sexta-feira, 20 de abril de 2007

Política da campanha

Não há nada melhor do que uma boa campanha mediática governativa que provoque uma mais mediática contra-campanha da oposição partidária e dos comentadores de serviço, que, por sua vez, abafe a contra-campanha anterior contra o 1º Ministro.

9 comments:

Hugo Mendes disse...

Então é esta a tua contribuição para a discussão de "políticas concretas"??

CLeone disse...

Vide os meus comantários na caixa do post anterior.
E por mim, estou farto, bom fim de semana

João Caetano disse...

Ao longo dos últimos dias, o Hugo contribuiu com posts de elevada qualidade para um debate sério sobre qualificação vs. qualidade de vida.

O BE, num único cartaz, mostrou o rabo e provou que o seu programa político não é para ser levado a sério fora das esferas urbanas e qualificadas. E isso está muito longe de ser suficiente para um verdadeiro projecto de esquerda.

Agora, alguns dizem que esta discussão já farta porque ficou partidarizada? Quais é que são as prioridades, afinal?

Renato Carmo disse...

Foi mais o desabafo. É que no meio de tudo isto andamos constantemente a discutir campanhas. Como se estas tivessem um fim em si. E, de facto, as suas consequências reais valem muito pouco. Se cada campanha resolvesse um problema, era muito fácil fazer política.

Hugo Mendes disse...

Renato, desculpa lá, mas como o João bem lembrou ali em cima, eu não passei os meus ultimos posts a falar apenas de "cartazes"...E nem os outros posts e comentários sucessivos se referem aos "cartazes" apenas. Estão várias pessoas a discutir, no limite, a quem é que se dirige a política de esquerda, para quem falam os dois partidos em causa. Por isso disse e mantenho que o cartazo do BE é um manifesto político. Reduzi-lo ao estatuto de um mero "cartaz" é, parece-me, muito conveniente, para ver se a malta esquece depressa...:)

Renato Carmo disse...

A malta vai esquecer depressa porque como bem sabes tudo o que tem a ver com campanhas e publicidade é efémero.

"Estão várias pessoas a discutir, no limite, a quem é que se dirige a política de esquerda, para quem falam os dois partidos em causa".

Parece-me que os dois partidos falam para os públicos-alvo que lhes convêm. Não é isso que lhes garante uma identidade ideológica mais ou menos à esquerda.
Qual é tese subjacente: que o BE e o PCP (sobretudo pela mão dos sindicatos), protegem principlamente os interesses de uma elite privilegiada. Enquanto o PS defende o verdadeiro povo e os desfavorecidos?

Hugo Mendes disse...

Olha que há muita gente que se interessa pelo debate ideológico que não vai esquecer depressa. Eu, por exemplo, não vou.

"Parece-me que os dois partidos falam para os públicos-alvo que lhes convêm."

Naturalmente; mas isso é uma definição formal e, nesse sentido, acaba por ser oca. O que realmente interessa é, na prática, para "quem" é que eles falam. O gráfico no meu outro post mostra bem quais sao as preocupações do BE e as do PS.

"Qual é tese subjacente: que o BE e o PCP (sobretudo pela mão dos sindicatos), protegem principlamente os interesses de uma elite privilegiada. Enquanto o PS defende o verdadeiro povo e os desfavorecidos?"

Eu não colocaria assim, embora o que dizes não esteja errado. Há várias formas de ver as coisas. Uma delas é que o PS governa o país, e por isso a responsabilidade de ter uma estratégia de desenvolvimento global e tem de lançar medidas que respondam às necessidades prementes; o BE e o PCP falam para 5,6,7% da população (sendo que os seus públicos são diferentes) e, no limite, quando realmente pressionados, respondem aos interesses dos seus votantes. Sabemos quem é o público-alvo do BE, e por isso não espanta que o seu cartaz se dirija a quem se dirige ('O' problema é a mensagem que passa para o resto da sociedade). Portanto, por um lado, não se trata do PS ser mais 'altruista' ou 'simpático' do que os outros partidos, mas tem outras responsabilidades que o obrigam a agir de certa forma. O BE não tem que estar realmente preocupado com o abandono escolar. Ninguém que sofra deste problema, seja a família, seja o jovem, vota ou vai votar BE.

Mas por outro lado a questão é também ideológica. O PCP e BE querem ideologicamente defender uma coisa (os excluídos, etc.) mas estão presos pelo seu público a medidas e interesses particulares. No caso do BE, as contradições são mais do que muitas, porque se o PCP ainda tem implantação no que resta da velha classe operária, o BE não penetra nesse eleitorado. Por isso, é fácil ficar refém de certos interesses elitistas, e isso vê-se em muitos discursos e propostas.
No caso do PS, a ideologia - também por requisitos de governação, mas não só - é diferente, e hoje está a sofrer uma metamorfose de um partido de cariz mais estatista para um partido mais marcadamente social-democrata, e com mais preocupações redistributivas mais claras: porque sabe que o estatismo - que o PCP e BE adoram - cria, a partir de um certo ponto, redistribuições regressivas, e em vez de lutar contra as desigualdades, agrava-nas. O PCP e o BE ou não sabem ou não querem saber disso: o PCP porque quando mais crise no sistema, melhor, dado que isso provaria que o capitalismo estava 'doomed'...e o BE porque isso permitiria meter todos os seus acólitos no Estado. Depois, só depois, viriam as preocupações com o resto da sociedade - como este cartaz tão espantosamente revela.

Não vale a pena fazer demagogia e dizer que o PS defende o "verdadeiro povo", mas é verdade que procura elevar os mínimos sociais de forma compatível com o crescimento económico, porque sabe que a primeira tarefa depende da viabilidade e eficácia da segunda. A política económica do PCP levaria a um empobrecimento incrível do pais, e a do BE, partindo do princípio que tem uma (!), levaria a uma instabilidade enormissima e, a prazo, eventualmente, ao mesmo resultado que a do PCP.
Na filosofia política, eu posso identificar claros traços de Rawls na política do PS. Infelizmente, não sei o qual é fundação normativa do BE; duvido mesmo que tenha; e por isso presta-se a todos os golpes palacianos da pequena política onde acaba, para usar a expressão do João, por "mostrar o rabo".
Do PCP não falo porque não tem rumo, está apenas a ver se evita o naufrágio do barco.

Mas esta discussão é importante, a tua pergunta é boa, e merece uma resposta mais calma e sustentada.

abraço
Hugo

Hugo Mendes disse...

Uma adenda ao que escrevi: relativamente aos 'interesses' dos votantes de partidos como o PCP ou o BE - isto não invalida que essas pessoas sejam altruistas, estejam efectivamente preocupados com as desigualdades, os mais desfavorecidos, etc.. Esse compromisso ideológico, político, afectivo, existe, não tenho dúvida, e todos os dias temos provas disso. O problema não é esse. O problema é que as pessoas ACHAM que, com certas medidas ou políticas, estão a defender os underdogs e, de facto, não estão. Ou seja, X, acha realmente que com a política Y, vao beneficiar o underdog Z. E muitas vezes não vai; pelo contrário, vai piorar a situação. Por isso é que é tão importante o debate baseado nas ciências sociais, a economia, a ciencia politica, a historia, a sociologia, etc., porque isso faz-nos sair do fogo de artifício ideológico do "de-que-lado-estás-e-se-não-estás-do-muu-lado-és-de-direita" e perceber como a política, uma política inteligente, não se faz de bom coração e de 'engagement' ideológico, mas de conhecimento analítico e empírico da realidade. Muitos dos "erros", deixa-me utilizar a palavra, de pessoas do PCP ou, sobretudo, do BE, são erros de cariz "cognitivo", de desconhecimento como funcionam as coisas, de como funciona o Estado, de como funciona a economia (por isso te falava acima do problema da visão que o PCP e o BE têm do mundo e da economia em particular), e têm a cabeça cheia de coisas que foram ouvindo pela propaganda quotidiana, seja ela 'soft' (onde se insere muita da produção académica) ou 'hard'. A imensa boa vontade de ajudar os pobres e os oprimidos não chega, não chega mesmo, e por isso estamos tão dependentes do conhecimento científico sobre a realidade que, sendo imperfeito, é a melhor ajuda para aconstrução de políticas.

Queria acrescentar isto para não ficares com a impressão que toda a gente está interessada em "sacar o seu". Não. Uns estarão, mas a maioria não acredito. Há muita gente dedicada À política de coração aberto. O problema não é esse, mas é (desculpa-me eventual o paternalismo, mas sabes que eu sou franco nestas coisas): a ingenuidade e a ignorância de como o mundo funciona.
(eu sei que digo estas coisas e passo por arrogante, mas é um risco que eu corro :))

Renato Carmo disse...

Caro Hugo, toda a ideologia pressupõe uma certa ingenuidade. A ingenuidade para poder acreditar. Só isso explica a dedicação e o voluntarismo com que muitas pessoas depositaram em determindados movimentos e causas políticas e sociais. Em última instância jamais poderiam ter ocorrido certas revoluções não fora a ingenuidade com que os indivíduos se entregaram a certas causas. Em 2007 estas palavras podem parecer ridículas. E, de certa forma, são rídiculas. Mas, porra, ainda há margem para sermos ingénuos. Tu próprio defendes a tua ingenuidade. Acreditas que o PS se constrói a partir de uma certa identidade ideológica marcadamente de esquerda. Que defende principalmente os interesses das classes desfavorecidas. Afinal, também és um ingénuo. E, é por isso, que gosto de te ler e de discutir contigo.