quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

champagne

Saravá! 2009. Um bom ano pra todos. Que ele seja bem mais explosivo (no bom sentido, é claro) e efervescente (no melhor sentido). Tintim

Tchim-tchim!

Seja espumante (champagne para os mais finos), vinho, água das pedras ou chazinho, o que interessa é que vos desejamos - a vós leitores, bloggers e amigos - bons brindes nesta passagem para um ano que se prevê atribulado (ao menos, o brinde e as passas ninguém nos tira).
Deixo-vos com mais um cartoon de Mel Calman, não sem vos recomendar uma visita ao Pitecos, para vos deliciardes com as maravilhas da última ceia e outros episódios em torno dos galácticos de antigamente...
E viva 2009!!!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

“We Want the World and We Want it...Now!”

"Nossa cólera tornou-se nosso combate."

Slogans dos estudantes gregos

Encontro Nacional de Bloggers de Cultura e/ou Criatividade

A Agência Inova anunciou a preparação dum Encontro Nacional de Bloggers de Cultura e/ou Criatividade, a realizar a 8 de Fevereiro de 2009, na Exponor de Matosinhos. Tem por objectivo "reunir a comunidade de criadores de blogues, relacionados com as áreas do Património, Museus, Arte, Cultura e Indústrias Criativas, e criar um espaço informal de debate, discussão e partilha de ideias e experiências". Este evento inédito integra o Inova Fórum ou Fórum de Cultura e/ou Criatividade (FCC09), a decorrer no mesmo espaço entre 4 e 8 desse mês, e que contará com uma feira específica e debates especializados em diversos domínios da cultura, património e indústrias criativas.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

“O pior está por vir”

Advertiu hoje o general Dan Harel, sub-chefe do Estado Maior de Israel. Segundo informações divulgadas hoje pela ONU, o ataque a Gaza já deixou ao menos 313 mortos, entre os quais 57 civis (21 crianças e pelo menos 7 mulheres)

gaza

Frases - 2008 (pra rir, chorar, comemorar ou sei lá o que)

"Bombing Gaza is Israel's version of "Yes We Can!" It's electoral politics by other means."

http://www.tinyrevolution.com/

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"Yes, we can."

Barack Hussein Obama

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"Yo, si puedo."

Método audiovisual de alfabetização elaborado por educadores cubanos

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"Rosa Parks se sentou para que Martin Luther King pudesse andar. Martin Luther andou para que Obama pudesse correr. Obama está correndo para que nós possamos voar."

Jay-Z

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Cuanta felicidad nos ha traído Zapatero en esta legislatura, si es que algunos no hemos terminado de tener un orgasmo detrás de otro. Un orgasmo detrás de otro. Nunca había tenido yo tantos orgasmos. Primero los que me da mi marido y luego los que me da Zapatero, orgasmos democráticos.”

Pedro Zerolo, secretário de Movimentos Sociais do PSOE

balao 1

"Isto é um beijo de despedida do povo iraquiano, cão."

Muntader al-Zaidi, jornalista que tentou atingir Bush com os seus sapatos, durante uma conferência de imprensa em Bagdad.

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“Vayanse al carajo yankees de mierda.”

Hugo Chávez

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"Então sai fora, seu pobre imbecil."

Nicola Sarkosy

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"Mas vocês são uns cães."

Policial espanhol a estudantes brasileiros detidos sem explicação em Barajas.

gargalhadas

"Fui sempre uma mulher de palavras, mas hoje estou completamente entupida."

Maria Cavaco Silva, durante uma visita a uma escola de Maputo

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"Lamento ter dito algumas coisas que não deveria dizer."

Bush, ao fazer o balanço do seu mandato

"Isto é antidemocrático."

José Sócrates, ao ser vaiado por professores

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"Que crise? Vai perguntar para o Bush."

Lula

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"Afastarei do governo quem privilegiar interesses pessoas."

José Eduardo dos Santos, presidente de Angola

interrogação copy

"Com caráter social-democratizante disfarçado por um radicalismo verbal esquerdizante."

Jerónimo de Sousa, na abertura do Congresso do PCP, sobre o BE

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"Hoje, eu tenho de sublinhar a raça, o dia da raça, o dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas."

Cavaco Silva

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“Da mesma forma que a gente faz a reforma agrária na terra, vamos fazer uma reforma aquária na água.”

Lula, ao justificar a proposta de converter a Secretaria da Pesca em ministério

simbolo teatro

“O Zimbábue é meu.”

Robert Mugabe

domingo, 28 de dezembro de 2008

Gaza pode ter sido vítima da política partidária israelense

palestinos(2) F-16_israeli_sobrevuela_territorio_palestino

As 100 bombas lançadas pelos 60 F-16 israelenses, que mataram ao menos 230 pessoas e deixaram mais de 700 feridas, poderia ter motivação política? Como o Pedro Doria, eu não descarto esta possibilidade. Na última sondagem com vistas às eleições de fevereiro, o Kadima (de centro e no governo) ficaria com 26 das 120 cadeiras do Parlamento, enquanto o Likud (de direita e na oposição) arrebanharia 32. Antes, estavam praticamente empatados. E a melhor forma de se vencer eleição em Israel é não se mostrar fraco perante os "terroristas palestinos". Este foi o mais violento ataque de Israel à Gaza desde que foi conquistada na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Claro que é condenável as hostilidades do Hamas, com disparos de mísseis Qassam contra o sul de Israel. Mas também é condenável a reação desproporcional da Força de Defesa israelense contra os palestinos. Principalmente, se este ataque devastador teve "apenas" uma finalidade político-partidária, onde inocentes (crianças e mulheres) civis também se tornaram vítimas dessa monstruosidade. Só imaginar isso, seria nojento demais pra qualquer pessoa minimamente civilizada. Fonte.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Lorca total só no digital


É isso aí, todo o Federico García Lorca na ponta dum clique.

Na imagem, Lorca na Huerta de San Vicente, Granada, 1932. Atrás de si figura o cartaz para o grupo teatral La Barraca, desenhado por Benjamín Palencia (col. Fundación Federico García Lorca, Madrid).

Mudar de vida

Surgiu recentemente em Portugal o Movimento de Apoio aos Sem-Abrigo (MASA). Foi criado por um ex-sem-abrigo e ex-jornalista, Daniel Horta Nova. Baseando-se na sua experiência pessoal, salienta que o fim do MASA é mudar a vida dos que vivem na rua, e não simplesmente dar-lhes comida. Porque a rua também pode ser um "vício", impõe-se um plano de reinserção social para os sem-abrigo e não "associações-fantasma que só dão alimento". Para o efeito, o MASA presta-lhes apoio psicológico, técnico e jurídico. Quem quiser apoiar este movimento pode adquirir uma agenda 2009 do MASA (vd. aqui). Mais informação no texto «Daniel voltou à rua para salvar outros como ele através do MASA», de Amanda Ribeiro. Na imagem, o mentor do MASA.

Vale a pena assinar esta petição velocipédica

Peão é peão, bicicleta é bicicleta, certo. Mas, como até é uma boa combinação, sugerimos a leitura e assinatura da petição «Extensão aos velocípedes dos benefícios fiscais à aquisição de veículos não poluentes», a ser entregue no parlamento português, como forma de pressão e para que se possa debater este tema. Em ano de eleições, nunca se sabe a decisão final. O que agora se sabe é que já só faltam 780 assinaturas para que a petição possa ser levada a discussão no parlamento.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Harold Pinter (1930-2008)

Faleceu anteontem o dramaturgo inglês Harold Pinter, vítima de cancro prolongado. Escreveu 29 peças, de que se destacam «The room», «The birthday party», «The dumb waiter», «The caretaker», «The collection» e «The lover». Foi também actor e guionista (assinou o argumento dos filmes «The servant» e «A amante do tenente francês»). Pela mão dos Artistas Unidos, tive o prazer de conhecer o seu teatro, num ciclo que lhe dedicaram há uns anos atrás, em Lisboa. Os AU traduziram ainda alguns dos seus textos (vd. aqui). Foi um intelectual comprometido com as causas da esquerda. Aproveitou o discurso do Nobel da Literatura 2005 para fazer um dos mais assertivos libelos anti-guerra, fustingando os principais fautores da guerra do Iraque, Bush & Blair. Desde que ganhara o Nobel, decidiu centrar-se na poesia, tendo escrito sobre a sua própria doença, como vallera já aqui referira.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Apesar de todo o meu ceticismo em relação à data natalina,

o momento não deixa de ser um bom motivo para

abraçarmosa quem gostamos. Assim, desejo a todos

os peões e aos que aqui chegam Boas Festas.

E com muitos tintins e calorias felizes.



O pistoleiro do Texas teve direito a um sapatinho na prenda

Aforismos de hoje para a eternidade, por dá cá aquela palha! Enfim, o mais importante é que o cromo está de abalada e que aqui fica um excelente cartoon de despedida, «Queen Elizabeth & King George». A sr.ª do retrato é que é capaz de demorar um pouquito mais a sair de cena (os paleontólogos hoje fazem maravilhas), mas isso é problema exclusivo dos britânicos. A sua autora, Ann Telnaes, é editora de cartoons no Washington Post, tendo sido a segunda mulher a ganhar um Pullitzer nesta área, em 2001. Então, boas festas a todos os nossos leitores e amigos, e cuidado com a fava do bolo-rei...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

As cidades da esperança

No quadro da afirmação cosmopolita dos países e dum certo imaginário civilizacional humanista e universalista, as cidades lograram um lugar de destaque. Primeiro, impuseram-se como pólos económicos e financeiros. Depois, enquanto capitais culturais de referência: cidades como Paris, Londres e Nova Iorque foram consideradas centros de distintas fases da 'cultura ocidental'. Recentemente, tornaram-se nós de redes informacionais e comunicacionais. Nas conversas sobre vivências e viagens pessoais, é hoje corrente compararmos grandes cidades, valorizando-se normalmente a sua oferta cultural-artística, mas também certos espaços de vivência, os cafés e os jardins públicos, a gastronomia, o clima e ambiente, o relacionamento interpessoal, outros atractivos históricos, etc..
Mas as cidades não se esgotam neste ângulo. São actualmente o espaço onde vivem mais pessoas no planeta; porém, só este ano se atingiu tal valor, segundo dados da ONU, é verdade (vd. aqui). Daí que seja natural serem elas o palco privilegiado das transformações sociais, da intervenção cívica, do debate e confronto políticos e dos interesses económicos.
Nunca como agora este quadro fez tanto sentido. Num contexto de esgotamento dum modelo predador de 'desenvolvimento', assente no lucro a qualquer preço, de agudizar das desigualdades e das tensões sociais, da degradação do espaço público urbano, é desconcertante constatar como muitos dos nossos governantes (locais e não só) prosseguem no mesmo rame-rame, como se nada tivesse ocorrido, como se a mudança efectiva fosse um não lugar.
Ocorreu-me esta divagação a propósito de 2 textos do geógrafo catalão Jordi Borja, "El mercado dejado suelto es destructor de la ciudad" e "La ciudad contra el capital", cuja leitura recomendo. Neste, o autor avança algumas propostas conjunturais para alterar a actual podridão das políticas urbanas: 1) comprar as hipotecas; 2) impôr moratórias; 3) proibir a distribuição de benefícios ou dividendos ao sistema financeiro; 4) obrigar a dar créditos ao tecido empresarial pequeno ou mediano. E, a um nível estrutural, iniciativas que travem as dinâmicas especulativas por detrás da bolha especulativa que agora rebentou um pouco por todo o lado: reformar a legislação urbanística para se impor quotas relevantes para habitação social (20%) e a preços controlados (60%), recuperar 90% das mais valias urbanas, penalizar fortemente as operações urbanizadoras segregadas da cidade compacta, criar uma banca pública hipotecária e impulsionar um programa de transporte colectivo em detrimento do crescimento urbanizador da rede viária.
Enfim, ideias oportunas e válidas, nenhuma sequer 'revolucionária', mas que significam uma vontade política de contrariar o conformismo, o laissez-faire, o que para muitos é já uma ousadia intransponível. Por isso, a sua viabilidade impõe que se criem "amplos" movimentos sociais, capazes de pressionar no sentido da sua materialização, pois só com os governantes que temos já lá não vamos. Ficam aqui também como propostas para as cidades do peão, a começar por Lisboa e Porto, cidades sobre as quais aqui temos falado com mais profundidade e atenção, mas extensíveis a todas as grandes cidades do mundo actual.
Porque o lugar para renovar a democracia é justamente a cidade, como sintetiza outro ensaista reconhecido, Jesús Martín Barbero.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Graffito politicamente incorrecto mas adequado à quadra

Lisboa, algures no Chiado, c.2007 (talvez já nem exista...).

Espírito Natalino (3) - Triburbana - #Navidad (JOU, JOU, JOU)

domingo, 21 de dezembro de 2008

“Yo, si puedo” cubano acaba com o analfabetismo na Bolívia

bolivia A partir de hoje a Bolívia se declara território livre de analfabetos e se converte no terceiro país latino-americano a erradicar o analfabetismo, depois de Cuba (1961) e Venezuela (2005).

Esta proeza foi ratificada pela Unesco e realizada num período recorde de quase três anos (tempo em que Evo Morales está no poder), quando o país passou de 15% para menos de 4% de iletrados. Este é no número que a Unesco considera para declarar qualquer nação alfabetizada.

A alfabetização foi realizada com o método audiovisual "Yo, sí puedo" ("Sim, eu posso"), elaborado por educadores cubanos do Instituto Pedagógico Latino-americano e Caribenho e aplicado na Bolívia desde 2006. Depois da Bolívia, o "yo, si puedo" será aplicado no Paraguai e na Nicarágua. E o Brasil como é que fica, hein sr.  presidente Lula?. Mais aqui (português) e aqui (castelhano).

sábado, 20 de dezembro de 2008

“O Zimbábue é meu”.

Robert-Mugabe-460x276 Pressionado internacionalmente pra deixar o poder, foi com essas palavras que Robert Mugabe resumiu o que o Zimbábue representa para ele. Mais.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Espírito Natalino (2) - the wall, a prenda israelense

palestino_noel_APPalestino vestido de Pai Natal protesta, em Belém, contra a “barreira de segurança” que vem sendo construída por Israel na Cisjordânia. Esta barreira nada mais é que uma tentativa israelense de tomar territórios nos quais pretende-se fundar um Estado Palestino livre e soberano.

Foto AP

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Franco e seu cavalo saem de Santander

franco_AP(1)Clique na imagem pra ler a notícia na íntegra.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

E por falar em sapatada... Sapateado.

"Para mim, o flamenco é uma religião”.

Antonio Gades (1936 – 2004)




EUA fora: é a América Latina para os latino-americanos

Pela primeira vez desde a independência de seus respectivos países, a América Latina vai se reunir sem a tutela dos EUA (ou dos ex-colonizadores Espanha e Portugal). Trata-se da primeira Cúpula (Cimeira) América Latina-Caribe (CALC), que começa hoje na Costa do Sauípe, na Bahia. Finalmente, o Tio Sam foi barrado no baile. YES!!!! Mais aqui e aqui.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O galo de Barcelos e outras histórias...

Sendo o galo de Barcelos um dos ícones da portugalidade, é curioso como tão pouco se sabe sobre a sua criação, enquanto peça artesanal e enquanto símbolo. Sim, porque isto de criações, mesmo na vertente mais longue durée da cultura popular tradicional, tem uma origem, por muito longínqua ou vaga que ela possa ser.
Não, não estou a referir-me à lenda sobre o galo de Barcelos, mas sim à fixação desta figura do artesanato popular como ícone da portugalidade. Foi o salazarismo que o consagrou (naquele formato padronizado a preto e encarnado, com um coração inscrustado a pontilhado e base azul desmaiado, repetido ad nauseum), anexando-o ao seu programa de nacionalização e domesticação de aspectos «castiços» do folclore português. Na euforia nacionalista dos «magriços» de 1966, o galo de Barcelos foi vestido de cavaleiro medieval, calçado com chuteiras e de bola nos pés, como relembra Ana Santos. Em pleno PREC, os anarquistas desmontaram o ícone no seu cartaz «Ruim por ruim... vota em mim!...», figurando um exemplar atazanado. Há quem se lhe refira como um falso emblema nacional, mas a renovação do artesanto local por artistas populares como Rosa Ramalho, irmãos Baraça, Mistério e Júlia Côta, entre outros, permitiu que ele não ficasse refém dum estereótipo nacionalista, embora o comércio prossiga na sua uniformidade cansativa e, agora, transfronteiriça (o made in China tem sido o quebra-cabeças dos de Barcelos).
Há uns anos atrás, deparei-me com um artigo que falava da invenção deste ícone na I República. Infelizmente, não consigo localizar esse texto, mas não é de surpreender a datação, pois esse foi um período de redescoberta e reinvenção dum país com base nalgumas das suas tradições, costumes, gentes, monumentos e paisagens, fosse numa perspectiva mais de esquerda ou de direita. A título de exemplo, veja-se o Guia de Portugal, lançado por Raúl Brandão.
Vem este arrazoado a pretexto do último programa televisivo Câmara Clara, onde falaram dois peritos em museologia, Joaquim Pais de Brito e Raquel Henriques da Silva.
O tema era museologia e, a dada altura, saltou-se para o Museu de Olaria, onde está patente, até 2010, a mostra antológica «Rosa Ramalho: a colecção», dedicada à famosa artista popular barcelense.
O Museu da Olaria tem um grupo de amigos, a Amimuola, a exemplo dos Amigos do Museu do Trajo, de S. Brás de Alportel, e doutros. Este tipo de associações são um fenómeno novo, pois antes era exclusivo dalguns museus nacionais, como o MNAA ou a Cinemateca. São uma boa ideia, pois ajudam a promover estes museus locais e, desse modo, o próprio desenvolivmento local.

E por falar em cães...

Poema do cão ao entardecer



Um cão no areal corria presto.
Presto corria o cão no areal deserto.

Era ao entardecer, e o cão corria presto
no areal deserto.

Corria em linha recta, presto, presto,
pela orla do mar.

pela orla do mar, em linha recta,
presto, o cão.

Era ao entardecer.
No areal as águas derramadas
nas angústias do mar
lambuzavam de espuma as patas automáticas
do cão que presto, presto, corria em linha recta
pela orla do mar.

Sem princípio nem fim, em linha recta,
pela orla hora espessa, peganhenta e húmida,
em que um resto de luz no espasmo da agonia
geme nas coisas e empasta-as como goma.
No espaço diluído, esfumado e cinzento,
corria presto o cão no areal deserto.
Corria em linha recta, presto, presto,
definindo uma forma movediça
que perfurava a névoa e prosseguia
pela orla do mar, em linha recta,
focinho levantado, olhos estáticos,
fixando o breve ponto onde se encontram
além de todo o longe
as rectas que se dizem paralelas.

Alternavam-se as patas na cadência,
na cadência ritmada do movimento presto,
deixando no areal as marcas do contacto.
Presto, presto.

Como se um desejo o chamasse, corria presto o cão
no areal deserto.
O ritmo sempre igual, a língua pendurada,
os olhos como brocas, furadores de distâncias.

Em seu último espasmo a luz enrodilhou
o cão, o mar, o céu, o próximo e o distante.
Era um suposto cão correndo presto, presto,
num suposto areal, realmente deserto,
por uma linha recta mais suposta
que o areal e o mar.
mas presto, presto, sempre presto, presto,
correndo o cão no areal deserto.


António Gedeão - Poemas póstumos (1984)

“É O BEIJO DE DESPEDIDA, SEU CACHORRO!”

Iraquiano insulta cães ao compará-los com Bush.


domingo, 14 de dezembro de 2008

Espírito Natalino (1)*


*Não dá pra falar de punk brasileiro sem passar pela Garotos Podres. Formada em 1982, a banda paulista se diferenciava das demais pela “raiva” e simplicidade com que tocava e por sua música carregada de crítica social e política. Algumas de suas canções se tornaram grandes clássicos do punk brazuca. Entre elas, destaco a versão da “Internacional Socialista” (vídeo aqui), “Anarquia Oi”, “Johnny” e “Papai Noel FDP". Só por curiosidade: Mao, idealizador e vocalista da banda, foi um antigo militante do movimento sindicalista (trotskista) e atualmente é professor e doutor em História pela USP.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O regresso dos debates plurais à esquerda

A partir deste domingo retomam os debates plurais sobre o papel da esquerda na política actual, ambos em Lisboa.
O primeiro é o Fórum «Democracia e serviços públicos» e, como o próprio nome indica, visa debater que serviços públicos deve a esquerda propor no presente. Está dividido em painéis sobre economia, educação, cidades, trabalho e saúde, culminando numa sessão final. Nele intervirão políticos, sindicalistas e intelectuais das mais diversas proveniências e sensibilidades- Manuel Alegre, Manuel Carvalho da Silva, Ana Drago, Helena Roseta, Cipriano Justo, Paulo Sucena, José Maria Castro Caldas, José Reis, André Freire, João Rodrigues, entre muitos outros. Será na Universidade de Lisboa, entre as 11h e as 17h de domingo (mais inf. aqui e reflexão aqui).
O outro intitula-se Crise, oportunidade de viragem - para onde queremos ir?, é organizado pelo movimento Nova Esquerda e juntará algumas daquelas figuras, enquanto promotores, aos debatedores Jorge Sampaio, António José Seguro, Florival Lança, Ricardo Paes Mamede e Ulisses Garrido (vd. mais inf. aqui). Decorrerá na 2.ª feira, no Hotel Zurique.
Eis duas boas ocasiões para repensar o papel das esquerdas, a governação e as políticas públicas.
Adenda post forum 1: todos os painéis tiveram lotação esgotada, com parte dos ouvintes de pé, e muito participação do público no debate, pelo menos no painel a que pude assistir, sobre Cidades, com intervenções de bom nível. A sessão final teve uma Aula Magna praticamente cheia, e foram inspirados os discursos de Maria do Rosário Gama, Ana Drago e Manuel Alegre. Mais inf. sobre o fórum e seu impacto aqui, aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Parabéns a Manoel de Oliveira

Na passagem dos seus 100 anos de vida, Manoel de Oliveira merece um reconhecimento público, pela sua obra ímpar e pela sua personalidade humanista.
É com agrado que tenho acompanhado a homenagem que os media lhe estão a prestar por esta data (destaco o trabalho do Público). Vai ao arrepio duma certa tendência portuguesa para só homenagear as figuras públicas post mortem. Esta é uma tendência oriunda dum certo conservadorismo e elitismo, obcecado com certas figuras dum longínquo passado pátrio mitomizado. Pelos vistos, vai passando, ainda bem.
Manoel de Oliveira merece plenamente este reconhecimento. É lugar comum para uma certa opinião dizer que os seus filmes são chatos e lentos. Dos filmes que vi discordo.
O mais antigo que dele vi, Douro, faina fluvial, é um filme vanguardista para a época, pleno de movimento e surpresa, com o rio, o Porto e as suas gentes como personagens fortíssimos, combinando ficção e documentário (a 2.ª imagem do post é deste filme). Segue-se Aniki Bobó, na mesma cidade e em torno do quotidinao dum grupo de miúdos, um dos melhores filmes portugueses dos anos 40.
Acto de Primavera dá-nos a ver a representação da Paixão de Cristo por uma comunidade aldeã transmontana, num dos melhores documentários sobre o teatro popular tradicional e sobre o papel da tradição oral. A caça, também dos anos 60, é um filme incomum e será certamente alvo de revalorização. Non ou a vã glória de mandar é uma reflexão oportuna sobre a história de Portugal, desde a época moderna à actualidade, interpelando-nos quanto ao nosso conhecimento e perspectiva sobre a história, a mitografia e a política na construção dum discurso sobre a portugalidade.
Só não gostei do documentário Lisboa, parece que o cineasta não estava à vontade com o tema, em contraste com os filmes sobre a sua cidade natal, o Porto.
Como não tenho agora mais tempo, resta-me renovar as felicitações e desejar muitos mais filmes a Manoel de Oliveira.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Espírito Natalino

Conforme prometi, Madonna foi a última praga (digo praga pra não ser obsceno)

deste mundo que postei. De agora em diante, brindo-vos com coisas mais leves

e digeríveis. É o meu “espírito natalino” ao sabor dos tintins das taças de cristais.



Comunismo e nacionalismo em Portugal

O historiador José Neves lança amanhã o livro Comunismo e nacionalismo em Portugal, na liv.ª Pó dos Livros (19h). Com o subtítulo Política, cultura e história no século XX, esta obra é a versão adaptada da sua tese de doutoramento e será apresentada por António Borges Coelho, João Leal e Carlos Maurício. A editora tinta-da-china continua a reforçar a sua colecção de bons ensaios em ciências sociais, sem receio de arriscar em novos autores e obras de fôlego, o que é de felicitar.
Este destaque tem duplo cabimento, já que o ensaio oriundo das ciências sociais é pouco divulgado em Portugal, dedicando-lhe os media um espaço mínimo (alguns jornais reduziram mesmo a secção de recensões). A aposta e acolhimento dadas por editoras como a tinta-da-china, a Campo das Letras, a Minerva, a Livros Horizonte, a Afrontamento, etc., mostra que este tipo de livros têm um público interessado (veja-se a multiplicação de livrarias de fundos e de feiras com grande presença do ensaio), susceptível de ser ampliado através duma melhor divulgação. E que não faz sentido reduzir a edição à literatura de ficção, por muito boa que esta seja. As bibliotecas municipais e outras instituições públicas também podiam contribuir para uma maior formação e sensibilização de públicos, por ex., organizando ciclos temáticos e/ou convidando autores.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Nos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Amanhã, celebram-se os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Este documento, aprovado em assembleia geral das Nações Unidas, contém os direitos básicos duma vida condigna para todos, incluindo direitos civis, sociais e culturais (sem discriminação de religião, «raça», cultura, convicções políticas), defesa da democracia, etc..
O mais difícil tem sido passar das palavras aos actos.
Nesse sentido, a Amnistia Internacional apela aos governos para que a efeméride "seja uma data de acção e não apenas de celebração". A AI dá o exemplo, com a sua iniciativa Maratona de Cartas, procurando que o maior n.º de cidadãos enviem 5 apelos urgentes em nome de 5 vítimas dos direitos humanos que precisam da solidariedade alheia (realizará ainda outras iniciativas).
Além dum programa de comemorações a decorrer ao longo do ano, a UNESCO lançou um n.º especial da sua revista SHS views. A última SHS views uma entrevista a Fanie du Toitao, director do Institute for Justice and Reconciliation in South Africa, think tank sul-africano distinguido com o UNESCO Prize for Peace Education (vd. "Social justice is about making concrete decisions"). A revista inclui ainda o calendário das iniciativas da ONU.
Em Lisboa, a Casa do Alentejo celebra a efeméride no dia 11 (18h), com Baltazar Garzón discursando sobre «A Declaração Universal: Guantánamo, Argentina, Chile e uma nova consciência cívica». A apresentação caberá a José Saramago, homenageado na véspera, por ocasião dos 10 anos do Prémio Nobel da Literatura (vd. aqui).
A imagem é retirada deste site brasileiro dedicado aos direitos humanos, também com muita informação útil.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mundo Animal


Uma câmera de vigilância de uma estrada de Santiago (Chile)
gravou imagens
de um cão andando entre carros em alta
velocidade para “salvar”
outro cão atropelado e já morto.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Madonna, meu último post sobre as desgraças deste mundo

Madonna

Só agora me dei conta. Ando a postar muitas coisas pesadas que andam por este mundo insano que o Big Band criou e Deus fez o favor de piorá-lo nos 7 dias que andou por cá, onde só inventou uma porrada de pecados e nem uma virtude sequer para as pessoas de-boa-vontade. E vejam só, até com um tal casal meio hippie, meio porra-louca e ocologicamente corretos (que sequer marijuana fumavam) da época ele implicou. Para preservar e em respeito ao espírito natalino que já anda a solta pelos shoppings, hiper-mercados, lojas de departamentos e por todas as ruas comerciais do Ocidente, decidi ser este é o meu último post sobre todas as desgraças do planeta, como se fosse um arauto dos finais dos tempos. Assim, peço-vos desculpas pra anunciar mais uma praga (prometo ser esta a última do ano) que se abateu sobre esta já sofrida e miserável América Latina: Madonna. É. A mulher invadiu estas bandas e deverá atingir o Brasil (este mesmo brasil do tal deus brasileiro) logo-logo. E o pior de tudo é que não há qualquer profilaxia pra esta merda.

Mugabe encontra o remédio contra o cólera: proibir o aperto de mão

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A cacetadas. É assim que a polícia do ditador Robert Mugabe tratou médicos, enfermeiros e sindicalistas que protestaram ontem, em frente ao Ministério da Saúde, contra a epidemia de cólera, que já fez 565 cadáveres, contaminou mais de 12 mil pessoas e ameaça se alastrar pelos países vizinhos.

Para piorar a situação, quase todos os hospitais públicos estão fechados por falta de remédios e de equipamentos e pelas constantes greves de profissionais da saúde por melhores salários. A categoria tem poucas condições de lidar com a epidemia por falta de condições mínimas de trabalho. Segundo o Congresso de Sindicatos do Zimbábue, quase 50 sindicalistas, entre eles o secretário-geral Wellington Chibebe, já foram presos.

O atual governo do Zimbábue vem se deteriorando a passos largos e responde à crise com uma brutal intensificação da repressão policial. A economia está bem perto do colapso total, com o desemprego atingido a casa dos 90 % e uma inflação girando em torno dos 230 milhões por cento (sim, é isto mesmo: 230 MILHÕES). Miséria e fome já se impregnaram à paisagem macabra local. Enquanto quase toda a nação vive à beira do flagelo absoluto, o facínora Mugabe vai se tornado um dos homens mais ricos da África. E em mais um de seus delírios criminosos, proibiu o aperto de mãos entre as pessoas como único remédio contra a epidemia de cólera que assola quase todo o país. Falar o quê?

Foto AP

Justiça brasileira consegue o que a ditadura militar e atentado terrorista de direita não conseguiram: fechar a Tribuna e calar Hélio Fernandes

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Capa da última Edição

"Em matéria de tempo, uma parte do Judiciário foi mais ditatorial do que a ditadura. Esta perseguiu o jornal das mais variadas formas, por 20 anos. A Justiça quer ver se chega aos 30 anos, por conta de sua repugnante MOROSIDADE, TÃO RUINOSA e imoral quanto a ilimitada violência perpetrada pela ditadura.

Se vivo fosse, o jurista Ruy Barbosa por certo processaria os lenientes julgadores do processo indenizatório ajuizado pela Tribuna contra a União há quase 30 anos e sem pagamento algum até hoje, porque para Ruy, que é tão festejado e citado, mas não imitado, JUSTIÇA ATRASADA NÃO É JUSTIÇA, SENÃO INJUSTIÇA QUALIFICADA E MANIFESTA. Até breve. Muito breve." (Trecho final do Editorial de Hélio Fernandes). Mais informação e a íntegra do Editorial aqui.

Então, até breve amigo Hélio. ATé breve, mesmo!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Odetta (1930 – 2008). E a voz dos direitos civis se cala.

A voz dos direitos civis dos negros se cala. Morreu ontem, com quase 78 anos, a cantora norte-americana Odetta. Interprete de folk, blues, jazz e spirituals, Odetta foi uma figura emblemática da luta contra a discriminação racial e pelo ressurgimento do folk norte-americano na década de 1950. Influenciou artistas como Joan Baez, Bob Dylan e Janis Joplin, entre outros. Um dos momentos mais marcantes de sua vida foi a participação na passeata de Washington, em agosto de 1963, quando 250 mil pessoas reivindicaram os direitos civis dos negros e Martin Luther King pronunciou seu famoso discurso "Eu tenho um sonho". Aqui uma de suas apresentações.

Hoje será dia de trânsito fluído...


... e podeis dar graças aos profes, pelo seu novo gesto filantrópico, ao ficarem em casa a descansar. É que, com a tutela que têm, todo o descanso é pouco..., perdão, anda muita gripe no ar, cof, cof.

O cartoon é, mais uma vez, do incontornável Anterozóide, onde a saga do Sr. Insucesso está para dar e durar.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Agora só resta saber se Clinton saberá dizer “yes, my president”

Além de Hillary Clinton (secretária de Estado), Obama confirmou hoje que Robert Gates continuará como o secretário de Defesa. Eric Holder será o secretário de Justiça. A governadora do Arizona, Janet Napolitano, comandará a Secretaria de Segurança Interna. O presidente eleito também confirmou o ex-general James Jones como conselheiro para Segurança Nacional, e Susan Rice como a futura embaixadora dos EUA nas Nações Unidas. Como se vê, algumas caras de Obama "de novo" não têm nada. Ele muda. Pero no mucho.