos galegos e portugueses, apercebemo-nos algo contristadamente que a celebração de José Afonso em terras lusíadas era uma prática discreta, ao passo que na Galiza era ainda uma figura muito popular e exaltada. Parece-me que esta é uma percepção que já terá passado na mente de muitos portugueses. Pois bem, na de alguns de certeza: recentemente irrompeu um projecto singular de tributo ao cantautor da resistência e revolução, há muito desejado por muitos. Trata-se do projecto «80 anos de Zeca», que assim se apresentou: «Somos um conjunto de entidades que decidiram juntar-se para celebrar a vida dos 80 anos de José Afonso, entre 2 de Agosto de 2009 e 1 de Agosto de 2010».

Para que conste, tem este blogue homónimo, onde apresenta a programação mensal e lista as dezenas de associações e simpatizantes que aderiram a esta iniciativa. E já tanta música correu nessas linhas, e nós na ignorância até revermos o blogue de jrd... Ainda se vai a tempo de apanhar o comboio, descendente...

Prostituição em Copenhague

prostitutas - clave do sul

Sexo Sustentável x Sexo Grátis. É isso mesmo. Como resposta à campanha da prefeitura de Copenhague para reduzir a prostituição na cidade, um grupo de prostitutas decidiu oferecer sexo gratuito aos delegados que participam na Conferência sobre Mudança Climática da ONU (COP-15). Para tanto, basta apresentar a credencial oficial e pronto. O cidadão terá momentos bem calientes sem desembolsar um centavo sequer. Será tudo no peito (e supostamente em outras partes do corpo também).

Para obter sucesso na empreitada, a prefeitura chegou a entrar em contato com 160 hotéis, recomendando que eles não apresentem prostituas aos seus hóspedes. Em parcerias com ONGs, foram distribuídos cartazes onde se lê: “Seja sustentável. Não compre sexo”. Aliás, como perguntar não dói, o que seria sexo sustentável?

A tal COP-15 tem como objetivo alcançar um acordo para determinar um corte das emissões de gases que provocam o efeito estufa, além de buscar um consenso para financiar os países em desenvolvimento, para ajudá-los a enfrentar os efeitos da mudança climática. A reunião, que contará com a presença de mais de 100 líderes de Estado e de Governo, começa hoje na capital dinamarquesa e se estenderá até o próximo dia 18.

Bem, entre a prostituição real e a com que os líderes mundiais tratam as questões ambientais defendo a real. E da mesma forma que as profissionais do sexo simulam orgasmos para satisfazer seus clientes, com os governantes não será diferente. O encontro de Copenhague servirá apenas para mostrar ao mundo a continuação do fracasso que foram o Encontro do Rio (Eco-92) e o Protocolo de Quito. O objetivo da COP-15 é na verdade apenas político. Os chefes de Estado virão à capital dinamarquesa posar de bonzinhos para seus eleitores e se justificarem à opinião pública. Querem apenas ficar bem na foto oficial num verdadeiro jogo de cena.

Vai abaixo o curta-metragem “Please Help The World”, filme que foi apresentado durante a cerimônia de abertura da COP-15. O curta foi criado exclusivamente para o encontro e a direção é de Mikkel Blaabjerg, com produção da Zentropa RamBu. No outro vídeo, a música de Bob Dylan, “A Hard Rain’s A Gonna Fall”, foi adotada como hino não-oficial da Conferência.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Crónica duma morte anunciada

No regresso a Marrocos duma viagem ao estrangeiro Aminetu Haidar, activista pela autodeterminação do povo sarauí, escreveu num documento «Sara Ocidental» no espaço destinado à nacionalidade, território este sob ocupação militar marroquina desde 1975. Por causa disso foi detida pelas autoridades marroquinas, interrogada, privada de telefone e passaporte, e expulsa do país, juntamente com os seus filhos, tendo voado para Lanzarote, a ilha de Saramago. Como forma de protesto por não poder regressar à sua terra, iniciou uma greve de fome, no dia 14/XI. Ontem tentou regressar, mas foi novamente proibida. Irá prosseguir até ao fim, já o garantiu. Os médicos consideraram crítico o seu estado de saúde.

Perante isso, o premiê espanhol cometeu um duplo e grave erro: 1.º) rejeitou a intermediação por parte do rei espanhol; 2.º) em vez de recorrer à forte arma de pressão que seria a ameaça de boicote da admissão de Marrocos à UE, optou insensivelmente pela opção mais fácil: «“Às vezes, como é normal, surgem dificuldades, mas deve prevalecer o que é do interesse geral [para o país]”».

Resposta de Haidar: «“Volto a dizer, o Governo de Espanha é cúmplice de Marrocos e ambos os governos querem empurrar-me para a morte”, denunciou Haidar.».

É duma estupidez tamanha esta opção do governo espanhol. Zapatero irá pagar caro este erro tremendo.

Como diz o actor espanhol «Bardem: ’Si Haidar cierra los ojos, el Gobierno de España será verdugo’».

Em uníssono...


O The Guardian e outros 56 jornais europeus, incluindo o Público, vão publicar amanhã um editorial idêntico sobre as alterações climáticas. A iniciativa inédita visa mostrar a Copenhaga que este problema não tem fronteiras.

E o menino gosta mais do papá ou da mamã? Tem que escolher, não pode gostar dos dois.

Segundo Rogério da Costa Pereira Liedson não percebeu que a selecção portuguesa não é um clube, não percebeu a escolha que fez, não percebeu que Portugal passou a ser o seu país, não percebeu que não pode estar dividido. A nacionalidade é portanto para ser gozada em regime de exclusividade, para adquirir o cidadania há que renegar o passado, não se pode amar dois países ao mesmo tempo, não se pode ter identidades misturadas. Jean-Marie Le Pen não diria pior.

Congresso sobre emigração na Europa do Sul

Quinta e sexta-feira haverá, na FCSH-UNL, um congresso sobre emigração na Europa do Sul.
Será uma boa oportunidade para ouvir investigadores espanhóis, italianos e franceses (além dos portugueses obviamente) e para abordar, duma forma ampla e pluridisciplinar, os vários movimentos de população neste espaço geográfico.


Quando Dickens brindava com vinho do Porto

O Sr. Tupman reiterou o seu desejo ardente de ir à festa; mas, não achando resposta nos olhos escurecidos do Sr. Snodgrass, nem no olhar absolutamente abstraído do Sr. Pickwick, concentrou-se com aplicação no vinho do Porto e na sobremesa que acabavam de chegar à mesa. O criado retirou-se, deixando o grupo apreciar aquele par de horas sossegadas que se sucedem ao jantar. [...]
Passaram o vinho e pediram mais. O convidado falava e os pickwickianos ouviam. O Sr. Tupman sentia cada vez mais vontade de ir ao baile. O semblante do Sr. Pickwick iluminava-se de uma expressão de filantropia universal; e o Sr. Winkle e o Sr. Snodgrass dormiam profundamente.
Lisboa, tinta-da-china, 2009, p. 52/3 (v.o. de 1837)


PS: livro da colecção Ricardo Araújo Pereira, que também o prefaciou e apresentou ao vivo e a cores!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Um caso de estudo de descoordenação administrativa

Afinal, o «muro da vergonha» da Damaia (no último troço da CRIL) não é só culpa da Estradas de Portugal mas também da falta de coordenação com os serviços municipais de Lisboa e Amadora. A revelação foi feita pelo vereador da CML Nunes da Silva, a quem nos referimos em post recente, e é um caso de estudo de como não se deve fazer obra pública em Portugal:

«Já o vereador Nunes da Silva explica que as alterações ao projecto, que têm "um impacto brutal", foram feitas depois os serviços de saneamento das câmaras de Lisboa e Amadora terem manifestado a sua oposição a que se mexesse no colector de esgotos que faz a ligação ao Caneiro de Alcântara. O grande problema, diz este vereador eleito pelo movimento dos Cidadãos por Lisboa, é que isso foi feito "sem que os decisores políticos da Estradas de Portugal e das câmaras tivessem sido confrontados com essa situação"».

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Campanha de higiene pública


No Berlusconi Day - sábado, 5/XII, 14h - manifestações simultâneas pela destituição do premiê italiano em dezenas de cidades de todo o mundo, incluindo Lisboa (Praça Luís de Camões).

Um homem dividido vale por dois

De repente, o grande escritor «maldito» Luiz Pacheco voltou a estar na berlinda. Ainda bem, pois merece-o.

Associando-se ao trabalho de levantamento sistemático da produção escrita e gráfica de Pacheco pelo alfarrabista Luís Gomes (da Livraria Artes e Letras) e pela sua editora (Publicações D. Quixote), a Biblioteca Nacional de Portugal co-organizou a exposição «Contraponto: 1 homem dividido vale por 2» (até 27/II/2010 na Galeria da BNP) e co-editou o respectivo duplo catálogo, que «procura reunir a dupla faceta de autor e editor». Os catálogos intitulam-se Luiz Pacheco - 1 homem dividido vale por 2 e Contraponto- bibliografia.

A Contraponto a que aludem foi uma editora por si fundada em 1950, e onde foram divulgados grandes escritores portugueses e estrangeiros, sobretudo «de vanguarda».

Entretanto, em recente leilão, a BNP havia já comprado parte do espólio do artista, incluindo diversos textos seus (literários, recensões críticas a livros, provas tipográficas de Crítica de Circunstância), entrevistas e correspondência trocada com intelectuais e artistas.

Mais informações no site Luiz Pacheco - Portal oficial não-oficial, idealizado por João Tito. Textos do Peão sobre Luiz Pacheco: I e II.

«Sabés una cosa pueblo, es el mundo al revés»

Tal como previmos aqui, no Uruguai o novo presidente é o candidato da coligação de esquerda Frente Amplio, José Mújica, que garantiu esta 2.ª feria a vitória na 2.ª volta das presidenciais. Aí as eleições foram justas, ao contrário das Honduras. E o discurso de vitória do ex-guerrilheiro tupamaru foi bem mais interessante que o do pseudo-congénere hondurenho, começando pela epígrafe deste post: «Sabés una cosa pueblo, es el mundo al revés».

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O «ultra-transmonto» do cartoon

São os últimos dias duma exposição rara, a de caricaturas de Vasco, na Ler Devagar da Lx Factory. Embora pequena dá para recordar alguns dos seus melhores momentos dos últimos 50 anos. Para quem quiser dar uma mirada pela mostra, que acaba este sábado, pode ver as imagens desta reportagem da A.23, de Ricardo Paulouro e Ana Carvalho. Aí também se acede a um bom perfil do artista.

Humor do autor, mas em palavras, pode ser apreciado na polémica série da «Breve História de Portugal», depois continuada na revista Eito Fora, com trocas de galhardetes com um político mais pressuroso...

Nb: imagem retirada daqui.

O interesse nacional é lixado

Hoje os funcionários da câmara municipal andaram a presentear os lisboetas com caixotes de lixo para reciclagem. Na minha rua inclinada já havia um trio de grandes boiões para receber lixo de vidro, papel e plásticos/metais na base da rua e outro no cimo. Mas chegou o momento de uma nova fase do processo: retirar os grandes boiões nos extremos da rua e introduzir caixotes maneirinhos de reciclagem no interior de cada prédio, mais próximos da fonte do lixo. A operação camarária deparou com resistência para não escrever insurgências. Uma velhota minha vizinha refilou contra os homens que lhe queriam atufalhar o átrio de entrada do prédio com três caixotes de tampos coloridos. O funcionário camarário declarou, formal e solene: «Todos temos de contribuir. Portugal tem quotas para cumprir.»

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cimeira Ibero-Americana exige reposição da democracia nas Honduras

É uma declaração de peso, e bem clara, a que a XIX Cimeira Ibero-Americana aprovou a propósito da situação política nas Honduras. Aqui fica o essencial da mensagem político-diplomática:

«As chefes e os chefes de Estado e de Governo dos países ibero-americanos condenam o golpe de estado nas Honduras e consideram inaceitáveis as graves violações dos direitos e liberdades fundamentais do povo hondurenho. Neste contexto, consideramos que a restituição do Presidente José Manuel Zelaya ao cargo para o qual foi democraticamente eleito até completar o seu mandato constitucional é um passo fundamental para o retorno à normalidade constitucional».

Aguarda-se, com expectativa, os próximos passos por parte dos usurpadores do poder.

Nb: na imagem, o presidente legítimo das Honduras, Manuel Zelaya, deposto pelas armas.

A Igreja Católica e o referendo suíço

O Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano, deu conta, na edição de 30 de Novembro de 2009, dos termos em que a conferência episcopal suíça comentou os resultados do referendo que proíbe a construção de novos minaretes: «um duro golpe para a liberdade religiosa e a integração»; «uma tendência que complica as coisas para os cristãos que vivem em países onde tal liberdade é já limitada»; «um obstáculo, mas também um grande desafio, no caminho da integração no diálogo e no respeito recíproco». Os bispos católicos suíços sublinham que a situação prejudicou os «cristãos oprimidos ou perseguidos nos países islâmicos» e «a credibilidade do seu empenho nesses países.» (já não há link directo para a edição diária e a edição semanal ainda não está disponível - ver aqui uma referência ao texto).
Em Portugal há movimentos católicos empenhados na realização de um outro referendo que vai abrir a caixa de Pandora. O referendo sobre o casamento homossexual pode desencadear uma campanha homofóbica. Na mesma caixa estão a islamofobia, a xenofobia e todos os outros medos que saltarão cá para fora assim que a palavra «referendo» for pronunciada para tomar decisões sobre a vida privada dos outros, sobre os direitos de minorias. Esquecemos demasiado depressa que todas as minorias são relativas. Como os bispos suíços lembraram, também os católicos são minorias em países de maioria muçulmana. Não perguntes portanto que minoria viu os seus direitos limitados. Quando os direitos de uma pessoa são ameaçados, os direitos de todos são ameaçados.
PS Uma associação judaica criticou a interdição dos minaretes na Suíça e lembrou que há um século outro referendo suíço serviu para proibir o ritual judeu de matar animais (ver aqui). Deve acrescentar-se que Sarkozy comentou os resultados do referendo nos seguintes termos: «(...) esta é a prova de que as pessoas, na Suíça como na França, querem manter a sua identidade»; que Angela Merkel declarou ambiguamente: «Os resultados do referendo suíço são para ser levados a sério»; que Le Pen aplaudiu a proibição dos minaretes; que a extrema-direita holandesa quer fazer um referendo sobre o mesmo assunto na Holanda. Os minaretes suíços podem ser pontas de um iceberg esmagador.