segunda-feira, 23 de abril de 2007

Mais notas sobre as eleições francesas

A noite eleitoral começou ontem, para mim, com tons de franco optimismo, para acabar em tons de semi-depressão. Diz ali o Hugo que desta vez não houve grandes surpresas. Talvez seja verdade, se o termo de comparação forem as sondagens (a bulimia das sondagens, que quanto mais tentam tornar previsível o voto, de certa maneira mais o tornam incompreensível). Mas não deixa de ser surpreendente que, somados os votos da esquerda "clássica" (do PS para a esquerda), estes atinjam apenas cerca de 36% do total, talvez o pior resultado de sempre. E isto depois de 5 anos na oposição, de 5 anos de governo Chirac-Sarkozy, de 12 anos de presidência Chirac... Bem sei que houve muita gente de esquerda que votou em Bayrou, mas mesmo assim...

A meio da noite eleitoral (ver a France 2 foi também deprimente, com uma total ausência de informação sobre os resultados reais e uma total ausência de convidados que fizessem análise política em vez de campanha) já era claro que o maior vencedor da primeira volta seria Sarkozy. A estratégia de ir buscar votos à extrema direita resultou em pleno (quase um milhão de votos a menos para Le Pen). E é-lhe agora mais fácil virar ao centro, onde está uma clientela clássica dos gaullistas, e seduzi-lo. É preciso no entanto ver o que faz Bayrou, porque teve muito, muito voto e porque se o que ele disse na campanha sobre Sarkozy é para valer, será pouca a margem para um apoio explícito. Mas, em qualquer caso, a tarefa de Ségolène para ganhar vai ser hercúlea, vai ser peneloponaica (fazer à esquerda e desfazer ao centro e vice-versa...). Desse ponto de vista, caro Hugo, a quadratura do círculo não tem nada a ver com os sindicatos e os comunistas. É saber como ganhar, muito simplesmente.

4 comments:

Anónimo disse...

muito bem, em remate: saber como ganhar. A «esquerda» ou lá o que seja, embrenhando-se em estratégias publicitárias, de bem com o mercado,vende mas não vence nada. Só agrada aos «clientes» habituais. Em França salvou o Chirac para não ganhar o LePen! E como o horror do Le Pen vai crescendo e a esquerda diminuindo! Se essa «Sego» fizer diminuir ainda mais essas percentagens talvez inventem um candidato étnico, alternativo ou extraterrestre para acabar de vez com a república.grrrrrrr

Hugo Mendes disse...

André, eu só me referi aos sindicatos (e aos comunistas, e em contextos completamente distintos - não misturar sff) no seu papel indispensável num futuro processo de reformas eventualmente liderado por Ségolène. Mais nada. Para já, os candidatos à esquerda já disseram que apoiava Ségolène, o que é,parece-me natural (também era o que faltava ! :))

Zèd disse...

O' André, olha que não concordo nada. O Sarkozy teve um bom resultado é verdade, mas esperava-se de Sarkozy 29-30% num cenário de Le Pen a ter por volta de 15-16%. Com Le Pen nos 10,5% Sarkozy não passou muito dos 30%. Parece-me que ao deslocar-se para a direita Sarkozy perdeu votos do centro para Bayrou. Sarkozy precisa ainda de 20% para ganhar a segunda volta. Com Le Pen a apelar à abstenção e com Bayrou a aproximar-se cada vez do PS (talvez com o acordo para as legistavivas em vista) não estou a ver onde vai Sarko buscar os 20% de que precisa.

andre disse...

O Sarkozy agora vai virar ao centro e a UMP vai fazer funcionar todo um passado de aliança com a UDF, com as eleições para deputados para as legislativas de Junho próximo a servirem de moeda de compra do voto Bayrou. O desafio que se coloca a este é, portanto, grande: ou cede ou mantém a imagem de impoluto centrista que quis construir ou, mesmo, vira-se para o PS. Tens razão, Zed, as coisas estão em aberto. Mas basta que o eleitorado do Le Pen não siga os eventuais apelos à abstenção e vote contra a ameaça esquerdista e basta que metade para aí dos que votaram Bayrou (centro, centro-direita) votarem Sarkozy para a Ségolène não ter hipóteses.

Hugo, eu sei que estavas a falar de um contexto diferente. Eu é que me pus a falar desta quadratura do círculo eleitoral, que é mais urgente. Quero eu dizer: que todos os problemas da Ségolène sejam os sindicatos!

abraço

André