sexta-feira, 8 de junho de 2012

Endividualismo? Um debate necessário

Manuel Maria Carrilho propõe-nos uma leitura da era actual assente na adesão voluntária de todos a um consumo interminável, ao crédito sem fim e na renúncia à responsabilidade individual (tudo junto criando o tal «endividualismo»).
É uma visão muito controversa e, em certos aspectos, muito colada a uma tendência autopunitiva do estilo 'o povo gastou o que não tinha e agora tem que pagar a conta', como se a dívida maior fosse equitativa e feita pelo 'povo' (p.e., quem propôs e negociou as PPP que estrangulam o Estado?).
Além disso, o crédito fácil em Portugal começou por volta de 2000, nuns dos governos Guterres do qual Carrilho fez parte, como relembrado oportunamente em comentário no final da transcrição do artigo do ex-ministro da cultura.
Ainda assim, vale a pena ler e reflectir sobre esse texto, porque interpela o modo de debater duma certa esquerda bem pensante, que nas últimas décadas se revelou débil na discussão aberta, construtiva e não dogmática de certos fenómenos novos (p.e., o financismo, o tecnologismo e o individualismo) que minaram as nossas sociedades e democracias.

2 comments:

Fernando Vasconcelos disse...

A questão que se deve colocar é o que teria acontecido sem o crédito e sem esse consumo, venha de onde ele venha (colocando à parte os casos de policia porque esses são uma questão diferente). Ou seja precisamente a questão que nos devemos colocar é se um modelo baseado em "crescimento" é sustentável ou se antes pelo contrário o "jogo" não é mesmo de soma nula e para que uns cresçam tem de haver obviamente quem diminua ... Sejam quais forem os limites do sistema que se queira definir.

Daniel Melo disse...

Concordo, o crescimento tem sempre o problema da redistribuição da riqueza se não estiver ao serviço do desenvolvimento sustentável.