domingo, 31 de janeiro de 2010

Em caso de dúvida, marque tripla

ps: já agora, um blogue com inf. útil para acompanhar, pelo menos durante este ano...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

David Copperfield kind of crap


























J. D. Salinger iria, provavelmente, detestar os seus próprios obituários. Recolhido há já vários anos, o escritor tinha-se lançado numa qualquer fuga de efeito vedeta mergulhado em literatura Zen, onde só eram admitidas jovens admiradoras.
«… knew quite a lot about the theater and plays and literature and all that sutff. If somebody knows quite a lot about those things, it takes you quite a while to find out whether they’re really stupid or not» (The catcher in the rye, cap. 15).
Mas é impossível não falar da sua grande obra The catcher in the rye. De leitura obrigatória no 12º ano (espero que ainda seja) e depois das soporíferas incursões escalabitanas de As viagens na minha terra, ou das meditações pessimistas de Menina e moça, Catcher in the rye mostrava o mundo, as «verdadeiras» angústias em deambulação nova iorquina e um herói que cada leitor daquela idade tomava quase como seu duplo.
Voltei a lê-lo mais tarde e voltou a apanhar-me, talvez já não pelas angústias, mas pelo sarcasmo de estilete com que Holden Caufield analisa cada situação e que o acaba por deixar encurralado.
Salinger também se encurralou, mas antes disso, não há dúvida que escreveu na nossa vida.

Imagens: William Holden e Jane Caulfield. Da junção dos dois nomes surge o de Holden Caulfield que detestava cinema. «If there's one thing I hate, it's the movies. Don't even mention them to me.»

JD Salinger 1919 - 2010

“What really knocks me out is a book, when you're all done reading it, you wished the author that wrote it was a terrific friend of yours and you could call him up on the phone whenever you
felt like it.”

in "The Catcher in the Rye"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dignidade

Pela sua relevância, transcrevo um texto da ong AVAAZ sobre o Haiti:
«Caros amigos, 
Apesar do terremoto, o Haiti deve pagamentos exorbitantes pela “dívida externa da ditadura” de anos atrás. Assine a petição para cancelar a dívida externa do Haiti, a Avaaz e parceiros irão entregá-la ao FMI e Ministros das Finanças semana que vem.
É chocante: mesmo com ajuda sendo direcionada para as comunidades desesperadas do Haiti, o dinheiro sai por outro lado para pagar a dívida externa exorbitante do país. Mais de $1 bilhão de uma dívida injusta acumulada anos atrás por credores e governos inescrupulosos.
O chamado pelo cancelamento total da dívida externa do Haiti está ganhando força ao redor do mundo e já convenceu alguns governantes. Porém, rumores dizem que outros países credores ainda estão resistindo. O tempo é curto: os Ministros das Finanças do G7 irão tomar uma decisão semana que vem em um encontro no Canadá.
Vamos gerar um chamado global por justiça, compaixão e bom senso para o povo do Haiti neste momento de tragédia. A Avaaz e parceiros irão entregar o chamado pelo cancelamento da dívida externa diretamente no encontro. Clique abaixo para assinar a petição e depois divulgue para os seus amigos: http://www.avaaz.org/po/haiti_cancel_the_debt/?vl.
Mesmo antes do terremoto, o Haiti já era um dos países mais pobres do mundo. Depois que os escravos Haitianos ganharam a independência em 1804, a França demandou bilhões em indenização – lançando uma espiral de pobreza e dívidas injustas que já duram dois séculos. 
Há alguns anos, campanhas globais pelo cancelamento de dívidas externas despertaram a consciência do mundo. Nos últimos dias, sob uma pressão crescente, financiadores começaram a dizer a coisa certa sobre o cancelamento da dívida externa do Haiti, que ainda é um fardo devastador para o país. 
Porém o problema está nas entrelinhas. Depois do tsunami em 2004, o FMI anunciou um alívio no pagamento da dívida externa dos países atingidos – mas os juros continuaram a acumular. Quando a atenção pública diminuiu, os pagamentos da dívida eram maiores do que nunca. 
Chegou a hora de cancelar a dívida externa do Haiti incondicionalmente para garantir que a ajuda enviada seja em forma de doação e não empréstimo. Uma vitória agora irá afetar a vida das pessoas do Haiti, mesmo depois que a atenção do mundo se dissipar. Participe do chamado pelo cancelamento da dívida externa e depois encaminhe este alerta para pessoas que se preocupam também».

O focinho não engana: Tom Ripley


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

É impressão minha ou o minº das Finanças está na tv há +1h para disfarçar o facto da líder da oposição ter dado em 1.ª mão os maus défices de 2009-10?

PS: Já na fase de perguntas e respostas do inusitado briefing, um jornalista pergunta porquê só agora a apresentação do orçamento para 2010.

Ao que o ministro responde, triunfante, sem pestanejar: «Ainda é dia 26 [23h56], portanto, ainda estamos dentro do prazo. Eu trabalho 24h por dia, se for preciso.».

Por mim, não é!! Poupem-nos ao folclore!

Nos carris de Kafka...

Outros posts do Peão sobre política ferroviária: «No país esquecido» e «O descarrilamento do Simplex».

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Um trio memorável

Foi memorável a série de 4 concertos que juntou Fausto, Sérgio Godinho e José Mário Branco em Lisboa e Porto no outono passado. Por várias razões: a projecção dos artistas e sua diversidade de estilos; a riqueza da selecção do repertório (combinando músicas de que cada um gostava, de si e dos outros dois, com inéditos individuais ou em parceria, além de José Afonso); a qualidade das letras, músicas e arranjos; a valia do alargado conjunto de músicos acompanhantes; o caloroso público intergeracional (pese a maior presença de cinquentões e sexagenários); a raridade deste tipo de encontro, após os momentos de comunhão revolucionária de 1974/5 (mas também do exílio parisiense, no caso de SG e JMB). E, last but not least, a pertinência da música de intervenção e da sua articulação com baladas e outras canções.
Por tudo isto, a adesão foi imediata e maciça: os concertos lotaram com antecedência; o duplo cd tornou-se, num ápice, disco de ouro e líder de vendas; a caixa cd+dvd segue de vento em popa, etc.. O registo dum desses «Três cantos» foi recentemente divulgado na RTP1, seguido do documentário Faz tudo parte, de André Godinho. Aquele permitiu perceber melhor as letras, certos detalhes, enquanto este último deu lugar às opiniões, memórias e imagens bem antigas dos cantautores.
Por tudo isto, faço votos para que os 3 se voltem a juntar. Se assim for, que em Lisboa seja noutra sala, no Coliseu, por ex.. Estive no 2.º concerto do Campo Pequeno e fiquei com a impressão de não ser um bom espaço para um concerto destes: os lugares são muito apertados, as vozes não se ouvem bem, é demasiado grande. E este voto que faço não é por saudosismo, mas sim pelo que expus acima.
Deixo-vos o alinhamento do espectáculo nas suas duas partes (repetido nos 2 cds), com links para o registo em concerto dalgumas delas (+na lista de Fernando Marques de 6/XII):
Travessia do deserto 2 Ser solidário
Como um sonho acordado 3 De não saber o que me espera
A barca dos amantes 4 Olha o fado
Mariazinha 5 Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Rosalinda 6 Foi por ela
Quatro quadras soltas 7 Que força é essa
Canto dos Torna-Viagem 8 Eu vi este povo a lutar (Confederação)
A ilha 9 Maré alta
Não canto porque sonho 10 Inquietação
O charlatão 11 Na ponta do cabo

sábado, 23 de janeiro de 2010

Lino Neto, um católico peculiar na I República

Foi lançado nesta semana o livro António Lino Neto: Intervenções Parlamentares (1918-1926), que inclui uma biografia deste político católico pela laboriosa pena dum peão nosso conhecido... O qual nos traz deliciosas revelações sobre as 'construções' mitológicas dum outro católico bem menos dialogante e desempoeirado...

Num dos vários estudos que publicou, A questão administrativa (o municipalismo em Portugal), Lino Neto tem esta tirada certeira que, infelizmente, continua actual: todos defendem em tom vigoroso a descentralização, sem que ninguém apareça a defender o centralismo; mas, uma vez no poder, ninguém concretiza a descentralização (ap. reportagem de A. Marujo no Público, 22/I, p.9-P2).

Em época de celebrações, é positivo não ficarmos só pelo elogio dos vultos republicanos, pois não foram só eles que trouxeram contributos válidos para a sociedade portuguesa, como bem aponta o prefácio de D. Manuel Clemente ao livro ora divulgado.

A obra resulta do projecto de investigação «Os católicos portugueses na política do século XX», e é coordenada por António Matos Ferreira e por João Miguel Almeida (vd. +inf. aqui).

Aos autores aqui ficam os meus parabéns!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Democracia de fachada

O quadro político angolano está tão viciado que poucos se deram ao trabalho de reprovarem a entorse democrática por detrás da recente aprovação da 1.ª constituição do país. E, no entanto, o facto do futuro presidente angolano vir a ser eleito pelo parlamento significa, na prática, carta branca para a perpetuação de José Eduardo dos Santos, o sr. todo-poderoso que se mantém no poder há 31 anos e que nunca venceu uma eleição própria. Um presidente vitalício não se usa em democracia. Eis o perverso paradoxo: o parlamento escolhe, mas quem manda é o escolhido! Perante este cenário, a nova lei fundamental já é conhecida como «a Constituição do Presidente». Que se junta assim ao novo bilhete de identidade, com uma foto do Pai da nação, como deve ser.
E, depois, há uma ironia amarga nisto tudo: o MPLA que contribuiu para derrubar um Presidente do Conselho vitalício (2 até: Salazar e Caetano), contribui agora para eternizar um outro. E isto sob o olhar complacente dos países ocidentais, que fecham olhos face aos interesses em jogo. A realpolitik prossegue. A democracia pode esperar.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Caderno de memórias coloniais

Porque a história do colonialismo português tem sido um dos meus temas de estudo e investigação, estou atenta ao que se vai publicando nesta área. Também procuro ler os livros de memórias e os romances históricos sobre o período colonial que vão aparecendo. Interessam-me, particularmente, as memórias, pois abordam as expriências de vida, as emoções, o quotidiano, aspectos que as fontes documentais oficiais,  regra geral, não reflectem.

Por estar atenta a essa literatura autobiográfica ou memorialística sobre África, escrita por portugueses que regressaram à antiga metrópole depois das independências africanas, posso dizer que Caderno de memórias coloniais (Coimbra, Angelus Novus, Dez. 2009), de Isabela Figueiredo (autora do blogue Novo Mundo), é um livro fora do comum. Ao contrário da esmagadora maioria da «emergente literatura dos 'retornados'» (como lhe chamou Sheila Khan), é um exclente livro em termos literários. E esse será o melhor motivo para ler e recomendar a obra. Acresce que consegue dar um contributo significativo para a desconstrução de uma imagem hegemónica e monolítica das vivências dos colonos portugueses em África. A partir das memórias de infância e adolescência, trabalhadas literariamente, somos confrontados com a sua visão do sistema colonial, do racismo, da sexualidade, do «retorno», da sociedade portuguesa... Como pano de fundo e elemento catalizador, a sua relação com o pai; figura que, para ela, a partir de certa altura, passou a personificar o colonialismo. Não obstante a educação e os valores cristãos que sempre lhe transmitiu.

O colonialismo português paternalista do pós-II Guerra Mundial, que a um ideário humanista (fundado numa suposta vocação ecuménica dos portugueses) continuava a aliar uma prática de violência, discriminação e exploração dos africanos, ganha corpo neste livro.

Museus transferidos para os municípios

Ainda a propósito de museus, a nova ministra da Cultura anunciou que 28 museus serão transferidos da rede museológica nacional para as autarquias onde estão instalados. O 1.º a sair da rede será o Museu José Malhoa, das Caldas da Rainha.
Trata-se duma medida descentralizadora, que se espera tenha algum tipo de apoio a nível central, pelo menos no arranque, sob pena desses museus perderam capacidade de atracção e relevância.

Hope For Haiti Now

Em resposta ao terremoto que afetou o Haiti, a MTV Networks apresenta amanha, a partir das 21 horas, o concerto “Hope For Haiti Now” (Esperança para o Haiti Agora). Este show global foi organizado pelo ator George Clooney e terá a presença de mais de 100 artistas, com o objetivo de arrecadar fundos pras vítimas do terremoto.

Até o momento, já estão confirmadas as presenças de Wyclef Jean, Bruce Springsteen, Jennifer Hudson, Mary J. Blige, Shakira e Sting, em Nova Iorque. Em Los Angeles, irão se apresentar Alicia Keys, Christina Aguilera, Dave Matthews, John Legend, Justin Timberlake, Stevie Wonder, Taylor Swift e uma perfomance conjunta de Keith Urban, Kid Rock e Sheryl Crow. No palco de Londres, se apresentarão Coldplay e uma atuação conjunta de Bono, The Edge, Jay-Z e Rihanna.

O programa será transmitido por todos os canais MTV e a estimativa e de atingir aproximadamente 640 milhões de lares em todo o mundo, incluindo a sua primeira cadeia na China, assim como outras grandes redes como a CNN, ABC, CBS e Fox.

O concerto também será transmitido ao vivo através de sites como YouTube, Hulu e MySpace e por algumas operadora de celulares (Estados Unidos e Europa). Além disso, no sábado, todas as apresentações estarão disponíveis para dowlond pago no iTunes.

Toda a renda será distribuída (em partes iguais) para as organizações que estão trabalhando efetivamente no Haiti: Oxfam America, Partners in Health, Cruz Vermelha, UNICEF e Fundação Yele Haiti.

Da enciclopédia ao museu?

A monumental Enciclopédia da música em Portugal no século XX é hoje apresentada em Lisboa (Teatro S. Carlos, 19h), após 12 anos de trabalho duma equipa de 151 colaboradores dirigida pela Prof.ª Salwa Castelo-Branco (do Instituto de Etnomusicologia da FCSH-UNL). A obra, em 4 volumes, tem 1440 páginas, mais de 1250 entradas, 550 imagens e índices temático e onomástico. Segundo nota informativa, abrange as músicas erudita, popular, tradicional, o folclore, o pop-rock, o jazz, o fado, a canção coimbrã e a música nas comunidades migrantes. Aborda ainda «modos expressivos em que a música desempenha um papel central, como a dança, o cinema e o teatro». Por tudo isto, e pela qualidade do trabalho, é a 1.ª «grande obra de referência dedicada à música praticada em Portugal» no século passado.
Em depoimento ao DN, Salwa Castelo-Branco alertou para a necessidade de se preservar em museu próprio os registos sonoros dessa centúria: «Espero que sirva para que o Governo leve a sério a necessidade de se criar um museu. É preciso um arquivo sonoro e eu ando há muitos anos a pedi-lo. Há muito que faz falta um Museu de Música, um local que reúna a história musical dos últimos 100 ou 110 anos, desde que se inventou o gramofone».
Só o 1.º dos 4 volumes editados pelo Círculo de Leitores será hoje apresentado. Os restantes volumes chegarão em Março (letras C a L), Maio (L-P) e Julho (P-Z). Cada volume custará aos associados entre 24,9€ e 29,9€, chegando depois às livrarias do Círculo e da Temas & Debates.

Um divertidíssimo vídeo amimado sobre sexo seguro

A Aides, uma ONG francesa da luta contra a SIDA/AIDS, criou uma peça publicitária simplesmente genial para promover o sexo seguro e o uso da camisinha. Trata-se de uma animação onde um pênis pintado na parede de um banheiro público procura desesperadamente por um uma vagina... O vídeo é divertido, bem original, curto e pode ser visto por todas as idades. Veja-o até o fim.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A ver vamos no que dá em concreto

«Governo dá prioridade ao sector social no relançamento da economia» [no quadro das negociações do orçamento estatal português para 2010]

Risco de pobreza subiu na UE, e rapa-se frio no ameno Portugal

Segundo dados revelados pelo Eurostat, 17% da população europeia está em risco de pobreza, sendo o risco maior entre crianças e idosos. Portugal está acima da média (18%), havendo países em pior situação (26% na Letónia, 23% na Roménia, 21% na Bulgária e 20% na Grécia, Espanha e Lituânia).

Ainda quanto a Portugal, lidera um indicador bastante desagradável: 35% dos seus habitantes não tem capacidade para manter a casa adequadamente quente (face a 10% da Europa a 27; vd.+ aqui e aqui). Nem o aquecimento global resolve o problema...

Nb: imagem retirada daqui.

 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Místicos Cristãos

Místicos Cristãos - Janeiro a Julho de 2010

Jan. 30, Teresa do Menino Jesus (1873-1897) - Pe. Ismael Teixeira (Ordem do Carmo);
Fev. 27, As Beguinas - Profª Ana Maria Jorge;
Mar. 27, Hildegarde de Bingen - (1098-1179) - Maria José Salema;
Abr. 24, Edith Stein - (1891-1942) - Pe. José Tolentino de Mendonça;
Maio 22, Clemente de Alexandria - (150-215) - Pastor Dimas de Almeida;
Junho 26, Daniel Faria - (1971-1999) - D. Carlos Moreira Azevedo.
As sessões têm lugar às 15,00 horas, no Centro de Estudos da Ordem do Carmo, Rua de Santa Isabel, 128-130 (rua defronte da Igreja), tel. 213875179
Imagem: capela de Henry Matisse em Vence

domingo, 17 de janeiro de 2010

Apologia da democracia participativa

Os 80 anos do nascimento da única primeira-ministra portuguesa, Maria de Lourdes Pintasilgo, estão a ser celebrados com uma série de iniciativas importantes, a que se junta um alerta para a salvaguarda do Centro de Documentação Elina Guimarães, um espaço único de cultura e intervenção feminista em Portugal, obra da UMAR. Pintasilgo, que foi uma feminista convicta, decerto apoiaria esta causa, ela que também foi uma lutadora por causas progressistas e pela democracia participativa.

Sobre o tributo a Pintasilgo, arrancou na 2.ª feira passada com a estreia do documentário Maria de Lourdes Pintasilgo, de Graça Castanheira, na FCG. O documentário, que traça um retrato da vida pública e privada de Pintasilgo, foi também exibido ontem na RTP2 (+inf. aqui). Para quem ainda pretenda (re)vê-lo, há pelo menos um servidor de tv por cabo que permite visualizar a programação da RTP mesmo após a sua transmissão.

O ciclo de debates «Cuidar a democracia, cuidar o futuro» foi delineado pela própria Pintasilgo em 1996 e visa reflectir sobre que tipo de democracia queremos. Concretizado pela instituição que divulga o seu legado, a Fundação Cuidar o Futuro, começa amanhã, na FCG, e decorre até 25/II, num total de 6 debates em distintos locais (vd. programa na imagem anexa ou aqui). Para mais informações sobre o conteúdo de cada sessão vd. aqui e aqui.

O centro feminista da UMAR, sediado em Lisboa, está em risco de desaparecimento desde 2005, e bem faria a edilidade em disponibilizar um espaço condigno para este tão relevante projecto, em vez de esbanjar o dinheiro em foguetórios Red Bulls e quejandos (vd. «Apelo ao presidente da câmara e ao governo»). Aproveita-se para indicar a petição: «Por um Centro de Cultura e Intervenção Feminista na cidade de Lisboa».

Para abrir o apetite, aqui fica um excerto certeiro do esboço de Pintassilgo para o seu ciclo de debates:

A mobilização das forças sociais é um novo factor a ter em conta no desenho e implementação das políticas públicas. Por isso um novo contrato social é exigido, extensível aos governos e à população, à própria natureza e a todas as nações do mundo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Plantar árvores


Hoje no Parque Natural Sintra-Cascais foram plantadas 1000 árvores, à semelhança aliás do que já havia sido feito em Novembro. Há um provérbio chinês que diz qualquer coisa como "A melhor altura para se plantar uma árvore foi há vinte anos ou então é agora". A iniciativa está portanto de parabéns.

Lourdes Castro

Ainda o fim de semana para ver a exposição de Lourdes Castro no Centro de Arte Manuel de Brito, Palácio dos Anjos.
Exposição pequena, sem as suas, e minhas favoritas, «caixas» de memórias (col. CAM), onde harmoniosamente convivem artefactos de um Portugal acanhado, quando Lourdes Castro vivia já numa Paris artística.
Em Algés estão as sombras recortadas, fotografadas, bordadas numa multiplicidade de técnicas e com um espírito muito Arts and Crafts, só que Pop e em plexiglass.
Também um vídeo, inspirada entrevista à RTP, em que a autora conta o início da sua experiência artística em «caravana» para a Alemanha (o mesmo vídeo estava na exposição sobre o anos 70 no CAM).
Do folheto da exposição as palavras de Maria Arlete da Silva: «Conheci Lourdes Castro em Paris nos finais do anos 60 e a sua atitude perante a vida, os seu despojamento das coisas materiais, o proporcionar felicidade aos outros com pequenos gestos e o seu contacto com a natureza influenciaram profundamente a minha maneira de ver o mundo. As casas onde morou eram lugares mágicos. Recordo o sótão onde morou em Paris porque apesar de muito pequeno e nele morarem e trabalharem duas pessoas, a artista e o seu marido René Bértholo, tudo estava devidamente estruturado para as necessidades do casal. Ao fundo um jardim de vasos, depois uma cama com um lençol bordado com os contornos dos corpos dos dois artistas. Numa parede estava inserida uma pequena mesa tendo desenhadas na parede as silhuetas sentadas do casal. Havia ainda uma zona de trabalho para cada um deles. Num armário uma colecção enorme de carimbos.»
Depois, em Março, outra exposição em Serralves da sua faceta gráfica no grupo KWY. E é bom ver mostras mais ou menos sistemáticas de uma artista maior como Lourdes Castro.
Imagem: Sombra Projectada de Claudine Bury, 1964.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ninguém pára o Alegre, ninguém pára o Alegre, alé ô!

Portimão, esta noite (com ou sem sardinhas)
PS: para ser complementado com a notícia «Manuel Alegre anuncia candidatura à Presidência da República».

Momentos «jamais» da nova temporada

O ministro que afiançou «jamais» se construir o novo aeroporto de Lisboa em Alcochete já saiu de cena, mas parece ter contaminado os seus correlegionários. Ora vede aqui 2 exemplos recentes: o edil António Costa em piruetas com o dinheiro do mexilhãoA “indignação” dá-lhe asas») e o ministro António Mendonça em delírios turístico-tecnológicos, que saltam do futuro («Lisboa pode-se transformar por exemplo na praia de Madrid») para o passado enquanto o diabo esfrega um olho, e sempre com grande sentido de oportunidade e argumentação  (vd. balancete em «Dos carroceiros tristes aos burros felizes»).

Madrid?! Qual quê! Riviera do Mundo e mai nada!

Sardinha da costa portuguesa já tem certificado de qualidade

Parabéns à sardinha que se banha nesta costa atlântica: desde hoje passa a ter certificação de qualidade, para defender a sustentabilidade dos recursos e valorizar a espécie no mercado. O selo de garantia é atribuído pela MSC, uma «organização internacional sem fins lucrativos responsável pelo único programa de certificação mundial do pescado» (+aqui). Que simples e boa ideia esta!

Já agora, dizer que a sardinha tem, desde 2005, um grupo de fãs especialistas, a Confraria da Sardinha.

A imagem de Nuno Saraiva tem esta suculenta explicação.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

São quase todos pretos, Ou quase pretos, Ou quase brancos quase pretos de tão pobres

O Haïti é aqui!
Nada como uma catástrofe natural para por a nu as desigualdades; não me lembro de exemplo mais claro do que este sismo no Haïti.
A primeira república de negros, escravos que se revoltaram e declararam a sua própria libertação quando a Revolução Francesa ainda hesitava se haveria de abolir a escravatura ou não. Em 1794 a revolta dos escravos na então Saint Domingue levou à abolição de facto da escravatura antes que ela fosse declarada oficialmente em Paris. Toussaint Louverture foi o líder que começou a organizar um estado digno desse nome na então próspera colónia francesa. Quer dizer, próspera para os 30000 colonos brancos, mas autêntico inferno para os 500000 escravos negros. Quando Napoleão Bonaparte decidiu re-estabelecer a escravatura (1803), os ex-escravos recusaram o regresso à antiga condição, e venceram o exército de Napoleão (chefiado pelo seu cunhado). Toussaint Louverture, esse foi preso pelos franceses e não sobreviveu: primeira das tragédias do Haïti, mesmo antes de nascer. Mesmo sem Louverture a República do Haïti foi declarada em 1 de Janeiro de 1804. Pagaram caro a ousadia, pagam ainda hoje. A génese do Haïti só pode parecer bela para os idealistas que ignoram a realidade e as coisas práticas. Por exemplo, em 1825 para que a França reconhecesse a independência e renunciasse à soberania da antiga colónia, o Haïti teve que pagar 90 milhões de francos-ouro (inicialmente o valor era de 150 milhões), o que demorou mais de 60 a pagar e com as consequências que se pode imaginar nas finanças do país. O Le Monde publicou um excelente artigo sobre a história do Haïti, que talvez ajude a perceber como chegaram as coisas ao estado actual. Talvez esteja na hora de, finalmente, a comunidade internacional dar uma mão ao Haïti.

Deixo o link para mais duas organizações, a acrescentar a muitas outras, que procuram donativos para colaborar na ajuda humanitária ao Haïti: a HERO, para as necessidades imediatas, e a fundação "Architectes de l'urgence" para o esforço de reconstrução, que esperemos não tarde muito (pode ler-se aqui uma entrevista do presidente desta organização).

A foto é retirada do Flickr de Carel Pedre, um jornalista Haitiano, que tem conseguido manter-se ligado com o mundo através da internet.

A velhice: o fim do fardo de Sísifo, segundo Joan Margarit

Num belo poema do catalão Joan Margarit, a velhice é vista como «uma espécie de pós-guerra».

Em entrevista que passou na RTP2 («Bairro Alto»), o poeta desenvolveu esta ideia interessante, que eu nunca topara. Para Margarit, a velhice é como se fosse a interrupção do mito de Sísifo, pondo fim à condenação pelos deuses de ter de empurrar sem cessar uma rocha até ao cimo duma montanha, donde a pedra voltava a cair, e assim indefinidamente.

Para os velhos cessou a canseira, a canseira da guerra, ou seja, o fardo do futuro. Já pouco haverá de futuro, sobrando o presente e o pretérito. Como ele diz na entrevista: «Ser velho é a vida deixar-nos com muito passado e muito pouco futuro, e o futuro é onde estão as cargas. [...] Acaba-se o futuro, o peso do futuro, esse peso tantas vezes inútil que a pessoa jovem e madura é tantas vezes obrigada a carregar como a pedra de Sísifo [...] Há um momento em que essa pedra desaparece. Esta idade é maravilhosa». Quanto aos refúgios (ou casas da misericórdia), os verdadeiros são poucos, e um deles é justamente a poesia. A entrevista pode ser acompanhada aqui, o poema a que aludo no começo vem transcrito em baixo.

Ser Velho

Entre as sombras daqueles galos e cães
dos quintais e currais de Sanaüja,
há um buraco de tempo perdido e chuva suja
que vê os meninos ir contra a morte.
Ser velho é uma espécie de pós-guerra.
Sentados à mesa da cozinha
em noites de braseiro a escolher lentilhas
vejo os que me amavam.
Tão pobres que no fim daquela guerra
tiveram de vender a miserável
porção de vinha e o casarão gélido.
Ser velho é a guerra já ter acabado.
Saber onde estão os refúgios, agora inúteis.

Casa da Misericórdia, Ovni, 2009

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Haiti arrasado precisa agora de ajuda internacional

Foi o pior terramoto no país em 200 anos (de magnitude 7). Destruiu tudo à sua volta: casas, edifícios oficiais e da ONU. Desalojou a maioria da população e causou a morte de c.100 mil pessoas (imagens aéreas aqui).
Menos de 2 anos após furacões devastadores, o sismo só vem agravar a crónica instabilidade política e a crise social no Haiti.

Agora é a hora do auxílio humanitário internacional, e são já várias as ong's e fundações no trilho: Cruz Vermelha Internacional, Médicins sans Frontieres, AMI, William J. Clinton Foundation, além de agências oficiais de vários países e da ONU (vd. aqui).

ADENDA:

Aproveito para deixar os links directos de 2 ong's credíveis e de 1 fundação que estão a angariar fundos destinados a ajudar as vítimas do sismo no Haiti:

>AVAAZ (ong internacional que destinará as doações a «organizações locais confiáveis»,  como p.e. Honra e Respeito por Bel Air, uma grande rede comunitária sediada na capital do Haiti, também apoiada pela Viva Rio, e a CROSE- Coordination Régionale des Organisations de Sud-Est, que congrega alguns dos grupos comunitários mais activos no sul do Haiti, onde o terramoto foi mais intenso, incluindo grupos de mulheres, escolas e redes de cooperativas locais).

>AMI- Assistência Médica Internacional
>William J. Clinton Foundation (fundação do ex-presidente norte-americano e enviado especial das Nações Unidas para o Haiti, Bill Clinton).

Cinema Garage



Dia 14 de Janeiro pelas 21.12h no espaço do Grupo Bonifrates (Casa da Cultura de Coimbra), decorrerá a 2ª sessão da Roleta Russa - Cinema de Garage, uma produção da "Comandita - Obra do Camandro".
"As sessões de cinema de garagem intituladas Roleta Russa seguem o modelo do jogo que lhe dá o nome, só que em vez de balas saem filmes.
Assim, e até pouco antes da projecção ter início, ninguém sabe a que filme é que se vai assistir, só mesmo depois de rodado o tambor e de lá de dentro, onde aguardam os vários filmes propostos a concurso, sair disparado aquele que nos tiver calhado em sorte.
Este ritual de descarada encenação da fatalidade tem data e lugar marcados, semana sim semana não, às Quintas, pelas 21h12, no espaço da Bonifrates."

Beauty is truth, truth beauty

Na modorra cinzenta de Janeiro, Bright star, é candidato absoluto à mais bela tarde do mês.
O novo filme de Jane Campion, sobre os amores tuberculosos de Keats e Fanny Brawne na «aldeia» de Hampstead, tem uma direcção artística perfeita e é uma obra para ser contemplada.
Os «quadros» de Bright star acompanham o processo criativo do poeta e o envolvimento amoroso do casal como um percurso de intensa receptividade sensorial e, nessa medida, o filme revela-se, também, como um arrebatamento artístico. Como uma maravilha.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Trocas & baldrocas

O agravamento de impostos sobre as mais-valias de acções não avançará este ano. Segundo o Diário Económico apurou, o Governo não deverá incluir no Orçamento do Estado para 2010 qualquer medida no sentido de aumentar a carga fiscal sobre os lucros conseguidos com a venda de acções.
Desta forma fica pelo caminho a medida prevista no programa de Governo do PS de «aproximar o regime de tributação das mais-valias mobiliárias ao praticado na generalidade dos países da OCDE» e contraria a recomendação do grupo de especialistas que apresentou um relatório de política fiscal em Outubro passado, a pedido do Ministério das Finanças, onde defendia a tributação das mais-valias.
in «Um post populista», de Pedro Magalhães

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Eric Rohmer 1920 -2010

domingo, 10 de janeiro de 2010

Emigração e memória

Na sequência desta sessão em torno da emigração, fiquei a saber da divulgação de «Mémoires d'Europe», um interessante projecto da UE que «visa a recolha de testemunhos [de emigrantes] para assegurar a preservação e a difusão das suas narrativas e das suas experiências de vida no quadro dum modelo de cooperação e de aprentizagem inter-regional et inter-geracional».

Este projecto integra a formação ao longo da vida do Programa Sócrates/Grundtvig da Comissão Europeia, através duma parceria entre instituições universitárias, associações de emigrantes e autoridades locais e regionais europeias de 4 países de emigração (Espanha, Grécia, Portugal e Itália) e um país de imigração (Bélgica). A apresentação dos depoentes pode ver-se aqui, a lista de entidades aqui e o relatório de síntese aqui.

GOOD Magazine: E-Waste

sábado, 9 de janeiro de 2010

Hair - The Musical

Normalmente, não pago para ver os musicais do West End, mas por este talvez o faça. Como diz o director, nada mudou em 40 anos, continuamos envolvidos numa guerra absurda, a defender os direitos do casamento gay e a combater a injustiça social, "... it's a way of trying to remind people of, and celebrate, alternative values. You can't measure people's lives in dollar bills." Bem, aqui fica o link bem disposto.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Uma boa nova, seguida duma pedra no sapato e duma errata (Eh pá, tanta coisa. Pois é!)

O parlamento português aprovou hoje o casamento homossexual, por convergência da esquerda, tornando Portugal o 8.º país no mundo que consagra este direito emancipatório.

A pedra no sapato foi a interdição da possibilidade de adopção de crianças por casais homossexuais. A esta questão se terá que regressar, mais tarde ou mais cedo.

A errata é para um post meu onde referia que a iniciativa popular de referendo iria para a frente, sem mais, o que está errado: seria necessário o parlamento aceitar (e já o rejeitou) ou, então, o PR. O que não parece vir a ocorrer. A menos que este resolva abrir uma guerra...

A deriva filo-fascista ainda mal começou...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tributo justíssimo a Henrique Barreto Nunes

Em boa hora, um grupo de amigos resolveu organizar um jantar de homenagem a Henrique Barreto Nunes, director da Biblioteca Pública de Braga até ao Verão de 2009, altura em que pediu a reforma. O encontro é já amanhã, no Mosteiro de Tibães.

No blogue que lhe dedicam, pode ler-se a sua carta de despedida e um texto seu sobre «A biblioteca é um silêncio cheio de vozes». Escolha certeira esta, pois Henrique Barreto Nunes dedicou toda a sua vida aos livros, às bibliotecas e à leitura, a sua e a dos outros. Dum modo persistente e multiforme, ele foi e é um dos principais activistas e pensadores da leitura pública em Portugal no pós-25 de Abril. Fosse só por isso, pela sua actividade enquanto bibliotecário esclarecido e militante, já lhe era devido este reconhecimento público. Mas não é só por isso, muitos o sabem: é também pela sua militância cultural (no Conselho Cultural da Universidade do Minho, na escrita, no debate, etc.) e pelo seu empenho generoso em causas públicas, algumas bem difíceis, como as da sua cidade, Braga. Sobre esta faceta de cidadão interventivo vale a pena ler este texto da sua amiga e colega de ofício Luísa Alvim.

Infelizmente não poderei estar presente neste encontro, mas desde aqui lhe deixo o meu abraço de amizade e o meu reconhecimento pelo seu labor em prol do bem comum. 

A organização da homenagem cabe a 3 associações cívicas e culturais, como não podia deixar de ser: à ASPA, de que o Henrique foi co-fundador e activista empenhado, à Associação Cultural Sá de Miranda e à Velha-a-Branca. Para mais informações ou marcações telefonar para 917642367, escrever para homenagemhbn@gmail.com ou ver o blogue mencionado.

Striptease surveilance: o securitarismo não tem limites?

Invocando razões de segurança contra atentados terroristas, vários Estados ocidentais estão a testar (por ora, experimentalmente) o uso de scanners corporais nos aeroportos. Os EUA irão avançar já para cidadãos de 14 países, a Alemanha deverá ser o país seguinte (vd. aqui).
Quando o pendor controlador e securitário dos Estados exige espreitar para dentro de nós, invadir a nossa privacidade, isso é legítimo? Apenas mais uma excepção que veio para ficar? O progresso tecnológico?
ADENDA
Citação:
Sugestões de leitura:
> «Os suspeitos do costume», por Pedro Lomba;
> «Novos reforços das medidas de segurança aérea geram polémica e protestos», por  Maria João Guimarães (este recolhendo opiniões de especialistas).

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

armando ou Armani?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Não serás como a palha que o vento leva - Lhasa de Sela (1972-2010)

Llorando
de cara a la pared
se apaga la ciudad

Llorando
Y no hay mas
muero quizas
¿Adonde estas?

-

«De cara a la pared», La llorona,1997

|L

|H

|A

|S

|A

PS: gravações da cantautora; videos; obituário e crítica discográfica; tributo com selecção de videos; post antigo do Peão sobre Llasa e «El desierto».


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Galegos de cá e de lá

Acabou de passar na RTP1 o documentário Galegos de cá e de lá, sobre a raia luso-galega desde os tempos medievos. Esta parte do território ibérico só em 1864 viu as suas fronteiras fixadas por tratado entre Portugal e Espanha. Em troca da cedência das terras comuns, os coutos mis(x)tos, Portugal ficou com várias aldeias (Cambedo, Soutelinho e Lamadarcos), terras ditas «promíscuas», por terem população galega e portuguesa.
É uma viagem por vários marcos dessa história de encontros e desencontros, desde a Monarquia do Norte, passando pelo massacre de Cambedo de 1946, e acabando nos cantos e danças de hoje, inspirados na música tradicional e em José Afonso, só para dar alguns exemplos.

O documentário é de Maria Júlia Fernandes, com imagem de Carlos Oliveira, e os galegos de que fala o título era o epíteto atribuído aos raianos de ambos os lados da fronteira.

Sobre os coutos mistos (e a sua ligação ao massacre de Cambedo) vale a pena ler este texto de Fernando Ribeiro, do blogue Chaves, donde também retirei a imagem em cima. Ainda sobre Cambedo vd. também o blogue Cambedo Maquis.

Bono (U2) fala merda

bono   clave do sul

Bono, vocalista da banda irlandesa U2, defendeu neste domingo o reforço da luta contra o download ilegal de filmes e músicas pela internet, afirmando que a prática prejudica muito os artistas.

Segundo Bono, os esforços empreendidos pelos Estados Unidos para combater a pornografia infantil na internet e a mobilização da China para caçar os “ciber-dissidentes” mostram que “é totalmente possível controlar” o conteúdo que circula na rede. Leia notícia completa aqui.

Que o senhor Bono se posicione contra download ilegal tudo bem. Tá no papel dele se tornar porta-voz da Universal Discos e defender os interesses das grandes corporações da indústria fonográfica. E só delas, pois a poderosa indústria fonográfica é quem mais fatura com a criação artística. O artista fica com menos de um décimo do valor final de um CD. Pior: é roubado por ela, que manipula desde sempre dados em seus borderôs pra subfaturar o total real das unidades vendidas. En outras palavras: repassa valores inferiores aos artistas e sonega impostos. E aqui fica a pergunta. Quem rouba quem, senhor Bono? Como se vê, o buraco é mais embaixo (ou em cima, como queiram).

Claro que a pornografia infantil tem de ser combatida de todas as maneiras possíveis. Agora, defender o controle da Internet pelo Estado já são outros quinhentos. O vocalista irlandês deveria medir melhor as suas palavras, mesmo porque de boas intenções o inferno está cheio.

Não importa o motivo. Nada pode servir de pretexto para que o Estado ou quem quer que seja crie mecanismos de controle de mídias. Muito me estranha que um ativista dos direitos humanos se entusiasme com o modelo chinês de controle da sociedade. Esse argumento do vocalista do U2 é a deixa que alguns governantes esperam para controlar efetivamente a Internet. Creio que ele foi bem infeliz nesse contexto. Usar a repressão chinesa como exemplo, além de lamentável é grotesco.

Quanto à pirataria de música, credito às gravadoras boa parcela da culpa. Primeiro pelo preço abusivo dos CDs. Segundo, pela resistência delas (e de muitos músicos) em colocar na rede as músicas individualmente para que se faça o download pago daquela que melhor agradar o consumidor. Uma simples mudança como essa na estratégia de venda reduziria brutamente o custo de produção, uma vez que se gastaria bem menos com matéria prima, encarte e distribuição. Talvez esta seja a melhor formar de combate ao download ilegal.

Não vejo sentido ter de pagar por 12 músicas quando a maioria das pessoas gosta apenas de 1 ou 2 de cada CD. Somente os fãs incondicionais primam por ter a obra completa do seu músico predileto. Esses compram até discos em branco de seus ídolos.

Aliás, o U2 é um bom exemplo disso. Dos seus últimos 3 ou 4 discos que ouvi (e não eram piratas), apenas uma ou 2 músicas se salvam em cada um deles. O resto é pura caquinha sonora. Neste caso, o único prejudicado fui eu, que paguei por várias canções e aproveitei nem um quinto do produto comprado. É como pagar pela feijoada completa e comer somente o arroz.

Enquanto o monopólio das gravadoras resistirem às mudanças tecnológicas e não baratearem o preço dos CDs, entendo a pirataria de música apenas como um ato de desobediência civil. Nada mais além disso. Vale lembrar que, segundo muitas pesquisas, os “baixadores” de músicas pirateadas são os que mais consomem música não-pirateada. Em nome de uma pretensa defesa dos artistas, o que se pretente na verdade é proteger os interesses econômicos do monopólio do entretenimento. O senhor Bono está atirando na pessoa errada ao defender o seu pior inimigo: a indústria fonográfica.

É já neste sábado!

A Imprensa de Ciências Sociais e a Livraria Ler Devagar convidam para a sessão de apresentação do livro Construção da nação e associativismo na emigração portuguesa, coordenado por Daniel Melo e Eduardo Caetano da Silva.
O livro será apresentado pelo Prof. Onésimo Teotónio de Almeida (Brown University, EUA).
Haverá também declamação de poesia relacionada com a emigração.
A sessão realiza-se no sábado, dia 9 de Janeiro de 2010, às 19 horas, na Livraria Ler Devagar da Lx Factory, em Lisboa.
*
Estes links permitem aceder ao índice da obra (a 1.ª via opção «Folheie o livro»).

domingo, 3 de janeiro de 2010

Dez filmes de 2009

O balanço cinéfilo do ano que passou é bastante positivo. Descobri três realizadores: Kathryn Bigelow, António Campos e Jacques Audiard. O último só o descobri em 2009 por distração, pois já assinou várias longas-metragens. Clint Eastwood assinou uma obra-prima - Gran Torino. Pedro Costa e Francis Coppola regressaram às salas de cinema. Michael Moore refinou a sua visão do documentário como forma de artilharia. Surpreende-me incluir três documentários e duas obras de animação na minha lista dos dez filmes do ano passado, mas não me custa nada.
Eis a lista, com links para sites e textos sobre os filmes:
Gran Torino, de Clint Eastwood
Valsa com Bashir, de Ari Folman
Um profeta, de Jacques Audiard
Estado de Guerra, de Kathryn Bigelow
Afterschool, de António Campos
Com que voz, de Nicolas Oulman
Ne change Rien, de Pedro Costa
Tetro, de Francis Ford Coppola
Up – Altamente, de Bob Peterson e Pete Docter

Anos 70 – Atravessar Fronteiras

Cai o pano sobre a mostra  Anos 70 – Atravessar Fronteiras, dedicada à arte portuguesa duma década algo esquecida, ou desvalorizada. É hoje o último dia para se poder apreciar esta revisitação alargada, comissariada por Raquel Henriques da Silva e patente na FCG.
A visão panorâmica que nos é dada é enriquecedora, tal como a contextualização e a diversidade de suportes e artistas; plus, há obras pouco vistas, como as colagens irónicas de Eduardo Nery e Artur Varela.
Depois, há René Bertholo, com as suas máquinas lúdicas, António Costa Pinheiro com uma inesperada Citymobil (1967/8), Ana Harthely com as suas icónicas Ruas de Lisboa (mas, estranhamente, sem um vídeo sobre o PREC que antes estava no CAM), Emília Nadal e o seu detergente ideológico para brainwash (Skop, 1979),  João Abel Manta e as suas incontornáveis caricaturas sobre a ditadura, o mural de Belém de 1974 recuperado a partir de fotos de Novais. Mas há mais: Lurdes Castro, Álvaro Lapa, António Palolo, Alberto Carneiro, Rogério Ribeiro, Paula Rego, Helena Almeida, as performances de E. Melo e Castro e Alberto Pimenta, etc., etc..
De Nikias Skapinakis escolhi a imagem que ilustra o post, uma reprodução do quadro Delacroix no 25 de Abril em Atenas (1975).
Para quem quiser dar uma vista de olhos nalgumas das obras pode ir aqui.

Pinga seleccionada para 2010

Aproveitando a boleia dos balanços de ano, e após revisão das críticas de vinhos no sup.º Fugas do Público de 2009 (por Rui Falcão e Pedro Garcias), aqui fica uma mini-selecção possível, privilegiando a melhor relação qualidade/preço, além dalgumas preciosidades, para excepcionais ocasiões festivas. Porque os balanços também podem servir para ajudar no futuro...

1. Vinhos tintos:
>Couteiro-Mor Grande Escolha Tinto 2006 (qualidade/preço: 9 em 10; preço: 9€; Alentejo)
>Fuseiro Touriga Nacional 2003 (7,5; 6€; Douro)
>Quinta do Mouro 2005 (Alentejo)
>Quinta Seara de Ordens Colheita 2006 (9; 5,8€; Douro; castas tourigas e Tinta roriz)
>Montes Ermos Grande Reserva Tinto 2004, da Ad. Coop.ª de Freixo de Espada à Cinta (8; 9,4€; Douro; id.)
>Vinha do Monte Tinto 2007 (8,5; 4€; Alentejo)
>Vinha Paz Colheita 2007 (8; 9€; Dão)

2. Vinhos brancos:
>Altano Branco (8,5; 3€; Douro)
>Casa de Santar Branco Reserva 2008 (8; 7€; Dão; castas Encruzado, Cerceal e Bical)
>Chaminé Branco 2008 (8; 6,5€; Alentejo; castas Viognier, Antão Vaz, Verdelho e Semilão)
>Frontaria Branco 2008 (8,5; 4€; Douro; castas F. Pires, Malvasia e Códega do Larinho)
>Quinta do Escudial Branco 2008 (8; 4,3€; Dão; castas Bacelo, Rabo de ovelha e Malvasia Fina)
>Quinta dos Carvalhais Duque de Viseu Branco 2008 (9; 4,2€; Dão; castas Encruzado, Cerceal, Bical e M. Fina)
>Vila Real Grande Reserva Branco 2007, da Ad. Coop.ª de V.R. (9; 5,5€; castas F. Pires, Viosinho e M. Fina; prémio melhor branco do Conc.º Mundial de Vinhos de Brx. 2009)
>Vinha do Monte Branco 2008 (8; 3,8€; Alentejo)

3. Vinhos verdes brancos:
>Casa de Paços 2008 (8; 3,8€; sub-região Cavado)

4. Vinhos rosados:
>Colecção Privada Domingos Soares Franco Moscatel Roxo (7; 11,6€)
>Muralhas Rosé 2008 (9; 3,5€ no P.D.)

5. Vinhos de colheita tardia:
>Aneto Colheita Tardia 2007 (8; 10-16€)

6. Vinhos espumantes:
>Castas de Monção Espumante 2006 (8; 6,5€ no Jumbo)
>Montanha Real Bruto Reserva 2002 (8; 15€ no Continente)

7. Vinhos generosos:
>Bacalhôa Moscatel Roxo 1999 (8,5; 17€-1/2l)
>Blandy’s Malvasia Colheita 1990 (8,5; 40€)

Do top ten da prova do New York Times a 20 vinhos tintos do Douro
(Eric Asimov e convidados, NYT, 14/X/2009):
>Altano Tinto 2006 (10; 6,7€; Douro)
>Altano Tinto 2007 (9; 2,7€; Douro)

PS: uma nota mais: em Abril passado foi criada a Região de Vinhos de Lisboa, que substitui a antiga Região da Estremadura e agrega Colares, Bucelas, Carcavelos, Óbidos, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Encostas D’Aire e Torres Vedras. São 35 mil hectares de vinha que produzem 20 milhões de garrafas, 45% delas para exportação (Angola, Bélgica, RU, Escandinávia, Canadá, EUA, Alemanha e Brasil). A mudança deveu-se a estudos de mercado terem concluído que a marca Lisboa tem maior notoriedade externa, mais fácil leitura. Também foi criada a nova Indicação Geográfica Tejo, para os vinhos regionais (fonte: «Lisboa dá nome a nova região de vinhos», Público, 2/V/2009, p.35-Fugas).

sábado, 2 de janeiro de 2010

Dois séculos - duas imagens (comédia)

Na minha memória do final do século XX e início do século XXI há imagens estranhamente ligadas:
















Imagem do século XXI.




Imagem do século XX.

Dois séculos - duas imagens (drama)

Na minha memória do final do século XX e início do século XXI há imagens estranhamente ligadas:












Imagem do século XXI tirada daqui.


Século XX: Taxi driver.

Um novo século - duas imagens

Na minha memória há imagens do início do século XXI estranhamente ligadas:

















Imagem jornalística do século XXI




















Imagem de ficção do século XXI