terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Grândola, a tua vontade

Tem feito caminho a tese de que «Grândola, vila morena» não pode ser usada em democracia, pois foi feita em tempo de ditadura e só aí faz sentido. Dã?
Quem diz estas coisas já parou um instante para matutar no que disse? Já leram a letra? Essa canção de José Afonso é uma canção de intervenção e, como qualquer canção desse género, pode ser usada em qualquer contexto. Sendo uma canção de intervenção ligada umbilicalmente à oposição de esquerda à ditadura salazarista é compreensível que a oposição de esquerda actual que se reconhece nesse legado de luta se sinta no direito (e, para muitos, no dever ético) de a usar.
É que, para muitos portugueses, cada vez mais, este governo perdeu a sua legitimidade político-social (que não eleitoral) para governar em seu nome, e querem que o governo sai ou substitua as suas políticas de austeritarismo assimétrico por políticas de desenvolvimento e justiça social.

Outra ideia estapafúrdia é a de que as pessoas que a cantam estão a censurar quem quer falar. Como disse? Esta é bem torcida: não e não! Depois dos manifestantes cantarem, quem quer falar pode fazê-lo, tem é que aguentar um bocadinho (sendo pago com o dinheiro dos contribuintes, não há-de ser essa espera que nos há-de fazer mossa na bolsa). Todos temos direito à liberdade de expressão, certo? Então? Sobre esta questão vale a pena ler este excelente texto de Viriato Soromenho Marques chamando a atenção aos condoídos com o personagem Relvas para o deve e haver das feitorias do mesmo.

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