sábado, 27 de abril de 2013

Para rir um bocado com o falhanço científico da austeridade (a bem dizer não sei se é para rir ou para chorar...)

(em complemento do post do Daniel ali em baixo)

Primeira parte - o erro básico na folha Excel

 
Segunda parte - o jovem estudante que precisou de menos um quarto de hora para descobrir o erro

 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Joaquim Furtado e João Paulo Guerra contam-nos o que era viver sob censura

Podem ouvi-los em jeito irónico e mordaz no excelente programa Provedor do Ouvinte, episódio 29: «Um programa sobre o pré-25 de Abril. As histórias de Joaquim Furtado e João Paulo Guerra».
Falam de várias censuras aos media no ocaso ditatorial: a censura política, a económica e empresarial (tão pouca falada...; o RCP, os accionistas farmacêuticos, o pó talco marado dos outros e a censura empresarial indígena), a auto-censura (tão difícil de admitir...), os bufos que denunciavam a passagem de canções proibidas na rádio...
Foi hoje mas está gravado e disponibilizado na internet, para quem não pôde sintonizar a Antena 1 a meio da tarde (deixo o link aí em cima).

Sobe de tom a contestação científica às teses pró-austeridade

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O grande logro

O principal estudo inspirador do actual austeritarismo europeu tem erros de palmatória, que foram descobertos recentemente por académicos da Universidade de Massachussets. Incluindo um estudante de doutoramento!
Vai por água abaixo a caução científica acenada por políticos nefastos como Victor Gaspar e o governador Carlos Costa, que neles se suportavam para justificarem gravosas políticas de austeridade e medidas cegas de corte acentuado da dívida pública.
Segundo os revisores científicos deste artigo, intitulado «Growth in a time of debt» (Crescimento num tempo de dívida), os países com dívida pública relativamente alta não têm um crescimento do PIB significativamente menor.
Mas mesmo que assim fosse, não é matando o paciente que se cura a doença. Isto parece de bom senso elementar. Porém, é essa a via que está a ser seguida, pelo menos na Grécia, no Chipre, em Portugal. Esperemos que a Irlanda, Espanha e os outros resistam, mas o buraco negro já paira por aí...
O Nobel da Economia Paul Krugman veio dizer que desabou o «edifício intelectual da economia da austeridade».
O neo-liberalismo reinante só se mantém com a multiplicação das mentiras. Antes, havia sido o líder do BCE, Mario Draghi, e a sua trapaça do crescimento salarial acima da produtividade nos países da Europa do Sul e França como causa da crise europeia.
Mas já há um novo episódio neste grande logro: «Merkel defende que o salário mínimo é a causa do desemprego»... na Europa!!!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Alternativa progressista: a política é também a arte de negociar (resumindo: entendam-se, porra!)

[...] O problema é que, ao contrário do que acontece à direita, governos pluripartidários à esquerda estão interditos.
O bloqueio à esquerda tem, em Portugal, razões históricas profundas: o PCP ter sido, durante a ditadura, hegemónico na oposição; a democracia ter nascido de um combate feroz entre as várias forças de esquerda; o PS ter-se implantado no País contra o PCP e em aliança com a direita; o adormecimento, por meio século, do nosso movimento sindical, muito dependente das lógicas partidárias; um movimento social-democrata (aqui representado pelo PS) que, ao contrário da maioria dos países europeus, não tem raízes no movimento operário e nos sindicatos; a debilidade da nossa sociedade civil. Tudo contribui para criar fronteiras estanques à esquerda. Na realidade, as grandes clivagens ideológicas foram, nos últimos 40 anos, feitas no interior da esquerda e não entre a esquerda e a direita [...].
Só que nos últimos 40 anos muita coisa mudou. E a verdade é que a direita, que tinha uma posição ideológica envergonhada, se tornou agressiva e ultraliberal. Ou seja, as condições exigem que a esquerda consiga trabalhar para os entendimentos que nunca considerou necessários.
Não escondo que não é apenas o passado que torna este entendimento difícil. Juntar a autosuficiência do PCP, a cultura de contrapoder do BE e a cultura de cedência do PS nunca seria fácil. Há, ainda assim, três denominadores comuns que neste momento poderiam garantir um governo de esquerda: o diagnóstico da crise [...], a convicção de que apenas uma política pública para o crescimento económico nos pode tirar deste sufoco e a certeza de que o equilíbrio das contas públicas não passa pela redução das funções sociais do Estado. Se estiverem de acordo nestas matérias, a grande fronteira política pode finalmente fazer-se, em Portugal, entre a esquerda e a direita.
Um governo de esquerda, fosse ele qual fosse, seria hoje um governo de emergência nacional. Com dois objectivos: libertar-nos da intervenção externa e retirar-nos da crise aguda sem pôr em causa a democracia e as funções sociais do Estado.

(continue a ler este post certeiro de Daniel Oliveira em
«Impasse: à esquerda, na caminha é que se está bem (IV)»;
para quem possa achar esta questão bizantina ou ainda precoce, sff leia isto)

Vencer a crise, com propostas sectoriais

Realiza-se amanhã a 2.ª sessão de conferências Vencer a Crise, do Congresso Democrático das Alternativas, desta feita sob o mote «Vencer a Crise com a Segurança Social». Começa às 14h30, no auditório do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD, no Largo Machado de Assis, lote A, em Lisboa (próximo da Av.ª de Roma – estação de metro Roma). Para mais detalhes vd. aqui.
A 1.ª sessão foi sobre «Vencer a crise com o Serviço Nacional de Saúde», e a 3.ª será sobre «Vencer a Crise com a Educação Pública».
Este ciclo encerra numa conferência final intitulada «Vencer a Crise com o Estado Social e com a Democracia», que se realiza a 11 de Maio.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Intimidação, mentira e miséria: a receita desta democracia «musculada»

Obviamente, como na Hungria, o objectivo [para Portugal] é uma ditadura política, ou uma democracia "musculada", uma vez que estamos na Europa. Pegando no passado nacional, o exemplo seguido é o da ditadura por via das finanças públicas. É isso, com as palavras medidas e aqui guardadas desde há meses. O confronto com o T[ribunal] C[onstitucional] foi para isso, agora é claro. E com mentiras descaradas pelo meio, como a de que a troika vem cá proximamente por motivos de urgência, o que não é afinal verdade, pois a visita estava agendada; ou a associação da concessão de mais tempo pelas instituições da troika a mais cortes de despesa, o que é falso, pois a reunião que se avizinha é formal; entre muitas outras mentiras. O que fazer? Será preciso voltar para a rua, seguramente. E, mais uma vez, de forma imaginativa. Chega!
PS: A confirmação de uma das mentiras acima apontadas.

(Pedro Lains, «Este blogue...», 9/IV)

Note-se bem, sem dúvidas, sem hesitações, coerentemente, sem especulação: o presente Governo está a levar Portugal pelo caminho que a Grécia tem seguido nos últimos 4 a 5 anos. Que não haja dúvidas sobre isso. Portugal não está a seguir nem a Irlanda, nem Espanha, nem Itália. Está a seguir a Grécia. Em economia, com números, estas coisas não deixam margem para dúvidas. Sob uma comprovada espiral recessiva, o Governo continua a tomar medidas recessivas. Há alternativas? Há sempre. O Governo podia começar por não fazer o que está a fazer com gosto. A seguir, podia tentar não fazer o que está a fazer. Verá que, com esses dois passos, as alternativas aparecerão como cogumelos.
(Pedro Lains, «O caminho da Grécia», 10/IV)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

«Não há pior política do que a política do pior»

«Quem, num quadro de grande contenção e dificuldade, tem procurado assegurar o normal funcionamento das instituições, sente-se enganado com esta medida cega e contrária aos interesses do país», argumenta António Sampaio da Nóvoa, que considera que o congelamento de despesas decidido por Vítor Gaspar «é um gesto insensato e inaceitável, que não resolve qualquer problema e que põe em causa, seriamente, o futuro de Portugal e das suas instituições». «O Governo utiliza o pior da autoridade para interromper o Estado de direito e para instaurar um Estado de excepção. Levado à letra, o despacho do ministro das Finanças bloqueia a mais simples das despesas, seja ela qual for. Apenas três exemplos, entre milhares de outros. Ficamos impedidos de comprar produtos correntes para os nossos laboratórios, de adquirir bens alimentares para as nossas cantinas ou de comprar papel para os diplomas dos nossos alunos. É assim que se resolvem os problemas de Portugal?» (in "Uma medida cega que fecha o país e lança o caos, avisa reitor de Lisboa", Público on line).

Face aos inevitáveis efeitos desestruturadores deste despacho inaudito, indiciador de ausência de plano B, o que cabe ao PR fazer? A Constituição é clara no seu art.º 120.º: «O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Forças Armadas».

terça-feira, 9 de abril de 2013

Anatomia de um crime

18 minutos com 15 críticas à instituição máxima da justiça portuguesa (cf. aqui). É quase uma crítica por minuto. Em vez de explanar um obrigatório plano B, o premiê luso optou por afrontar a decisão dum órgão soberano da República Portuguesa. Demonstrou incultura democrática e má-fé. E comprovou uma denúncia anterior: que a insistência em medidas visando a desvalorização pecuniária dos funcionários públicos segue um plano de compressão salarial dos portugueses (exceptuando as elites, claro).
Se puder, este governo irá degradar ao máximo o Estado social, metendo na gaveta a incontornável redução substantiva dos lucros usurários das parcerias público-privadas, que chegam a atingir 17%. Ah, e o Banco Central Europeu parece que também está a lucrar com a desgraça alheia.
Mais palavras para quê? É o servilismo à portuguesa. Já tem alguma tradição. Recua a 1580. E podia ter começado em 1383-85. Capitulação? Novos rótulos para vinho velho, quem diria.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Depois da cegueira, a mentira ocultada (ou as trampas de Draghi para encolher salários...)

O grave é que o título principal desde post não é uma «frase batida» para martirizar o já fustigado cidadão português; remete para a conduta inaudita do líder do Banco Central Europeu. Em reunião do Eurogrupo, Mario Draghi, é dele que falo, refutou pedidos de inversão do austeritarismo (como os do presidente francês) contrapondo que a crise europeia foi causada por crescimento salarial acima da produtividade nos países da Europa do Sul e França, devendo estes seguir o exemplo alemão. Sucede que isto é uma falácia. E foi descoberta por um daqueles economistas que aindam se dão ao trabalho de conferir os dados apresentados pelos líderes da Europa: trata-se de Andrew Watt (cf. «Mario Draghi's Economic Ideology Revealed?», in Social Europe Journal). Esquematicamente, o logro de Draghi foi o de ter comparado o incomparável. Watt fez as contas usando indicadores comparáveis e deu uma coisa quase oposta, ou seja: em França e Espanha os salários não cresceram demasiado acima da produtividade (apud norma de estabilidade imposta pelo próprio BCE), enquanto na Alemanha os salários cresceram demasiado abaixo da produtividade, sendo isso causa maior do desequilíbrio dentro da união monetária, desequilíbrio esse que foi o principal factor da crise europeia.

Cegueira ideológica é uma coisa, mentira intencional é outra. Esta última não pode ser aceite no debate público, quanto mais no debate decisório. Quem aceitará políticas baseadas na manipulação grosseira dos dados?
A denúncia foi aprofundada por outro economista, o professor universitário espanhol Juan Torres López, em «Las trampas de Draghi para bajar salarios». Há tradução portuguesa aqui.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Portugal: 3.º país europeu mais desigual (se não acredita, confira a estatística)

O pior é que isso, em regra, significa maior pobreza. É isso aí, se ainda hesita, consulte a estatística oficial europeia aqui. São valores relativos a 2009, se fossem de 2012 seriam piores, ou há dúvidas? Já no extremo oposto, com menores desigualdades, estavam então a Eslovénia, a Suécia e a Hungria. Dois ex-estados comunistas e um social-democrata, custa a acreditar, não é? Para consolo, talvez sirva dizer que nos antípodas também figuram ex-estados comunistas, mas doutra área, o Báltico.
Quem quiser aprofundar informação sobre Portugal e o contexto internacional pode ler as comunicações ao colóquio «Desigualdade e Pobreza», com contributos de Nuno de Almeida Alves, Renato Miguel do Carmo, Frederico Cantante, Catarina Cruz, Paulo Costa Santos e Alfredo Bruto da Costa.