domingo, 5 de dezembro de 2010

A Rede Social

A Rede Social/The Social Network é o último filme de David Fincher, que persegue o enigma biográfico de Mark Zuckerberg, o qual aos 19 anos criou o Facebook e tornou-se bilionário. Várias pessoas, incluindo o próprio realizador (ver aqui) têm comparado o filme ao Citizen Kane. É claro que o cidadão Zuckerberg, como Kane, se torna um homem poderoso e controverso. Mas alcança o sucesso económico sem mostrar qualquer interesse na política, na arte, ou na opinião pública. Citizen Kane traça o percurso completo de uma personagem que, no momento da sua morte, recorda a sua infância e o que nela perdeu, insubstituível por qualquer riqueza ou poder. Na Rede Social, não sabemos a vida de Zuckerbger antes de chegar a Harvard, nem o que lhe vai acontecer. Zuckerberg é um meteoro em movimento que incendeia as personagens com que se cruza, leva algumas a acompanhá-lo e entra em colisão com outras. O filme de David Fincher é movido por alguns dos «pecados capitais» analisados em Seven (1995) – principalmente o orgulho e a inveja – e a sua personagem central não tem sombra de outros – preguiçoso não é nada. Como em Fight Club (1999), Zuckerberg luta para pertencer a um clube e acaba por criar a sua própria rede virtual, à escala do mundo.

Vi A Rede Social pouco tempo depois de rever em DVD Young Mr. Lincoln de John Ford e fiquei a remoer nos paralelismos, por contraste, entre estes dois filmes sobre dois ícones da sociedade norte-americana. Lincoln, mal surge no alpendre de uma casa de campo e no filme, é reconhecido por duas crianças que lhe sorriem e o reconhecem como uma espécie de «messias»; Zuckerberg começa por ser mandado à fava pela namorada e passa o tempo todo a tentar, sem conseguir, recompor-se do facto. Lincoln é um solitário adoptado por uma família típica norte-americana; Zuckerberg é o solitário rebelde que não é adoptado por ninguém e cuja obra é utilizada por todos. Lincoln é um advogado que salva dois inocentes de uma pena de morte e é reconhecido como um justo, levando para a política uma ideia de justiça. Zuckerberg é um réu, acusado por ex-amigos de ter pilhado ideias e traído lealdades. A perspectiva acerca da justiça não tem sido focada nas análises sobre o filme. Mas A Rede Social mostra como se entrelaçam os laços da amizade, as relações sociais, as conexões do Facebook e as teias de justiça.

1 comments:

Daniel Melo disse...

Como dizia o outro, «isto anda tudo ligado» ;)