sábado, 30 de abril de 2011

David Lopes Ramos (1948-2011): um homem bom, um grande jornalista e o mestre que nos revelou a gastronomia portuguesa

Para mim, David Lopes Ramos será sempre um mestre-artífice dos jornais, de o diário e do Público. Com ele fiquei a gostar ainda mais de ler a imprensa, pela sua escrita simples e ao mesmo tempo elegante e rigorosa. Por ele e outros como ele continuei a ler o Público.
Com ele aprendi também a partilha, a generosidade, o sentido de justiça social.
Além disso, e tal como todos os sortudos que o leram, tive o prazer de poder descobrir a gastronomia portuguesa pelo seu olhar.
É uma injustiça tremenda esta sua partida tão precoce.
Para quem quiser saber mais sobre a sua vida preenchida e o seu exemplo de jornalista, cidadão e crítico gastronómico vale a pena ler este e este textos do Público.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Francesinhas e outros chauvinismos gastronómicos

É verdade que tenho uma fraqueza por novidades gastronómicas e também é verdade que nutro um semi-secreto desejo por experimentar o Noma, restaurante dinamarquês, premiado como o melhor do mundo. Por isso, sempre que há notícias de um ou do outro tema lanço-me numa leitura interessada. Aconteceu no Público online (há um tempo já tinha saído outra versão na edição impressa) sobre o Noma, descrevendo a experiência que se há-de situar entre o gélido Mar do Norte e os bosques das sagas, até porque é política do cozinheiro os sabores locais, a sazonalidade e tudo fazer in loco. Parecia tudo bem, até chegar aos comentários da notícia. Foi com algum alarme que percebi o chauvinismo gastronómico. Depois da descrição de salivar, aos comentadores nada mais ocorria do que menosprezar a cozinha nórdica e puxar o lustro à cozinha portuguesa de uma maneira muito primitiva. Só podia elogiar tal restaurante e tradição culinária quem nunca tinha provado a comida nacional.
A comida portugesa é muito boa, todos sabemos, mas transformar isso num ponto de desmedido orgulho nacional, onde não podem caber outras gastronomias já me parece suspeito. E é claro que todos temos «tops» das cozinhas nacionais, em que enaltecemos certos países (no meu caso a Bélgica) e desprezamos outros (a Holanda), mas talvez não seja preciso fazer disso uma corrida nacionalista.

[Para os chauvinistas das praias vou só acrescentar que vi na Dinamarca das mais belas praias]

Dias depois, para acalmar os ânimos e repôr o bom orgulho português sai a notícia que a Francesinha esta no Top 10 das sandwiches do mundo.

[Ainda melhor quando pedida no Capa Negra II à chegada ao Porto. Mas isso, talvez seja só mito lisboeta]

Imagem - William Michael Harnett - For sunday's dinner. 1888.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011): o companheiro português da Escola dos Annales

Foi divulgada agora a triste notícia do falecimento dum dos maiores historiadores portugueses de sempre. Especialista na expansão lusa da era moderna, Vitorino Magalhães Godinho foi ainda uma pessoa com gosto pela intervenção cívica e pelo debate de ideias. Por causa disso, foi perseguido pelo salazarismo e teve que se exilar em França, no pós-II Guerra Mundial. Aí trabalhou com cientistas como Lucien Febvre e Fernand Braudel, expoentes da historiografia mais avançada de então. No meio do infortúnio, valeu-lhe isso. E a nós também.

domingo, 24 de abril de 2011

Mega-documentário sobre Zeca Afonso na RTP1

É já um acontecimento a exibição de «Maior que o Pensamento», documentário de Joaquim Vieira sobre o cantautor José Afonso. Tem 3 episódios, que serão mostrados a partir desta noite e nas duas noites seguintes.

Mais informação na página da RTP e na crónica de Nuno Pacheco, no P2 de sexta-feira no Público (infelizmente, este último texto só está acessível para assinantes).

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tintin no Congo vai a tribunal por racismo: está certo?

O livro de banda-desenhada Tintin no Congo, feito por Hergé em 1931, vai ser julgado num tribunal belga por acusação de teor racista. O pedido partiu dum cidadão congolês e visa a retirada do livro das prateleiras destinadas às crianças, pelo menos. A sessão foi marcada hoje para 30 de Setembro. Já foi censurado no Reino Unido e uma biblioteca pública norte-americana colocou-o sob reserva de pedido. Será que se justifica?

Apesar de ser fã do Hergé, concordo com este pedido concreto. Os adultos que quiserem que o comprem para os seus filhos. Já discordo de fitas amarelas a denunciar conteúdo atentatório. Mas há mais. Para quem quiser saber o resto pode ver aqui.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Fishman alerta: pressão «injusta» dos mercados obrigou Portugal a pedir ajuda de que não precisava, derrubou governo legítimo e ata o próximo

Da coluna deste sociólogo no New York Times, enquanto alerta para todas as democracias (via Público):

Apesar de o país ter apresentado «um forte desempenho económico nos anos 1990 e estar a gerir a sua recuperação da recessão global melhor do que vários outros países na Europa», ficou sob a pressão «injusta a arbitrária dos negociantes de obrigações, especuladores e analistas de crédito», que «por vistas curtas ou razões ideológicas» conseguiram «fazer cair um governo eleito democraticamente e potencialmente atar as mãos do próximo».

«Os fundamentalistas do mercado detestam as intervenções de tipo keynesiano em áreas da política de habitação em Portugal – que evitou uma bolha e preservou a disponibilidade de rendas urbanas de baixo custo – e o rendimento assistencial aos pobres», diz ainda Fishman no seu texto, intitulado «O resgate desnecessário a Portugal».

Neste cenário, acusa as agências de notação de crédito (rating) de, ao «distorcerem as percepções do mercado sobre a estabilidade de Portugal», terem «minado quer a sua recuperação económica, quer a sua liberdade política».

(continuar a ler resenha aqui)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Humor em sustenido - exposição do Zé dalmeida

Sob o mote «Contra a crise, sorrir sorrir» inaugura no próximo dia 15 de Abril a mais aguardada exposição da saisonHumor em Sustenido, pelo mestre Zé Dalmeida.

Será na Galeria Novo Século, na Rua do Século, 23, ao Bairro Alto. E os privilegiados terão direito a uma mostra temática de excelente escultura, cerâmica e pintura.

Como aperitivo, haverá petiscada beirã, a partir das 20h30-21h.

Que mais se pode pedir?

Leitura quaresmal

O livro de Herta Müller, Tudo o que tenho trago comigo, história de um sobrevivente de um campo de trabalho russo, guiou-me pela Quaresma. Narrativa sem Deus e que não procura um sentido, mas que remeti (talvez indevidamente) para o mais quaresmal dos livros, o do Êxodo.

Primeiro a partida, furtiva, triste, de quem não está preparado. De quem faz da caixa da grafonola uma mala, porque não tem mala, porque queria ficar. «Muita gente acha que fazer malas pertence ao rol das coisas que se exercitam, que se aprendem automaticamente como cantar e rezar. Nós não tínhamos exercício e também não tínhamos malas» (p.16).

Carregar a bagagem sem nexo para o sufocante percurso dos vagões, conduzidos pelo caminho mais longo, «longe da terra dos filisteus» (Ex. 13, 17-18). É a estrada do «deserto» que antecipa o combate, do qual não pode haver desertores.

Depois, os tijolos, o cimento. A opressão de um povo, mas sem uma sarça a arder sem Ninguém a ver (Ex. 3,7), só o medo «Eu acho que na nossa cabeça só uma coisa é ainda mais rápida que o cimento: o medo» (p.40).

E o cúmplice de tudo isto, «o anjo da fome» que fere todos os prisioneiros, marca o vazio. «Sou instruído pela fome e, por humildade, inacessível, não por orgulho.» (p.241). O tempo «da pele e do osso».

«Dou o campo de trabalho por encerrado. Desapareçam» (p.251). Uma notícia que não se sabe o que fazer com ela, o «anjo da fome» fica boquiaberto.

E outra vez, não os mesmos, nem o que resta deles, porque já são outros, vão fazer o caminho de volta, para um mundo ocupado pelos estranhos que os conheceram e amaram.

«TAMBÉM LÁ ESTIVE deve estar escrito nos tesouros […]. Sei entretanto que nos meus tesouros está escrito EU FIQUEI LÁ […] Nos meus tesouros está escrito DE LÁ NÃO CONSIGO SAIR. Quer num quer noutro há sempre exagero, mas TAMBÉM LÁ ESTIVE não existe em nenhum deles. E também não existe uma medida certa» (p. 284).

Para aqui, nos atira a Quaresma, para uma jornada, pelo caminho mais longo, para junto da incompreensão. E para aí permanecermos algum tempo. Depois vem a Páscoa. E o «anjo da fome» fica boquiaberto.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

João Botelho em grande forma!

Charge de raiva contra o anti-intelectualismo de parte da opinião publicada em Portugal, contra a ditadura do comercialóide, contra os embustes do financiamento do cinema no país, contra o monopólio duma distribuidora que ninguém ousa denunciar, contra o homogeneizado. Pela liberdade artística. Pela diversidade. Pela compreensão da diferença entre entretenimento e arte.
Com Nuno Artur Silva, Pedro Mexia e Pedro Vieira a ouvirem e a aprenderem.
«O cinema não são os argumentos»: para continuar a deliciar-se clique aqui.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Uma colecção picante, agora à mercê dos olhares mais lúbricos...


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Não há democracia sem justiça

«Economistas entregam queixa na PGR contra agências de rating [pelo "crime de manipulação do mercado"]»

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Documentário português, do PREC à actualidade


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A PANORAMA - 5.ª Mostra do Documentário Português arranca hoje no cinema São Jorge, sob o mote «Como se relaciona o documentário português com o mundo de hoje?».
Na secção dos «Percursos no documentário português» será exibida uma série de filmes sobre o cinema «no pós Abril». O filme de abertura dessa série é Cenas da luta de classes em Portugal, de Philip Spinelli e Robert Kramer.
Até 10 de Abril há muito para ver, como revela o site do evento, cheio de surpresas.