quarta-feira, 31 de março de 2010

O novo fenómeno Le Pen

«Liga domina a Itália rica e quer passar a ditar a agenda política de Berlusconi»

Os vigários de Judas

O escândalo de pedofilia na Igreja Católica está a causar fortes reacções, quer nos meios católicos mais de esquerda, quer nos mais conservadores. Pedro Mexia, com quem não costumo concordar, escreveu um bom texto de opinião no Público sobre as insuficiências da carta de Bento XVI aos católicos irlandeses (bem gostava de fazer um link, mas não o encontrei). A carta tem muito que se comente e espero comentá-la quando tiver uma disponibilidade de tempo que agora não tenho.
Limito-me a reafirmar o que devia ser óbvio e parece tão difícil de perceber para alguns católicos. As intenções anti-clericais e/ou anti-católicas por detrás de críticas, ataques e campanhas acerca da pedofilia são irrelevantes nesta questão. Os católicos não devem temer ser perseguidos por dar testemunho de Cristo, mas não podem aceitar ser falsas testemunhas de Judas. Como escreve aqui o teólogo Juan José Tamayo o que está em causa é uma confiança traída. E quem traiu foram os padres pedófilos e os seus protectores na hierarquia, não as vítimas, os denunciantes de abusos e os sedentos de Justiça.

Arte clandestina


A exposição «O mundo clandestino dos jornais comunistas manuscritos nas cadeias» está acessível desde hoje ao público na Torre do Tombo, em Lisboa.
Eis uma oportunidade única para ver exemplares raros, inspirados num modernismo improvável.

terça-feira, 30 de março de 2010

Quando os vilões viram vítimas, isso é: inconsciência duns, falta de firmeza doutros e temerosidade difusa

Não tenho por hábito falar de política de futebol, que é o que isto é, mas face ao modo como este caso está a ser explorado a favor dos vilões, não posso deixar de intervir.

É assim: 2 futebolistas agrediram agentes de segurança («stewards») após um jogo, no túnel de acesso aos balneários. O incidente foi testemunhado por dezenas de pessoas, incluindo membros dos dois clubes, polícia, seguranças e... câmaras video, helas! Resumindo, Hulk e Sapunaru agrediram seguranças, o órgão responsável analisou e puniu (próximo dos limites mínimos da moldura penal existente). Tudo bem, até agora. Tudo bem, não. Houve recurso, e, como o clube penalizado tem muito poder, a maior parte dele fático, conseguiu manobrar outro organismo no sentido de reverter aquela decisão, embora sem questionar a sua legitimidade - é que estamos a falar de normas jurídicas e de interpretações por pessoas que são lentes de Direito de universidade públicas prestigiadas, por isso, daria muito alarido recriminar decisões fundamentadas (vd. «Federação altera castigos mas considera legítima interpretação da Liga»). E não é que se consegue reverter a decisão para um castigo fora da moldura, consegue afastar o respectivo responsável máximo e, mais afrontoso que isso, o presidente do clube penalizado ainda se arroga o direito de exigir uma indemnização choruda e de intimidar tudo e todos até ao final das competições nacionais do presente ano e vindouros?

Convém dizer que isto é feito em véspera de eleições nesse mesmo clube e que dará um jeitão do caraças este tipo de intervenção, sobretudo num ano em que esse mesmo clube «ficou a ver navios», ao invés do que está (mal) habituado e, por isso, prepara um ataque ao navio imparcial Fernando Gomes apresenta quarta-feira candidatura à presidência da Liga»). Sim, porque eles não dormem em serviço, nem são ingénuos.

É caso para uma ironia pesada, como faz este leitor do Público: «Hulk e Sapunaru batem nos seguranças, Pinto da Costa atropela Jornalistas e foge à Policia, o Bruno Alves distribui porrada nos adversários e com isto tudo nada acontece...!!!!».

Prova dos nove

«Petição online quer avaliação de segurança da Cordoaria para acolher Museu de Arqueologia»

ADENDA: site da petição «EM DEFESA [D]O MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA», promovida pela Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Museus; site do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia, que divulga a iniciativa.

Jornalismo cívico, em vez de informação-espectáculo

Esta é uma das principais recomendações do novo livro As notícias nos telejornais, de Nuno Gourlart Brandão, baseado numa pesquisa académica de 10 anos sobre a televisão generalista portuguesa e os seus telejornais do horário nobre.

Por detrás desta saída possível para a má situação actual nos media está a conclusão de que as 3 principais tv's generalistas (RTP1, SIC e TVI) definem o alinhamento dos respectivos blocos informativos por critérios comerciais e de audiências, olvidando assim o que é realmente relevante para os cidadãos.

Para os jornalistas que torcem o nariz a estudos sobre o seu ofício vindos da academia, dizer que o autor foi também ele jornalista durante 20 anos e não pretende crucificar ninguém, apenas aduzirr dados empíricos e teóricos para debate e reflexão.

Mais informação sobre livro e autor aqui, aqui e aqui. Outros estudos anteriores, como os de Madalena Oliveira, vão no mesmo sentido (vd., p.e., aqui).

segunda-feira, 29 de março de 2010

Novas formas de contar a história de Lisboa

Este post serve de última chamada para uma exposição fantástica que está nos seus últimos dias. Chama-se ela «Lisboa tem histórias», enquadra-se nos 100 anos do Museu da Cidade e está patente só até ao final deste mês.

O fulcro da mostra é quase um «ovo de Colombo»: apresentação de 20 personagens de Lisboa caricaturados por João Fazenda, com um subtítulo (regra geral, a alcunha) e um conjunto de peças diversificadas directamente ou indirectamente atinentes, desde artefactos arqueológicos, loiça, fotos, etc. (videozinho promocional aqui). A Sofia já aqui tinha chamado a atenção, mas vale a pena insistir.

Além desse núcleo, a mostra incluiria ainda a exibição dum filme de Abílio Leitão, «com imagens actuais dos locais da cidade que estão associados a cada um dos 20 personagens». O problema é que, ontem (e noutros dias) não estava a ser exibido, nem mesmo a pedido dos visitantes e sem que nenhuma explicação tenha sido avançada.

O Museu da Cidade era uma das coisas mais tristes do país, parado no tempo, pequeno, e tudo o que a Sofia já aqui desvelara, para nossa vergonha... Este evento prova como pequenas ideias podem ajudar a mudar as coisas, a tirar o pó à mobília, e logo as pessoas aderem: isso mesmo o atesta a significativa audiência para o pouco tempo e a pouca publicidade feita (10 mil visitantes até recentemente). E nem é preciso ter mega-espaços (isto dito, ainda assim o museu precisa de mais espaço, um outro pólo, p.e.). A este propósito, seria bom que, após fecho da mostra e caso não fosse possível incorporar a mostra na colecção permanente, incluissem uma sua versão video em tela numa das salas do museu. Seria a melhor forma de o honrar e de dar um sinal no caminho da sua necessária renovação. Também nesse sentido vai a instalação duma colecção de cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro no jardim do museu e que a Sofia também elogiou há uns dias atrás. E as exposições temporárias, claro.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Um Papa em maus lençóis


«Papa acusado de ter mais informações sobre padre pedófilo alemão»

PS: a acompanhar com o suplemento O Cão do n.º 7 da revista A.23 e com as análises de António MarujoA maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos») e de Anselmo BorgesA pedofilia na Igreja Católica»).

quinta-feira, 25 de março de 2010

Heróis do mar e imortais...

«Descoberto primeiro animal imortal»

A emergência da sociedade civil angolana: o movimento pelo direito à habitação e ao lugar

Realizou-se hoje em Benguela a marcha «Não partam a minha casa», contra as demolições forçadas que até agora desalojaram 20 mil pessoas na província angolana de Huíla.
Foi organizada pela associação Omunga, apoiada por muitas outras ong's e individualidades (vd. lista aqui), incluindo por membros da Igreja católica local, como o arcebispo do Lubango (cuja declarações podem ser escutadas aqui e aqui).
As palavras de ordem foram «Não partam a minha casa, sou ser humano!» e «Não me obriguem a viver em tendas, tenho dignidade!».
Mais inf. aqui.

Wallerstein: o capitalismo colapsa e duas alternativas confrontam-se

A conferência que o cientista social Immanuel Wallerstein deu ontem em Lisboa (e aqui anunciada) já está disponível em linha, para quem esteja interessado em ouvir este grande pensador dissertar sobre a evolução do sistema-mundo desde 1945, o ocaso em curso do capitalismo e as duas saídas possíveis e antagónicas que presentemente se digladiam.
PS: resumo da aula magistral aqui.

O desperdício que se devia combater

Se a entrada de medicamentos genéricos não estivesse a ser bloqueada por vários laboratórios farmacêuticos no mercado nacional, o Estado e os doentes teriam poupado um valor que podia ter atingido cem milhões de euros em 2009, calcula o presidente da Associação Portuguesa de Genéricos, Paulo Lilaia.

A Comissão Europeia já criticou Portugal várias vezes por causa desta situação, que classificou mesmo como um «caso de estudo»*. Primeiro, num relatório preliminar sobre a indústria farmacêutica, em 2008, e depois no relatório final, no ano passado, no qual sublinhava que entre a caducidade da patente e a entrada de um genérico no mercado português passam, em média, mais de sete meses.

*O processo de entrada implica, primeiro, a autorização de introdução no mercado, que é pedida à autoridade nacional do medicamento, o Infarmed. Depois é preciso que a Direcção-Geral das Actividades Económicas (DGAE) defina os preços. O que tem acontecido é que o Infarmed concede as AIM, mas as multinacionais interpõem providências cautelares contra a a autoridade, invocando a violação das suas patentes. E os genéricos não chegam ao mercado porque a DGAE fica a aguardar a decisão dos tribunais para avançar com a definição do preço. Um processo conhecido como "patent linkage" e que não é permitido pela legislação europeia.

terça-feira, 23 de março de 2010

O empreendedorismo à la Blair

Crisis, what crisis? - Immanuel Wallerstein em Lisboa

É já amanhã que o sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein (Yale University) conferencia em Lisboa sobre «Crisis, what crisis?» (FCSH-UNL, Av. de Berna, 26C, aud.º 2, 18h).

Para além da actualidade do tema, a relevância desta reflexão remete para a sua perspectiva de estudo alargado do capitalismo, tanto em termos espaciais como temporais, de que resultou a sua monumental obra O sistema mundial moderno (1974-89)*. Não bastasse este contributo, Wallerstein abordou também outros temas relevantes, como a relação entre ideologia e poder em European universalism (2006, recenseado aqui), ou entre ciência e poder em The uncertainties of knowledge (2004, introdução e cap. 1 aqui). Apresentou ainda as suas propostas políticas, duma sociedade igualitária baseada em organizações não lucrativas, em Utopistics: or historical choices of the twenty-first century (1998).

Um cheirinho da conferência pode ser lido em «Crise grega, eurotrapalhada, bagunça nas nações ocidentais, desordem mundial?» (v. o. aqui). Outra tradução afim, dada a conexão entre guerra e crise global, é «O declínio do império americano», resumo dum seu livro homónimo de 2003.

A conferência insere-se no âmbito do Seminário Vitorino Magalhães Godinho de Sociologia Histórica Comparada, o que não é uma coincidência: tanto Godinho como Wallerstein são discípulos dum historiador francês de referência, Fernand Braudel. De resto, a este último foi dedicado o Fernand Braudel Center for the Study of Economies, Historical Systems, and Civilizations, co-fundado por Wallerstein em 1976 e em cujo site se podem ler mais textos do autor.

*este estudo foi posteriormente condensado no livro Historical capitalism, with capitalist civilization (1995), com versão em português de 2001 (vd. aqui).

Santos no país das maravilhas

«Ministro garante que não vai haver aumento da carga fiscal»

segunda-feira, 22 de março de 2010

Resta saber se Obama ficará nos anais só pelo lado bom

... a ponderar com os balanços de perdas e ganhos desta mesma reforma (vd. «A reforma da saúde nos EUA»), das guerras no Iraque e Afeganistão, etc.

Para quem acha que escola e bullying não estão conectados

«Combate ao bullying a nível internacional é centrado na escola»

O fim duma história triste

«Google acaba com censura e direcciona chineses para motor de busca em Hong Kong»

domingo, 21 de março de 2010

Corações brancos para MC Snake

«"Snake era clean, clean, 100 por cento clean", dizem amigos»

Actualização: «Um "momento de paz" para MC Snake»

sábado, 20 de março de 2010

Ideias simples com grandes impactos: elogio do projecto Limpar Portugal

A mobilização cívica: «Mais de cem mil portugueses vão limpar Portugal amanhã [é já hoje mesmo]»

Causa e evolução: «País continua sujo mas infracções por despejo de resíduos têm vindo a diminuir»

O contributo relevante da internet: «Movimentos de cidadãos já não passam sem Internet»

sexta-feira, 19 de março de 2010

Está com a pontaria afinada?

«o mundo vive uma crise sem precedentes, cujas consequências se fazem sentir em toda a parte e especialmente nos países de economias mais frágeis como o nosso. [...] Esperava-se que se tivesse aprendido a lição e se procurassem novas soluções. Mas nada se aprendeu e nada mudou» (Manuel Alegre dixit).

«Neste PEC o PS caiu numa armadilha terrível. Assumiu-se definitivamente como um partido que propõe acima de tudo as mesmas medidas que um partido de direita podia tomar e deixou cair sem cuidado as bandeiras de esquerda que ainda há dois meses eram parte do seu programa. O PS vai perder aos olhos do eleitorado muito rapidamente, com as medidas que acaba de tomar, a ideia de que afinal de contas sempre tem preocupações sociais. […] Sobre as privatizações, o Portas diz que só deve haver certas privatizações quando houver um regulador forte para não criar situações de monopólio ainda mais graves. O Portas a dar lições de esquerda a Sócrates! O PS entrou numa deriva à direita da qual vai ser muito dificil regressar sem que haja grandes alterações na direcção» (João Cravinho dixit).

Aos seus lugares, preparar...

cartoon de GoRRo (c) 2010

PECoa feliz!


Está um pouco mal amanhado, mas o orçamento não contempla o acabamento... nem os pec's destes governos de gestão privam os mais incautos de pesados sustos...

cartoon de GoRRo (c) 2010

Até a OMS exorta Portugal a ter melhores estatísticas

«Portugal deve medir desigualdades na saúde, diz OMS»

quinta-feira, 18 de março de 2010

Museu da Cidade (outra vez)

aqui falei, mal, do Museu da Cidade. Aproveito, agora, para falar bem, a propósito de três exposições (todas fora do edifício, porque dentro imagino que continue tudo igual).
No Pavilhão Preto e a comemorar os 100 anos do Museu, a exposição «Lisboa tem histórias», cruza histórias de lisboetas mais ou menos anónimos e de vários tempos com o espaço da cidade. Tirar as peças do Palácio foi mesmo uma boa ideia.
O Jardim Bordallo Pinheiro, projecto de Joana Vasconcelos para o jardim de buxo murado, tem um ambiente fantástico, entre o reforço decorativo de um jardim palaciano e a mais feérica imaginação; gatos eriçados nos muros, macaquinhos nas árvores e uma indescritível fonte digna de aquário de marisqueira.
No Pavilhão Branco (e esta exposição não sei se ainda está), Vasco Araújo pega nas gravuras oitocentas que Debret fez no Brasil e, em fimo, coloca figuras dentro de «ovos fabergé», que explicitamente representam as relações de poder entre brancos e negros. As legendas pertencem a Padre António Veira, «A pior coisa que têm os maus costumes é serem costumes, ainda é pior que serem maus.»
E todas gratuitas, é só esperar por um fim de semana de sol.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Três vidas ao espelho...

... é o título do novo romance de Manuel da Silva Ramos, que o crítico literário Miguel Real apresentará em Lisboa, ao entardecer da próxima sexta-feira, na livraria Barata (Av. Roma, 11A). A sessão começa às 18h30 e terá ainda a participação especial dos Jograis-U...Tópico.

Três vidas ao espelho é o 5.º livro que o escritor edita pelas Publicações D. Quixote e é-nos apresentado como um «romance alegre e reconfortante», «o elogio do emigrante português e dos contrabandistas da raia, que tiveram um papel crucial na economia das regiões portuguesas vizinhas da fronteira espanhola» (trecho da sinopse).

Quem ficou curioso pode ler esta recensão crítica de Rui Lagartinho (jornalista RTP) na revista Time Out ou sentir um cheirinho na oportuna pré-publicação pela revista A.23.

Com este evento o escritor covilhanense dá seguimento ao ciclo de apresentações iniciado na 11.ª edição das Correntes d'Escritas, tal como anunciei aqui.

terça-feira, 16 de março de 2010

Novas do centralismo democrático: a «lei da rolha» de PSL

O principal partido da oposição em Portugal está em congresso extraordinário por iniciativa dum dos seus dirigentes e ex-premiê, Pedro Santana Lopes. O mesmo foi convocado para ajudar a escolher o novo líder partidário que terçerá armas com o líder situacionista, em contexto de crise económico-social e de rápida erosão da credibilidade do premiê de turno.

Entretanto, nesse encontro o mesmo dirigente resolveu propor uma cláusula de punição dos militantes que se pronunciem criticamente face ao líder de turno nos 60 dias pré-pugnas eleitorais. A dita moção foi aprovada, embora à revelia dos 3 candidatos a líder, logo apodada de «lei da rolha» e tudo indica que não terá vida longa...

Convém ressalvar que a norma proposta por Santana Lopes replica o que já consta há muito nos estatutos de JS, PSOE, PSF, só para falar de organizações de esquerda, ainda segundo o próprio (já agora, também já vigorava no PSD-Madeira, uma fonte de inspiração mais provável...).

Apesar da contextualização histórica, o problema de Santana é o timing político, numa altura em que o seu partido se insurge contra a «situação» pela «claustrofobia democrática» e numa altura em que o PSD se devia preocupar com soluções alternativas de governo (estão em congresso extraordinário!).

segunda-feira, 15 de março de 2010

Questionar a política cultural

Após um cavalheiresco tempo de espera concedido à nova ministra da Cultura, o sector cultural português começou a mexer-se e a fazer propostas para uma nova política cultural. Já há alguns anos que este sector está em crise, mais concretamente desde 1995, ou seja, 15 anos!

Muito material para debate e reflexão foi saindo neste tempo* e, obviamente, muitas iniciativas positivas foram adiante, sendo uma das mais recentes a requalificação do edifício do Museu de Arte Popular, no âmbito das acções Frente Tejo SA, pondo fim a morte anunciada pelo anterior ministro . O problema é que falta uma estratégia, falta a discussão e assunção de prioridades e de regras transparentes, enfim, falta uma política clara e partilhada.

Várias das polémicas e dos impasses em áreas deste sector passam por aqui.

Aproveito para vos deixar alguns dos materiais recentes que apelam ao debate e reflexão:

>Manifesto pelo cinema português (texto e petição)

Uma carta estratégica para a animação» (II Encontro Nacional de Profissionais e Amigos da Animação)

>editorial de Raquel Henriques da Silva no n.º 68 da revista L+Arte contra o novo Museu dos Coches, justamente por novo-riquismo e falta de estratégia

Canção de Coimbra: que apoios», de Jorge Cravo (in Público e Diário de Coimbra; um cheirinho: «Falta coragem cultural a quem hipoteca a sua liberdade às playlists, às multinacionais e ao "musicalmente correcto"»)

*Uma das mais salientes foi um manifesto surgido há 1/2 anos atrás, a ver se o recupero; parte do restante vem aludido aqui.

sábado, 13 de março de 2010

Os insaciáveis (ou os outros que paguem a crise)

«No total, a REN atribuiu quase 3,2 milhões de euros em salários e prémios aos seus administradores, quer executivos quer não executivos [...]. Só em prémios, os gestores receberam, na totalidade, mais de um milhão de euros».

«Rui Pedro Soares, o antigo administrador da PT, envolvido na polémica tentativa de compra da TVI, recebeu em 2009, 1,533 milhões de euros de salários, dos quais 1,035 milhões são relativos a remuneração variável e prémios de gestão, anunciou a empresa».

«o CEO da eléctrica portuguesa [António Mexia] irá receber este ano um total de 3,1 milhões de euros [1,3 de salários + 1,8 de prémio plurianual de mandato]».

Antes, durante e depois da crise, de todas as crises, de que país for...

Nb: imagem da capa de n.º de Maio de 2009 da revista Sábado.

Para os que diziam que só se deve falar de catástrofes uns tempos depois destas passarem (a propósito da Madeira, etc.)...

(Museu Nacional de História Natural de Lisboa, R. da Escola Politécnica, n.º 58, dia 17/III, às 16h).

Educação à bolonhesa: balanço aos 10 anos pelas próprias instituições

«Estudantes e professores pouco satisfeitos com Bolonha»

Zangam-se as comadres, sabem-se as verdades...

Além disso, e apesar de ainda faltarem 30 depoentes na comissão parlamentar de inquérito ao negócio PT-TVI, fica no ar um cheiro a estória mal contada (i.e., cheia de meias-verdades e omissões) que só prejudica ainda mais os principais actores desta telenovela. E a democracia, pois a liberdade de imprensa é um dos seus pilares, por muito que haja quem assobie que isso de media é um mal menor das democracias...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Tratado do miniclima

Embora já glosada por muitos, não resistimos a registá-la aqui, para a posteridade: «Chove dentro do pavilhão? A culpa é do clima, dizem ministra e técnicos da Parque Escolar».

É que não é todos os dias que chove tanta inspiração...

Nb: outro título bem inspirado vem aqui.

Glauco (1957 – 2010)

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Após saber da morte de Glauco, diversos cartunistas prestaram homenagem ao colega. Os desenhos estão à disposição no blog Universo HQ. Entre eles, está a revista "Mad" que usou o personagem Geraldão no desenho. Aqui o seu site oficial do cartunista.

Violência mata Glauco – Conselho Consultivo do Salão de Humor

Nota Oficial

A violência em São Paulo, mais uma vez, mata e empobrece a cultura brasileira. Aos 53 anos, no auge de sua produção artística, morre assassinado por assaltantes em sua casa o cartunista paranaense Glauco Villas-Boas, radicado em Osasco.

Glauco, como era conhecido, foi descoberto pelo jornalista José Hamilton Ribeiro, então diretor do “Diário da Manhã”, em Ribeirão Preto, interior paulista. Lá começou a publicar suas tiras cômicas.

Mas, foi na 4ª edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1977, ao conquistar um dos prêmios, que Glauco foi projetado no cenário artístico brasileiro e internacional. Com seu imenso talento, criatividade, estilo único e, em especial, humor inteligente baseado no comportamento da nossa sociedade, que Glauco saltou, ainda no mesmo ano, para as páginas da “Folha de S. Paulo”.

Em 1984, a mesma “Folha” abriu espaço diário para a nova geração de cartunistas brasileiros. Glauco estava entre eles e, assim, ficou conhecido em todo o País. Surgiram seus principais personagens: Geraldão, Zé do Apocalipse, Dona Marta, Doy Jorge, Casal Neuras, Geraldinho e outros. Multimídia, Glauco também era músico e se apresentava em bandas de rock. Integrou a equipe de redatores do “TV Pirata” e do “TV Colosso”, programas apresentados pela TV Globo. Publicou livros de humor.

Em plena Era Digital Glauco continuava fiel à prancheta, desenhando à mão com nanquim. Usava o computador apenas para colorir os trabalhos, depois de escanear cada um deles. Glauco registrou, a cada momento, as transformações pelas quais passou o mundo, o Brasil. Era um profundo conhecedor e critico da alma humana, mas sempre de maneira bem humorada, provocando reflexões.

O Brasil e o mundo perdem um de seus maiores cartunistas.

Restam, diante de mais esta tragédia, as perguntas:

- Senhores governantes, até quando?
- Quantas vidas ainda faltam para que seja colocado um basta na violência?

Ricardo Viveiros
Presidente do Conselho Consultivo
do Salão Internacional de Piracicaba

Zélio Alves Pinto
Vice-presidente do Conselho Consultivo
do Salão Internacional de Piracicaba

quarta-feira, 10 de março de 2010

Blogofrase da semana

«Há uma inteligência que só a arte nos dá e que é fundamental»


Imagem: Kasimir Malévitch - Black square, 1915.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Centenário do Dia Internacional da Mulher

Foi há 100 anos que a feminista e socialista revolucionária alemã Clara Zetkin propôs a celebração anual dum Dia Internacional da Mulher, no palco da II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas. De então para cá muita água passou por debaixo das pontes, muitas lutas se travaram, muitos direitos se alcançaram e muitas transformações ocorreram.
Em Portugal, o MDM- Movimento Democrático de Mulheres inaugurou uma mostra alusiva, intitulada Dia Internacional da Mulher - um século de luzes e sombras.
Para +inf. vd. o site International Women's Day e este dossiê.

ONG's assumem novo compromisso de vigilância crítica

O recente suicídio duma criança de 12 anos no rio Tua, por agressão continuada de colegas de escola (bullying), foi o detonador duma inédita acção de solidariedade e crítica por parte dum conjunto de ong's portuguesas. Mais detalhes na carta aberta dirigida a várias entidades públicas, «Morreu para evitar agressão de colegas», subscrita pela Amnistia Internacional Portugal, AMI- Assistência Médica Internacional, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Margens- Associação para a Intervenção em Exclusão Social e Comportamento Desviante e OIKOS- Cooperação e Desenvolvimento.
Entretanto, foi aberto um inquérito policial, que finda amanhã.
Decerto também por influência da nova intervenção político-cívica de Fernando Nobre (não será por acaso que é a AMI a encabeçar a iniciativa), teremos mais destas acções no futuro próximo. Ainda bem! Venham elas, temos tudo a ganhar. Até para evitar as costumeiras reacções corporativas sem sentido, como a da Confederação de Associações de Pais, que se limitou a pedir a criminalização dos pais de crianças com mau comportamento, como se a coisa fosse tão simples.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Ainda elogiando Martin Jarrie

(a propósito deste post)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Revista do dia político

A costumeira guerra de n.ºs a propósito da greve nacional da função pública em Portugal: «Governo estima adesão à greve em 13 por cento, sindicatos em 80 por cento».

A vox populi sobre as pulsões controleiras do premiê português quanto ao espaço público: «Sondagem: Sócrates mentiu no Parlamento sobre negócio da TVI».

terça-feira, 2 de março de 2010

O ridículo também devia ser multado

Ouvi no noticiário de hoje e não queria acreditar. A partir de agora a PSP vai passar a multar os peões que não atravessem as ruas nas passadeiras do Portugal ordeiro, obediente e geométrico.
Para além do Código da Estrada estipular isso há anos e nada ter sucedido entretanto, não se percebe como as 52 mortes por atropelamento em 2009 podem ser tidas como o Rubicão da caça à multa a transeuntes menos convencionais. São 150 euros a desembolsar por quem vai apressado, incluindo as velhotas imprevidentes, que também têm direito ao seu ritmo e à sua rebeldia para com os ritmos alheios. Que dizer das velhotas que levantam a sua pensão nas estações de correios? Quando atravessarem caoticamente a rua dos CTT serão rigorosamente multadas e verão esvaziar-se o porta-moedas? É isso?
Nem sei bem o que é mais ridículo. Se a desproporção, se a falta de aposta em políticas preventivas e dissuassoras do uso de veículos.
Diz-se que o ridículo mata, mas se fosse apenas multado, não haveria polícia no Portugal ordeiro, obediente e geométrico que nos querem impingir.

Ainda há livros da Comissão dos Descobrimentos à venda

Por casualidade, ultimamente algumas pessoas têm-me perguntado onde poderão comprar livros editados pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. A Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas é a proprietária legal dessas publicações. É possível consultar a listagem das publicações para venda aqui. As obras podem ser adquiridas na livraria da Biblioteca Nacional de Portugal (actualmente explorada pela Babel), onde estão em grande destaque. São pontuais os casos de tiragens esgotadas. De muitos livros e publicações periódicas há muitos exemplares em armazém.

O elogio da ilustração de livros

Arrancou há dias a IV Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, em Lisboa, no Museu da Electricidade. Há uma dupla motivação para a sua visita: os autores expostos são muito bons e o espaço está muito bem aproveitado.
Antes da mostra internacional, têm direito a destaque o ilustrador e designer alemão Wolf Erlbruch e a argumentista portuguesa Luísa Ducla Soares, que tem os seus 100 livros disponíveis nas pontas dum mega-sofá em cruz. Entre 1600 candidatos foram selecionados 150 trabalhos. A mostra finda a 4 de Abril.
O Prémio Ilustrarte 2009 foi atribuído à belga Isabelle Vandenabeele, além de menções especiais a Martin Jarrie, Alessandra Panzeri e Alessandro Lecis. Sempre me desgostaram as menções especiais. Se querem prestar reconhecimento atribuam um prémio, nem que seja de prata ou de bronze, como se faz no desporto. Mas, sobretudo, o que me desgostou foi o verificar que o trabalho do francês Martin Jarrie é bem superior ao da belga, que foi sobrevalorizado devido à técnica utilizada. Também não se percebe a ausência de livros dos seleccionados para venda ao público.
O imaginário surrealista e o talento torrencial de Martin Jarrie dão-lhe um lugar à parte, mesmo nesse meio de grande qualidade que é o dos actuais ilustradores de livros.
Ainda assim, a mostra vale a visita, sem dúvida. Imagens das ilustrações aqui e da 'envolvente' aqui.
Para quem quiser continuar a ver ilustrações, recomendo o blogue La maison est en carton.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Portugueses revelam insatisfação recorde com os políticos da casa

A questão não é bem esta, mas sim relativa à insatisfação com a democracia. Seja como for, é recorde negativo dos últimos 20 anos, segundo o estudo «Representação política - O caso português em perspectiva comparada», organizado pelos politólogos André Freire e José Manuel Leite Viegas, do CIES-ISCTE.
Outras respostas relevantes deste estudo: os portugueses são sobretudo de esquerda, preferem governos de coligação, acham que os partidos se tornaram meros instrumentos dos seus líderes, discordam do monopólio dos partidos e gostariam de participar mais. A questão é saber como, e este estudo não responde a isso... Quanto às restantes respostas, são interpelações para reflexão de muitos.
Também a tese do anti-parlamentarismo cai por terra, para desgosto dos gaulistas e caudillos portugueses...