segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eleições fraudulentas nas Honduras levantam fantasma da guerra civil

A qualquer momento, aguarda-se por uma declaração da XIX Cimeira Ibero-Americana sobre o assunto, por pressão de Espanha e Brasil. Por ora, Portugal procura uma posição de convergência «sobre a situação» nas Honduras, após o anúncio de ontem da vitória dos golpistas. Até agora só os EUA, Canadá e 4 países vizinhos as reconheceram, mas com a maioria dos países sul-americanos estão contra, incluindo os maiores (Brasil, Argentina, Chile), o que não é bom sinal. Desde logo porque havia um acordo com o presidente destituído de que este é que coordenaria o processo eleitoral. Depois, porque não se entende como se pode apoiar um poder que deu um golpe militar num governo legitimamente eleito. O presidente deposto considera que as eleições resultaram dum processo ilegal e ilegítimo. E os confrontos voltaram de imediato às ruas da capital hondurenha...

Um big brother dos multibancos?

Ainda que se possar pensar acertado - que o controlo das transferências bancárias está acima da protecção de dados, da privacidade e do controlo democrático -, pelo menos o processo comunitário para o acordo foi errado, tal como explica Rui Tavares em «Coisas que acontecem nas nossas costas» (para mais detalhes ver aqui). Já para não falar da espiolhagem sem aviso às mensagens financeiras dos europeus, por parte da administração de Bush Jr., entre 2001 e 2006.

A economia social como alternativa sustentável

Por ocasião dos 10 anos do Le Monde diplomatique - edição portuguesa, aqui fica o lembrete para uma louvável dupla iniciativa em torno da economia social, a realizar em Lisboa, na próxima 5.ª feira, no CES-Lisboa (Picoas Plaza, 1.º andar).

> Lançamento do livro A economia social - uma alternativa ao capitalismo, de Thierry Jeantet, editado pela cooperativa Outro Modo (16h30)
> Colóquio Economia Social - Caminhos da Democracia na Economia (17h30), com as intervenções de Thierry Jeantet, Manuel Carvalho da Silva, Jorge Sá, Maria de Belém Roseira, Manuel Canaveira de Campos, Sílvia Ferreira, Ulisses Garrido e Sandra Monteiro.

A presidente chilena vem a Lisboa conferenciar...

Aqui fica o tema da conferência de Michelle Bachelet Jeria:

«Género e participação política: a experiência do Chile»

(FCG, 2/XI, 17h; +info aqui).

domingo, 29 de novembro de 2009

O que fazer quando um país democrático, "civilizado" e ocidental decide democraticamente ser intolerante?

57%

O padre 'construtor social'

Para não dizerem que só falamos mal da Igreja católica, aqui fica a nossa modesta mas sincera homenagem a um exemplo de filantropismo católico que merecia ser mais comum:
Merecia ser mais comum, sim, merecíamos nós, precisamos nós. Devíamos nós.
*
Nb: imagem retirada daqui.

A ler: último troço da CRIL "é um verdadeiro crime"

Mas nem tudo vai mal no município alfacinha. É excelente a entrevista do novo vereador da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva (I, II e III).

O título da entrevista resume bem uma boa parte da sua mensagem: «Último troço da CRIL "é um verdadeiro crime"».  De facto, o que se passou com este atentado aos direitos dos cidadãos, à vivência urbana e ao atropelo da negociação devia servir para meditar sobre como certos poderes públicos (no caso, a Estradas de Portugal) conseguem subverter e afrontar os mais elementares direitos sociais e sairem impunes.
Nunes da Silva chama ainda a atenção para duas outras questões também relacionadas com a gestão urbana, o processo decisório e o relacionamento entre poderes central e local, com graves implicações no ordenamento do território, na racionalização dos recursos públicos e na mobilidade: a urgência em municipalizar as empresas Metropolitano e Carris e o esvaziamento pelo governo da Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa.

Quanto à 1.ª, o imobilismo deve-se a duas razões que também merecem reflexão:

«Qual tem sido o principal obstáculo à transformação dessas empresas em empresas municipais?

A questão do passivo é, sem dúvida, um problema, mas penso que essas empresas dão muitos jobs for the boys. E, portanto, os dois grandes partidos do país têm de distribuir lugares e essas empresas são muito apetecíveis, ainda por cima porque dêem lucro ou prejuízo continuam alegremente».

Quanto à 2.ª, espelha bem a história do hipercentralismo português:

«A Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa funciona nos moldes actuais?
Não funciona nem vai funcionar.
Porquê?

Porque primeiro não tem de facto autoridade, porque para ter autoridade é preciso duas coisas: que o Governo delegue na autoridade decisões ao nível da estratégia de desenvolvimento do sistema de transportes, e repare o que aconteceu. Uma ou duas semanas depois de a administração da autoridade ter tomado posse, a secretária de Estado Ana Paula Vitorino anunciou um conjunto de iniciativas para o Metropolitano de Lisboa e para a Carris que não tinham sido minimamente estudadas e que foram feitas completamente à revelia da autoridade. Segundo ponto: só manda quem tem dinheiro. E portanto uma autoridade que não tem poder para contratualizar serviços de transporte com os operadores públicos e privados não manda nada».
Resta saber até onde chegarão as opiniões avisadas. E que desenvolvimentos terão.

Nb: imagem retirada do blogue «Cidadãos responsáveis e livres: CRIL pela cidadania».

Um orçamento decorativo

Depois duma 1.ª edição apressada, sinuosa e sem prestação de contas, a edilidade lisboeta não só resolveu reincidir no erro como agravá-lo: o orçamento participativo deste ano contempla apenas uma proposta por munícipe inscrito e só foi divulgado 10 dias antes.

Ora, chapéu. Prossegui lá com a vossa campanha de marketing mas a mim já não me levam. Adeus.

O fantasma da islamização ronda a Suíça


Como uma forma de lutar contra uma suposta islamização do país, os suíços aprovaram hoje, através de um vergonhoso referendo à proibição da construção de minaretes nas mesquitas.


A iniciativa de convocar o tal referendo partiu dos ultraconservadores Partido Democrático (?) de Centro e Partido Democrático (?) Federal e foi aprovada com 57% dos votos e apenas 4 dos 26 cantões helvéticos tiveram a lucidez de rejeitaram esse absurdo.


Por seu lado, o Partido Verde suíço informou que irá apresentar recurso no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos contra essa insanidade delirante.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"Belezas por uma causa"

Miss World 2009 A amazonense Larissa Ramos foi eleita a “Miss Terra - Belezas por uma causa”, realizado na cidade de Aklan, nas Filipinas. A brasileira concorreu com mulheres de 80 países, cujo objetivo não é só coroar a beleza feminina, mas também a consciência ambiental das concorrentes.

A filipina Sandra Seifert ficou em segundo lugar (Miss Ar), seguida da venezuelana Jessica Barboza (Miss Água). A espanhola Alejandra Echevarría obteve a quarta colocação e o título de “Miss Fogo”.

A vencedora receberá 25 mil euros e se transformará em porta-voz da Fundação Miss Terra e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Aqui, mais imagens.

Turistas arrasam política cultural e de 'animação' de Rui Rio

Aqui fica mais uma chamada de atenção para o mau curso da política cultural de Rui Rio: os turistas aerotransportados que responderam a um inquérito do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo atribuem nota negativa aos eventos culturais, à animação nocturna (ligada à cultura na actual política autárquica) e às praias.

É verdade que o principal motivo de insatisfação dos turistas que entram na região norte via aeroporto Francisco Sá Carneiro relaciona-se com os eventos desportivos, talvez relacionado com o congestionamento de trânsito e o barulho nos dias de jogo de futebol no Estádio do Dragão.

Um confronto com os principais factores de atracção para os visitantes ajuda também a perceber como o investimento cultural e turístico deveria ser redireccionado: 1) visita a monumentos (81% das preferências); 2) experimentação gastronómica (58%); 3) compras (51%); 4) visita às caves do vinho do Porto (43,1%).

Daí que o director do IPDT tenha sugerido a elaboração dum roteiro de compras, a que se deveria aditar: uma melhor programação cultural, roteiros temáticos (de restaurantes e tascas; de lojas e mercados antigos; de cafés e livrarias culturais; de associações culturais, etc.), facilitação da ida às caves do vinho do Porto, etc..

Fonte: «Noite, cultura e futebol desagradam aos turistas do Porto».

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

UE e Mercosul, uma convergência benéfica que tarda

Segundo a imprensa de hoje, «Acordo entre a UE e o Mercosul será abordado no Estoril», no âmbito da presente Cimeira Ibero-americana. Por ora, parece reduzir-se a um possível acordo comercial. Seria bom que se estendesse a outras áreas, como a social, a cultural, a da imigração, a da investigação, etc.. Até agora, esta desejável convergência ficou-se por tiros de pólvora seca. A ver vamos se desta é de vez.

Para que não se repita

«Londres sabia que Saddam não tinha quaisquer armas [de destruição maciça]»

Tetro

Gostei de ver Tetro, de Francis Ford Coppola. Gostei de me reconciliar com ele, depois de me ter decepcionado e irritado a ver o seu penúltimo filme, Uma segunda juventude. Há três tipos de filmes: os poucos que me levam a fazer um esforço para os ver até ao fim; a maioria, que gosto de ver, mas não faço a menor intenção de rever; os raros que gosto de ver e de rever. Tetro encontra-se na terceira categoria. Quanto ao resto é um filme difícil ou impossível de classificar. Um filme de autor assinado por um homem que faz questão de se demarcar de alguns dos seus grandes filmes comerciais e reivindica a autoria de outros que são um fracasso total.
O próprio Francis Ford Coppola inventou uma espécie de genealogia de filmes escritos por si, feitos à margem dos grandes estúdios e com baixos orçamentos, dos quais Tetro seria o fruto mais recente. Alguns críticos foram na conversa. Fizeram mal. Em Tetro tanto se encontram ecos do intimismo poético de Rumble Fish como das cenas operáticas de Apocalypse Now ou o Padrinho III. Coppola compraz-se em fazer um filme paradoxal, com rápidas mudanças de tom, de ambientes, de referências. Umas vezes parece que estamos a ver descendentes de uma família filmada por John Ford, outras assistimos à errância de personagens que parecem saídas de Misfits de John Huston. As sequências de um belo preto e branco no presente são intercaladas com sequências a cores do passado. A história dá voltas e reviravoltas, entrando em terrenos pouco explorados por Coppola, como o do burlesco, antes de se precipitar no melodrama final.
As personagens masculinas centrais parecem ser portadoras de uma dupla identidade ou de uma incerteza acerca da sua identidade no interior de uma família: irmão ou pai, irmão ou filho? Esta incerteza estende-se à própria identidade nacional: norte-americano ou argentino? A história «no presente» acontece na Argentina, um ambiente adequado pois, segundo Coppola, «os argentinos são italianos que falam espanhol». O que é um ponto de vista significativo num «italiano que fala inglês». As personagens centrais femininas, ao contrário das masculinas, têm uma identidade definida de modo claro e radical: ou são âncoras das pessoas que as rodeiam ou destroços.
A escolha de Vicent Gallo para o papel principal encaixa nesta abordagem paradoxal da história. À partida o modelo para a personagem atormentada de «Tetro» seria Marlon Brando. Coppola vai buscar um actor que é precisamente o oposto, uma espécie de cúmulo do «underacting». Os outros actores vão bem, incluindo Carmen Maura, uma aparição inesperada no universo de Coppola.
Um filme com o lastro de uma obra cinematográfica longa, diversificada e com pontos muito altos e que ao mesmo tempo experimenta novos caminhos. Agora sim, acho que ganhámos alguma coisa em Coppola ter saído de Hollywood.

Para quem vê o dinheiro a cair na rede

cartoon de GoRRo (c) 2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

José Luís Tavares com dobradinha

O poeta está de volta e em grande:  ao prémio Pedro Cardoso, atribuído a Tenpu di Dilubri pelo Ministério da Cultura cabo-verdiano, junta-se agora o Prémio Literatura para Todos, com que o Ministério da Educação brasileiro distinguiu À bolina ao redor do natal.
Ao grande vate e amigo os nossos parabéns!!!
*
Mais informação aqui. Outros posts do Peão dedicados ao grande poeta aqui.

Só para gulosos

Para quem gosta de comer o seu bolinho nos espaços da especialidade, e até gostava de saber o segredo duma certa e determinada iguaria, aqui fica um «Abre-te Sésamo» alfacinha:

Doce Lisboa. Guia e receitas das melhores pastelarias

de Clara Azevedo e Luís Chimeno Garrido

A obra será apresentada por Anabela Mota Ribeiro

26 de Novembro, 5.ª feira, 18h30, na Liv.ª Pó dos Livros

Av. Marquês de Tomar n.º 89, 1050-154 - Lisboa

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Cidade triste e alegre

Ao fim de 50 anos, um olvidado livro de fotografia de autores portugueses está novamente no prelo. Trata-se de Lisboa, cidade triste e alegre, de Victor Palla e Costa Martins, e é o único álbum luso do género a figurar no prestigiado The photobook: a history.
Sendo de referência internacional desde 2004, tardava a sua reedição. A iniciativa coube à Guide Edições Gráficas, pela mão doutra dupla de fotógrafos, José Pedro Cortes e André Príncipe.
Dele falei há uns anos atrás, quando ainda mal tinha começado a espalhar-se esta onda positiva. Um feliz acaso. Uma recuperação sem seguimento ocorrera em 1982, pela galeria Ether e por António Sena.
Outros textos para ler e ver imagens do livro: «Victor Palla (Lisboa, 1922-2006)» e «Lisboa, cidade triste e alegre». Para questões de mercado ver este texto da Photo Histories. Para estórias tristes do quão esquecido foi este livro vd. aqui.

A vez da rádio

Para quem gosta de boa divulgação cultural e de boa rádio, aconselho o programa «Império dos Sentidos», de Paulo Alves Guerra, nas manhãs da RDP2 (7-10h).

É um daqueles programas à antiga, onde há tempo para ouvir e dialogar com as pessoas, para escutar a música, transmitir as notícias, etc. Hoje, o jornalista Paulo Alves Guerra conversou com o responsável da livraria Poesia Incompleta, que celebra um ano de existência e é já um marco no circuito alfacinha.

E deu-nos um cheirinho dum dos últimos álbuns dos fervilhantes Hespèrion XXI, «Istambul. Dimitrie Cantemir. "Le Livre de la Science de la Musique" et les traditions musicales Séfarades et Arméniennes». Ainda sob a direcção de Jordi Savall, fiquei a saber doutra obra de fôlego, «Don Quijote de la Mancha, Romances y Músicas» (para os interessados vd. ficha no catálogo da Alia Vox). Mas esta foi já uma descoberta da minha iniciativa. As conversas são como as cerejas...

Concorda que o casamento possa ser celebrado entre pessoas do mesmo sexo?

Esta será a pergunta a colocar aos cidadãos portugueses em referendo próximo.

Para o efeito, foi lançada uma petição para reunir as 75 mil assinaturas necessárias a uma iniciativa popular de referendo, já que o parlamento não prescinde da sua competência nesta matéria e irá legislar em breve, honrando os programas eleitorais. De par, a novel Plataforma Cidadania e Casamento divulgou a 9/XI um manifesto sobre o assunto. Apesar do nome, esta ong é tendencialmente contra o referido casamento homossexual, donde resulta uma contradição insanável com o «cidadania e casamento» inscrito no nome, pois a rejeição do casamento homossexual impõe-se como situação anti-constitucional, além de atentatória dos direitos humanos. Segundo o manifesto, o casamento homossexual «introduz uma alteração num instituto milenar» e acarretará mudanças de carácter «histórico e civilizacional», daí a necessidade do dito referendo. Tanto um como o outro argumento são pobres: por esta ordem de ideias, ainda andávamos a desbastar pedras de sílex, a comer com as mãos e a dormir em grutas.

No Peão temos vindo a debater este assunto desde 2008 (vd. esta etiqueta). Em post anterior, João Miguel Almeida criticou a opção do referendo por atentar contra os direitos das minorias, porquanto estes não devem ser referendáveis. E afastou o paralelismo com a IVG, pois esta era uma questão potencialmente relativa a todos. Sobre a diferença entre ambos os temas foi avançado o argumento forte de que no caso do IVG estavam em confronto 2 direitos fundamentais enquanto no caso do casamento homossexual não existe confronto, apenas a sonegação histórica dum direito a uma minoria.

Mas a questão é ainda mais complicada. Parece-me que se está a fazer caminho numa 'tradição' bloqueadora: sempre que no parlamento surge e se aprova certo tipo de propostas mais progressistas irrompe um referendo para contrariar a delegação de competências no poder representativo. Foi assim com a regionalização, foi assim com a IVG, será assim agora. Vejamos como.

Como manobra de atracção, a petição menciona em concreto os projectos de lei do BE e PEV. Ou seja, além do papão dos 'vermelhos', remete para a questão da adopção.

E o manifesto concretiza: atendendo à «consequência jurídica» do casamento homossexual - a adopção por casais do mesmo sexo, «com grave prejuízo do bem das crianças» -, exige-se um 'debate público' sobre as duas matérias. Mas a proposta parlamentar do PS não contempla a adopção, por defender que o casamento e a adopção são questões distintas, recorrendo ao caso belga. Até podem ser, mas é óbvio que também estão relacionadas. E é por aí que o movimento do contra irá pegar. Contudo, o busílis da questão é outro.

O que está subjacente a esta repentina cruzada, além de puro preconceito social, é a imposição dum único modelo de família a toda a sociedade: 'a família' heterossexual, procriadora, com casamento civil, com um pai a fazer de pai e uma mãe a fazer de mãe, com os respectivos filhotes, etc., etc.. Como essa imposição é impossível para outras configurações conjugais (uniões de facto, sem ser de facto, etc.), ou para diversos tipos de família historicamente existentes (viúvas com filhos, crianças criadas por padrinhos, avós, outros familiares, casais inférteis ou que não querem ter filhos, etc.). Quanto aos 'pais' e 'mães' deixarem de ser 'pais' e 'mães', enfim, estamos a falar de construções sociais e culturais que remetem novamente para o modelo da família patriarcal: o pai-chefe de família, distante, disciplinador (de preferência, autoritário) e não afectuoso; a mãe, subordinada, presente, afectuosa. Modelo esse em crescente erosão nas sociedades modernas, à medida que, entre outros processos, avançaram a emancipação das mulheres, novos modelos de parentalidade e conjugalidade, a laicidade, etc.. É isto e só isto que está em causa. O resto é areia para os olhos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Passo a passo...


Descobri hoje esta pequena pérola na net e fiquei tão entusiasmada que não posso deixar de partilhar. Chama-se Walkit. Insere-se a rota urbana e eles sugerem vários percursos opcionais com imensas estatísticas, incluindo quantas calorias se queimam dependendo da velocidade a que se vai e quanto NÃO se polui porque se deixou o popó em casa. Boa ideia, não acham?!

Berlusconi, o pop star do ano

berlusconi A forma como tem ocupado espaço na mídia faz de Silvio Berlusconi qualquer coisa, menos um governante sério. E foi exatamente por esse motivo que a edição de dezembro da revista Rolling Stone Itália elegeu o primeiro-ministro italiano o pop star do ano devido ao seu estilo rock & roll, cujo comportamento é comparado à excentricidade das maiores estrelas do universo pop internacional.O que aliás é uma grande sacanagem com o rock.

“Rod Stewart, Brian Jones e Keith Richards em seus tempos de ouro eram apenas novatos em comparação com Berlusconi”, diz o diretor da revista, Carlo Antonelli, em seu editorial.

A revista traz na capa um desenho de Berlusconi do ilustrador americano Shepard Farey, o mesmo que fez o famoso pôster com o rosto de Barack Obama e a palavra “hope”, símbolo de sua campanha para a presidência dos Estados Unidos. Como se vê, enquanto Berlusconi brilha debaixo de holofotes o povo italiano dança*.

(*) O uso da expressão “dançar” aqui em Pindorama corresponde à forma polida e educada de dizer “se fode”.

domingo, 22 de novembro de 2009

La jeunesse dorée (III)

Infelizmente nem todas as caricaturas poderam ser reproduzidas, devido a melindres respeitáveis que os preconceitos do tempo justificavam. O portrait-charge, que hoje representa uma consagração, era então pouco menos do que um insulto.
Todos sabem quanto Herculano amuou com uma caricatura inoffensiva de Raphael, e conhecem o curioso diálogo, travado a esse respeito, entre os dois grandes homens, na loja de livros do velho Bertrand.
Havia ainda n’esse tempo, como que o pudor da publicidade.

DANTAS, Júlio, "Raphael Bordallo Pinheiro[:] a sua vida e a sua obra",
Illustração Portugueza, 18/II/1907, p. 236.

Lá se safaram o vinho, o azeite, o tomate e a fruta, ao menos isso

«Vinho será de "excelente qualidade" este ano, diz o INE»

sábado, 21 de novembro de 2009

La jeunesse dorée (II)

D’ahi por diante ninguém encontrava o Raphael que não lhe pedisse para ver as caricaturas. Então era sabido: o artista tomava uma attitude mysteriosa, olhava em volta com receio de que o visse alguém, tirava d’entre o collete e a camisa uma grande pasta preta, e folheando rapidamente, entre as gargalhadas convulsas da assistência, mostrava a collecção admirável que dois annos depois, em magnificas aguas-fortes, devia ser publicada com o título de Calcanhar de Achilles (1870).
É esta data que marca o início da verdadeira caricatura política em Portugal.

Com que voz (2.ª oportunidade)

Malaposta, 6.ª feira, 21h30
(exibição inserida num ciclo de extensão do Doclisboa)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

La jeunesse dorée

Se dizia muito em segredo, à bocca pequena, que o Raphael trazia comsigo uma colecção escandalosa de caricaturas, nada menos do que os jarrões mais illustres d’então nas lettras e na política, o que para a severidade do tempo constituía um arrojo capaz de levar um homem aos ferros do Limoeiro.
A notícia correu com insistência, os amigos não o deixavam, e o grande artista, que a princípio negou, viu-se forçado a fazer a espantosa revelação. Foi um delírio.


Mais um bombom

cartoon de GoRRo (c) 2009

ONG lança game polêmico para criticar violência contra a mulher

Uma ONG da Dinamarca lançou um game contra a violência doméstica que esta a causar um grande bate-boca mundo afora, devido ao modo polêmico com que decidiu veicular a mensagem. O jogo pretende chamar a atenção para os maus-tratos contra mulheres justamente ao convidar um jogador a agredir uma adolescente.

Em “Hit the bitch”, o homem pode bater na adolescente várias vezes enquanto ela o insulta. Por cada bofetada, o jogador acumula pontos numa escala de masculinidade. Dez bofetadas depois, atinge os 100% e a mulher, com a cara toda ferida, cai ao chão. Mas em vez da frase habitual que aparece nos games “You win!”, surge a mensagem “100% idiota”, seguida de um alerta contra a violência doméstica.

Entretanto, devido à controvérsia que a campanha gerou, a ONG "Children exposed to Violence at Home” decidiu encerrar a campanha a utilizadores fora da Dinamarca devido ao tráfego excessivo registrado no seu site.

Fonte: Ionline.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Rafael Bordalo Pinheiro no seu tempo

Começou ontem o Congresso Internacional «Rafael Bordalo Pinheiro no seu tempo», organizado pelo IDEP da Universidade Nova de Lisboa. O evento, que percorre o percurso multifacetado dum dos grandes artistas e caricaturistas portugueses, termina no sábado, nas Caldas da Rainha, sua terra natal. Até lá, prosseguem as conferências na sala multiusos do edifício I&D (ex-DRM) da FCSH (com temas e autores para todos os gostos), uma apelativa exposição no átrio, exibição de documentário (hoje, pelas 18h), visita ao Museu Bordalo Pinheiro, etc. (vd. programa).
*
Sobre o autor, pode ler-se esta biografia, ou esta, e determo-nos em informação sobre alguns dos periódicos em que colaborou intensamente, como A Paródia. Referências para a maioria das publicações em que participou e perfil biográfico mais completo aqui.
*
Nb: na imagem, caricatura «Depois das eleições», de Rafael Bordalo Pinheiro (retirada do site do MBP-CML).

O bom-tom é chique, chiquérrimo


cartoon de GoRRo (c) 2009

Novo mamarracho naufraga no Restelo...

Era para ser uma igreja do novo milénio; pela amostra, não passa duma «taveirada» em má fotocópia, um kitsch-pesadelo-bomba. Depois de bons exemplos recentes de arquitectura religiosa, um pouco por todo o país, havia de calhar a Lisboa o pastiche neo-imperial-reluzente, confusamente inspirado numa ficção científica-mas-da-bera.
Entretanto, já se pronunciaram contra a «igreja-caravela» do arq.º Troufa Real, em construção desde anteontem, o director do secretariado das novas igrejas do Patriarcado, Diogo Lino Pimentel, o arq.º Nuno Teotónio Pereira (que a considera "uma aberração") e o Fórum Cidadania Lisboa.
Pode ser que o bom senso ainda prevaleça. Acendamos todos umas velas...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nalguma coisa havíamos de estar na linha da frente...

Também nós resolvemos fazer "espionagem política" (na colorida expressão do ministro da Economia) e vejam lá o que descobrimos sobre o Portugal oculto: «Taxa de desemprego bate recorde de 23 anos».

Já vamos nos 670 mil desempregados (ap. critério lato). Destes, c. de 200 mil não têm sequer direito a subsídio social de desemprego, segundo afirmou o economista Octávio Teixeira no frente-a-frente de hoje na SIC-Notícias. O desemprego está a atingir todos os grupos sociais e a reforçar a pobreza. A taxa de desemprego no 3.º trimestre de 2009 subiu para os 9,8%, mas ascende a 11,7% se se incluir «os inactivos disponíveis para trabalhar e os inactivos já desencorajados» (ap. critério lato definido no artigo mencionado supra).

Evocação breve de António Aleixo

Passaram anteontem 60 anos sobre a morte do poeta algarvio António Aleixo. Para evocar a efeméride e remover "certos preconceitos sobre a sua obra", a RTP transmitiu o documentário «António Aleixo, na terra acho, na terra deixo». Achei-o interessante, mas na parte que vi não houve espaço para a apresentação dessa mesma obra e era bem fácil fazê-lo, já que parte dela são quadras e versos ao jeito popular.
É verdade que este poeta nunca granjeou grande crédito junto de parte dos críticos e estudiosos da literatura lusa, o que é extensivo aos restantes poetas populares. Folheando-se a 13.ª ed. da História da literatura portuguesa (de António José Saraiva e Óscar Lopes), apenas se topará com uma fugaz alusão, e dentro duma ficha dedicada a outro poeta algarvio, João de Deus. Mas também é verdade que, desde 1974, a sua obra começou a ter a gradual atenção de vários estudiosos (breve lista de estudos na secção de «bibliografia» desta biografia).
Seja como for, vale a pena atentar no seu estilo directo, assertivo e irónico, plasmado em notas existencialistas avant la lettre, numas vezes, ou num olhar de crítica social, noutras, mesmo durante a ditadura, quando era bem difícil este tipo de expressão. Até por isso, pela raridade desta combinação e destes olhares, vale a pena revisitá-lo.
A sua vida, rica e tormentosa, é pendão de experiência para esse caleidoscópio de reflexões e impressões. Homem de várias profissões, cauteleiro, pastor, tecelão, polícia e servente de pedreiro, foi também cantor popular de feira em feira e emigrante em França. Morreu de tuberculose, aos 50 anos, após internamento de 7 anos no Sanatório dos Covões.
Embora tivesse tido uma alfabetização rudimentar, escreveu vários livros, o primeiro deles Quando começo a cantar…, recolha de quadras cuja venda se iniciou em 1943, por iniciativa do Circulo Cultural do Algarve. Seguiram-se-lhe Intencionais (1945), Auto da vida e da morte (1948), Auto do curandeiro (1949), Este livro que vos deixo (1969, obra completa) e Inéditos (1978). A sua obra foi redescoberta a partir dos anos 60, pelo trabalho de divulgação do dr. Joaquim Magalhães. Incompleto ficou o Auto do Ti Jaquim.
Em nome das suas preocupações sociais surgiu, em 1995, a Fundação António Aleixo, sediada em Loulé, onde viveu e faleceu. Actualmente esta entidade colabora em diversos projectos de desenvolvimento social, em múltiplas parcerias, com instituições públicas e particulares (vd. aqui).
Em homenagem ao poeta, o município de Loulé erigiu-lhe uma estátua defronte ao Café Calcinha, espaço outrora por si frequentado. Também o antigo Liceu de Portimão foi renomeado Escola Secundária Poeta António Aleixo e, no Liceu Católico de São Paulo, surgiu a Escola Poeta António Aleixo (vd. lista de homenagens nesta biografia).
Deixo-vos com um dos seus poemas (outros há, com análise crítica, aqui):
Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?

À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério.

Nb: imagem retirada daqui.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Portugal com nova queda no ranking da percepção da corrupção

Depois da queda de 28.º para 32.º, em 2008, agora Portugal caiu para 35.º lugar na tabela classificativa da percepção da corrupção elaborada pela ONG Transparency International e que abrange 180 países. E isto ainda sem contabilizar o impacto de casos como o Face Oculta...

A queda tem sido contínua desde 2005.

domingo, 15 de novembro de 2009

Os direitos das minorias não se refererendam

A ideia de referendar a possibilidade de casamento homossexual vai fazendo caminho e está prestes a justificar a formação de movimentos cívicos, apesar da fragilidade dos argumentos apresentados e destes significarem um grave atentado à democracia. Por democracia não entendo uma ditadura da maioria, mas uma legitimação pelo voto de um poder que, para permanecer democrático, tem de salvaguardar os direitos das minorias e todas as liberdades que tornam possível a mudança de políticas e a substituição dos políticos.
O argumento de que esta «não pode ser uma prioridade num momento de crise» nem merecia reparo se não revelasse contradições tão chocantes. Já foi dito e escrito por muita gente que o projecto de casamento homossexual fazia parte do programa eleitoral do partido que ganhou as eleições e do Bloco de Esquerda. O que parece muito conveniente esquecer é que se o tema não foi mais discutido durante o período eleitoral foi porque os partidos que tinham posições diferentes sobre o assunto evitaram colocá-lo na agenda política. Os jornalistas lá arrancaram um ou outro «soundbyte» a Manuela Ferreira Leite. Mas onde é que estavam os que agora, menos de dois meses após as eleições legislativas, defendem o referendo? São eles que estão a transformar a questão do casamento homossexual numa prioridade ao admitir que se gaste mais tempo, energia e dinheiro a discutir um assunto que, por preguiça ou oportunismo, não discutiram durante a campanha eleitoral das legislativas.
Os defensores do referendo sobre o casamento homossexual argumentam ainda que o referendo sobre o aborto constitui um precedente válido para a questão. Cheguei mesmo a ler um texto de uma personalidade respeitável que descrevia os embriões como uma «minoria». Até prova em contrário, os embriões não surgem por geração espontânea. A ideia de um referendo sobre o aborto não me agradou, mas qualquer mulher fértil pode engravidar de qualquer homem fértil. Não vejo, pois, como é que uma lei sobre o aborto pode ser descrita como uma lei sobre minorias. O referendo sobre o casamento homossexual é que abriria um precedente gravíssimo. Se referendamos os direitos de pessoas com uma orientação sexual minoritária, por que não referendar depois direitos de minorias étnicas, como os ciganos, ou de minorias religiosas, como os muçulmanos? E se aceitarmos o princípio de referendar direitos das minorias em nossa casa, como é que poderíamos contestá-lo se fosse adoptado em casa dos outros? Que atitude tomariam os portugueses e os católicos se o governo dos Estados Unidos decidisse referendar os direitos dos imigrantes portugueses ou os governos chinês e indiano resolvessem referendar os direitos da minoria católica nos seus países?

Flamenco, Flamenco

flamenco = crlos saura

Quatorze anos após as filmagens de “Flamenco”, o cineasta espanhol Carlos Saura terminou esta semana, em Sevilla, a filmagem de seu novo filme. Trata-se de “Flamenco, flamenco”, um musical que reunirá cantores como José Mercé, Estrella Morente, Miguel Poveda, Niña Pastori e Arcángel, entre outros. Além de Sara Baras, dançam no filme Eva Yerbabuena, Israel Galván e Farruquito. Violonistas como Paco de Lucía, Manolo Sanlúcar e Tomatito fazem parte do quadro artístico que se completa com David Dorantes e Diego Amador ao piano. A direção de fotografia é de Vittorio Starato, vencedor de 3 Oscares (Apocalypse Now, O Último Imperador e Reds).

"O flamenco me interessa cada vez mais. Não sou um grande especialista no gênero. Sou só um apaixonado. É algo único que temos na Espanha. O mais parecido ao jazz. É uma mescla de culturas. É, sobretudo, uma música viva, o que a diferencia de outras que não avançaram. O flamenco se enriquece com novas contribuições. Está num momento vigoroso, vivo e fantástico”, disse Saura. A estréia do filme está prevista para setembro do ano que vem. Mais informação (em castelhano).

sábado, 14 de novembro de 2009

Da liberdade de expressão no país da identidade nacional

Marie NDiaye ganhou o pémio Goncourt este ano, com o seu romance "Trois femmes puissantes" (um história de vidas despedaçadas entre França e África, não li mas estou com imensa vontade). Marie NDiaye, e a família (companheiro e três filhos) vivem em Berlin desde que Sarkozy se tornou presidente da república francesa. Mudaram-se essencialmente por razões políticas. Marie NDiaye numa entrevista ao "Les InRockuptibles" afirmou que considera a França de Sarkozy "monstruosa" e que acha "detestável esta atmosfera policiesca e vulgar... Besson, Hortefeux [actual e anterior ministros da Identidade Nacional e Imigração], toda essa gente, acho-os montruosos". São opiniões, cada um tem a sua, NDiaye tem esta. O deputado Eric Raoult, da UMP (partido de Sarkozy), tem outra, acha que NDiaye não tem direito a expressar-se. Raoult não manifesta o seu desacordo, nem se digna contra-argumentar as opiniões da escritora, simplesmente que ela devia estar calada. Repare-se na pérola de raciocínio: Raoult considera que NDiaye tendo ganho o mais prestigiado prémio literário francês se torna de certo modo numa embaixadora de França, e como tal não deve criticar o seu presidente da república, Raoult inventa assim um suposto "dever de reserva" (sic) para os vencedores do prémio Goncourt, com o apoio generalizado do seu partido. Ou seja, na cabeça desta gente, para se ganhar prémios literários (ou quaisquer outros, imagina-se) há que abster-se de criticar sua excelência, o presidente da república. Estranho conceito de liberdade de expressão. NDiaye, que antes de ter conhecimento da posição de Raoult até admitia que as suas próprias afirmações eram algo excessivas, mantém inteiramente o que disse, enquanto Bernard Pivot, membro do júri do prémio Goncourt é bem claro no desmentir a existência do tal "dever de reserva". E tudo isto ocorre em França, quando se debate a identidade nacional, como referiu o André. O que me leva a colocar uma questão: teria Raoult atacado o vencedor do prémio Goncourt se ele/a se chamasse Lefèvre, e tivesse um pouco menos de melanina na pele?
P.S. - Vale a pena ler "Entre a voz da Frente Nacional e a dum escritor livre, há que escolher" por Christian Salmon.

Anúncios anti-SIDA não têm que ser polémicos, apenas bem feitos

E foi por isso que um anúncio português ganhou um prémio internacional, deixando de lado um polémico anúncio já referido pelo Manolo.

O spot em apreço chama-se «Cinco razões para não usar preservativo», já tem anos e foi considerado o melhor anúncio governamental europeu de prevenção da sida num concurso internacional patrocinado pelo Governo alemão.

Para o coordenador nacional para a infecção VIH/sida, a atribuição deste prémio é "muito importante" pois suporta a ideia de que "é possível fazer campanhas que são reconhecidas como interessantes e importantes, quer do ponto de vista da mensagem, quer do ponto de vista estético e da forma como são realizadas".

Em Portugal são c. de 20 mil as pessoas infectadas com o vírus da SIDA.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ó Manolo, já tá vendo a luz?

Ou por aí continuam em fase de poupança pró-ambiental?

Por cá, a imprensa comenta sobre as inevitáveis consequências políticas negativas para o governo de Lula, caso o apagão tivesse sido evitável.

As velas e lamparinas é que também devem ter levado um apagão...

7 anos de vergonha para Lisboa

O Arquivo Histórico de Lisboa celebrou em Outubro passado o seu 7.º aniversário de encerramento injustificado. Sobre este triste assunto, que tem contado com o desinteresse impante dos sucessivos edis, já vários textos escrevi, incluindo carta para a imprensa (publicada no Público) e posts, aqui e noutros blogues, onde propus várias soluções.
Agora, o Fórum Cidadania Lisboa pôs as mãos na massa e aprofundou a questão num post que vale a pena ler, até pelos exemplos de boas práticas noutras cidades europeias: «7 ANOS ENCERRADO AO PÚBLICO É MUITO TEMPO. É tempo de dar atenção ao Arquivo Histórico da CML!».
Já não dá mais para disfarçar e assobiar para o lado.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Eu não podia estar mais de acordo com Sarkozy

O presidente francês - mailo seu pressuroso ministro da Imigração e da Identidade Nacional (sic) Éric Besson - acha que o debate sobre a identidade nacional é necessário.

Eu não podia, se o texto acabasse aqui, estar mais de acordo com Sarkozy. E até podia continuar 100% de acordo, se retirasse certas frases do seu contexto:

É com esta política da avestruz sobre a identidade nacional que deixamos o terreno livre para todos os extremismos".

Mas o contexto é tudo - e o debate necessário de que agora se fala é pura poeira atirada para os olhos (de la poudre aux yeux). A identidade nacional de Sarkozy é baseada na exclusão da diferença cultural, a qual diferença é logo amalgamada com o extremismo religioso (junto à conversa sobre a identidade nacional vem agora, como "soundbyte", a conversa sobre a proibição da "burka" na rua).

Pois é: eu não podia estar mais de acordo com Sarkozy. A identidade nacional tem de ser debatida. Mas não porque esteja demasiado ameaçada. E o debate teria de ser todo diferente, não telecomandado pelo ministro da expulsão dos imigrantes (é o verdadeiro nome do ministério).

Política da avestruz é não perceber que a identidade nacional entrincheirada em si mesmo, na tal da aldeia global, para além de ser uma forma vil de fazer salivar o eleitorado xenófobo, se torna em mais uma forma de comunitarismo.

PS: continuando a descarregar a bílis, sugestão de lema épico para o sarkozysmo (não só francês) em versão europeia. Extraído dos Lusíadas, canto I, estância 64, fala Vasco da Gama:

"não sou da terra, nem da geração
das gentes enojosas de Turquia,
Mas sou da forte Europa belicosa"

Adhan

Depois deste post do Zéd, um convite para a Mesquita de Lisboa.

14º Encontro Inter-Religioso de Meditação
25 de Novembro de 2009
Mesquita de Lisboa
A Comunidade Islâmica de Lisboa tem o prazer de convidar V. Exa. para participar no Encontro Inter-Religioso de Meditação, que terá lugar na Mesquita de Lisboa, pelas 18h00.
Pelas 19h30 convidamo-lo(a) a participar na última oração da noite.
Solicitamos às senhoras que se façam acompanhar de um lenço para este fim.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Os soldados não gostam de planíceis VI (os muçulmanos incluídos)

Quando se comemora o 91° aniversário do Armistício de 1918, encontrei esta tocante história de um jazigo esquecido nos arredores de Lyon, em La Mulatière, que acolheu os corpos dos combatentes muçulmanos franceses mortos durante a I Guerra Mundial.
Quando se discute a integração dos muçulmanos na Europa (e a construção de minaretes na Suiça) convém lembrar que não é de agora, houve os "metrailleurs" senegaleses na II Guerra, como houve muçulmanos na I Guerra que morreram pela França. Para morrerem em combate, não tiveram problemas de integração. Também não é de agora, felizmente, que há quem lute para que os muçulmanos sejam respeitados como os demais. Na época foi o "maire" do município de La Mulatière, Paul Nas, quem assegurou que os muçulmanos eram enterrados segundo os rituais islâmicos, e bateu-se para que fosse construído o jazigo, que só foi concluído em 1936 (entretanto esquecido sob as ervas, e redescoberto em 2006 pelo historiador amador Frédéric Couffin).

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

E por falar em muros...(atualizado)

... pouco ou quase nada tem se falado do “muro da vergonha”, que está sendo levantado ilegalmente por Israel nos territórios palestinos. Parece-me que uns muros são mais especiais que outros. Na foto debaixo, ativistas palestinos comemoram o aniversário da queda do Muro de Berlim tirando um pedaço do muro de segurança levantado por Israel. Mais (em castelhano).


O grafite no muro é de Banksy.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss (1908-2009)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Uma boa iniciativa de administração aberta

Surgiu recentemente um serviço público bem útil para melhorar a qualidade de vida nos municípios portugueses. Chama-se autarquias.org, e é um site que permite a qualquer cidadão apresentar as suas queixas, denúncias, alertas sobre todo o tipo de deficiências passíveis de serem reparadas pelas autarquias locais. Uma ideia simples mas muito eficiente, a atender pelo número e variedade de denúncias que já estão aí visíveis para todos lerem. Mão amiga fez-me chegar um texto de divulgação da iniciativa, que aproveito para transcrever:

«Caro cidadão,

A partir de hoje, tem ao seu dispor a plataforma autarquias.org.
Com o autarquias.org os cidadãos podem alertar os municípios para as mais variadas situações, desde de Lixos na via pública, postes de iluminação que não o funcionam, buracos na via pública, equipamento danificado, problemas nos abastecimentos, ou outros tipos de problemas, que muitas das vezes as Câmaras Municipais não tem conhecimento.
Os cidadãos podem acompanhar as respostas das autarquias aos alertas apresentados por outros cidadãos, como também participarem nesses mesmos alertas adicionando comentários.
O autarquias.org permite também a criação de debates por cidadãos que pretendem discutir assuntos que lhes pareçam pertinentes com outros cidadãos e com o próprio município ou questionar a autarquia sobre um assunto do interesse de todo o município, como também a abertura de petições.
Participe neste projecto:
www.autarquias.org».

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Gosto deste statement

Do Festival Temps D'Images.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Enquanto o tempo for permitindo

ainda se pode ir à mais ou menos nova esplanada do Palácio de Galveias.
Num bonito quiosque e inteiramente child friendly (a quem interessar esta faceta), tornou o jardim da Biblioteca num espaço que se consegue realmente desfrutar, embora a presença um tudo nada ameaçadora dos pavões impeça o acesso tranquilo ao relvado. Talvez os bichos se pudessem mudar para o jardim do Museu da Cidade, onde já existem mais e por ser um espaço mais ornamental que outra coisa ficam lá muito bem.
Só é pena que os livros não tenham, também, saído ao jardim.

No aniversário das eleições de 1969

Durante as eleições de 1969, as primeiras do marcelismo, o padre Felicidade Alves não pôde participar tanto quanto queria devido ao processo canónico que estava a decorrer, após ter sido removido de pároco de Belém, em 1968, por causa das posições que tomou contra a guerra colonial. Em 1970 foi excomungado pelo cardeal Cerejeira. Aderiu ao PCP. Reconciliou-se com a Igreja Católica em 1998, por ocasião do seu casamento celebrado pelo actual cardeal-patriarca. Escreveu uma carta a apoiar a Comissão Democrática Eleitoral (CDE), que foi publicada no boletim na CDE de Lisboa, em Outubro de 1969. Eis alguns excertos:
«(…) para já, o manifesto da nossa “irmã” – a CEUD – deu-me uma alegria imensa. O que ali se diz ficará como monumento duma viragem política: poder-se atacar sem rodeios o mito nacional-patrioteiro de que “aquilo é nosso e sempre o será” (como se um povo pudesse ser proprietário de outros povos!) é um gesto histórico. Eu seria mais radical, mais explícito em certos pontos: mas é imenso o passo que se deu. (…)
Penso que não se deve deixar passar nem um dia nem uma ocasião para denunciar ao público – e obrigar as pessoas honestas que deram o seu nome às listas da UN a reconhecerem se sim ou não – as criminosas arbitrariedades e as esmagadoras cilindragens operadas pelas duas patas destruidoras de que dispõe a situação prevalecente: A Censura e a Pide. (…)
A nossa luta não termina no dia 26 de Outubro. Ou melhor: é então que a nossa luta mais se impõe e se deve intensificar. Como? Ver-se-á. Mas o ideal, a utopia (no sentido nobre da palavra) é a construção duma sociedade em que reine a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade; em que não haja classes ou pessoas privilegiadas (….)
Finalmente, há uma esfera de problemas que vós não tratareis, mas que para mim são fundamentais. Refiro-me ao incestuoso conúbio entre as coisas políticas e as coisas sacrais, entre as hierarquias eclesiásticas e as autoridades políticas, entre as estruturas de pensamento clerical e as estruturas de pensamento opressivo e repressivo. É um vasto mundo de infiltrações recíprocas, extremamente insidiosas, que urge desmascarar. O regime concordatário, em que vivemos, amordaça mais a Igreja do que o Estado: mas sobretudo é nefasto para os cidadãos e para os crentes. Mais do que o regime jurídico, são as situações de facto, em que a igreja católica dá cobertura moral à Situação e às suas prepotências, e a Governação oferece o seu braço secular armado aos interesses (aliás equívocos) da religião dominante. Vós não entrareis nessa problemática e fazeis bem. Deixai – a nós – cidadãos como vós, além disso discípulos convictos do profeta Jesus de Nazaré. E, nesse sentido, em breve serão difundidos alguns textos [e foram, nos Cadernos do GEDOC, publicação semi-clandestina que se tornou clandestina e acabou quando os seus organizadores foram presos pela PIDE] em que serão focados temas nevrálgicos, como o casamento concordatário e as suas injustiças; o serviço antievangélico e degradante dos capelães militares, as ambiguidades do ensino da religião e moral nas escolas; a abusiva intromissão do Governo na nomeação dos bispos; o regime das missões católicas, etc.»

As Eleições de Outubro de 1969. Documentação básica, Lisboa, Publicações Europa-América, 1970, p. 115-116.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um programa para 4 anos?

O 18.º governo constitucional português apresentou o seu programa de governo no parlamento, que não é mais do que o decalque do programa eleitoral do PS.

As oposições criticaram o gesto do novo governo, acusando-o de arrogância e de insensibilidade face aos resultados eleitorais, uma vez que aquele programa fora esboçado tendo a expectativa duma maioria absoluta (teria?) e não contempla soluções de compromisso para imbróglios passados, como o conflito com os professores do ensino básico e secundário. Tentando contornar estas críticas, o governo contra-ataca com o anúncio de medidas avulso consensuais ou, pelo menos, sensatas, como a limitação do mandato do premiê e dos líderes dos governos regionais.

Para os interessados, e para efeitos de escrutínio público, senhoras e senhores, eis o Programa do XVIII Governo Constitucional (2009-2013). Boa leitura... e boa sorte!

Nb: o cartoon é de GoRRo e foi patrocinado pela Adega Cooperativa Estratégica.

Debate sobre a difusão do conhecimento científico

Sobre esta questão central na produção e circulação da ciência contemporânea, um movimento de cientistas envolvido no projecto da  Public Library of Science lançou recentemente um apelo aos grandes grupos da edição científica. O estudioso da leitura e do livro José Antonio Millán relata os últimos desenvolvimentos deste debate no texto «La revuelta de los científicos», e nele lista preciosas hiperligações para reacções e ecos na imprensa.

domingo, 1 de novembro de 2009

Toucinho do céu


cartoon de GoRRo (c) 2009

Nb: a complementar com «Investigadores dizem que "rede tentacular" incluía Vara e Penedos» e «Armando Vara: o polémico banqueiro acidental», este último afastando metáforas de luta na lama...