terça-feira, 26 de março de 2013

A contra-informação como estratégia para condicionar a opinião pública e a decisão política

Tem corrido nos media que a concessão pela troika da nova tranche de 4 mil milhões (agora 'engordada' para 5,6 m.m.) a Portugal depende de plano de cortes no valor de 4 mil milhões (a famosa «reforma do Estado» que o premiê Passos Coelho tirou da cartola no final de 2012). Sucede que isso é falso, é pura contra-informação governamental. O próprio chede da missão do FMI a Portugal, Abebe Sellassie, assegurou à agência noticiosa LUSA que não há qualquer relação entre as questões, até porque a reforma do Estado é coisa para demorar anos, apenas um atraso na libertação da verba por razões processuais, sendo que só será pago em Maio próximo (vd. «FMI volta a mostrar-se surpreendido com aumento do desemprego»; tb. em texto do DN de ontem, p. 33). Por isso não se percebe a manchete de hoje do diário i: «Próxima tranche depende de corte de 5,6 mil milhões de euros», incrivelmene copiada por outros matutinos (vd. DN aqui). Quer dizer, os assessores governamentais assobiam ao ouvido do jornalista (seja da LUSA ou directamente aos diários) e os jornais aparecem imediatamente com as parangonas pretendidas. Vale tudo?

segunda-feira, 25 de março de 2013

É oficial, Chipre é de facto o primeiro país a sair do Euro.

...pelo menos é o que argumenta Paul Krugman (entre outros). Sinceramente, com cinco países em dezassete sob intervenção da Troika em três anos (e mais alguns em lista de espera) ainda acha que o Euro se vai aguentar? Eu também não.

sábado, 23 de março de 2013

João Honrado (1929-2013), o alentejano do MUD-Juvenil

Faleceu ontem um dos últimos membros mais destacados do MUD-Juvenil. Foi preso pela polícia política em 1947, na leva que também levou Mário Soares, Júlio Pomar, José Magalhães Godinho e outros para Caxias.
Seria preso novamente em 1949 e 1962, desta última havendo eco do seu discurso de resistência.
Foi um dos principais arautos da sobrevivência do Diário do Alentejo no início da década de 1980, jornal regional de referência.
Na imagem: reprodução de desenho de Júlio Pomar, feito na prisão a 11/V/1947.

Óscar Lopes (1917-2013): uma história literária inovadora e marcante

É um dos grandes pensadores portugueses que se vai, mas ainda não é o último humanista, calma. Felizmente, ainda há muitos por cá. Foi um ensaísta influente, sem esconder a sua essência: pensador marxista. Para si, tão importante quanto a literatura era a sua intervenção cívica antifascista. A História da literatura portuguesa, lançada em 1953, vai ficar como marco. A seu respeito, vale a pena ler os depoimentos de Carlos Reis, de António Guerreiro e de Isabel Pires de Lima.
Dele respigo uma reflexão premonitória sobre a Europa, com quase 15 anos:
«Como é que vê o futuro da Europa?
A vida está ser decidida por um grupo muito pequeno de pessoas. O Parlamento Europeu tem muita pouca expressão. Todo o problema europeu está na maneira como se constrói». (in Público, 8/VIII/1999)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Governo belga denuncia 'dumping social' na Alemanha: é bom saber-se tudo sobre o modelo que alguns querem impingir à Europa, para se poder optar em consciência

Le ministre de l’Economie Johan Vande Lanotte et la ministre de l’Emploi Monica De Coninck ont décidé de porter plainte devant la Commission européenne contre les autorités allemandes afin de faire cesser le dumping social dans ce pays. (in jornal belga Le Soir, 19/III/2013)
Nb: informação em português aqui.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Ó sff, um novo amanhecer aqui para o sr. do canto!

Depois da 'solução' do Eurogrupo para o Chipre, em violação da regra decidida pela própria UE de não taxar depósitos abaixo de 100 mil euros, só resta uma saída, e não é só para o caso português. Isto se, porventura, tiverem ainda um pingo de decência. Se não tiverem, o que é o mais provável, terão que ser empurrados. Espero que por via da convergência de esforços, de programas alternativos e de eleições bem expressivas.
Nb: imagem retirada daqui.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Francisco, o 'amâricano': mudar alguma coisa para tudo ficar na mesma?

É o que parece ter sucedido com este veloz fumo branco que saiu de chaminé vaticana. A um bispo gerado em solo 'amâricano', positivo em termos de des-eurocentrização e do apoio a perseguidos pela ditadura militar argentina (apesar do seu alegado envolvimento em casos denunciados por jornalistas e grupos de defesa dos direitos humanos: cf. aqui e aqui), contrapõe-se o perfil ortodoxo em termos 'fracturantes' (ivg, casamento igualitário) e, last but not the least, uns costados já vergados por 76 velinhas. Mas, então, espera aí: não se disse que a resignação de Bento XVI era devido também ao cansaço? O 'novo' tem a mesma idade... Nova solução de transição ou um sopro renovador, ainda que não extensível às questões fracturantes?
Nb: este post foi corrigido na parte relativa ao seu passado na ditadura militar e na pergunta final.

Memórias da autoconstrução

João Baía lança hoje o seu livro SAAL e autoconstrução em Coimbra - memórias dos moradores do Bairro da Relvinha 1954-1976, versão revista da sua tese de mestrado. A apresentação cabe à historiadora Luísa Tiago de Oliveira, especialista em História oral, e ao cineasta João Dias, autor de documentário sobre a autoconstrução no Porto. O local é a livraria Pó dos Livros, em Lisboa, pelas 18h. Mais info aqui.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Meia derrota

Por muita simpatia que me possa suscitar, este tipo de discurso de Boaventura Sousa Santos é meia derrota. Se queremos, à esquerda, uma sociedade decente (mais igualitária, mais justa), e diametralmente oposta à que nos é imposta actualmente, temos que saber responder à questão: "como é que vamos pagar por essa sociedade decente?". E a boa notícia é que respostas não faltam. Por que raio estar a pôr-se à margem do debate económico? Sim, este discurso "a vida está acima da dívida" é apenas a recusar o debate económico por razões morais e ideológicas, é enfiar a cabeça na areia tipo avestruz. Isto é um tiro no pé, porque se há coisa que esta crise mostra é que a política actual é, para além de injusta e iníqua, MÁ POLÍTICA ECONÓMICA. A produtividade baixa (recessão), a dívida aumenta (ao contrário dos objectivos anunciados), e o desemprego dispara. A esquerda tem que pôr o debate económico no centro do debate político. As políticas económicas que deviam ser da esquerda já nos tiraram de crises como esta (New Deal, Marshal Plan, etc...). Há bons economistas de esquerda com propostas para sair desta crise, Paul Krugman, Joe Stiglitz (os dois são Nobel), Yanis Varoufakis, etc... A esquerda devia recuperar essas propostas e pô-las no centro do debate em vez de divagar em diletantismos estéreis.