terça-feira, 30 de outubro de 2012

Está em curso uma guerra de classes, dos ricos contra os pobres e a classe média

E ela desenrola-se em várias frentes, consoante o país. Em Portugal, os episódios mais recentes são o Orçamento de Estado para 2003, cuja rejeição foi alvo de petição lançada pela comissão promotora do Congresso Democrático das Alternativas, e a ofensiva contra os estivadores dos portos portugueses.
Esta última visa impôr mais flexibilização no trabalho portuário e cortes nos salários. Segundo o governo e os empregadores, o "problema essencial da competitividade dos portos portugueses incide no custo do trabalho resultante da sua regulação". Mas o perito Alan Stoleroff discorda frontalmente: "destacam-se como mais relevantes os dados referentes aos custos comparados da exportação e importação de um contentor". Além disso, "em termos dos custos totais, Portugal está relativamente bem posicionado nos rankings calculados pelo Banco Mundial".
Que gato com rabo de fora se esconde então nesta manobra governamental e patronal? Se quiser saber continue a ler o texto de Stoleroff, «All’s fair in love and (class) war».

domingo, 28 de outubro de 2012

Lições de vida: termo de comparação, para reflexão

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os outros da colonização: ensaios sobre o colonialismo tardio em Moçambique

Na próxima quinta-feira, 25 de Outubro, será lançado o livro colectivo Os outros da colonização: ensaios sobre o colonialismo tardio em Moçambique, organizado por Cláudia Castelo, Omar Ribeiro Thomaz, Teresa Cruz e Silva e Sebastião Nascimento (Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais,).
A apresentação cabe a Valdemir Zamparoni (Centro de Estudos Afro-Orientais, Univ. Federal da Bahia, S. Salvador, Brasil).
A sessão terá lugar no Jardim Tropical de Belém - Palácio dos Condes da Calheta (R. Gen. João de Almeida, n.º 15, Lisboa), às 17h30, integrada no programa do Congresso Internacional Saber Tropical em Moçambique: História, Memória e Ciência (organizado pelo IICT).

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Manuel António Pina (1943-2012): sonho, humor e sabedoria

Poeta celebrado (Prémio Camões de 2011), escritor de livros de literatura infantil por redescobrir e cronista reconhecido por muitos (na coluna «Por outras palavras»). E ainda jornalista inovador. Um cidadão generoso, interventivo. Enfim, um homem quase perfeito.
Para mim, era o melhor cronista político da praça, tal como bem realçou Germano Silva, seu companheiro de jornada no Jornal de Notícias.
Depois deste texto de Osvaldo Silvestre («Manuel António Pina, aliás Billy the Kid de Mota de Pina») fiquei também muito curioso por ler as histórias para crianças que também servem para ensinar os adultos.
Agora é lê-lo, evocá-lo e aprender com ele. Há muito para reflectir e tentar emular.
Obituários no JN e  Público. Adeus sentido dos seus muitos amigos nas folhas do JN.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A imperatriz passeia-se pelos protectorados, parte II

Depois da Grécia, parando Atenas, é a vez da Tugalândia. Irá obrigar a dispositivo policial inédito e a barrar meia Lisboa. Custará caro e infernizará a vida dos que trabalham e vivem na capital dum país europeu. Mas então não devíamos trabalhar mais?
Ainda faltam 3 semanas para a parada, mas é melhor ir avisando: preparar os conterrâneos para o enxovalho... e os atalhos alternativos...
PS: para quem ainda embarca em milagres, aconselho a leitura do post «O golpe de Estado alemão».

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Para os detractores de Chavez, que tal o pleno tele-governamental de ontem na tv portuguesa?

Ontem à noite, um momento estalinista único: os dirigentes governativos portugueses ocuparam parte do horário nobre de todas as tv's generalistas, e isto para dizer o que já se sabia há muito: «trabalhadores e pensionistas vão pagar 70% do défice».
Pela Venezuela parece que ainda sobrou uma ou duas tv's privadas independentes. Por cá, nem isso. Aguardo ansioso os comentários dos críticos habituais de Chavez.

Despedimentos em magote regressam ao diário português de referência = um ultraje e um atentado ao pluralismo. Mas é possível contrariar esta espiral demente

O Público prepara-se para despedir 48 funcionários, sob a capa cínica da «reestruturação» e da «sustentabilidade» (em mais um uso abusivo do termo), isto num grupo empresarial que teve lucros de 62,5 milhões de euros em 2012 e que beneficia com o prestígio que este jornal lhe tem granjeado. Quando soube que 36 deles seriam jornalistas tive o mesmo espanto que muitos: mas isso é um rombo enorme numa redacção de referência!
Apesar de todas as derivas ideológicas e editoriais conhecidas dos últimos tempos, e que neste blogue comentámos (por vezes com tom duro, como na era da direcção de José Manuel Fernandes), aquele corpo de jornalistas permanecia conhecido pela sua qualidade e pluralismo.
Depois disso li testemunhos de ex-jornalistas e actuais jornalistas do Público, e foi difícil acabar a leitura. Já não foi espanto que senti mas uma profunda mágoa e indignação. Pretender despedir assim duma assentada, e com os critérios controversos que estão a ser ventilados nas redes sociais, compromete a memória e o futuro deste jornal! Um grupo de ex-jornalistas do jornal da Sonae divulgou entretanto um manifesto onde argumentar que «este despedimento coletivo é efetivamente um saneamento de quadros por discordâncias várias». A ser assim, o ultraje é a dobrar.
Por que não chega mostrar indignação, é necessário que os defensores do pluralismo se mobilizem. Entre outras coisas, podem ler e, se concordarem, assinar a seguinte petição online:
«EM DEFESA DA MANUTENÇÃO DA QUALIDADE DO JORNAL PÚBLICO E DOS PROFISSIONAIS QUE FAZEM DELE UM JORNAL DE REFERÊNCIA NACIONAL»
Eu concordei com essa petição, por isso a assinei.
Pela sua parte, os jornalistas do Público decidiram avançar com um dia de greve para esta sexta-feira. Oxalá tenho o apoio que merece.
Ainda vamos a tempo de barrar esta espiral de desrespeito pelo pluralismo e pelo trabalho alheio.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Reforma do Estado: como aplicar mal uma boa medida

A ideia de avaliar os apoios concedidos pelo Estado às fundações foi uma boa ideia deste governo. Sucede que foi muito mal aplicada, tal como demonstrou recentemente o Público: maus critérios para a avaliação, desrespeito pelas conclusões e pela meta assumida (poupança de 150 milhões de euros reduzida a pouco mais de 88), manutenção de apoios injustificados a fundações como a do PSD-Madeira, de Belmiro de Azevedo, de Francisco Manuel dos Santos. Então estes últimos não andam sempre a dizer que o Estado não deve subsidiar as empresas, e que estas devem ser independentes?
Seja como for, não faz sentido o Estado financiar a intervenção cultural e assistencial das grandes empresas com isenções fiscais múltiplas (IRC, IVA, IMI, IRS...). Nem mesmo alimentar o autêntico Estado paralelo em que se tornaram as fundações de autarquias e regiões, de par com as empresas públicas municipais (outro problema mal resolvido pelo governo: a solução certa teria sido extinguir todas estas empresas e transferir pessoal e recursos donde eles vieram, dos departamentos municipais). Urge repensar o mecenato cultural e filantrópico, para que os procedimentos possam ser mais simples, transparentes e justos.
Importa ressalvar que nem todas as fundações de autarquias e regiões deviam ser extintas ou ter menores apoios do Estado central, isso evidentemente depende duma avaliação transparente das actividades específicas e das capacidades de cada autarquia promotora. Agora, a única forma de acabar com esta gula de criação de fundações é desburocratizar o mais possível a gestão na administração pública. Criar fundações e empresas públicas mais não é do que uma fuga em frente, nova fonte de clientelismo e despesismo, e um factor enorme para desincentivar a desburocratização do Estado.
Bem aplicadas, estas reformas do Estado teriam tido um impacto muito maior na diminuição da despesa pública. Depois não digam que não há alternativas.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tão liberais que eles são

A notícia do Público de hoje, «Empresa de que Passos foi gestor ficou com a parte de leão de fundos geridos por Relvas entre 2002 e 2004», deve ter suscitado a muitos leitores o seguinte comentário: está explicado porque o primeiro-ministro não demite Relvas, mesmo após os escândalos das equivalências e a controvérsia em torno de vários processos de privatizações (p.e., RTP e ANA).
Mas há outra questão por referir: o facto destes gestores/ políticos/ ideólogos que criticam a subsidio-dependência serem os mais colados aos subsídios desse mesmo Estado.
PS: mais desenvolvimentos desta notícia aqui.

domingo, 7 de outubro de 2012

Cultura e alternativa

O regresso à Praça de Espanha é já no próximo sábado, mas agora com muito boa música.
A iniciativa chama-se «A Cultura Junta-se à Resistência» ou, na sua versão mais rigorosa, «Grande concerto - Que se lixe a troika, queremos a nossa cultura de volta».
Venham mais cinco...

Adenda: a música arranca às 17h, para poder complementar a marcha contra o desemprego promovida pela CGTP.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Resgatar Portugal para um futuro decente

Há muito que muitos de nós esperávamos por um fórum como este. O Congresso Democrático das Alternativas é um espaço inédito de reflexão, debate e propostas na vida democrática portuguesa.
Não podia ser mais completo o lema do congresso. O seu projecto de declaração, bem como as sínteses das 5 sessões temáticas, são muitos pertinentes. Aí se encontram duas coisas que não é costume no debate em Portugal: um projecto alternativo em construção, complementado por excelentes propostas e medidas para reformar as políticas públicas no sentido da justiça social e do aprofundamento democrático.
Do que pude ler neste particular, no geral achei de grande valor. Parece-me, porém, que as propostas para a política cultural ainda precisam de aditamentos; falta falar, por exemplo: 1) da necessidade de completar a rede de leitura pública, que pode ser feita com a cooperação do associativismo voluntário nos municípios cujos edis não estão receptivos a abraçar o serviço público bibliotecário (e são ainda muitos, c.1/3); 2) duma nova concepção de salvaguarda de património (que inclue o imaterial e a preservação de segmentos ainda descurados, como os arquivos do mundo da edição - editoras, livreiros, distribuidores, etc.); 3) de parcerias para aprofundar a animação cultural, a participação comunitária e a criação e fruição culturais (educação artística e cultural, reforçando curricula próprio nas escolas e serviço educativo nos museus, mas não só: também apostando em formação nas empresas, nas associações, em departamentos estatais).
Não basta proclamar bons princípios, é preciso também dizer como se aplicam, na prática comezinha do quotidiano das pessoas. Este encontro ambiciona ser um bom contributo para superar atavismos duma intervenção política corrente, muitas vezes mais preocupada em afirmar o brilho abstracto da sua retórica do que em construir alternativas reais para os cidadãos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm (1917-2012): o historiador da contemporaneidade

Foi talvez o mais inovador e completo historiador do nosso tempo, e não só pelo tríptico das eras (das revoluções, do império, dos extremos).
Recomendo a leitura dos textos evocativos do Público e The Guardian.

Federalismo em debate

Volta a falar-se de federalismo, agora como alternativa urgente para fazer face ao intergovernamentalismo que uns poucos querem impingir aos europeus. Já não era sem tempo.
Os 3.º e 4.º maiores partidos europeus, Liberais e Verdes, lançaram um manifesto em prol duma Europa federal. E o caso catalão, com a possibilidade duma independência unilateral, é para ser pensado a sério, dadas as tentações independentistas que espreitam noutros pontos da Europa: País Basco, Escócia, Padânia, Córsega, etc. Também aqui a via federalista merece debate alargado, tanto assim que o próprio PSOE alinhou agora com essa via.