segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Tanta tecnologia de ponta e depois dá nisto

Muitos utilizadores do Gmail perderam todos os e-mails devido a uma falha técnica. Segundo o Google, o problema afectou 0,08 por cento das contas – cerca de 150 mil utilizadores.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As revoluções do momento: Líbia, Barhein e Iémen

E outras se seguirão, é quase certo (esperemos que sem a violência oficial do caso líbio).
Estamos a assistir a algo de muito especial na história mundial. Pela sua génese, pela sua extensão (do Magrebe ao Próximo Oriente), pela sua duração, pelo seu impacto plural, a um tempo político, social, económico, cultural. E, last but not the least, pelo avançar do laicismo, num quadro em que ainda se agitam os fantasmas do fundamentalismo islâmico, sem base alguma, como se pode colher da opinião dos arabistas.
Este é um impacto que não se fica só pela arábia mas que contagia actores sociais de paragens distantes, alguns bem inesperados, como a ocupação do parlamento de Wisconsin (EUA) pelos sindicatos.
A propósito da Líbia, as chancelarias ocidentais têm reagido com muita apreensão, por este ser o 4.º produtor africano de petróleo (a seguir à Nigéria, Angola e Argélia, salvo erro). O surto do preço dos combustíveis fósseis serve como prova* dos perigos dum prolongamento da violência líbia (p.e., caindo numa demorada guerra civil, o cenário mais temido). Mas as ditas chancelarias ocidentais também têm a sua quota-parte de culpa no cartório. Porque foram cúmplices destes regimes até ao máximo do grotesco, como nas recepções aos ditadores árabes, cheias de segurança, mordomias e silêncios, ou na excessiva proximidade aos mesmos (vd. caso Michèle Alliot-Marie). Deviam ter tido mais cuidado, ter instado a mais reformas políticas. Agora parece que é tarde, o que não veio pela porta da frente está o povo a arrancar a ferros, pela porta dos fundos.
Parece que é tarde mas não é; ainda podem tomar medidas: pressionar para o congelamento de contas desses figurões e a restituição dos fundos aos tesouros nacionais; estabelecer acordos conjuntos sobre recepção de imigrantes árabes; dar mais força à Turquia para servir de mediador nos conflitos; dar mais poder à ONU para promover reformas pró-democracia onde as ditaduras duram há tempo demais. E para aprofundar a democracia em todo o mundo. Pois só mais democracia trará mais esperança e segurança a todos.
*Embora seja estancada dentro de 2 semanas, por colocação de mais petróleo no mercado por parte da Arábia Saudita. Além disso, as convulsões podem ter efeitos diversos: no caso egípcio, a redução da laboração fabril e nos transportes possibilitou aumentar a sua quota de exportação de petróleo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O regresso às grandes noites europeias

Foi com uma exibição categórica, do princípio ao fim, que o SL Benfica quebrou o enguiço de não ganhar na Alemanha. Um festival de bom futebol e a confirmação do regresso às grandes noites uefeiras.
Já há uma semana atrás tinha havido espectáculo, mas então um golo solitário do Estugarda deixou no ar algumas nuvens, de um regresso às derrotas fora. Erro rotundo. Segue-se o Paris St. Germain. Redimiu-se Jesus, agora o céu é o limite.
Boa sorte também para o Braga e o Porto frente ao Liverpool e CSKA, respectivamente. Será importante ganharem para assegurar mais futebol português nas competições europeias.

Obama a surfar a onda da liberdade Árabe

Essa é a tese deste artigo de opinião de Natalie Nougayrède no Le Monde. O artigo baseia-se essencialmente no discurso de Obama de 11 de Fevereiro, que - confesso - ainda não vi nem li, mas ainda assim o artigo vale bem a pena em si mesmo. Levanta algumas questões interessantes. Por exemplo: O contraste entre Obama e Bush, o primeiro não podia previr esta onda de revoltas, mas pode aprveitá-la, o segundo escolheu a guerra no Iraque e foi o desastre (OK, esta é fácil, previsível, mas plenamente merecida). Outra: houve quem avissasse, nomeadamente diplomatas, da fraqueza doos regimes autoritários e do descontamento popular. Outra ainda: Irá a Europa ter uma atitude clara de apoio ao movimento popular que varre a África do Norte e Médio Oriente (como Obama)? A ideia é "somos todos tunisinos e egípcios" ou ficamos do lado errado da História, Obama escolheu de que lado fica. Eu acho bem, e espero que seja demontrada esta tese.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ainda só se anuncia e já causa urticária

Porque será? Não andaram todos a falar duma canção dos Deolinda como porta-estandarte duma «geração» sacrificada? Então, agora não se queixem. Não venham dizer que o apelo está mal feito, que o anúncio é inaceitavelmente apolítico, como se só os políticos do estrado pudessem fazer jogo táctico. Honra ao Vicente Jorge Silva, pelo menos não o podem acusar de falta de frontalidade: «A liberdade paga-se com a precariedade». Depois do insulto gratuito sobre a «geração rasca», uma ode ao cinismo. Continuamos, portanto, num registo de vaudeville, que vai bem com a personagem e terá decerto o seu auditório gratificador.

Detalhes do evento na página no facebook do Protesto da Geração À Rasca e em «Manifestação a 12 de Março. Adesão ao protesto da “geração à rasca” já ultrapassa as 20 mil pessoas».

PS: ressalvar que a CGTP organiza outra manif, uma semana depois.

Adenda: agora também há quem diga não gostar da letra dos Deolinda, mas com argumentos de taberna (a ler neste post irónico).

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Foi você que disse ideologia?

O cartaz aqui ao lado foi censurado pelo Ministério da Educação, há uns dias atrás, supostamente por fazer parte duma campanha considerada «ideológica». Uuuuh. E isso morde? Ok, dêmos de barato que é: e daí? Não vale a pena combater a homofobia também na escola? Cartazes na escola só para o rame-rame interno?

Ironicamente, o projecto foi patrocinado por outra entidade estatal, a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, como aqui se relata.

Parece que aquela ordem foi entretanto revogada, mas não encontrei confirmação.

PS: sugestão de leitura - «Blasfémia», de Andrea Peniche.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Olha quem fala

«Futebolistas aparecem muito mas dizem pouco», por Hugo Daniel Sousa

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Aprender a rezar na Era da Técnica

Aprender a rezar na Era da Técnica. Posição no mundo de Lenz Buchmann é um romance de aprendizagem na era do metro e da internet. Um romance de Gonçalo M. Tavares que é uma teia de micro-ficções, com capítulos que se podem ler entre duas paragens de metro. Dividido em três partes, a primeira, «Força», é dedicada à afirmação no mundo de Lenz Buchmann e do que ele tem de aprender para obter uma posição forte: aprender a fazer sexo, aprender a dominar a técnica que lhe permite ser um grande médico, aprender a dominar os homens na política. A excitação sexual perturba esta aprendizagem. A atitude perante a religião é orientada pelo aforismo: Nos pântanos os motores não funcionam. Para conquistar a sua posição no mundo, não basta a Lenz Buchmann deixar de pôr os pés na Igreja, é necessário expulsar o Espírito Santo do seu corpo.

Na segunda e terceira partes – respectivamente «Doença» e «Morte» - Lenz Buchmann é destruído pela doença. Quando está a morrer, a Igreja, a pedido de uma secretária, põe os pés de um padre no quarto do moribundo. Sem consequências, além de uma mancha de saliva na boca de Lenz. Prestes a dar o último suspiro, uma luz, vinda de um televisor, chama Lenz pelo nome e ele deixa-se ir desta vida. A posição no mundo de Lenz afirma-se sobre o fazer; as portas da morte são franqueadas por um «deixou-se ir».

Perante este enredo, o leitor pergunta-se qual o sentido do título. A resposta provisória que me ocorre é a seguinte: o título não indica o trajecto da personagem principal, mas a possibilidade que ele rejeita. Como se, numa encruzilhada, uma placa indicasse o caminho para Aprender a rezar na Era da Técnica e Lenz decidisse «não ir por aí». É a interpretação que me parece mais coerente com declarações do próprio autor. Numa entrevista ao Expresso a 6/11/2010 Gonçalo M. Tavares afirma «A crença é significativa no meu percurso» e logo observa: «Há uma personagem de Hans Christian Anderson a quem pedem para rezar, e ela só se lembra da tabuada. Depois pedem-lhe a tabuada, e só de lembra da oração. Continua a haver um conflito entre quem acredita que se vai salvar pela oração e quem pensa que vai ser a tabuada, a racionalidade, a tecnologia».

Romance indubitavelmente iconoclasta, Aprender a rezar na Era da Técnica atinge com tanta força a imagem do mundo de uma religião convencional como um mundo feito à imagem do otimismo e do fetichismo tecnológico. Devolvendo a cada leitor, com uma intensidade acrescida, as suas dúvidas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A arábia a ferro e fogo

Militares do Bahrein dispararam contra centenas de pessoas na praça Pérola

Bahrain, Libya and Yemen try to crush protests with violence 
Bahrain protest: 'The regime must fall'
Algeria braces itself for more protests demanding democracy 
Giles Tremlett: Morocco protests test the regime's liberal guise 
Interactive: see our Twitter network of Arab world protests
Oposição líbia diz que cidade no Leste “está nas mãos do povo”
Infografia: Há uma zona do mundo que está em revolução
Vídeo: Mais de 20 manifestantes mortos na Líbia

O brincalhão-mor despede-se da sua perdição

«Maior colecção de brinquedos do mundo está à venda», por Cláudia Carvalho

Os de cima nunca têm plafonds

«Chumbadas limitações às remunerações de gestores públicos [pelo PS e PSD]»

Dos motins às revoluções

Mesa-redonda dos motins às revoluções

A partir dos mais diversos pontos, de Roma a Tunes, do Cairo a Oakland, de Londres a Beirute, de Buenos Aires a Atenas, de Maputo a Sana, um conjunto muito significativo de lutas, manifestações, greves, ocupações tem vindo a ter lugar. Um elemento comum, além da assinalável capacidade de mobilização, parece ser o facto de muitas destas acções assumirem, formal e substancialmente, o questionamento não só da ordem estabelecida, mas também do padrão normalizado da luta política legal e confinada aos limites do poder de Estado. Num contexto de crise do capitalismo global, a ordem pública é confrontada com uma desordem comum que toma as ruas como o seu espaço, resgatando palavras como «revolução», «revolta», «motim». O debate que propõe a UNIPOP passa por procurar identificar que outros pontos de contacto têm estes diversos focos de luta, bem como quais são os seus limites, e perceber em que medida é que um certo efeito de arrastamento pode ou não ter como consequência a constituição de uma resposta emancipadora à crise do capitalismo global, ou seja, que articulação têm estes movimentos com o paradigma da «revolução» e de que modo o reconfiguram.

participantes: Miguel Cardoso | Pedro Rita | José Soeiro | Manuel Loff | Paulo Granjo | Ricardo Noronha
Casa da Achada # sábado, 19 de fevereiro # 15h # entrada livre
organização UNIPOP e revista imprópria (ver localização aqui)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Boas vindas ao PAN - Partido pelos animais e pela natureza

Primeiro porque é mesmo um partido e não um estafado movimento de cidadãos independentes, invariavelmente sem posição ideológica, mas que logo, logo, começam a aparecer nas lista de um qualquer partido. Depois, porque a cor da agenda dos Verdes é mais encarnada do que de outro tom.
Além disso, é importante que uma discussão mais séria sobre as questões ambientais consiga, de facto, entrar na esfera do campo político.
E vai ter um verdadeiro encanto de revival voltarmos todos a salvar o lince da Serra da Malcata.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ajude a recuperar a fortuna que Mubarak roubou

Caros amigos,
o Mubarak pode ter roubado até $70 bilhões dos egípcios - um terço da renda do país! A recuperação desta fortuna irá depender de ações imediatas de governantes ao redor do mundo.
Não há tempo a perder, os governos precisam congelar as contas do Mubarak antes que o dinheiro desapareça em um labirinto de contas bancárias obscuras - como as fortunas roubadas por muitos outros ditadores. A Suíça já congelou suas finanças e alguns ministros da União Europeia ofereceram ajuda - mas sem um chamado global imediato, a reação poderá ser lenta demais para impedir que os bilhões do Mubarak sumam completamente. 
Vamos convocar os líderes de todas as nações a garantir que o dinheiro do Egito seja devolvido ao povo. Se conseguirmos 500.000 assinaturas, a nossa petição será entregue aos ministros das finanças do G20 na reunião desta sexta-feira em Paris. Vamos assinar nossos nomes agora e divulgar a campanha! 

Assinar a petição «Congele a fortuna que Mubarak roubou»

Milhões de egípcios vivem com menos de $2 por dia e os peritos dizem que a corrupção no Egito custa mais de $6 milhões em dinheiro público todo ano. A família Mubarak se beneficiou enormemente por uma rede de contratos de negócios, esquemas de privatização e investimentos garantidos pelo governo, ao longo dos 30 anos da presidência do Mubarak. Estimativas da sua riqueza vão de 'meros' $2-3 bilhões até $70 bilhões, o que faria Hosni Mubarak o homem mais rico do mundo. 25 oficiais sênior do governo já estão sob investigação por alavancar fortunas enquanto trabalhavam para o Mubarak. 
Talvez este seja o fim da linha para governantes corruptos que escapam com fortunas intactas. A nova Convenção Contra a Corrupção da Nações Unidas, explicitamente pede que fundos adquiridos pela corrupção sejam devolvidos aos países de origem, e o governo militar do Egito já pediu para governos da União Europeia congelarem a fortuna do Mubarak. A pergunta chave no momento é se a reação será rápida o suficiente: nenhuma lei no mundo será capaz de ajudar se os bilhões do Mubarak forem espalhados e escondidos antes que as autoridades possam se apropriar deles. 
As nossas vozes como cidadãos pode ajudar o povo do Egito a continuar tendo esperança na sua revolução. Participe do chamado para devolver as riquezas do Egito ao seu povo. 
Milhões de egípcios arriscaram - e até mesmo deram - suas vidas pela democracia. Havia pouca coisa que pudéssemos fazer ao redor do mundo, além de enviar nossa esperança e solidariedade. Mas agora, nós devemos fazer o possível para restaurar a propriedade nacional roubada por uma ditadura que os nossos próprios governos toleraram por tanto tempo. 
O povo do Egito está agora preparado para construir uma nova nação. Vamos garantir que eles recuperem os fundos que foram roubados, enquanto eles constroem um futuro que poucos ousaram sonhar. 
Com esperança,
Ben, Alex, Ricken, Mia, Rewan, David e toda a equipe Avaaz.

Fontes:
Fortuna de Mubarak avaliada em 70 mil milhões de dólares»
Egito pede congelamento de bens de ex-dirigentes»
Mubarak desviou riqueza nos últimos dias no poder»
Londres investiga Mubarak mas não congela contas»
Em 30 anos, ditador obteve fortuna de US$ 70 bilhões»

Liberdade a qualquer preço?

Para além da fragilidade das provas dos serviços secretos quanto às famigeradas «armas de destruição maciça», não deixa de ser desconcertante a justificação do informante iraquiano. Uma dupla aberração. A ler em «Fonte das afirmações de Colin Powell na ONU: espião iraquiano "Curveball" confessa ter inventado programa de armas químicas», por Rita Siza.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um importante acordo para fortalecer a solidariedade europeia e para afastar pressão dos especuladores

Gérard Castello-Lopes (1925-2011), o discípulo português de Cartier Bresson

«Morreu Gérard Castello-Lopes, fotógrafo e distribuidor de cinema», por Sérgio C. Andrade e Sérgio B. Gomes

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Lisboa contada por Aquilino

«Chegámos a Lisboa na manhã tépida, de céu ambarizado por um sol que há cinquenta anos a esta parte era raro faltar à cidade que deixou de ser de mármore e granito para ser, no seu maior dimensional, de tijolo mal cozido e cimento roubado. E, conduzidos por Costa Nunes, fomo-nos hospedar no Hotel Portugal, que fazia esquina para o Largo do Pelourinho. O meu quarto era no terceiro andar. Eu via com olhos, não pasmados, que nunca soube o que era pasmo, mas abertos à compreensão, as grandes e amarelas tartarugas dos carros eléctricos vir rolando dos lados do Terreiro do Paço, tilintantes e pletóricas de gente. Logo após vinha o carro do Chora, com o automedonte de longos bigodes retorcidos a reger de chicote vivaz o tiro de três machos pimpões, o condutor de boné de pala, e atropeladamente naquela arca de Noé peixeiras, vendedeiras de hortaliça e de coelhos mansos, operários com suas ferramentas, em suma, segundo o termo das Ordenações Manuelinas, os misquinhos duma capital. O bulício ficava muito aquém do sonhado, embora me desse uma ideia numérica de disparidade em comparação com as ruas Formosa ou Direita, de Viseu. Mas a Câmara de tão bela frontaria, o pelourinho especioso, coroado pela esfera armilar, os prédios de roqueira solidez, incutiam a noção de capital dum reino, batida pelo tempo, com a velha epopeia impressa em suas pedras e arruados. Todavia não pressenti o sumptuoso, nem o deliquescente duma urbe meridional, de que os poetas e romancistas faziam cavalo de batalha nas suas especulações cantarizadas. Antes havia nela, nos habitantes, no céu, nas coisas, uma sobriedade afável que era grata de sentir. E por isto tudo, por essa desilusão literária, e porque representava para mim um degrau montante na escala dos conhecimentos, fiquei a adorar Lisboa desde esse dia.»

Aquilino Ribeiro, Um Escritor Confessa-se, Lisboa, Bertrand Editora, 2008, pp. 46-47.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

This is what hope looks like

A escritora Ahdaf Soueif acabou de ser entrevistada. Há três dias que aparece com a mesma roupa, está exausta, mas jubilante e já teve tempo de escrever mais uma pequena crónica sobre a festa da esperança no Cairo. Está aqui. Acrescento ainda que poucos minutos depois de se saber da notícia, a entrada sobre Mubarak na Wikipedia já tinha sido actualizada e dizia "Former president of Egypt".

O povo está na rua e não se vê caos nenhum, é simplesmente a festa da cidadania

E viva a festa do soberano!!!

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos...

...noutras paragens!

Os generais ou o caos

É assim que os opinion makers conservadores tugas estão a descrever a actual encruzilhada egípcia. Não sei se é papaguear dalguma cassete alheia (tipo Fox News), mas a coisa torna-se irritante, se tivermos em conta que 1) hoje é dia de festa para todos os amantes da liberdade e da democracia, 2) o dualismo não tem correspondência com nenhuma realidade histórica.

Primeiro, louva-se o povo nas ruas, corajoso e legítimo; uma vez deposto o poder fora de moda, dá-se o salto no discurso: o poder não pode cair na rua, senão é o caos. Mas o que é a rua? Simples: é a sociedade civil que tanto confusão faz a ditadores, militares e... opinion makers conservadores!

É preciso dizer que a oposição egípcia foi a votos em 2009, ao fim de 29 anos de poder autárcico e que, apesar dos resultados terem sido distorcidos por Mubarak, essa oposição foi assim reconhecida politicamente pela própria ditadura. Depois, dizer que um dos líderes oposicionistas, El Baradei (com uma frase memorável no seu twitter: «Egypt today is a free and proud nation»), é justamente reconhecido como um dos grandes quadros saídos da ONU. E a Irmandade Muçulmana, movimento islâmico, foi tão moderado no apoio à insurreição popular que passou despercebida! Os jovens adultos foram um (não o único) dos grupos sociais mais dinâmicos, como sucede em muitas mudanças políticas, nem mais nem menos, e não é a hipótese de não estarem organizados que lhes retira legitimidade e impacto.

Portanto, a questão não é a sociedade civil, mas sim o que os militares farão. Não esquecer que foram eles que apoiaram esta ditadura durante 30 anos. Resta agora saber que papel estão dispostos a representar: imporão a sua solução governativa ou serão a instituição que assegurará a transição do poder para novas elites políticas legitimadas pelo povo? Através do voto, claro, antes de Setembro, de preferência. Em eleições limpas, participadas e justas.

Há um problema no meio disto, que é o futuro da relação com Israel e EUA, mas isso não está no cerne da urgência de mudança exigido pelo povo egípcio, a julgar pelos múltiplos indícios difundidos pelos media, incluindo os árabes. Que o cinismo não vingue: não se misturem as coisas.

Tudo o resto, «caos», «poder na rua», é conversa bota-de-elástico. E para bota-de-elástico basta o Mubarak. By the way, onde pára o cromo?

Vitória!



Vejo absolutamente emocionada a festa no Cairo!

Hora H no Egipto

É já hoje a investida popular sobre o palácio presidencial e outros edifícios oficiais. Povo e exército estarão então num frente-a-frente decisivo e dramático. O que farão os militares? Repressão? Tolerância? Diálogo? A seguir com ansiedade, na estação da hora.
Entretanto, Mubarak está já fora de jogo, resumindo, veio à tv pedir para que possa ser enterrado na sua terra. Até isso estava em perigo...

Reciclar rolhas para termos mais floresta, simples e útil

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ainda de olhos no Cairo...

Na Praça Tahrir o povo egípcio esperou todo o dia. Mas Mubarak continuou a negar a soberania da vontade popular e fez um discurso inaceitável e profundamente decepcionante. Uma das jornalistas diz que o povo simplesmente não acredita no que acabou de ouvir. O mundo também não...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O espírito do Egipto

Num artigo escrito para a BBC por Ahdaf Soueif, a escritora fala da festa teimosa da revolução egípcia e de como um povo cativo reencontra a sua voz na praça Tahrir. Está excelente e pode ser lido na íntegra aqui! Na foto, a autora fala à multidão.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Auto-retrato de Aquilino enquanto jovem

A segunda edição revista e aumentada de Um escritor confessa-se de Aquilino Ribeiro (1885-1963) foi publicada em 2008 e lida por mim ao sabor do centenário da I República. A primeira edição deste texto autobiográfico de Aquilino Ribeiro saiu, postumamente, em Junho de 1974. A intenção original do autor era publicá-lo em 1961 mas, no contexto da perseguição que a ditadura lhe moveu por causa do romance Quando os lobos uivam, decidiu adiar a saída do texto. Em 1963 despedia-se de uma vida que deixou muito por contar.
O seu relato termina em 1908, a sair de Lisboa rumo a Paris - «com a minha “valise”, o meu monóculo a armar ao janota, tomei o trem de luxo. Em Salamanca entraram um cardeal e um grande de Espanha. Passada a fronteira, lá para Bayonne, subiram duas bonitas francesinhas. Ao Diabo a sisudez e o medo da vida!»

A «confissão» de Aquilino é o relato da transformação de um bárbaro (a expressão é dele) vindo das Beiras no homem de letras que se licenciará em Filosofia em Paris e casará com a filha de um advogado e banqueiro alemão. Um trajecto escrito com linhas muito tortas: estuda para a «carreira eclesiástica» em Viseu e no seminário de Beja, desiste de ser padre e abraça as ideias do livre-pensamento e do republicanismo, vagueando pela plebe de Lisboa e pela aldeia dos pais. Ganha a vida escrevendo traduções que não assina. Em casa dos pais, na Beira, justifica a cama e a roupa lavada dedicando-se à caça. Em Lisboa adere à Carbonária, uma organização que conspirava para derrubar a monarquia, e conhece de perto os regicidas Buíça e Alfredo Costa. Dá-se também com conspiradores revolucionários que não passarão à História pois morrem quando montam bombas no quarto alugado de Aquilino e se dá uma explosão. Ojovem proletário das letras é preso. As peripécias do julgamento e da passagem pela prisão, donde foge, são contadas com minúcia.

Aquando da transladação dos restos mortais de Aquilino para o Panteão, criou-se uma polémica, pois há quem o considere um regicida, ou pelo menos, um cúmplice do assassinato de D. Carlos I. Aquilino não se acusa e não me parece que reescreva a sua história com medo das represálias. A propósito da identificação de um homem que julga implicado no homicídio do rei escreve: «Se ainda é vivo, pode dormir a sono solto. Já lá vão 54 anos. Prescreveu.»

Apesar da metaformose do «bárbaro» em «janota» parisiense, Aquilino recusa o olhar de superioridade sobre o povo e a sociedade portuguesa, característico de tantos intelectuais do seu tempo e de todos os tempos. Antes se compraz em enriquecer o texto com vocábulos populares, em acentuar que é feito do mesmo barro que todos os outros e se escapou do atoleiro foi porque «Valeu-me sonhar que é um modo de propiciar as coisas e abrir o caminho à vontade.» As suas venturas e desventuras são contadas num tom picaresco. O «monóculo a armar ao janota» é o disfarce de um Sancho Pança erudito e inteligente.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

مظاهرة بميدان التحرير: حسني اتجنن...حسني اتجنن

Tenho um carinho muito grande pela cidade do Cairo onde passei uns dias excelentes, mas também pela cultura árabe em geral. Nas muitas festas a que em tempos fui havia sempre este momento que mais ou menos durava a noite inteira em que um grupo de homens dançava e improvisava letras ao som duns tamborzitos. É absolutamente contagiante e inesquecível. Este curtíssimo vídeo é uma boa amostra... Ao segundo 15 eles dizem "Condoleeza! Condoleeza! Go and get Mubarak a VISA!"

Tudo é uma prenda!

Vi recentemente um programa na BBC 4 sobre este senhora de 106 anos chamada Alice Sommer Hertz. Já tinha ouvido falar dela, mas nunca a tinha ouvido falar, foi inspirador e comovente. Hoje recebi de prenda o livro sobre a vida dela "A Garden of Eden in Hell" que vou pôr em cima da pilha de livros para ler que já vem do século passado. "A vida é maravilhosa, o amor é maravilhoso, a natureza e a música são maravilhosas. Tudo é uma prenda." Votos atrasados de um bom ano a todos!

Para que se evitem os erros de há 100 anos (embora a coisa vá na direcção inversa, é sempre melhor preseverar)


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Iémen, a revolução que se segue

Enquanto na Tunísia a mudança alastra e no Egipto um poder cego lança as suas milícias contra o povo nas ruas, a revolta popular tornou-se irreversível no Iémen.
Tal como no Egipto, também agora o presidente que estava há 30 anos no poder diz com ar cândido que é contra mandatos vitalícios e por isso abandonará o poder (vd. aqui e aqui). Um discurso assim é sempre de desconfiar, até porque o ditador não desmarcou a apreciação parlamentar da sua revisão constitucional, marcada para a 1 de Março e susceptível de viabilizar uma eleição vitalícia do presidente e o poder hereditário (cf. aqui). E porque tem usado o dinheiro do povo para comprar lealdades e não para desenvolver o país. Por isso, o dia de hoje mantém-se como o Dia da Ira, apelando a grandes manifestações. Entretanto, a pressão popular e da oposição vai marcando pontos: o simulacro de legislativas que estava marcado para Abril foi adiado sine die, que exige uma reforma política séria antes da realização de eleições.
No Egipto, perante o aparente alheamento do Exército e a obstinação do ditador Mubarak em lesar o seu povo, a pressão popular e internacional aumentou dramaticamente nas últimas horas, dado o grau de violência das milícias governamentais (vd. acompanhamento aqui). Para sexta-feira está marcado novo dia de marchas a nível nacional, com o único fito de exigir a demissão do ditador. Será mais um ultimato pacífico.
Depois da Tunísia, o país-líder do contágio pela liberdade passou a ser o Egipto, como se pode ler nesta reportagem do El País.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Gente comum - uma história na PIDE

O livro Gente comum - uma história na PIDE, que é lançado amanhã, é o resultado duma longa entrevista da ex-militante do MRPP e actual magistrada Aurora Rodrigues a Paula Godinho e António Monteiro Cardoso, também responsáveis pela respectiva introdução. Para mais informações sobre o lançamento é favor clicar na imagem.
Adenda: sobre o livro vd. também este texto de São José Almeida.