quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

São quase todos pretos, Ou quase pretos, Ou quase brancos quase pretos de tão pobres

O Haïti é aqui!
Nada como uma catástrofe natural para por a nu as desigualdades; não me lembro de exemplo mais claro do que este sismo no Haïti.
A primeira república de negros, escravos que se revoltaram e declararam a sua própria libertação quando a Revolução Francesa ainda hesitava se haveria de abolir a escravatura ou não. Em 1794 a revolta dos escravos na então Saint Domingue levou à abolição de facto da escravatura antes que ela fosse declarada oficialmente em Paris. Toussaint Louverture foi o líder que começou a organizar um estado digno desse nome na então próspera colónia francesa. Quer dizer, próspera para os 30000 colonos brancos, mas autêntico inferno para os 500000 escravos negros. Quando Napoleão Bonaparte decidiu re-estabelecer a escravatura (1803), os ex-escravos recusaram o regresso à antiga condição, e venceram o exército de Napoleão (chefiado pelo seu cunhado). Toussaint Louverture, esse foi preso pelos franceses e não sobreviveu: primeira das tragédias do Haïti, mesmo antes de nascer. Mesmo sem Louverture a República do Haïti foi declarada em 1 de Janeiro de 1804. Pagaram caro a ousadia, pagam ainda hoje. A génese do Haïti só pode parecer bela para os idealistas que ignoram a realidade e as coisas práticas. Por exemplo, em 1825 para que a França reconhecesse a independência e renunciasse à soberania da antiga colónia, o Haïti teve que pagar 90 milhões de francos-ouro (inicialmente o valor era de 150 milhões), o que demorou mais de 60 a pagar e com as consequências que se pode imaginar nas finanças do país. O Le Monde publicou um excelente artigo sobre a história do Haïti, que talvez ajude a perceber como chegaram as coisas ao estado actual. Talvez esteja na hora de, finalmente, a comunidade internacional dar uma mão ao Haïti.

Deixo o link para mais duas organizações, a acrescentar a muitas outras, que procuram donativos para colaborar na ajuda humanitária ao Haïti: a HERO, para as necessidades imediatas, e a fundação "Architectes de l'urgence" para o esforço de reconstrução, que esperemos não tarde muito (pode ler-se aqui uma entrevista do presidente desta organização).

A foto é retirada do Flickr de Carel Pedre, um jornalista Haitiano, que tem conseguido manter-se ligado com o mundo através da internet.

1 comments:

jrd disse...

Porque os netos dos brancos de ontem nunca aceitaram o que conseguiram os avós dos negros de hoje.